Life is Strange (Ep1) | Rebobinando eventos e as borboletas do caos!
Enquanto o capítulo final de Life is Strange terminou há algumas semanas atrás, e a internet choveu de elogios em torno do game como um todo, lá estava eu, curioso o suficiente para embarcar em um outro gênero na qual não me dou tão bem assim. E acredito que tomei uma excelente decisão.
Life is Strange funciona como uma história interativa, uma dessas novas vertentes do point and click, que deixaram um pouco de ser aquela coisa estática para se tornar mais cinematográfica, mesclando outros tipo de mecânicas e interações além do apenas apontar e clicar. Porém a palavra chave aqui é realmente interagir com um mundo a sua volta, observando, conversando e tomando decisões que pode te levar a caminhos na qual você não poderá alterar, ao menos em um nível a longo prazo.
Veja bem, ainda não terminei nem o primeiro capítulo do game, então esta não é exatamente uma resenha do episódio 01. Está mais para um primeira hora. É o sentimento de curiosidade e de me sentir intrigado com a história que o game me apresentou em seus momentos iniciais. Ainda estou bem no começo mesmo, e é cedo demais para julgar Life is Strange, mas posso dizer que o que ele me propôs até agora, eu realmente fiquei bem animado. Se a expectativa será cumprida ou se o game está só criando uma tensão que não me levará a qualquer lugar, eu só descobrirei em um futuro, quando estiver mais avançado no game.
Cabe aqui um alerta. Para este texto funcionar, terei que comentar pequenos spoilers sobre a minha primeira hora do game. Vou comentar sobre decisões que tive que tomar, ainda que não faça a menor ideia do que eles irão acarretar no futuro, o que significa que estou tão no escuro quanto quem ainda não teve a oportunidade de testar o game.
Life is Strange se propõe a contar um momento estranho da vida dessa jovem chamada Max, que acabou de completar 18 anos, e após algum tempo longe de sua cidade natal, precisou voltar a morar nela e a frequentar o colégio para terminar seus estudos. Um plot simples e OK. Nada de especial.
Porém as coisas vão escalonando na trama. O game começa com Max tendo um estranho sonho onde ela está em um farol na encosta de um penhasco que dá de cara para o mar, na qual um enorme tornado transforma o cenário em uma caos total. A jovem acorda e percebe que está no meio de sua aula de fotografia na escola. O quão real foi o sonho que ela teve?
Outro elemento constante nesse inicio de game é estabelecer que a pacata cidade sofreu um terrível baque recentemente na qual uma jovem chamada Rachel foi dada como desaparecida. Ninguém sabe o que aconteceu com ela. Max nunca a conheceu, porém todos a sua volta parecem saber um pouco de Rachel, que fazia aquele tipinho de garota popular do colégio.
Sabe aquele climinha bacana de mistério do tipo de seriados americanos como Twin Peaks ou The Killing? Life is Strange parece ter um pouco disso. Há muitos personagens com personalidade diferentes e estranhas. Grupos de estudantes que foram suas tribos. E Max não faz parte de nenhum destes mundos. Ela veio de um mundo externo e ainda não se identifica especificamente com ninguém. É um elemento tipicamente do adolescente e talvez essa seja um fato para conectar tantos jogadores com o mundo de Max e todo o sentimento de estar perdida em um mundo estranho que ela expõe dentro do game.
Logo após a abertura do game, um evento muda e estabelece os parâmetros do game. Max está no banheiro da escola, meio que pensando na vida e se recuperando do estranho sonho que teve quando um cara e uma moça entram, começam a discutir sobre algo que não preciso mencionar aqui e de repente o rapaz saca uma arma e atira na barriga da garota! E Max ali escondida, em uma momento de desespero por não conseguir fazer nada percebe que algo aconteceu e tudo que ela acabou de ver está prestes a acontecer uma segunda vez!
Borboletas, o bendito (e maldito) efeito borboleta!
O jogo estabelece que o jogador possui um misterioso poder de retroceder no tempo. Max nunca havia manifestado algo assim e ela mal acredita que está tudo acontecendo de novo. Mas há um limite para o quanto você consegue retroceder sem que Max passe mal com isso.
