Brasil dos Games | Vamos continuar jogando sozinhos por mais um tempo… 10 anos talvez?

Há alguns dias atrás vinculou em vários sites nacionais a notícia a respeito do acordo internacional entre 80 países a respeito do fim de tarifas envolvendo alguns setores de tecnologia, dentre eles os videogames. E não foi surpresa alguma descobrir que o Brasil não está participando e nem mesmo se interessa em entrar na roda. Continuamos querendo brincar sozinhos, como aquela criança birrenta e mimada que acha dona do mundo.

Quem não viu esse notícia, não é difícil encontrá-la. Foi nota no Tecmundo, Adrenaline, Tudo Geek, Jovem Nerd, Folha de São Paulo, G1 e mais um montão de outros sites. Infelizmente parece que a notícia ficou por isso mesmo e não repercutiu em nada. As declarações foram feitas de que o Brasil não se interessa por parte desse tipo de acordo e que isso só prejudicaria o mercado interno e aqueles mimimis que já escutamos há décadas.

E não estou dizendo que não faz sentido o Brasil querer se precaver e proteger seu mercado de tecnologia, ainda que isso me faz pensar “que mercado?”, entretanto são eventos como esse que me fazem lembrar como os nossos representantes atuais continuam sem entender a atual geração internet e videogames, e especificamente não entendem a cultura gamer, nerd e geek.

A ruptura que tantos esperam acontecer nesse sentido ainda vai levar alguns anos, e eu espero que ocorra. Preciso ter essa esperança. Infelizmente se for pensar que há muitos políticos e representantes no poder atual e que a maioria deles estão na faixa dos 35 a 60 anos, o que significa que eles ainda são de uma geração anterior a minha, que não cresceu necessariamente com videogames ou até mesmo internet e por isso não entendem essa cultura, ainda vamos precisar de mais uns 10 anos até todo mundo lá do alto escalão poder dizer “eu jogava Super Nintendo na minha infância e sei o que é ser um gamer e sei que o Brasil precisa mudar sua forma de pensar a respeito da cultura do entretenimento“.

Não estou dizendo que quem tem mais de 35 anos hoje não jogue videogame. Mas para e pense, quem tem 35 anos hoje, nasceu em 1980. Quem tem 40, nasceu em 1975. Vai pensando mais longe. A Dilma tem 67 anos. Nasceu em 1947! Porra, eu nem posso imaginar o que a criançada fazia para se divertir na década de 50, além de brincar na rua e ir trabalhar aos 10 anos! Quer dizer, quando teremos um Presidente da República que tenha sido um gamer na sua infância? Tudo bem você não precisa ser um jovem adulto para entender especificamente o mundo do entretenimento da galera mais nova dos tempos modernos. O Obama lá nos Estados Unidos tem esse lado nerdão dele, que admite jogar os games atuais, ver as séries badaladas e tal e o cara tem 53 anos, ou seja, nasceu em 1961! Tudo bem que a gente pode até pensar que lá nos Estados Unidos já se falava de computadores e videogames na década de 70 e é uma cultura que começou bem mais cedo de quem estava na mesma época aqui no Brasil da Ditadura militar. Pesos e medidas diferentes, eu sei.

Claro que não precisamos especificamente de um presidente gamer ou nerd. Um presidente precisa obviamente ser muito mais do que isso. Só que não faria mal ver políticos e representantes no poder que entendessem o que é a cultura do entretenimento atual e o que pode ser feito para que a nossa diversão não fosse uma das mais caras do planeta! E não me refiro apenas a videogames, só para deixar isso claro, ok?

Eu fiquei abismado semanas atrás quando estava na fila do Cinemark e um três pessoas compraram três ingressos para assistir Minions numa sala 3D, com pipoca e refrigerante e o total da conta deles ficou 115 reais! “CARALHO, como assim?”, pensei. E eu paguei 18 reais em dois ingressos (meia-entrada) para ver Homem-Formiga semana passada, em 2D e no horário da tarde. Porra, por que diabos o cinema precisa ser tão caro? É esse tipo de situação que precisa mudar no Brasil. O custo do entretenimento é absurdo!

