Evento SP | Comic Con Experience 2015 (CCXP) – Importância, magnitude e aquele problema com expectativas!

Acho que antes de qualquer um começar a leitura desse texto – que é meramente a minha opinião pessoal sobre a primeira experiência que tive com a CCXP – acho importante reforçar que acima de qualquer crítica feita aqui, um evento da magnitude do que está sendo realizado pelo Omelete, Chiaroscuro Studios, PiziiToys e Spoladore Eventos é de extrema importância ao Brasil. E se você pensar em um lapso de tempo de uma década atrás, jamais cogitaríamos que eventos como CCXP (Comic Con Experience), BGS (Brasil Game Show) ou FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) teriam o tamanho, importância e a estrutura que possuem hoje em dia, e isso é impressionante mesmo! Porém isso não significa que ainda não haja muito que se aprender, muito que melhorar e muito que se adaptar a nossa cultura e nosso jeito de desfrutar de grandes eventos gamers e nerds.

Infelizmente não posso dizer muito sobre o FIQ, que é realizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, porque nunca tive o prazer de ir (apesar de já considerar um esforço para ir em 2016 – ainda que seja muito mais longe de onde moro, aproximadamente de onze horas de ônibus). Já sobre a BGS e a CCXP deste ano está bem fácil de comparar o porte e a estrutura destes eventos já que estive presente em ambos eventos. E é realmente inevitável tão comparação, ainda que o público de ambos possa vir a ser relativamente diferente em certas situações.

— Indo para a CCXP —

Antes de ir para a avaliação da CCXP acho que se faz interessante comentar um pouco sobre a minha jornada para um sábado de Comic Con Experience, ciente de que seria um dos dias mais cheios do evento e possivelmente com as melhores atrações no que diz respeito aos painéis e atrações principais.

E pensando nisso, eu e a minha esposa saímos bem cedo de Jacareí, uma hora mais cedo do que saímos para ir para a BGS. Saímos daqui às 7 da manhã, sabendo que a CCXP começaria às 10h, mas ciente do que queríamos mesmo pegar era o painel de O Bom Dinossauro ao meio dia. 5 horas para conseguir isso? Me pareceu tempo o suficiente. Que ingenuidade, né?

Lembra que uma das minhas reclamações na Brasil Game Show foi como as filas lá dentro do evento me assustaram? Bem, na CCXP as filas começam muito antes de sequer conseguir chegar ao evento. Que baque chegar na Rodoviária Portuguesa Tietê em São Paulo e encontrar uma fila gigantesca, basicamente cortando totalmente o terminal rodoviário de fora a fora, para se comprar bilhetes para o metrô até o terminal Jabaquara.

Você pode até pensar, “mas isso não é culpa dos organizadores do evento, eles não controlam o metrô“. Sim, é verdade, mas será que não caberia uma ação junto a prefeitura de São Paulo para aprimorar ou colocar mais bilheterias vendendo os bilhetes de metrô nos 4 dias de evento, ao menos nos horários de picos, especialmente das rodoviárias que recebem a galera de fora da capital? Isso porque na quinta-feira, na qual não pude ir, mas o Bruno Macrina – que deve me ajudar cada vez mais a cobrir eventos em SP – foi e também enfrentou uma fila tão assustadora que só conseguiu chegar em frente ao São Paulo Expo quase ao meio-dia e depois foi quase uma hora pra entrar dentro do mesmo, isso na quinta lembrando, um dia onde era previsto o menor dia de movimentação.

Bem, perde-se um tempo apenas para comprar os bilhetes do Metrô e ele saiu um pouco lotado do terminal Tietê, mas passado os pontos da Sé e da Liberdade, ele já havia dado uma boa aliviada e não ficou tão apertado. Alias, a lotação que passei quando fui no evento da Konami no Corinthians Itaquera ainda é a minha pior experiência no transporte, mas a Micheli – minha esposa – que até então nunca tinha andado de Metrô ficou meio incomodada com o aperto na entrada do metrô no terminal Tietê nesse sábado de CCXP.

Chegando ao terminal Jabaquara era necessário descobrir para onde ir, como pegar o transporte gratuito ao evento. Nesse ponto dou meus elogios aos organizadores do evento, pois haviam membros da equipe da CCXP, com chamativas camisas amarelas até o percurso do traslado gratuito, impedindo a galera de se perder. No caso da BGS, não havia uma alma vida do evento quando saímos da rodoviária Portuguesa Tietê para descobrirmos aonde os ônibus estavam pegando a galera por lá. Não que nestes casos seja difícil descobrir para onde ir. Basta seguir a galera com mochilas com cara de que vão para um evento gamer ou nerd. Nossas camisas não nos deixam mentir quem somos, certo?