Enfim, sem dar muitos detalhes, Max acaba evitando que a garota acabe morta no banheiro E aí o jogo começa a lhe mostrar que todo ato que você toma trará consequências no futuro. Na saída da escola o diretor lhe chama, te pergunta o que ocorreu e o jogo te dá duas escolhas: mentir ou contar a verdade.
Primeiro eu contei a verdade. O diretor não acreditou em Max e ficou o maior climão chato, como se ela estivesse acusando um jovem de família rica sem qualquer prova. Ok, péssima decisão ser honesto! Voltei no tempo e resolvi mentir, sem negligente e não falar o que aconteceu. Também não é uma boa decisão. Tomei um baita sermão do Diretor porque claramente ele se decepcionou com a Max escondendo lhe a verdade. Que merda! Não há boas decisões. E após cada decisão vem uma mensagem na tela com uma borboletinha (sim, efeito borboleta): “esta decisão terá consequências!“.
Que ódio dessa mensagem! Me alerta que o que eu decido afetará o game mais a frente só me deixa mais agonizado. Tomei a decisão certa? Pois ambas me pareceram erradas. E me alertar de consequências só me faz pensar que vai dar merda!
Aí estou na área externa da escola e resolvo conversar com uma professora. Ela me pede para assinar uma petição contra a colocação de câmeras por toda a escola. Penso, mas caramba, se houvesse câmeras na escola, talvez o assassinato que impedi no banheiro não tivesse acontecido. Talvez o diretor acreditasse em mim. Talvez a garota que desapareceu não tivesse desaparecido. Digo isso e a professora vem com um discurso de privacidade, de geração que não sabe o que é isso e etc. Ela tem bons argumentos, mas ainda assim resolvo não assinar. Eu não conheço ainda a Max, mas ela não me parece ser o tipo que precisa ter medo de câmeras na escola. Ela não está fazendo nada errado, exceto voltar no tempo. Não assinei. E lá vem a borboleta do caos: “então, essa decisão também vai ter consequências“. Argh! Ruins? Boas? Não sei!
E aí estou indo para o dormitórios da academia (tenho minhas dúvidas se Max está em uma escola normal ou uma faculdade ou outra coisa, o ensino americano é bem diferente do brasileiro) e um cara gordinho que não parece ser uma ameaça qualquer, talvez um daqueles nerds reprimidos e que resolvo conversa me pergunta se ele pode me desenhar. A Max me pareceu ser alguém que toparia isso. Ele não perguntou de uma força bizarra ou assustadora. Ele já estava desenhando quando o encontrei. Me parece ser o tipo que perguntaria isso para uma garota, e frequentemente tomaria alguns não na cara. Pow, vamos ver legal com o carinha, não? A Max acabou de voltar pro lugar, ainda está socializando com as pessoas. Deixei ele desenhar a Max. No fim da conversar: “ei, sabe isso que você acabou de deixar o moleque fazer? também terá consequências futuras!” – Argh maldição! Pronto, ganhei um stalker e ele vai matar a Max no final do game! Hahaha, toda consequência na minha cabeça é uma consequência para algum desastre!
Sim, eu sei que posso voltar no tempo e mudar essas decisões. Mas e se foram boas decisões? E se a petição fracassar e as câmeras da escola salvar alguma merda que certamente vai dar por ali? E se o gordinho desenhista acabar me ajudando no futuro porque fui legal com ele? Não sei!
Outro elemento interessante de Life is Strange é poder voltar no tempo para revelar novos diálogos com alguns personagens. Em uma conversa com um colega da tribo dos skates, o cara me fez uma pergunta e eu respondi de forma careta pra ele. Ele não se animou com a Max e a mandou seguir adiante. Voltei no tempo, aprendi o que ele queria que eu respondesse (essa opção não existe na primeira vez do diálogo) e aí abri a conversa e ele me proveu informações sobre a Rachel que eu não conseguiria na primeira tentativa. Interessante, não? Eu posso voltar quantas vezes quiser os diálogos e repeti-los para ver todas suas opções. E decidir qual achar melhor, ou menos pior em alguns casos. E posso pular e cortar as falas que eu já escutei. Isso evita o jogo ficar maçante por sinal.