Você pode até alegar que o Brasil tem problemas muito mais urgentes para resolver no momento. E sim, ele tem mesmo! Porém quando é que tivemos uma fase na qual estava tudo muito bem a ponto de “opa, agora a gente pode tentar resolver essas questões de diversão e cultura que nunca foram importantes?“. E como se diversão e cultura não fossem importantes. Como se as coisas estivessem tão ruins que teríamos que cancelar o Carnaval e qualquer outra festividade que tiver que acontecer. Não é assim.

O que me entristece mesmo é apenas ver que as pessoas que estão no poder, seja no legislativo, judiciário e executivo ainda não representam e não entendem direito a juventude hoje em dia e porque videogames, banda larga, internet e outros meios de entretenimento digital são tão importantes pra gente e o quão absurdo as coisas continuam sendo em pleno 2015!

O fato do Brasil não ter entrado num acordo com 80 outros países para reduzir ou acabar com tarifas dentro do setor de tecnologia não é tão importante aqui. Essa nossa política de nos fecharmos para nosso próprio mercado é algo que sempre fizemos e não estou dizendo que historicamente sempre foi uma boa decisão. O que me chateia mesmo é um cara do alto escalão vir e não dizer, “calma, não se preocupe porque estamos preocupados com os custos das coisas e estamos trabalhando para reduzir tudo. Sabemos que isso é importante e apesar do acordo parecer uma saída fácil, não é a única“. Tudo bem que a questão não era os videogames, mas infelizmente não tem ninguém mais falando ou demonstrando preocupação com o mercado. De repente me bateu uma saudade do jogo justo e do Moacyr brigando e dando murro em pontas de facas…

Quanto a discussão a respeito do acordo e porque o Brasil não entra nestas iniciativas ou o que isso acarretaria em termos de mercado, eu recomendo a discussão lá da turma do Forum PXB, neste tópico! Como o fórum lá tem sempre um pessoal mais adulto, as conversas lá são sempre interessantes de acompanhar, ainda que eu não tenha tempo para colaborar nas discussões.

Para terminar, vou deixar um vídeo do canal do You Tube, Extra Credits (Beacause Games Matter) que discute a importância de games no mercado global, em um episódio específico na qual ele fala do Brasil. O vídeo é de 2013, mas continua pontual e certeiro em algumas de suas reflexões. Ah, as legendas estão em português de Portugal (infelizmente), mas dá para entender de boa!

Um pensamento pra terminar. Já reparou que a febre dos quadrinhos no cinema é algo que vem acontecendo de 10 anos pra cá? Isso quer dizer que todas aquelas crianças que cresceram lendo Batman, Homem-Aranha e grandes sagas e arcos famosos estão entrando na indústria do cinema. E que os figurões, as grandes empresas e distribuidoras também possuem executivos que entendem a importante e a lucratividade que esse gênero possui hoje com os jovens e adultos que também cresceram com isso. O tempo tratou disso. E era algo que quem cresceu nos anos 70, 80 e até 90 não imaginaria que estaria acontecendo. Superman vs Batman? Só em sonhos! E hoje é uma realidade.

E isso só acontece porque as crianças crescem e assume os lugares de antigos dinossauros, e com isso reformula tendências, culturas e o entretenimento em si. O Brasil ainda está caminhando para esse momento de transição. Nossos jovens ainda estão crescendo e assumindo as posições dos dinossauros que ainda estão presentes no alto escalão do País. Quem nasceu em 1990, década onde começamos a entender a cultura nerd e gamer, hoje tem 25 anos. Quem nasceu em 2000, já conectado no mundo virtual, possui somente 15 anos! Ainda precisamos de uns 10 anos para essa turma mudar nosso Brasil.

A gente chega lá… só precisamos dar tempo ao tempo!

nota: a arte que abre a postagem pertence ao brasileiro Jean Claud, membro lá do DeviantArt como deathstroker. As outras ilustrações da postagem encontrei no Google Imagens e não tinham a informação de origem. Quem souber quais seus autores e quiser colocar aí nos comentários, fique a vontade.

 

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