Mas voltando a CCXP, então chegamos na fila do transporte gratuito, para descobrir que a mesma estava virando um enorme quarteirão e estava inacreditavelmente grande, muito maior do que a fila que ficamos na BGS (e que demorou uns 20 de espera até conseguir entrar no ônibus). E tal como aconteceu na BGS, na CCXP tinha o pessoal das vans, cobrando para levar o pessoal até o São Paulo Expo. Não quis perder um minuto sequer de fila para o transporte gratuito. Paguei então os cinco reais da passagem para o evento e lá fomos, sem pegar fila. Menos de 10 minutos já estávamos em frente a CCXP. Talvez ter ido a pé não significaria um grande esforço, mas ei, estávamos a pé, com uma grande mochila e o sol cada vez mais quente. Pagar e ir de van de forma alguma foi uma má ideia.

Nisso tudo já eram exatamente 10h da manhã. Ok, oficialmente o evento estava aberto e o primeiro painel com o Castiel de Supernatural (Misha Collins) havia acabado de começar. O que significava que ainda tinha 2 horas até o painel de O Bom Dinossauro. Se a fila estava sendo formada, bastaria correr até lá certo? ERRADO! Para isso era preciso enfrentar uma fila monstro para entrar no evento.

Aí você pensa. Sábado os ingressos estavam esgotados há meses. Todo mundo ali tinha seus ingressos. Por que diabos se demora tanto para deixar todo mundo entrar no evento? Era uma fila de três fases. Uma gigantesco fora do complexo, que fazia exatamente três curvas de quarteirões, muito mal organizada – havia muita gente cortando essa fila – e outra lá dentro do estacionamento onde as pessoas ficam em baias, como gado, fechadas onde aos poucos cada baia ia sendo aberto até outra baia. E nesse ponto uma sacanagem. Quem foi de carro e pagou o estacionamento, não ficava na fila lá de fora do complexo torrando no sol. Do estacionamento você ia direto pra segunda fila das baias. Essa segunda etapa da fila parece ter demorado uma eternidade.

Ao final das baias, você entregava seu e-ticket, o ingresso do evento, e entrando mais um pouco, deixava o livro da meia entrada. Posso aqui dizer algo absurdo? Mesmo que os ingressos e credenciais fossem com nomes e documentos de cada pessoa, não estava sendo exigido os documentos pessoais de uma alma sequer ali. A pressa para deixar todo mundo entrar era tamanha que nada estava sendo verificado. Se eu fosse com uma credencial de um amigo, sem livro para a meia entrada, eu teria entrado sem o menor problema. Nada estava sendo verificado. Tem ingresso, está com a credencial de plástico no pescoço? Entra logo que tem mais um milhão de pessoas atrás querendo entrar.

Terceira fase da fila, a mais penosa pra mim. A caminhada que mais parecia uma procissão do estacionamento por toda a obra de expansão da São Paulo Expo, até chegar a entrada do evento. Sério, foi o suficiente para me deixar cansado, pingando de suor e frustrado pela caminhada não terminar nunca. Final da história, chegamos na porta da CCXP as 10h da manhã e só entramos no evento as 11h40. Faltando 20 minutos para o primeiro evento que eu queria muito participar.

— Dentro da CCXP: Os Painéis —

Então depois de tanto tempo suando e passando calor em um mar de pessoas, você pensa que ao menos lá dentro estará fresquinho, certo? Errado de novo! O São Paulo Expo é uma sauna com tantas pessoas dentro dele! Existe sistema de ar condicionado? Sim, existe, porém ele não dá conta de nada. Bem diferente da BGS, que poderia estar quente sim, mas não tanto quanto estava na CCXP. Estava facilmente de passar mal a temperatura lá dentro, tanto que a toda hora os organizadores do evento alertavam nos auto falantes para a desidratação e para o pessoal beber muita água. E aí resulta em um outro problema: não há bebedores em lugar algum da São Paulo Expo!

Eu tenho quase certeza que esse também era um problema na BGS, porém que não vivenciei porque como tive acesso a sala de imprensa, lá tinha água fresca. Mas como disse, o calor era bem menos intenso e a sede era muito menor. Digo por experiência que na minha ida e volta da BGS foram dois copos de água que tomei, não precisou mais do que isso. Já no sábado de CCXP não dava para ficar 30 minutos sem passar sede, o calor foi realmente cruel.

