iZombie | A fórmula para estragar uma boa ideia?

Não tenho o hábito de reclamar muito de seriados, e olha que assisto a muita coisa de qualidade duvidosa. Quando reclamo é porque tinha expectativas para determinado show e ele conseguiu ser totalmente aquilo que eu torcia para ele não ser. É o caso de iZombie.

A série estreou em março deste ano lá no canal CW nos Estados Unidos e encerrou sua primeira temporada temporada com treze episódios, dos quais vi os oito primeiros. E já está confirmado sua segunda temporada e a série já deve retornar em outubro deste ano.

Quem não conectou os pontos, iZombie é uma série de quadrinhos da DC, publicado pelo selo da Vertigo. Aqui no Brasil a Panini correu e lançou este ano dois encadernados da série (que andam meio raros de serem encontrados por sinal). Porém eu nunca li e não tenho a menor ideia da fidelidade da série de TV para sua fonte original. E hoje quero falar especificamente da série, então esqueça por alguns minutos dos quadrinhos de iZombie.

O caso é que antes de assistir e ao longo destes primeiros oito episódios, vi gente no Facebook comentando que a série era bacana, ouvi podcasts recomendando, li críticas empolgadas com a série e bem, depois de oito episódios eu ainda não entendo porque a animação para com a série. Simplesmente não me conquistou, e olha que sou muito boboca para seriado, a ponto de gostar de quase tudo.

É meio tosco como referência a Wikipédia, mas vou fazer assim mesmo, lá na página em inglês de iZombie tem um ranking (rating) dos números de cada episódio da série. Eu não sei de onde vem ou como é calculado isso, então, novamente, é Wikipédia, e para de levar isso a sério! O ponto na qual quero chegar é que dá para notar que claramente conforme a série foi exibindo seus episódios a pontuação foi descendo, incluindo a audiência. Na página em questão, por exemplo, mostra uma estreia de 2.29 milhões de telespectadores e uma season finale de 1.45 milhões. É uma diferença grande, na qual em qualquer outro canal gigante, como FOX ou NBC, já teriam simplesmente mandado iZombie para o limbo. Constantine é um bom exemplo, pois era da NBC, perdeu audiência e não teve nem choro, cancelado em seu primeiro ano e olha que foi uma série que começou ruim, mas ficou excelente depois (mesmo com defeitos). Nesse sentido a CW é mais misericordiosa. E sendo verdade ou não estes número, eu concordo que conforme mais e mais episódios fui assistindo, menos estava gostando de iZombie.

E não é nenhum preconceito com o CW, que é um canal conhecido por ter como público alvo uma galera mais jovem. Gosto de séries teenagers do canal, como Arrow, Flash, Supernatural e The 100. Até mesmo acompanho The Vampire Diaries e The Originals ocasionalmente. Ou seja, não é um problema apenas pelo simples fato dela ser uma série juvenil.

A trama mostra a vida, ou pós-morte, de Olivia “Liv” Moore, que em uma festa num barco, em situações na qual a série vai explicar nos episódios seguintes ao piloto, ela é mordido por um zumbi e vira uma zumbi. Mas não aquele morto vivo de The Walking Dead. Liv ainda é ela mesma, tem a suas memórias intactas e mantém aspectos de sua personalidade original. O problema é sua fome quase que incontrolável por cérebros humanos. E se ela não comer essa iguaria após um tempo, seu sistema racional começa a desligar e ela vai se tornando aquele zumbi que está no imaginário popular. Outra característica é que ao comer cérebros, Liv adquire algumas memórias do morto, e também algumas habilidades temporárias, que nem sempre são úteis, com virar uma cleptomaníaca ou ter agorafobia. As habilidades passam, não se preocupe, ela não consegue acumular estes skills. E não sei dizer se isso é um ponto positivo ou negativo da construção narrativa do show.

Até aí, tudo ótimo, tudo original, diferente e até mesmo divertido. Liv para resolver seu problema alimentar, resolve trabalhar no necrotério da cidade. Local onde ela pode beliscar cérebros a vontade. Genial! Há até mesmo um médico legista camarada que se dispõe a estudar a Liv e quem sabe conseguir curar ela, pois ele acredita que sua condição é mais como uma doença do que uma condição post mostem. Até aí a série mantém um ótimo humor, brincando com essa condição de Liv, que afastou de sua família, seu namorado, e perdeu toda a cor da pele e dos cabelos, o que faz tudo mundo achar que é uma fase rebelde dela ter ficado estranha e “albina”. Rá!

