Ao longo de 2015, muito se falou sobre Aritana e a Pena da Harpia, especialmente depois que o título chegou ao Xbox One em 09 de setembro pelo programa ID@Xbox – recebendo uma nova atualização que tornou o game mais dinâmico e ainda mais bonito graficamente – além daquele momento épico em que o Pérsis Duaik chegou a receber um prêmio em mãos do próprio Phil Spencer, atual chefão da divisão do Xbox US, em sua passagem aqui no país na abertura do Brasil Game Show.
No PC, Aritana e a Pena da Harpia (Aritana and the Harpy’s Feather) também está disponível pelo Steam e também recebeu a atualização do Espírito de Fogo, mencionada acima, que melhorou as mecânicas e visual do game, deixando a experiência do game semelhante a criada no Xbox One.
Feita estas rápidas apresentação, é hora de comentar um pouco a respeito do game! Já havia começado ela há umas duas semanas atrás no Xbox One, mas só fui terminá-lo agora no final de semana, e mesmo assim percebi que não o fiz 100%, o que significa que deixei coisas e segredos para trás e que devo pegar o game mais uma vez para correr atrás do que me passou despercebido.
Acho que o mais interessante do Aritana pra mim é a sua proposta de jogabilidade, que mesmo sendo um plataforma 2D inspirado nos antigos games do gênero, ele pega pra si mesmo uma proposta diferente de jogabilidade e aplica em um universo baseado na cultura e folclore indígena que dá um charme ao seu pequeno mundo.
Talvez no PC os jogadores de teclado não sintam isso, mas no Xbox One é bem estranho pensar que Aritana não se utiliza de nenhum dos botões ABXY do controle. Instintivamente a primeira coisa que você vai fazer ao começar Aritana é apertar o “A”, o botão que deveria ser o de pulo, certo? Só que o game funciona com um esquema incomum e diferente.
Pula-se com o gatilho direito (RT) e é o analógico direito que vai criar combos e permitir uma destreza nervosa de pulos em inimigos para avançar por grandes buracos. Isso porque o game utiliza um conceito de que não adianta simplesmente pula em cima de inimigos, é preciso atacar com o cajado na direção deles, ou seja, você pula e direciona o analógico direito para baixo, assim você atinge o inimigo e sobe novamente no ar.
Avançando no game esse esquema vai ficando ainda mais insano. Pule e acione o cajado para cima com a alavanca para pegar um inimigo acima de você e você cria um pulo duplo vertical, que pode ser emendado infinitamente enquanto houver inimigos acima de você para continuar subindo. Pense na bengala do Tio Patinhas no game do Ducktales, que podia ficar pulando de inimigo a inimigo, mas o cajado de Aritana pode atacar de todas as direções, baixo, cima, esquerda e direita e no ar isso vai emendando pulos e mais pulos de uma forma que Aritana não precise tocar no chão. E há fases onde você nem tem chão para descer, especialmente na área das cavernas com enormes buracos!
É curioso dizer que as duas primeiras fases são simples, mas é porque elas estão preparando o jogador para o que vem adiante. As fases mais avançadas do Aritana, especialmente as Cavernas Subterrâneas e o Topo da Montanha da Harpia oferecem um desafio de deixar os nervos a flor da pele (de uma forma positiva), na qual você morre diversas vezes até pegar o tempo certo do pulo. Eu realmente achei inesperado esse elemento do game. Quando o iniciei achei que seria apenas uma plataforma habitual do gênero e não um game hardcore de ritmo e tempo certo para combos e pulos. Foi uma grata surpresa encontrar esse tipo de desafio e exigência de habilidade para continuar avançando.
Felizmente o game só não frustra o jogador porque ele tem um sistema inteligente de checkpoints e de retorno ao morto de morte enquanto houver energia na barra de vida do personagem. E acho interessante que os vários checkpoints espalhados pelas fases possuam a indicação de quanto falta para a fase acabar, pois elas tendem a serem bem maiores do que o normal do gênero.
Também vale apontar que é inteligente a forma como se criaram os inimigos dentro do game. Aritana é um índio que parte em uma jornada para conseguir uma pena da Harpia, uma ave que vive no topo da montanha de sua região, pois é preciso dela para se realizar um ritual que livrará o Cacique da aldeia de um espírito maligno que se apossou de seu corpo. Sendo assim todos os inimigos são espíritos, e ao bani-los desse plano de existência, eles retornam. Assim o game permite que inimigos aniquilados em saltos retornem, não criando aquele efeito ruim que os games antigos tinham de inimigos desaparecendo e reaparecendo do nada. Em Aritana aniquilar os espíritos apenas os fazem sumir temporariamente, por alguns segundos. De fato há até uma animação que mostra eles retornando ao plano humano. São detalhes como estes que mostram o capricho na obra. Há também que se tomar cuidado, pois o cajado do Aritana apenas consegue causar dano aos espíritos roxos, enquanto os espíritos vermelho são invencíveis ao longo de todo o game. Há um cajado vermelho, mas você precisa jogar e descobrir como destravá-lo após terminar o game pela primeira vez.
Outra menção válida é a respeito dos combos. Cada tipo de ataque gera um símbolo, combinar símbolos cria combos, que se o jogador encontrar os totem que ativam estes combos é possível ganhar vida, energia, pontos etc. Cada fase tem um totem escondido. Nas primeiras fases é fácil encontrar todos eles, mas depois dá para passar por algumas fases e não ter a menor ideia de onde ele estava. O sistema de combo é uma mão na roda para conseguir energia, especialmente depois de alguns trechos onde o jogador apanha para conseguir passar.
