| Um excelente começo, sem nenhuma pretensão mais pesada… ótimo!
| Atenção! Postagem livre de grandes spoilers, assim como sempre são as postagens desse especial Pilotos |
Um dos marcos do mundo das séries na semana passada foi a estreia do canal CW (nos Estados Unidos) de The Flash, que pertence ao Universo DC/CW que pretende ser expandido pela emissora se tudo der certo. Isso porque as aventuras do personagem se passa na mesma linha do tempo de Arrow, que também pertence ao CW e tem como foco o personagem do Arqueiro Verde, porém com grandes e até mesmo questionáveis mudanças em relação ao que o personagem é nos quadrinhos, mas esse papo fica para um outro dia.
Já The Flash se parece muito mais com o pouco que vi de Barry Allen nos quadrinhos. Claro que há mudanças, mas os pontos essenciais do personagem e sua origem e seu universo em si, estão ali na série, inseridas de forma convincente já no episódio piloto. E olha que isso é algo importante se for pensar no quanto se mexeu em Arrow para que o personagem funcionasse na TV como uma forma bem diferente de entretenimento como os quadrinhos são. Em Flash parece que a fórmula é mais flexível e adaptativa, talvez porque Arrow e tantas outras séries de super heróis (tanto DC quanto Marvel) existam hoje na TV americana e isso facilite ainda mais a criação de novos enredos mais mirabolantes.
É importante frisar que a nova série do Flash não se utiliza do mesmo personagem que alguns telespectadores possam curtir, ainda mais se você pensar no clássico desenho da Liga da Justiça, onde o Flash no desenho era o Wally West, conhecido nos quadrinhos como o segundo Flash. Por muitos anos Barry Allen, o Flash original, ficou morto no universo dos quadrinhos da DC Comics, e somente de alguns anos pra cá, um pouco antes do famoso reboot dos quadrinhos que originou Os Novos 52 é que Barry Allen voltou e como consequência nos quadrinhos o Wally foi varrido na nova linha do tempo da DC (não sei se ele já voltou nas histórias atuais, mas rolaram muitas reclamações na época porque muitos leitores mais novos cresceram conhecendo o Wally como o Flash definitivo.
E vale reforçar que Barry é muito diferente do Wally, que ficou conhecido como um Flash mais irreverente e brincalhão, com uma pegada mais humorista, enquanto Barry apesar de também ter seu humor, sempre foi um personagem mais sombrio, dado seu passado, além de dominar muito mais seus poderes e com isso ser um Flash mais hábil e até mesmo poderoso. A nova série do CW então não trabalha com o Wally, e sim com um jovem Barry Allen, até mesmo mais novo do que ele aparenta quando renasceu nos quadrinhos, com uma origem revisada e atualizada aos dias de hoje, e não que isso não funcione numa produção do CW, sendo exatamente o contrário, ficou ótimo a adaptação do personagem.
É interessante como esse contexto da série pertencer a um canal voltado ao público jovem dá um tom que a série precisa para focar em seu nicho. É diferente, por exemplo, de Gotham que também é uma das estreias da temporada e pertence ao canal Fox, que possui um público muito mais amplo e por isso ela precisa se comunicar com tantos tipos de espectadores e por isso há certos elementos que possuem problemas de ritmo e carisma com públicos mais específicos. Gohtam tanta pegar tantas pessoas que as vezes não pega ninguém. Ela tem um charme próprio, mas há tantos personagens pensando em tantos públicos diferentes que você se pega em alguns momentos da série pensando que aquele plot, aquela cena, aquele momento não foi feito pra você, mas para um público diferente, e isso quebra a harmonia da produção como um todo. Não que Gotham seja ruim, alias do piloto ao seu terceiro episódio há uma gritante melhora na qualidade narrativa da mesma, mas é uma série que por ser da Fox nunca vai chegar ao status que produções de outros canais como um AMC ou FX ou até mesmo o CW podem ter, de se comunicar especificamente com um tipo de público.
Enfim, retornando ao The Flash, o piloto é incrivelmente bem costurado. Você tem a origem semelhante aos dos quadrinhos, com a mãe de Barry sendo um dos pilares para a construção do que o personagem se torna quando cresce, com a cena clássica dele ganhando seus poderes (que já havia sido mostrada na temporada 2013/2014 de Arrow) e a construção da identidade secreta de Barry como perito da polícia de Star City. Claro que há algumas construções interessantes feitas para a série de TV, como a origem de Flash também ser o pontapé inicial para o surgimento de outros seres com poderes especiais, construindo assim o que virá a se tornar a Galeria de Vilões.
Nota-se um certo amadurecimento na produção do programa quando se pensa que o CW também foi o canal que produziu Smallville, que durou 10 temporadas e muitos odiavam do fundo da alma. Certas questões em torno de Smallville eram até injustas, mas enfim, é passado e não vale abrir algumas cicatrizes no momento. O caso é que Smallville no começo era ruim no sentido de enquanto Clark como protagonista tinha semelhanças com os quadrinhos, os antagonistas semanais do show eram de doer o estômago, sendo que a justificativa do plot era de pessoas afetadas pela kriptonita presente na cidade, sendo que em geral eram alunos do colégio de Clark, criando assim plots horríveis com adolescentes super poderosos. Em The Flash há uma conexão então o poder do herói e de seus vilões, e o surgimento do assim chamado meta humanos. O interessante é que enquanto Barry é um personagem relativamente jovem, porém com toques de um perfil mais adulto, seus vilões não são necessariamente na sua faixa de idade, no próprio piloto e nas imagens divulgadas do Senhor Frio, os personagens aparentam ser mais velhos, tal qual nos quadrinhos, onde a Galeria é nitidamente bem mais velha do que o próprio Barry. Isso evita muito a criar plots bobocas com adolescentes em conflitos e imbecis, ficando problemáticos só porque possuem super poderes. Nesse ponto The Flash se sai anos luz melhor do que os primeiros e horrorosos anos de Smallville, ao mesmo tempo em que não é sombrio e adulto demais como Arrow as vezes tenta ser (e exagera um pouco na dose na minha opinião).
Claro que se alguns parágrafos acima ressaltei que a série ganha pontos por não ser uma produção de um canal com público mais genérico, vale reforçar que mesmo sendo do CW a série precisa ter alguns clichês e pegadas das séries juvenis do canal, da mesma forma como Arrow, The 100, Supernatural e até mesmo Vampire Diaries possuem, ainda que tragam no geral tramas tensas e plots que divertem e fisgam o espectador. Ou seja, Barry tem uma paixonite, por ele ser jovem ninguém mais velho do que ele acredita nele, há a questão do facilmente manipulável e não ver as linhas cinzas de quem quer ajudar ele. São clichês sim, porém ao menos no piloto funcionam bem e não incomodam. Algo que o CW vem acertando de forma satisfatória nas séries do canal nestes últimos anos.
Só sei que de todas as séries da rodada envolvendo o universo dos super heróis (Arrow, Agents of S.H.I.E.L.D. e Gotham – também no aguardo de Constantine que ainda não estreou) The Flash foi o que mais me agradou em sua estreia da fall season de 2014. Se o piloto pudesse se comparar com um filme de cinema de super heróis, diria que a sensação de The Flash é bem semelhante a que tive com o primeiro Homem-Aranha da trilogia do Sam Raimi. Divertido e despretensioso e bem adaptado para os recursos que a produção tem nesse começo de algo que pode ser ainda melhor. Recomendo!