E aí vem outro absurdo: a água lá dentro do evento, em pequena garrafas, sendo vendidas entre 5 a 7 reais. Uma mesma garrafinha que eu paguei R$ 1,13 um dia antes no supermercado para levar ao evento. Fui com duas garrafas e uma eu tive que matar já na fila para entrar, porque estava realmente complicado a sede. Resumo da história, meio que fiquei transtornado de pensar em ter que gastar o pouco dinheiro que dispunha com água dentro do evento, então fiz o que para muitos é abominável, mas sinceramente, eu perdi a conta de quantos litros de água eu tomei de torneira de rua quando era moleque. Sendo assim, lá no evento, havia um banheiro masculino próximo ao auditório do Cinemark que estava sempre vazio – enquanto os outros banheiros próximos aos stands formavam filas – e lá, com torneiras que jorravam água fresca, bebi dali mesmo e, ao longo do passeio pela CCXP neste sábado, retornei a esse banheiro umas três vezes para me refrescar. Se tornou um lugar sagrado em meio a tanto calor e sede. E nada de disenteria ou diarreia já fazendo 24 horas de ter bebido essa água, então, tudo ok no organismo aqui. Ufa! E aqui um outro elogio, ao menos este banheiro estava tudo muito limpo e sem o característico cheiro de urina que todo banheiro público masculino geralmente cheira. Acho que realmente muitos não sabiam do acesso a esse banheiro. Sorte minha.

Então veja só: 1- Demora e fila para entrar no evento? Sim, era de se esperar isso mesmo. 2- Que lá dentro não houvesse um sistema de refrigeração que desse conta do calor? Eu não esperava entrar em uma geladeira, mas admito que o ar quente foi meio que uma tristeza inesperada. 3- Que eu fosse ter tanta sede devido aos dois problemas anteriores? Isso meio que foi uma surpresa mesmo, e chocante a quantidade de funcionários e pessoal lá dentro passando com carrinhos enormes com uma quantidade absurda de água para ser reposto em todos os cantos que vendiam água lá dentro, o que meio que dá a impressão de que muita, mas muita água cara foi vendido nestes quatro dias de CCXP. Garrafas que no supermercado custam menos de R$ 1,50, sendo vendidas custando 5 vezes o preço normal.

Eu entendo a necessidade de eventos como esse vender água gelada, porém ainda não entendo porque água apenas potável não pode ser disponibilizado de bebedores, ainda que estes possam acabar eventualmente tendo filas. Ao menos você tem a opção, paga pra beber água gelada ou entra na fila para tomar água ou encher a sua garrafa com água em temperatura ambiente. Me parece o sensato, na boa. Como que uma estrutura enorme como vi na São Paulo Expo não pode prover alto tão básico para seus visitantes?

Aí você pensa, foi só isso que me desanimou? Infelizmente não. Como você deve imaginar, e não cheguei nem perto de ter a chance de entrar no auditório Cinemark, local onde seriam os painéis de todo o sábado com assuntos da Disney: O Bom Dinossauro, Zootopia, Capitão América e Star Wars. O auditório com capacidade para duas mil pessoas e um evento com capacidade de trinta mil. Algo nessa conta não bate, certo? Sinceramente eu não sei que horas as pessoas chegaram lá ou que horas o pessoal do evento permitiu que a galera entrasse para formar a fila lá dentro. Sei que eu fui falar com um dos Staffs que estava lá perto e ele me cortou qualquer esperança que eu tinha de entrar no painel, reforçando que muitos ali ficariam o dia todo lá dentro, que não tem qualquer previsão se depois iriam abrir outra fila, ou se o pessoal que já estava há mais de uma hora na segunda fila da desesperança sequer conseguiriam entrar ou em que horas isso acotneceria. E por que diabos eu iria para mais uma fila, sem a perspectiva de que horas eu entraria lá dentro e na chance de nem sequer olhar tudo que a CCXP havia para oferecer fora do auditório? Foi aí que desisti completamente de tentar entrar no auditório Cinemark. O jeito foi ver o que a CCXP tem a oferecer além disso e não que isso seja necessariamente algo ruim.