Me agrada muito esse tipo de elemento. Em outros games do gênero você toma a decisão e reza para ter feito a escolha correta. Aqui o jogador tem consciência e começa a perceber que talvez não existam boas decisões. São apenas decisões e pronto!
Enfim, só sei que eu gostei bastante desse ritmo inicial de Life is Strange. Gostei desse tipo de poder em mãos e da agonia de ver as borboletas do caos rondando, mas sem me dizer que minhas decisões são boas ou ruins. Gostei da imersão que a história dá ao jogador. Max está a todo momento refletindo. O jogador escuta seus pensamentos, suas inflexões e reflexões, você entende o que ela está passando. É uma maturidade sem tamanho em um protagonista de um game, na qual muitas vezes apenas os acompanhamos por sua aventura. Aqui Max se abre ao jogador e permite que a gente reflita o que ela faria, o que ela pensaria, antes de tomar uma decisão, porque a personagem lhe dá um grau de intimidade que outros games não podem passar devido ao gênero em si. É realmente impactante esse elemento.
Sei que avancei um pouco até outra área externa do game, próximo aos dormitórios, e lá tive o primeiro puzzle de tempo do game. Sim, ele não é apenas interagir e conversar com as pessoas. Há ações que precisam ser tomadas para que a história continue. Não vou revelar a solução do puzzle da entrada do dormitório, mas digo que eu demorei e entender a ordem dos eventos e o que eu tinha que fazer ali. A minha esposa até parou o que estava fazendo para sentar ao meu lado e prestar atenção na minha burrice. Hahaha, era algo simples, mas ei, eu não posso voltar no tempo na vida real para entender de cara o que o jogo queria que eu fizesse. Depois de uns 5 tentativas, acabei entendendo. E parei a história aí, porque o filhão acordou na ocasião e aproveitei o auto save do game para continuar um próximo dia.
Merecidos elogios
Acredito que para encerrar esse primeiro papo de Life is Strange aqui no site, pois obviamente haverão outros, preciso elogiar a direção de arte do game. O jogo pode não ter os gráficos ultra realistas da atual geração, mas tem um charme único, onde os personagens possuem compostura, agem naturalmente e não soam como bonecos artificiais em um ambiente 3D. A direção de fotografia e de cena também merece seus elogios, pois a história fica mais imersiva graças as cenas e jogada de câmeras nos momentos de diálogos e interação da Max. Não há nada de estático nesse meu primeiro choque com Life is Strange, e isso é um ótimo sinal. Acho incrível alias a cena que abre essa postagem, na qual Max coloca um fone de ouvido e uma faixa musical começa a tocar no game de uma tal forma que pareceu inundar a minha sala onde estava jogando game. Não é um tipo fácil de imersão conseguir isso e aqui funcionou de uma maneira muito impressionante.
Meu único porém, que até gerou uma reflexão de algumas semanas atrás a respeito de games e saber inglês, é justamente no que diz respeito ao idioma do game. Nada de dublagem ou legendas em português, o que significa que você precisa saber um dos outros idiomas que o jogo tem suporte (Inglês e Francês), não precisa ser fluente, mas ter uma base bacana para conseguir entender a história. É nestas horas que vale a pena aprender e correr atrás do inglês.
A boa é que o game é realmente barato. Custando na faixa de 39 reais (todos os 5 episódios) em diversas plataformas digitais, como o Xbox, PlayStation e Steam. Só lembrando que uma versão em disco com todos os cinco episódios também deve ser lançado em janeiro, porém arrisco dizer que o preço talvez saia mais salgado, mas contendo vários extras como um Artbook de 32 páginas, CD com a trilha sonora do game e vídeos comentário com do diretor do game. Para quem se apaixonou pelo game, me parece uma excelente versão de coleção. Sai em Janeiro, para Xbox One e PlayStation 4, sendo que uma versão de PC por enquanto está confirmado apenas como exclusivo para a Europa e o com preço final ainda será confirmado (digitalmente lá fora o game custa 19 dólares).
