É curioso que as pessoas interajam na internet como se morassem umas ao lado das outras, quando na verdade estamos tão distantes que até mesmo na nossa experiência de vida é afetada pela região na qual vivemos.
Quem mora numa grande Capital, como São Paulo ou Rio de Janeiro por exemplo, tem uma realidade totalmente diferente de quem mora em cidades pequenas, como no interior de um Estado. Assim como quem mora no litoral também vive uma realidade diferente. O que dizer então de quem mora em outros estados e regiões do Brasil fora do eixo Sudeste? Até mesmo nossas crenças e costumes diferem culturalmente. E aqui na internet parece que estamos todos no mesmo bairro.
Levanto este ponto porque esta semana estive duas vezes em São Paulo e em duas situações na qual não estava habituado a vivenciar na maior capital do país. Vi uma outra São Paulo que ainda não conhecia. Alguns vão me chamar de caipira, hahaha, e há uma pontinha de verdade sim, afinal viver no interior, fechado em uma realidade limitada pode ser cruel mesmo.
Não que eu nunca tenha ido para São Paulo. Já fui, claro. Inclusive tenho uma viagem para São Paulo que nem gosto de lembrar. Aconteceu há duas gerações de consoles atrás, então há alguns anos atrás obviamente, quando resolvi comprar um Gamecube com um usuário do Fórum da Uol Jogos, e resolvi buscar o aparelho na casa dele. Foi uma das minhas primeiras compras pela internet alias, ainda inseguro se tudo daria certo. Lembro que na época tinha conseguido a pouco tempo a minha habilitação e fui com meu pai buscar o console, de moto até São Paulo. Chegamos, pagamos o rapaz (foi com o Tiamat, um user bem famoso no auge do tempo do Fórum da Uol Jogos) e viemos embora.
Tudo daria muito certo se a moto não tivesse fundido o motor no meio da Dutra (BR-116) vindo de São Paulo para Jacareí. Minha memória é de ter passado uma tarde inteira de sábado empurrando a moto, debaixo de um maldito sol de rachar a cabeça, pela rodovia até que um santo motoqueiro que estava indo no mesmo sentido que nós, resolveu parar e guinchar a moto, naquele clássico movimento de levar a moto quebrada apoiando o pé direito no encosto esquerdo da outra moto, basicamente empurrando ela com o pé enquanto se equilibra em sua própria moto. Foi a primeira vez que essa prática por sinal.
Não que isso tenha me traumatizado e tal. Ando de moto até hoje e depois disso ainda fui com essa mesma moto para Campinas e Caraguatatuba. Porém nunca mais fui para São Paulo de moto. Hoje em dia, claro, sou muito mais inteligente e responsável, do que na época em que era um moleque. Agora com a moto no seguro, qualquer emergência há sempre a opção de chamar um guincho. Porém que é super chato quando um veículo quebra em uma viagem, isso qualquer um pode concordar que é.
Caraca, que puta volta ao passado acabei fazendo. Encurtando um pouco a história, claro que depois disso voltei a São Paulo. Sempre de carro com a família. E curiosamente sempre nos perdemos pelas marginais e avenidas. Como é um saco achar a entrada exata e como somos ruins nisso! Hahaha. E em São Paulo, parece que qualquer entrada errada que você toma é uma hora inteira que você perdeu tentando achar o retorno para onde deveria estar indo.
E isso não é uma crítica a cidade não! Na verdade é o contraponto bizarro de viver no interior do estado numa cidade realmente pequena, que mal tem um Shopping Center digno de ser chamado de Shopping e um único cinema com míseras 4 salas de exibição. É esse o nível de interior que estou falando. Ainda que haja piores. Santa Branca que é próximo daqui é ainda menor!