Porém é aí que você começa a fazer as contas. A minha impressão ao passear pela primeira vez pela CCXP é que as melhores atrações, a parte realmente épica do slogan #VaiSerÉpico é apreciado por uma parcela ínfima que vai ao evento. Lotação de 30 mil, expectativa de 120 mil visitantes para os 4 dias, mas qual o real número de pessoas que conseguem presenciar e participar dos painéis dos auditórios? O maior auditório, o Cinemark tem capacidade para 2 mil pessoas e quem fica lá dentro, pode ficar o dia todo, para todos os painéis, exceto nos raros casos em que ele é esvaziado (no sábado ele foi esvaziado as 11h antes de O Bom Dinossauro). E o pessoal do Omelete, em grande parte do dia, estava lá dentro do maior auditório, intermediando as principais atrações e quando não estavam lá dentro, estavam no box deles, fazendo o streaming ao vivo, comentando como estava o evento e fazendo rápidas entrevistas com convidados. Não poderia ter um telão para as pessoas no evento que estivessem lá e não conseguissem entrar, pudessem ao menos ver o que está acontecendo lá dentro? Você pode justificar que a San Diego Comic Con é assim também, que as pessoas dormem por dias em filas e ao relento só para participarem destes painéis, mas sei lá, isso é motivo de orgulho? Fora que alguns dos painéis, alguns destes eventos da San Diego acabam sendo filmados e distribuídos na internet. Qual painel da Comic Con Experience, deste ano ou do ano passado está no You Tube para assistirmos? Nenhum. O Portallos recebeu ao longo de todo este final de semana, pela assessoria da CCXP, todos os releases de tudo que aconteceu nos painéis, em resumos curtos, sem fotos ou imagens para ilustrar estes releases, o que dá mais a impressão de que quem entrou viu, quem não entrou azar. Não vai nem ver depois. O que é um pouco decepcionante.

A minha avaliação final é que a exclusividade destas atrações acabam sendo excessivamente exclusivas, e apenas para um número pequeno demais em relação aos números finais e máximos de visitantes do evento. Para quem não é de São Paulo, quem não possa se hospedar na cidade para chegar com antecedência de horas antes de entrar no evento, me parece uma situação meio xarope. Eu entendo a importância e a magnitude destes painéis e o quão incrível deve ser para quem participar, mas somente para quem participa, já que o material que está saindo desses painéis não está sendo liberado em imagens ou vídeo a todo o resto do público.

Quanto aos auditórios menores, além da clara falta de informação do que estava acontecendo dentro deles, pois a programação dos auditórios menores eu só encontrei próximo a praça de alimentação – sendo que a informação poderia estar lá, no local dos auditórios – e do painéis menores, porém bacanas, também tinham filas e acredito que deveriam seguir o mesmo esquema, quem está lá dentro fica o quanto quiser, e quem está na fila lá fora torce para conseguir entrar em algum momento. Não dá nem mesmo para espiar o que está rolando, já que é tudo a portas fechadas.

Falando em programação um pequeno detalhe que achei bacana na BGS e que não aconteceu comigo na CCXP. Na BGS assim que chegamos a entrada do evento havia um número grande de funcionários do evento entregando um guia do evento, com mapa e horários de tudo. Já nesta CCXP eu até encontrei algumas pessoas com esses guias, mas não faço ideia de onde estavam entregando. Não foi na entrada e nem em nenhum outro lugar que passei. Não que isso seja um grande problema, já que na entrada havia um grande mapa, apenas os horários e atrações dos auditórios que poderiam estar melhor visíveis na arena deles. Mas isso me fez ficar bem mais perdido nas atrações e seus horários que não tinha decorado, achando que não precisaria procurar alternativas nos casos onde tudo estava já lotado.

— Dentro da CCXP: Ala dos Expositores —

Esqueça agora os painéis, suas palestras e atrações. A CCXP é algo um pouco maior do que isso. Há dezenas de expositores e stands com atrações para ver e passear. Uns bacanas, outros nem tanto. Há muito também para se comprar, considerando claro que você tenha paciência aqui também.

No caso de stands como os da Panini e da Comix tinham filas que davam curvas nos próprios stands. E eram filas para que você pudessem entrar nos stands! Você entende o que isso significa? Você pega uma fila para entrar dentro destas pequenas lojinhas para ver se vai comprar algo para depois entrar em outra fila lá dentro para pagar pelo que você quer comprar! Eu achei simplesmente inacreditável. Me fez até passar a entender melhor na BGS alguém pegar uma fila de 2 horas para conseguir jogar um game que ainda vai ser lançado, mas eu não entendo uma fila que fosse menos de uma hora, apenas para entrar em um stand para ver se tem algo que você queira comprar! Eu achei isso muito absurdo, muito broxante. Então sim, eu não entrei nem na Panini e nem na Comix, para ver se haviam quadrinhos baratos e legais lá. Tinha dinheiro para gastar com eles? Até tinha, mas você não vai me obrigar a pegar uma fila para entrar em uma área que deveria ser aberta ao público. Não importa o quão lotado ou empurra empurra fosse sem a maldita fila. Eu prefiro empurra empurra do que fila. Na BGS havia o stand da Toy Show e estava enfurnado de pessoas quando passei por ele, e eu decidi entrar no emaranhado de pessoas e, na boa, prefiro tomar essa decisão de “entrar ou não entrar”, do que a loja me fazer pegar uma fila para que eu pudesse entrar para ver o que havia lá dentro e aí ver se valeu a pena ficar na fila para entrar.

