Antes de falar sobre Shovel Knight, preciso definir algo (sinta-se a vontade para discordar): a era de ouro dos videogames foi – na minha opinião – a fase final da era 2D e dos poucos bits, ou seja, a geração Super Nintendo e Mega Drive! Depois disso os games mudaram, em especial quando surgiram o PlayStation e o Nintendo 64, o universo deles ficou mais tridimensional e é assim que os vemos até hoje. Pra mim, essa se tornou a era moderna, que foi base e influência para os games que existem até hoje. Sendo assim a era de ouro foi o auge dos tempos da evolução dos bits, quando ainda podíamos classificar os games como 8 bits, 16 bits, 32 bits e assim por diante.
E é curioso como essa vibe saudosista voltou na última década justamente pela ascensão dos indie games, graças a chegada delas aos consoles de forma menos burocrática. E voltou porque produzir games nesse estilo são mais baratos? Não acredito nisso. Voltou porque é um estilo, hoje quase um gênero próprio, voltou porque é uma arte visual que encantou milhares de gamers na década de 80 e 90. Gamers que hoje se tornaram desenvolvedores e alguns possuem esse desejo de resgatar um pouco daquela magia que existia quando os games não podiam ser tão complexos quanto os atuais, porém assim mesmo eles conseguiam ser encantadores e, se bem feitos, inesquecíveis. Shovel Knight é exatamente isso, uma homenagem tão incrível aos clássicos da geração Super Nintendo/Mega Drive e que conseguiu impressionar muitos jogadores que nem sequer vivenciaram a geração dos games & bits.
Alias eu sei que estou chegando atrasado nessa conversa de quão brilhante é Shovel Knight. O game foi lançado em junho de 2014 para PC, após uma campanha bem sucedida no Kickstarter em 2013. E o sucesso foi tamanho que a escalada do game permitiu que ele fosse para tudo quanto é plataforma imaginável. Em junho do mesmo ano chegou ao 3DS e Wii U, depois no segundo semestre saiu para Linux, agora em abril de 2015 chegou as plataformas do PlayStation (3, 4 & Vita) e Xbox One, e agora em outubro o game estreou na Amazon Fire TV, que é… hum… uma plataforma de games da Amazon (dê uma olhada aqui). Fora que game vem sendo atualizado e aprimorado a cada nova plataforma, com conteúdos exclusivos, como o Kratos no PlayStation e o os sapos de Battletoads no Xbox. (eu ainda não os vi, mas quando chegar neles, volto para contar aqui no site)
Quer saber o que faz Shovel Knight ser tão incrível assim?
Jogabilidade! O game é uma delícia de ser jogado. Ele não é como antigos títulos de plataformas 2D onde você está sempre executando as mesmas coisas. Pula, mata alguns inimigos, pula de novo. Ele não segue a fórmula básica da mesma coisa a toda nova fase. Nesse ponto ele lembra um pouco os antigos e memoráveis games de Mega Man. Sim, aqueles da era 8 bits.
Para quem não se recorda, o que fazia os primeiros Mega Man tão incríveis era o level design das fases. Cada fase do game tinha seu próprio ritmo, sua própria dinâmica, seu próprio estilo, incluindo recursos e ferramentas exclusivas de cada fase. Cada uma era única e precisava ser jogada com habilidades distintas. Fora que todas tinha seu próprio set de inimigos, de sub-chefe e chefe. Shovel Knight segue muito dessa influência de level design.
Agora combine isso com outras coisas, tal como aquele ataque de bengala que o Tio Patinhas possuía em Ducktales, que lhe permitia dar grandes saltos sobre inimigos ou alcançar lugares que o pulo não conseguia atingir. Adicione um mapa de fase que era uma delícia em Super Mario Bros 3, com inimigos que surgem do nada nele, caminhos alternativos de fases, entre outras surpresas. Vá mais além e imagine que o jogo possui até mesmo clássicos elementos de antigos RPGs, como melhorar sua energia, comprar itens mágicos e aumentar a barra de consumo destes itens, e até mesmo melhorar a sua armadura e comprar novos golpes para a sua espada, aprimorando assim o protagonista do game. Fora que o game tem vilas, na qual você pode conversar com os habitantes e ganhar dicas sobre o game com eles. São vários aspectos em um único game. E é impressionante como tudo casa perfeitamente. Não tem nada que senti deslocado do game, de ter apenas por ter. Nada é sem sentido.
Até mesmo o conceito de joias e dinheiro que você colhe a todo instante nas fases, e que se morre vai perdendo sacos e sacos de dinheiro, tem seu propósito. Sem isso, você não compra itens, não se fortalece, não abre habilidades etc. Não é uma quantia grande o suficiente para sair comprando de tudo, da mesma forma que não é uma quantia que não te permite comprar o que você precisa para ir avançando. Até nisso o game é bem equilibrado.