Tipo, meu trabalho fica a 10 minutos de casa, 8 minutos se pegar alguns semáforos verde. Meu filho também estuda a 10 minutos de casa e se eu estiver no serviço e precisar correr lá, são 5 minutos! Minha avó mora a 12 minutos de casa, meus pais a 20 minutos, minha sogra há 15! Ou seja, é tudo realmente muito perto. O cinema que fica no centro da cidade, fica há 5 minutos de carro da minha casa. Claro que esse tempo estou calculando pensando em dirigir até estes lugares de moto ou carro. A pé gasta-se mais tempo, mas ainda assim poderia facilmente ir para todos estes locais andando. Ou de bicicleta, se a que eu tenho não ficasse quebrando toda hora porque sou pão duro o bastante para comprar uma bicicleta que comporte meu peso. E pra dizer a verdade, depois que você completa 18 anos e aprende a nadar de moto, você nunca mais quer ver uma bicicleta na vida.
Enfim, São Paulo. Então já andei por São Paulo de carro e moto, até de ônibus de excursões na adolescência, entre Zoológico e Playcenter. Porém sabe o que ainda nunca tinha experimentado? Andar de Metrô. É sério! Poder rir ou tirar sarro.
Nunca tinha andando de Metrô e tive essa experiência em São Paulo esta semana, e em duas ocasiões. O que me levou a sair aqui do buraco onde moro para ir a capital foram dois eventos de imprensa na qual o Portallos foi convidado, um da Bandai Namco na região da Consolação e um da Konami na Arena do Corinthians. Ambos em dois dias diferentes, o que me fez ir para São Paulo duas vezes em uma mesma semana!
A respeito dos eventos, vou comentar sobre eles com calma a partir de amanhã. Hoje é só uma conversa despretensiosa de como algo muito simples pode ser comum a uma população inteira que mora em São Paulo e algo totalmente besta a um cara do interior que não tem o hábito de sair de sua caverna.
O caso é que ando tentando colocar o Portallos no círculo das assessorias de imprensa das empresas de games por aqui. Depois de muitos e-mails e muita paciência ocorreram estes dois convites. Se fosse no passado, quando o site tinha uma equipe e alguns deles moravam em São Paulo, eu simplesmente teria passado a tarefa a algum deles, mas é claro que sempre tive essa pontinha de vontade de ir, de ver e de participar desse cenário. Depois de chorar um pouco no grupinho fechado dos ex-membros da equipe na qual ainda mantemos contatos, e de ouvir alguns conselhos do Rafael que agora cuida do Elite 42, tive a ideia de chamar um amigo aqui da minha cidade, e que tem o hábito de ir para São Paulo com muito mais frequência do que eu, a ir comigo para estes eventos. E assim fomos!
Para muitos talvez seja fácil sair de sua cidade para ir para qualquer lugar do mundo, mas pra mim não é. Tenho meu trabalho aqui, há minha esposa e filho pequeno que ainda que seja por algumas horas, sempre geram uma mudança em nossa rotina. Fora que, veja só, em dois dias de ida para São Paulo, foram gastos 150 reais entre passagens e alimentação. Dois dias! E só eu! Meu amigo também gastou o mesmo valor obviamente. 300 reais, em dois dias, apenas para participar de dois eventos na qual chegamos correndo e saímos correndo! Não é fácil. Apesar de que se você me perguntar se valeu a pena… digo que valeu!
Enfim, acabei conhecendo uma São Paulo bem diferente daquela que conhecia apenas me perdendo de carro e ficando engarrafado no trânsito maluco da cidade. Caramba é muito legal andar de Metrô e estar onde você precisa estar em menos de 60 minutos! Partindo da Rodoviária Portuguesa Tietê, claro.
Entendo que o Metrô não vai para todo e qualquer canto de São Paulo, porém cobre os principais lugares, mas é por isso que ainda existem os ônibus é claro, e bem, o Metrô é realmente muito prático e relativamente barato (R$ 3,50 a passagem e você vai para qualquer linha que faça baldeação sem ter que pagar uma nova passagem). É muito estranho falar de algo que sempre existiu, há um zilhão de pessoas que o utilizam diariamente e eu nunca sequer imaginava como seria a experiência. É um absurdo mesmo!