E estes foram os piores casos a meu ver. Em stands de outras editoras dava para entrar de boa, sem fila, mesmo com uma grande concentração de pessoas lá dentro. Entrei na Draco e na JBC e foram as que mais gostei, enquanto na Aleph passei apenas por fora, porque dava para ver como estava dentro e fiquei sem coragem de entrar pelo número de pessoas que estavam dentro dela. No caso da Panini e Comix, os stands eram fechados, você não conseguia ver direito como era dentro deles, outra bola fora para quem queria apenas olhar. Só pra olhar tinha que pegar fila.

Falando em filas, há outro tipo de expositores que achei problemático. Os de grandes estúdios de cinema que traziam áreas de fotos com personagens, cenários ou objetos e que as pessoas também tinham que formar fila para conseguir tirar uma foto no ambiente do stand. Caramba que chato isso! Talvez eu esteja muito velho mesmo, mas eu não fico em uma fila por sei lá quanto tempo para tirar uma foto dentro da casinha do Snoopy ou num veículo de Star Wars de papelão. Ainda presenciei uma cena chatíssima no stand da Fox quando vi um dos funcionários de lá enxotar uma criança de sei lá, 12 anos de bater uma rápida foto com um boneco do Deadpool que estava exposto lá. A criança já estava pronta pra foto quando o funcionário entrou na frente e alertou o garoto que se ele quisesse bater a foto, que ele pegasse a fila virando a curva do stand porque todo mundo na fila estava ali para bater um foto ao lado do boneco do Deadpool. Caraca! Era uma criança maluco! Deixa o guri bater a foto de 5 segundos ali! Ele perdeu mais tempo explicando pro guri que ele tinha que pegar uma fila cheia de adultos do que se tivesse deixado bater a foto. O menino estava com o pai, e eles estavam apenas passeando pelos stands quando passou ao lado do Deadpool. O menino ligeiro parou e pediu pro pai bater a foto, não havia ninguém ali naquele segundo, foi muito rápido o que ocorreu, e no fim até eu me senti mal pela situação.

Claro em alguns stands haviam atrações maneiras. Como a Disney com uma piscina de bolinhas gigante ou a Fox com uma arena de gelo para patinação. E nestes casos eu entendo e apoio formar e organizar filas para as pessoas entrarem nestas áreas, na qual espero que tenham sido gratuitas – eu não vi qualquer aviso de que eram atrações pagas. Mas no geral eram muito mais stands que estavam promovendo filmes e lançamentos para 2016 com cenários para fotos, além de muitas, mas muitas cabines e espaços para as pessoas descansarem e carregarem seus celulares, pois parece que a grande diversão das pessoas hoje em dia é isso: bater fotos de tudo com seus celulares e estes não duram o tanto quanto deveriam durar. Você enxerga o evento através da tela do seu celular, pela quantidade de fotos que conseguiu bater de um evento.

Alias é até um pouco chato pensar que muitos destes stands de cinema pareciam não estar vendendo nada. Podiam ter alguns camisas e bonecos dos filmes e de suas atrações. Imagino que muitos iriam pirar com isso. Porém alguns estavam mesmo apenas promovendo os próximos lançamentos, montando cenários para filas de fotos nestes ambientes e cabines de recarga de celulares. Senti falta de espaços de lojas como o da Americanas teve na BGS. A Saraiva estava lá na CCXP, mas em um stand bem mais tímido do que seu gigante stand na BGS.

Havia alguns casos, como o da Cruncyhroll que mal sabia o que estavam fazendo lá. Não havia nada no stand deles, exceto algumas cadeiras e uma (sim, apenas uma) TV passando um animê qualquer. Nada de camisas e produtos licenciados? Nada! O Social Comics, plataforma de quadrinhos por streaming do grupo Omelete estava muito melhor do que a Crunchyroll, com mesas com telas interativas para testar o serviço. Esse foi um dos stands mais legais desse tipo de serviço. O da Netflix mesmo nem quis entrar, já sou assinante, todos os telões passavam coisas que eu já assisto no serviço e novamente, havia uma fila para entrar e não estava claro qual o objetivo da fila. Desisti.