O que estraga iZombie é o que vem depois de tudo isso. A série resolve que não basta ter estes elementos. Não basta o mistério dela ter virado uma zumbi, dessa condição incomum que se tornou sua vida. O que os produtores fazem então? Colocam um policial que não é nem um pouco inteligente, para virar parceiro de Liv e os corpos na qual ela come os cérebros passam a ser de vítimas de assassinatos, na qual ela utiliza as memórias dos mortos para descobrir a identidade do assassino destas pessoas. E aí iZombie acaba se tornando uma série policial tosca! PORRA!

iZombie vira do nada, uma espécie de série investigativa, com aquela fórmula batida de caso da semana, dando aquela mesma impressão de história que não avança e de ser sempre a mesma coisa. Uma morte, Liv come o cérebro da pessoa, fica esquisita porque adquire alguma característica do morto (o que vai gerar as piadas do episódio), tem as visões, descobre o assassino, o policial pega o cara e pronto. Fim. Até semana que vem para a mesmíssima coisa. Pior que isso é saber que o policial simplesmente aceita que Liv é uma “vidente” e por isso pode ajudar ele em seus casos. Argh!

Que porcaria! Se cria um mundo interessante, de zumbis vivendo entre os humanos e acabam fazendo esse feijão com arroz na série. Liv descobre no avançar dos episódios que ela não é a única pessoa com tal condição “zumbizesca”. O cara que a transformou em zumbi é uma espécie de traficante de cérebros, um monte de personagens da trama são zumbis e usam maquiagem e parecem normais, e tem todo uma história de fundo acontecendo, na qual só é mostrada minimamente por semana, porque o foco de todo episódio é o assassinato da semana. Ah merd…

Sério, eu quero muito ler os quadrinhos para ver se eles são assim também. Se forem vou ficar decepcionado, mas realmente espero que não sejam. A meu ver essa é a forma mais preguiçosa atualmente de se fazer um seriado por lá. E pow, primeira temporada com 13 episódios. Não precisava fazer assim! Encher linguiça numa série de 13 episódios é muita sacanagem.

Curiosamente iZombie me lembrou muito de Tru Calling. Alguém aqui se lembra dessa série? Era com Eliza Dushku (a Faith de Buffy) e Zach Galifianakis (que ficou famoso depois com a trilogia Se Beber Não Case/The Hangover). A série também tinha uma personagem que trabalhava num necrotério e que tinha um morto da semana por episódio, porém no caso ela não só tinha que descobrir o assassino, mas impedir o assassinato! A personagem Eliza tinha uma condição na qual permitia ela de voltar um dia no tempo e eram sempre os mortos que pediam sua ajuda e que permitiam que ela voltasse. A série era bem mais incrível que iZombie. Mais para o final aparece outra pessoa que também possuía essa habilidade retroceder o dia e enquanto essa pessoa defendia que o tempo não deveria ser alterado e por isso as pessoas tinham que morrer, a protagonista tentava impedir a morte. Era muito louco. iZombie repete certos elementos de Tru Calling, talvez não proposital, mas repete, como a ambientação no necrotério, um morto/assassinato por capítulo, e até mesmo o médico legista engraçadão.

Enfim. Sobrevivi a oito episódios. Mas vou terminar a primeira temporada, afinal são apenas mais cinco episódios. E é provável que o problema seja comigo, pois a minha esposa gostou da série, porém acho que mais pela personagem da Liv, interpretado pela atriz Rose McIver, que está realmente incrível na interpretação. Você compra a série por conta dela. Ainda que eu também ache o ator David Anders muito bom como o vilão da trama de fundo. O conheço desde o tempo de Alias (aquele seriado da Jennifer Garner antes dela ir para o cinema), e é outra série muito boa que só ficou ruim no fim de sua jornada.

Há elementos divertidos e originais no universo da série
Liv é muito carismatica e leva boa parte da série nas costas
Episódios engessados e preguiçosos pela fórmula de "assassinato da semana"
O parceiro policial da Liv é um personagem xarope! Sem qualquer carisma.
A trama de fundo da temporada é boa, mas arastada pela encheção de linguiça
Os casos de assassinatos nem sequer são tão interessantes ou instigantes

Tire os cérebros a milanesa do cardápio!

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