Texto com spoilers da quarta temporada e os vídeos são previews da quinta temporada!
Terminei recentemente, nas vésperas da estreia da quinta temporada (em setembro nos EUA), o quarto ano de Once Upon a Time e tal como fiz ano passado, bateu a vontade de voltar aqui e comentar um pouco mais a respeito desta série.
E veja bem, não é que acho Once um seriado incrível, porém é uma série diferente das rotineiras séries que estão aí no ar com os mesmos cenários e ambientações. O fato da ABC ser o canal, que a transmite e produz, e de pertencer a Disney Company permite que os roteiristas e produtores brinquem com a mitologia das fábulas de uma maneira que nenhum outro canal talvez pudesse, veja só o exemplo desse quarto ano com o universo de Frozen e agora na nova temporada já está confirmado que Merida, a personagem de Valente da Pixar, fará sua aparição.
Eu gosto dessa brincadeira de revisitar contos de fadas e mexer e de adaptar a novas audiências e pessoas. Além do fato disso ser feito por uma série em live action, o que torna as certos elementos ainda mais ousados, pois a chance de parecer algo muito falso ou destoante com a proposta da série é gigante.
Claro que as vezes Once é meio bobinho e cheio de clichês, mas quais series não são? E pior, quais contos de fadas não são por vezes melados ou até mesmo semelhantes? Faz parte do DNA desse mundo e é perceptível a briga dos produtores para que estes problemas não afetem o produto final.
Agora falando um pouco da quarta temporada, tenho a ligeira impressão de que ela não foi melhor do que a terceira, mas nem de longe foi mal como estava antes da série chacoalhar as coisas mesclando mais e mais universos além do Reino da Branca de Neve nos dois primeiros anos.
Talvez o maior problema do quarto ano é que tudo voltou a ficar excessivamente em torno de Storybrooke, enquanto na temporada anterior boa parte dela se passou numa incrível adaptação da fábula de Peter Pan, na Terra do Nunca.
Aliás é curioso como quão mais antigo for o conto que a série adapta, mais os produtores estão dispostos a mexer nas bases e origens deles. Tome o caso de Frozen, que parece que simplesmente continuou a história de onde a animação da Disney parou, as personagens irmãs, Elsa e Anya eram as mesmas da animação, sem tirar e nem por. Claro que depois a série adaptou e encaixou perfeitamente tudo em seu universo, explorando os pais das meninas e sua tia, A Rainha de Gelo. Quando as bases começaram a serem exploradas, ai sim a coisa começou a empolgar.
Porém eu realmente prefiro quando a série muda tudo. Gostei bastante do segundo ato da temporada, quando Úrsula, Malévola e Cruella entram na história. Achei incrível a adaptação da história da Cruella no show e o quão psicótica os produtores conseguiram torná-la. Cruzar sua história com o Autor foi genial.
Dito isso, outro ponto alto da temporada foi essa sutil discussão a respeito da estrutura na qual os contos funcionam em torno dos heróis e vilões e suas histórias com finais felizes. Penso numa espécie de quebra da quarta parede, mas não é como a de House of Cards na qual o personagem vira pro telespectador e fala pra ti em seus olhos. Essa ruptura narrativa se dá por outros meios, pois os personagens sabem que estão em uma espécie de conto e falam abertamente sobre estas estruturas. Os vilões estão fadados a serem vilões? Mesmo quando tentam se redimir? É interessante eles saberem que estão num livro e que há regras que eles não conseguem se desvencilhar. Mas eles tentaram nesta temporada quebrar estar regras e fui uma boa sacada. Bem, e isso é quebrar a quarta parede? Talvez não seja literalmente, mas pra mim meio que funciona de forma bem semelhante, porém como disse, sutil.