Há duas coisas que gostei muito na CCXP. A praça de alimentação estava muito superior a praça que encontrei na BGS este ano. Muitas mesas e as pessoas estavam solidárias, sem essa de guarda lugar, compartilhando com desconhecidos suas mesas. Isso eu achei muito foda. Ninguém te olhava feio por querer sentar na mesma mesa que a pessoa estava comendo. Não havia aquela sensação de invadir domínio ou território. E até as opções de comidas estavam legais, melhores do que na BGS. Estava caro? Era previsível que estariam, nesse ponto não me senti lesado. Comi um cachorro quente com duas salsichas e muito bem recheado com tudo dentro, mais uma quantidade bacana de batatas fritas e mais um refrigerante por 26 reais. Se eu terminasse o lanchão e saísse da mesa com fome eu reclamaria, mas na verdade eu até fiquei estufado com o tanto que comi. A satisfação de saciar a fome fez o preço valer a pena. E ainda mais tarde tomei uma raspadinha que me custou sete reais, mas dado o calor que estava lá, achei uma delícia. Havia ainda lá um stand vendendo pastel que acabei não comendo porque a fome não voltou e tinha a Domino’s Pizza na qual queria ter novamente experimentar a pizza para ver se era a mesma que comi na BGS. Porém, sem fome, fiquei apenas no cachorro quente mesmo.

A segunda coisa, o ápice mesmo da Comic Con Experience, a meu ver, foi a Artists’ Alley, que concentrou todos os artistas nacionais de quadrinhos, desenhistas e roteiristas em um único e amigável espaço. Essa área estava incrível e pra mim é o que deveria ser prioridade para dobrar de tamanho na CCXP de 2016. Muitos quadrinhos nacionais, a preços incríveis, pôsteres, e muita gente simpática pra você conhecer. Eu me senti felizardo por poder conhecer pessoalmente o Douglas do Lamen e do Ricardo do RyotIras. Achei incrível, gostei de vários stands lá, vi muito material belíssimo que só não comprei porque o dinheiro realmente estava curtíssimo. Para uma próxima vez, espero está melhor preparado para torrar economias na Artists’ Alley. Tinha muita gente e eu não tinha dinheiro o suficiente para gastar com todos os quadrinhos incríveis que vi por lá. Felizmente muitos deles estão na Social Comics, que já assinei e em breve falarei mais do serviço aqui no site.

Acho que a Artists’ Alley acabou sendo pra mim a melhor e maior atração da CCXP. Foi a primeira coisa que rodei e que deveria ter ficado mais tempo por lá. Só não fiquei porque realmente se tivesse teria gastado o que não tinha pra gastar. E foi a minha primeira CCXP, eu precisava ver e passear por todos os cantos. Mas sem dúvida, quero passar a prestar mais atenção nos eventos de quadrinhos nacionais que rolam aqui pela região (estarei de olho na Fest Comix em 2016), pois me parece que aprecio muito mais esse ambiente do que stands de produtoras de cinema com lugares para montagens de fotos, cabines para carregar celular e telões com trailers que depois eu posso ver pelo You Tube. A parte cinema da CCXP talvez ocupe ambientes muito maiores do que precisaria. Eu realmente apreciei mais essa parte dos quadrinhos, dos artista e das lojas e stands que não tinham essa frescura de filas para poder entrar dentro das mesmas.

— Chegando as conclusões —

Então veja só. Cheguei a CCXP às 10h da manhã, entrei perto do meio-dia, não participei de nenhum painel porque ao contrário do que dizem do brasileiro adorar uma fila, eu particularmente as odeio. Rodei, fui conhecer quem eu queria na Artists’ Alley, tentei chegar no stand da Galápagos para conhecer um dos leitores e apoiadores aqui do site (o Rafael) mas estava muito cheio e bateu uma vergonha de entrar lá e acabar atrapalhando – tinha muita gente jogando e o pessoal do stand ajudando e conversando com esse pessoal – e não vi o Rafael por lá. Depois topei com o Ovelha (Gustavo Ilha), ex-colaborador aqui do site e hoje participante da equipe do Bacanudo do Pedro Duarte. Finalmente conheci o Gustavo pessoalmente, o que foi muito bacana, e fiquei tão animado que até esqueci de bater uma foto com ele. Comi bem no evento, vi as lojinhas que podiam entrar sem precisar ficar em fila, comprei um quadrinho do Kaji Pato no stand da Draco (pena que ele já tinha ido embora na sexta do evento pelo que me disseram) e não tive vontade de pegar fila em lugar algum para bater uma foto de cenário de nada. Tentei lá pelas 15h entrar no painel do auditório prime que teria algo a respeito de dublagem e depois um da Panini mas quando cheguei lá perto do horário meio que desisti porque também tinha fila. Já disse que odeio fila? E aí quando era quase 16h o cansaço estava demais, as pernas doendo, a sede implacável, o calor infernal, e apesar da muvuca de pessoas parecer ter diminuído, eu e minha esposa decidimos ir embora. Estava bom, vi o que foi possível ver, me irritei mais do que achei que me irritaria, e me cansei mais do que achei que me cansaria. De fato a minha intenção era poder ficar até umas 19h horas na CCXP, mas diante da perspectiva que ou eu pegava alguma fila as 16h para poder ver algo lá pelas 17h ou 18h ou ir embora, pensando que eu ainda iria pegar metrô e um ônibus para Jacareí para aí sim ver o filhão que ficou com os avós e só então descansar em casa – e principalmente tomar um bom banho – resolvi começar a minha peregrinação para ir para casa. Ah e posso dizer que para sair da CCXP precisa fazer toda a maldita pernada que se faz para entrar? Caraca que inferno esse trajeto!