E é isso! Se puder jogar Life is Strange, digo que vale a pena jogá-lo. Ao menos iniciá-lo como eu fiz e que agora pretendo continuar jogando. Especialmente se você for como eu, que tem essa rusguinha com point and click e histórias interativas, talvez Life is Strange seja uma boa porta de entrada a este gênero graças ao sistema de rebobinar decisões e ver os dois lados de uma escolha.
Cara, já fechei Life is Strange e ver você dizendo suas angústias com a borboleta aparecendo no canto da tela me lembrou muito bem eu, quando comecei a jogar! Uma das coisas que mais gosto são as conversas no celular dela com o Warren (tadinho), onde eles botam várias referências, principalmente a Doctor Who!
E conforme você foi dizendo suas ações, principalmente sobre assinar a petição ou não me fez lembrar das consequências que essas ações terão. Você fez basicamente as escolhas que eu fiz da primeira vez. O ponto é que vai chegar uma hora que você vai se perguntar se é certo ou não rebobinar o tempo, você vai hesitar em voltar em uma conversa, eu tive vários momentos assim rs
Já que você passou do ponto das câmeras e não conseguirá voltar, só vou te dizer, sem conteúdo de spoiler nenhum que: Isso afeta pá caraca a história. Quando você disse sobre a petição, me deu um clique de que muita coisa teria sido diferente e é melhor eu parar por aqui.
Não se esqueça dos coletáveis, que são as fotos que a Max tira, são bem legais de procurar.
Sobre a trilha sonora do jogo, me amarrei tanto nela que tenho baixadas várias. Recomendo você ouvir essas:
To All of You (experimenta entrar na faculdade ouvindo essa música, é demais);
Something Good (cara, essa música tem uma vibe TÃO boa);
Obstacles;
Piano Fire (ela parece ter a qualidade baixa, mas esse é o charme dela, preste atenção na letra);
Mt. Washington
e Mountains
Tem umas músicas que tocam no episódio 5 que não consegui pegar ainda, mas estou a procura =]
No mais, aproveite essa época de desespero que é esse jogo (no bom sentido). Continue fazendo esses check up da sua jogatina que assim podemos comparar escolhas!
Só tenho uma reclamação, joguei a versão de PS3 e nooossa, os cenários eram lindos, mas a maior parte do tempo eu achava os personagens tão “não bem feitos”, eu sabia que eles podiam fazer melhor, mesmo sendo um console da geração passada…
E stay away from the Vortex Club!
Lucas, que maneiro seu comentário cara. Obrigado por compartilhar ele por aqui! Pode deixar que conforme for avançando, vou falando mais sobre o game aqui no site! 😉
Achei que só eu tinha amado Mountains.
LiS tem uma trilhla sonora que meu Deus!! É realmente incrível!!
Realmente o Thiago não está acostumado com os games da Telltale haha
Sim, como disse lá no começo: não é um gênero rotineiro pra mim. Eu peguei o Walking Dead da Telltale mês passado que foi dado de graça na Live Gold, mas não me animei de jogar. Preferi começar por Life is Strange 😉
o Game of Thrones foi o que mais me impactou, já no primeiro capítulo tu tem que tomar umas decisões fodas.
Isso se você se importa com Game of Thrones ou seu universo. Não é o meu caso. Eu gosto da série, mas é só isso.
Eu acho que é aí que a Telltale peca um pouco. Walking Dead, Game of Thrones… são games e ambientes que estabelecem que os jogadores devem adorar estes universos, acima do apenas normal.
Life is Strange é um conceito diferente, é um mundo próprio com personagens únicos. Vc não precisa chegar a ele gostando de outra coisa ou outra mídia.
Eu não sinto dessa maneira, até porque você joga com personagens inéditos, então é um vínculo que é criado dentro do jogo em si. O mundo de GoT é apenas um tema assim como o mundinho teen é em LiS, então o peso desses jogos acaba sendo igualado.