Porém mesmo assim, ainda acho que o terceiro ano foi mais dinâmico, mais diferente, justamente por parte dele se passar fora da já batida cidade e explorar com bastante calma dois universo antigos das fábulas, a Terra do Nunca e o Reino de Oz. Esta última temporada voltou a explorar o Reino da Branca de Neve e a inserir coisas que não estavam lá tão claras quando a série começou. Fiquei com aquela impressão de coisa costurada para dar sentido ao que os roteiristas queriam. Enfim, eu disse que Once não era incrível, e que acompanho mais pela diversão de um entretenimento diferente.
Só que é legal ver como as coisas de desdobraram no fim, com a protagonista se tornando má, sendo tomada pelas trevas e se tornando o novo senhor (senhora?) das trevas, o gancho na qual os produtores vão trabalhar no começo do quinto ano. Espero que não seja algo resolvido apenas no primeiro capítulo, como Supernatural me decepcionou ao fazer algo semelhante entre o ano 9 e 10, com o Dean. Que a Dark Swan dure mais do que apenas os primeiros episódios.
Nisso Once Upon a Time lembra vagamente as narrativas de mangás. Com mil personagens, todos aparecendo quando são necessários, cada um com poderes e habilidades diferentes, e sempre nessa rivalidade entre heróis e vilões, que podem a qualquer momento mudarem de lado. E digo, eu gostei da Regina como heroína, muito mais do que como vilã. A Regina se tornou aquele tipo de herói mais durão, meio politicamente incorreta, enquanto a Emma é uma heroína mais certinha e xarope.
E eu curti como a Emma transparecia estar perturbada ao longo de toda a temporada. O final do quarto ano ela já estava totalmente mudada. Achei bem sacado inserir a história da Hope no meio do conto de Frozen no começo da temporada e conseguir interligar isso a trama da Malévola nos momentos finais da temporada, sem parecer forçado demais. Ficou muito bom.
O que mais? História do Feiticeiro, Merlin, do Aprendiz e do chapéu? Não vi nada demais, além da clara referencia a Fantasia, porém não deu o peso que achei que daria. Serviu mais como muleta para a história do Rumpelstiltskin, ao mesmo tempo em que achei o Gancho meio mal utilizado em grande parte da temporada, servido apenas como capacho. O mesmo vale para o Valete, que ainda é um ótimo personagem, mas jogado ao vento depois do final do spin-off na qual ele tinha importância, fora que o final da série dele (Wonderland) meio que não mexeu em nada com a sua história em Once. Ficou meio sem nexo isso.
Agora é esperar pela nova temporada, e ver como a série vai se manter por mais um ano. O ruim de Once Upon a Time é que ele ainda se baseia na velha estrutura de temporadas com 22 episódios, o que deixa certas tramas arrastadas. Eu espero que desta vez os roteiristas pensem em criar histórias soltas, aproveitando que há tantos personagens mal resolvidos.
Deveria acabar? Acho que ainda não é um caso tão gritante quanto o de Supernatural atualmente. Dá para brincar mais e contar coisas legais, porém o núcleo principal talvez precise mudar. Chega de Branca de Neve, chega de Rumpelstiltskin, chega de Storybrooke talvez. Por que não levar a série fora dos eixos da fictícia cidade? Eu acho tão legal quando os personagens vão para Nova York. Ainda há mais pelo que explorar, isso não há dúvidas.
Para encerrar, esta quarta temporada de Once Upon a Time teve seus problemas. Não teve um ritmo tão diferente da temporada anterior, no sentido da temporada meio que se dividir em dois arcos distintos e depois mesclar tudo, mas conseguiu novamente criar novos personagens, novas tramas e continuar amadurecendo alguns dos personagens clássicos. Continua sendo uma série B pra mim, como Xena e Hércules eram nos anos 90, sabe? Mesmo assim gosto de acompanhar e me divirto com a criatividade na qual os produtores mexem com tantos personagens conhecidos. Prefiro isto a ver remakes destes contos adaptados para o cinema, na qual o universo é sempre raso e os personagens mudam a cada remake criado. Ao menos Once Upon a Time mantém seu lado da história conciso até onde isso é possível. Antes um universo expandido e unido do que algo isolado em pequenas ilhotas que nunca ganham profundidade além do conto original que todos conhecem.