Eu perguntei a minha esposa: “O que você curtiu mais: a BGS ou a CCXP?” e tal como eu, ela não pensou duas vezes para responder: a Brasil Game Show. Talvez eu seja mais Gamer do que Nerd? Não sei. A BGS tem problemas com filas sim, só que eu não tive essa péssima experiência de quase 1h30 para entrar nela, graças a gentileza da organização da BGS de ceder as credenciais de imprensa que solicitei – e olha que eu entrei com contato com a BGS, e a organização me ligou, perguntou porque eu precisava de mais uma e gentilmente cedeu para poder ir com a esposa, que me ajuda pra caramba na cobertura (as fotos desta CCXP foi ela quem tirou), enquanto a assessoria da CCXP sequer respondeu ao meu e-mail perguntando se não poderia reverter para passe de imprensa os ingresso que eu já tinha pago para sábado e que não pediria o dinheiro de volta, era só justamente para facilitar a cobertura que desejava fazer. Porém pra não soar injusto, a CCXP concedeu a credencial ao site apenas para quinta e sexta (no cadastramento pedi para quinta e sábado, pois desejava que o Bruno fizesse a cobertura do dia 1 com a coletiva de imprensa e no sábado eu faria com a Micheli a experiência do dia mais cheio) e ainda assim infelizmente o Bruno não conseguiu ver alguns painéis e nem ao menos chegar em tempo da coletiva, já que também enfrentou o mesmo problema que eu tive no sábado para chegar no evento a tempo para qualquer coisa. Ele gostou bem mais do que eu no entanto, pois já tinha ido ano passado e sabia de parte penosa da experiência. Também me relatou que na quinta, não encontrou as filas tão grandes como as que eu encontrei, e nem mesmo teve o problema que tive nos stands da Panini e da Comix. Porém passou calor, pegou mais fila do que achou que pegaria e também sentiu um pouco os problemas que aqui relatei, porém amenizados graças a mágica do passe de imprensa.

Isso mostra como a experiência do visitante comum e da imprensa pode ser algo relativamente diferentes. Não que eu só vá me divertir nestes eventos com esse tipo de privilégio, não é isso, mas se você vai com a cabeça pensando em como vai relatar, como vai compartilhar coisas bacanas do evento e chega lá e vem tantos empecilhos, meio que dá uma desanimada mesmo. Ora veja que na BGS eu voltei pra casa com mais de 700 fotos do evento! Quantas fotos eu bati na CCXP neste sábado? Aproximadamente 50 fotos e olhe lá (sendo que 37 estão na galeria da postagem, mas tem um álbum com mais 62 fotos publicadas na página do Facebook do Portallos do dia 1 do evento, que o Bruno tirou). Cansaço, desânimo e não conseguir entrar onde gostaria de entrar atrapalham com certeza esse processo de cobertura e da energia que se precisa para fotografar tudo.

E aqui vale reforçar uma outro ponto: o preço dos ingressos. Eu não acho que valeu a pena gastar 240 reais em dois ingressos para o sábado de CCXP que participei. Fiquei com a impressão que paguei muito mais do que valeria por essa experiência de suar, cansar e não conseguir participar do que gostaria e de ter filas bem mais malucas do que as que encontrei na BGS. A CCXP 2015 quase dobrou o valor dos ingressos cobrados para o final de semana em relação ao evento de 2014. De 70 reais foi para 120 reais. A São Paulo Expo vai expandir e em 2016 a CCXP será ainda maior. Isso significa que os ingressos irão custar ainda mais? Se for, vai ser bem triste. Fora que se você pensar que o ingresso VIP da Full Experience este ano custou 6 mil reais. Cara que loucura é essa? Eu não sei. Eu imagino os rios de dinheiro que deve se gastar para um evento desse porte, cheio de atrações que cobram em dólares, mas é muita grana para um pobretão como eu que mal consegue bancar um site como o Portallos sem a ajuda de amigos e apoiadores. É realmente uma parada muito louca.