Pra ser sincero é até mesmo difícil apontar alguma falha que eu tenha percebido após horas e horas de gameplay (estou na metade do game – acho). Talvez a minha única lamentação seja em relação a localização do título. Ao contrário de muitos indie games que estão adicionando o português em seus títulos, Shovel Knight não possui legendas em nosso idioma. E caramba, que triste, pois até mesmo os diálogos do game não deixam a desejar. São todos bem humorados e tão bacanas, apresentando esse história do pequeno cavaleiro que usa uma pá ao invés de uma espada.
Até a história é bacana, pois conta a jornada de Shovel Knight e sua amiga (sei…) Shield Knight. E em uma de suas aventuras, Shovel se vê perdido de sua companheira que acaba presa em uma torre, que também desperta um antigo mal e no decorrer dos eventos uma ordem de cavaleiros surge para impedir Shovel de resgatar sua amiga. Resumidamente é isso, mas o game vai dando tons e camadas a esse plot, os quais não vou dizer para não dar spoilers do game. Até mesmo os inimigos das fases fazem sentido, pois em geral são criaturas do reino em seu habitat natural e que não gostam da presença de estranhos, e também existem aliados da ordem dos cavaleiros que se opõem ao Shovel Knight. Como eu disse, nada de ponto sem nó em no game, todos seus aspectos são redondinhos.
Admito que já havia ouvido muitos elogios ao game, mas não colocava fé que ele seria tão bom, tão interessante assim. No geral a gente fica pensando que é apenas um game bem executado e ponto. Que não é algo que vai ser memorável se você tiver a chance de jogar. Paguei com a língua. Já devia ter jogado o game há muito tempo! Ele geralmente custa 29 reais na Xbox Store. Vale cada centavo pela prazerosa experiência que propõe. Até acredito que no PC talvez seja mais barato (ou entre em promoção com mais frequência, graças a Steam). Independente da plataforma escolhida, fica aqui a minha recomendação de que você jogue Shovel Knight! Caso se arrependa e não gostar do jogo, volte aqui e diga suas razões nos comentários, pois gostaria muito de saber porque alguém não curtiria um game tão gostoso de se jogar.
Vale também dizer que em setembro deste ano – mês passado – o game recebeu uma atualização gratuita que liberou um personagem novo para ser usado no game, seja nas fases do Shovel Knight, como também em novas áreas e inimigos. Plague of Shadows porém só é destravado depois que o jogador termina o game principal. E pretendo voltar aqui futuramente só para falar dessa pequena expansão totalmente gratuita. E quão bacana é isso, não? Dar um update assim de graça… a Yacht Club Games merece uma salva de palmas.
E olha que esse é o primeiro game da Yacht Club Games, que é um pequeno estúdio indie que foi criado por um dos ex-diretores da Wayforward Technologies, Sean Velasco, o que significa que há uma certa experiência no ramo. O que logicamente não tira o mérito de acertar um game tão bem sucedido e elogiado logo de cara. Faz a gente pensar o que o estúdio poderá fazer em seu próximo projeto.
Uma última coisa a respeito de Shovel Knight: não vá pensando que o game, mesmo com todos os recursos mencionados, é um game fácil. Não é! Claro que ele não é um título impossível, daqueles que você morre tantas vezes que sente vontade de quebrar o controle na parede. Não chega a esse ponto de frustrar, entretanto o desafio de certas fases é de tirar o chapéu. Felizmente todas possuem vários checkpoints, já que são bem grandinhas também. Então mesmo que você morra umas 10 vezes até acertar o passo de um certo desafio de percurso, você nunca volta para muito longe de onde morreu. Há uma fase lá pelo meio do mapa, onde tem um besouro gigante que anda na lava que é de xingar a TV após algumas mortes – ou talvez eu esteja sendo meio lesado nessa parte – mas é aquela coisa mais divertida de vivenciar do que de passar raiva e ódio de algo muito difícil. Até nesse tipo de equilíbrio o jogo passa no crivo, o que novamente digo: mérito de um level design inteligente.
Deixo então essa recomendação e indicação. Quem ainda não jogou, por favor o faça o quanto antes! Vale e muito à pena! E por fim, eu ainda não terminei o game, mas estou totalmente contente com o mesmo até esse ponto – e duvido que ele vá me decepcionar daqui em diante – mas pode ficar tranquilo que irei voltar aqui mais vezes para falar mais sobre Shovel Knight! Por enquanto apenas uma coisa, se ainda não o jogou… jogue!
Jogabilidade, esse é um dos pontos máximos do game!
O estilo pixel arte casa perfeitamente com a proposta do título
Level design incrível. Cada fase é única e original
Desafio na medida exata, sem ser fácil demais e nem difícil do tipo frustrante
Há muito pelo que vasculhar e descobrir, além de easters eggs
Você sente a progressão do game, ele não fica tedioso
Excelente combates contra chefes!
O único porém... não localizado em português 🙁
É quase inacreditável tudo que o game mistura dos clássicos e é uma aula de level design!