Claro que fiquei meio horrorizado com a falta de grades em algumas estações. Até comentei depois com o pessoal da ex-equipe aqui do site sobre como é bizarro isso. É muito fácil um suicida pular nos trilhos na hora que o trem chega. Também é um risco para crianças pequenas com pais desatentos e sem noção, ou gente meio grogue da cabeça, bêbadas, ou até mesmo adolescentes na zoeira e naquelas vibes de brincar de forma escrota. No primeiro dia que andei no Metrô, como não era um horário de pico, não havia muitas pessoas e portanto, não havia qualquer vigia ou segurança próximo aos túneis e trilhos, porém tinha vigias nas catracas, para que nenhum espertalhão pulasse a mesma. É meio escroto isso, não? O Governo contrata vigias para ficar de olho nos R$ 3,50 da passagem, mas não a segurança de quem está lá dentro esperando o trem. Talvez seja uma impressão normal de primeira vez, como aquela de não achar que só porque tem carro nas ruas, todas as calçadas precisam de grades de proteção (ainda que em avenidas de grande velocidade costumam existir).
No segundo dia de bate e volta por São Paulo, pegamos a linha azul e tivemos que fazer a baldeação na estação da Sé e aí sim entendi o que é o formigueiro de pessoas tentando entrar em um vagão do metrô. Que loucura! Era hora do rush e havia realmente muitas pessoas. Nesse caso, aí sim haviam vigias perto dos trilhos, segurando o empurra empurra de pessoas. Na certa sem alguém ali repreendendo as pessoas, seria muito mais comum gente caindo nos trilhos por conta do aperto que todo mundo fica pela aflição para entrar no vagão quando ele chega.
E aí andei em um metrô enfornado de pessoas, na linha vermelha em direção ao Corinthians-Itaquera. É a experiência da sardinha em lata. Já fiquei em situações assim em outras ocasiões, como em shows e tal, mas em um meio de transporte popular foi realmente a primeira vez. Nem em ônibus cheguei a ficar tão espremido e sem ter como me mover. E mesmo assim, continuei amando a ideia de andar de Metrô.
Isso porque é tudo muito rápido mesmo. 15 minutos depois da estação da Sé, a gente já tinha passado por outras estações e conforme a linha ia avançando, as pessoas iam dispersando para suas estações finais. Entretanto imagino o inferno que deve ser em dia de jogo no estádio onde um número enorme de pessoas entram em todas as estações apenas para sair somente na última estação, Corinthians-Itaquera. Deve ser tenso!
Assim, nesse bate e volta por São Paulo, eu realmente fiquei admirado com essa experiência de usar o metrô. Realmente é uma vergonha dizer que ao 31 anos nunca tinha andando em um. Sei que quando precisar voltar a São Paulo, não quero mais ficar andando de carro pelo caos do trânsito da cidade, muito melhor deixar o carro próximo a uma estação (ou até mesmo na Rodoviária Portuguesa-Tietê) e sair de metrô para qualquer lugar da imensa capital.
São Paulo acabou ficando muito mais simpática pra mim depois dessa. Antes sempre que precisava ir a capital gerava um estresse enorme pensando onde desta vez iríamos nos perder, quanto tempo perderíamos até achar o caminho ou como mesmo estando de carro, tudo ainda é tão distante uma coisa da outra.
Bem, lição aprendida. Com um atraso ridículo e até meio vergonhoso, é verdade. Mas assim é a vida no interior… a gente nasce aqui e a menos que saia quando a vida te der uma chance, ficamos preso num mundinho muito pequeno e restrito. Há realmente que rolar um esforço para sair dessa pequena gaiola.
A próxima meta agora é viajar de avião. Mas tem que ser pra fora do país! Tá na lista de meta antes dos 40… ah e antes que você me pergunte, andar de metrô não estava nessa lista, mas é um bônus a mais que fiquei contente de ter rolado, ainda mais em ocasiões bem bacanas que vou contar amanhã em um outro post.