A impressão que fico é que é um evento para quem realmente mora ou pode se hospedar em São Paulo por 4 dias. E que ajuda muito faltar ao trabalho ou escola na quinta ou sexta de evento. Para quem pode ir todos os dias e especialmente, tem grana sobrando para gastar. Essa é a pessoa que realmente aproveita plenamente a CCXP. Quem é de longe, meio sem grana e sem saco pra perder tempo em filas, acaba se frustrando fácil.

Eu repito o que eu disse lá no começo: respeito e fico orgulhoso pelo porte, pela magnitude e a importância que o evento em seu segundo ano já possui aqui no Brasil e o que ele representa para a cultura nerd. Não acho que a CCXP tem que acabar ou fazer boicote porque é caro e tem problemas. Acho que esse é o ponto onde as críticas precisam ser avaliadas para que o evento não só continue crescendo, mas que também fique mais acessível a todo o tipo de fã. E na boa, que os organizadores olhem com mais carinho ao pessoal pequeno da imprensa, porque ao longo de todo ano eu senti uma pontinha de desprezo, naqueles textinhos do tipo “nós da CCXP nos preocupamos com o público pagante, e por isso a imprensa não tem qualquer privilégio em certas coisas, por isso regulamos credenciais, por isso não damos acesso a todos da imprensa“, só que putz… não é meio que um trabalho em conjunto? A imprensa é parte importante do processo, de promover, de incentivar a galera a ir. Não dê acesso ou dê um acesso ruim a imprensa, especialmente aos menores, e esse pessoal que transmite a experiência, a sensação de como está indo o evento, acaba sendo prejudicado. Eu acho que esse foi o meu caso, já que fui sim para conhecer, mas também queria cobrir ela aqui para o site e não foi a experiência que eu queria ter tido. Deu no que deu.

A conclusão que chego é a seguinte. Esse ano eu desembolsei 90 reais de passagem e mais 240 reais dos ingressos para ir a CCXP. Dinheiro que eu deveria estar pagando contas atrasadas. Mas paguei porque queria ver a CCXP que me deslumbrou no You Tube em 2014, onde tudo mundo falou que foi épico, onde parecia que você poderia ver e fazer de tudo lá dentro. E bem, fui em 2015 e senti o que este enorme texto transcreveu. Se em 2016 eu estiver vivendo a mesma crise financeira que estou e tiver que escolher um único evento para ir, sem dúvida alguma eu fico com a BGS 2016. A CCXP é sim épica, mas somente a um grupo privilegiado de visitantes, enquanto para o público em geral há ainda muita coisa que precisa ser repensada e melhorada. Entendo que a parte internacional, as atrações de grande porte são o que fazem o evento ser o que ele realmente é, entretanto se faz necessário rever as bases menores, tornar a experiência de quem não consegue acesso a essa parte épica, tão interessante e bacana quanto. Repense as filas, repense o sistema de ar, repense a água! Isso sem dúvida melhoraria e muito a CCXP 2016! E na boa? Se for para ser como a CCXP 2015, nada de ingresso acima de 100 reais, até porque os visitantes vão gastar horrores lá dentro, não tem porque morder deles na entrada, ainda mais sabendo o quão penoso é entrar no evento! Posso dar uma dica legal? Ingresso com preço especial para casal ou para família!

Que a CCXP em 2016 continue sendo épica como ela diz ser, mas que também seja mais amigável com o público em geral e não apenas com aqueles que dormem na fila do evento horas antes dele abrir.

E uma dica para quem não foi e, independente dos problemas, quer muito ir em 2016. Dê um jeito e vá na quinta ou na sexta. Evite o sábado e domingo, pois além de serem os dias mais caros, ainda que sejam os dos melhores painéis e atrações, me pareceu serem realmente os piores dias. Ao menos é o que pude comparar entre a ida do Bruno na quinta e a minha neste sábado de CCXP. Será que a CCXP não deveria ganhar um ou dois dias a mais daqui pra frente? Facilitaria dispersar o público em mais dias, não? É algo que os organizadores deveriam pensar.

É isso!

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