Há que se comentar também, pois eu estranhei bastante isso, que o game não tem um sistema de mapa, e por isso não é possível durante o primeiro gameplay retornar as fases já vencidas. Mas não se preocupe! Após terminar pela primeira vez, é possível jogar qualquer fase em qualquer ordem e pegar os itens que você deixou para trás. Aí dá até mesmo para jogar as primeiras fases com as habilidades que o Aritana destrava ao longo de todo o game! Por sim, há esse elemento de nível, na qual o personagem ganha habilidades e combos conforme avança na história.
Existe também um modo Hard após terminar o game pela primeira vez e coletar todos os itens. Eu não o testei, pois deixei coisas para trás que preciso coletar, mas lendo por aí, parece que é um modo cão, pois a postura, que é um status em que o Aritana fica, verde para ser mais ágil, e roxo para atacar inimigos, não é trocada automaticamente no jogo como é no modo normal. Eu imagino que isso deixe o jogo ainda mais desafiador e insano, pois há momentos onde se faz necessário trocar posturas em meio de pulos e saltos. Alias, na postura verde o Aritana não consegue ver a real forma dos espíritos, aparecendo na tela apenas como pequenas bolas de fogo roxas ou vermelhas, e aí você não sabe para que lado do espírito atacar, pois alguns deles você só causa dano se o atacar pela direção correta.
E o jogo tem batalhas de chefes! Quer dizer, é a mesma criatura, um Mapinguari (que é um lenda indígena real, quer dizer, tudo no game é inspirado no folclore real indígena brasileiro). Cada encontra com o Mapinguari entretanto tem um desafio diferente para se descobrir como atacá-lo. E visualmente é um ser bem malucão, com uma boca enorme no meio da barriga! Eu gostei bastante dessa criatura como o vilão do game.
Não posso esquecer também de comentar das fases bônus! Colete cinco Muiraquitã espalhados pelas fases do jogo e ofereça ao altar no final da fase. Isso permitirá que Aritana ande no mundo dos espíritos, que é um labirinto tridimensional (que lembram muito as fases bônus de Sonuc & Knuckles) em busca de um folha espiritual que aumenta a barra de energia do personagem. Eu achei demais estes estágios (completei todos).
Quase encerrando o review, a minha única critica ao Aritana e a Lenda da Harpia é que ele acaba muito rápido. São apenas nove fases e três batalhas de chefes. Tudo bem que as fases são longas, mas você termina querendo mais. As vezes isso é bom, já que é comum hoje em dia você terminar um game longo e ficar de saco cheio porque ele demorou pra acabar, mas eu ainda queria um pouco mais de Aritana quando o terminei. O elemento replay do game é interessante, mas eu talvez tivesse tido vontade de retornar as fases já vencidas antes do game acabar, e não depois de vencer o último confronto. Alias o game tem um final estendido pelo que percebi olhando as conquistas. Eu ainda não o vi. Achei legal que tenha isso. Mas no fim, fiquei com a impressão de que o game poderia ter durado um pouco mais.
E é legal que cada um dos três ambientes do game, floresta, caverna e montanha possuem seus próprios elementos. A floresta é a parte básica, onde você aprende o básico do game, enquanto sobe em árvores para descobrir coisas escondidas. A caverna é mais tensa, cheia de buracos, corredeiras e mais desafiadora, com um clima de aranhas e escuridão. Já a Montanha tem o elemento vento, que te empurra para penhascos se não tomar cuidado. Ou seja, o game não fica se repetindo em suas mecânicas e jogabilidade, apenas trocando a skin do ambiente. Cada fase é realmente única.
Vi críticas antes de escrever este review de pessoas que não gostaram da animação que existe em certas partes do game, que são usadas para contar a história do jogo. Dizendo que ela não combina com o design do mesmo. Na boa? Discordo totalmente. Acho um charme a parte essa animação tradicional onde você vê as linhas e traços manuais dos desenhos, como se eles tivessem sido feito à mão e depois foram animados. Eu gostei muito desse pequeno detalhe nas cenas do game. Muito melhor e mais imersivo do que se tivesse pego o visual gráfico do jogo e usassem ele para crias estas cenas.
No fim, eu torço para que em um futuro, possa vir a existir um Aritana 2 ou ao menos uma expansão com mais três fases. Sabe-se que a Duaik Entretenimento vem trabalhando atualmente em uma versão do game para ser lançado em 2016 para PlayStation 4. Então acho que ainda é cedo para pensar em uma sequência, mas já digo desde já que adoraria que isso acontecesse.
E é isso! Quem tiver a chance, jogue Aritana! Mais um indie game, 100% nacional, que está aí fora mostrando o talento dos desenvolvedores brasileiros e mostrando que podemos alçar voo em grandes plataformas, como o Xbox e PlayStation! E isso é sensacional!
Visual impecável! Cenários detalhados com cuidado nas sombras, cores e texturas
Mecânica de gameplay cria o diferencial do game e seu grande desafio
É bacana ter um game com elementos reais da cultura e folclore nacional
Cada mundo possui seu próprio ritmo e elementos originais
Após terminar, existe um fator replay que incentiva a buscar 100% do game
É um pouco curto, o jogador fica querendo mais
O grande mérito de Aritana é a engenhosidade de sua mecânica de gameplay! Tornando a experiência de jogo única!