Não é lindo quando você descobre algo maneiro que não sabia que existia, mesmo que isso não seja necessariamente um lançamento recente? Pois então, eu meio que descobri ao acaso há alguns dias atrás a existência dessa mangá do Akira Toriyama – criador de Dragon Ball – publicado entre julho a setembro de 2013 na Weekly Shonen Jump, chamado Ginga Patrol Jako ou como alguns sites aqui no Brasil traduziram (já que oficialmente ele ainda não foi lançado por aqui): Jaco o Patrulheiro Galáctico!
Você pode ficar assustado com o fato de eu nunca ter ouvido falar desse mangá. Talvez até tenha e não prestei atenção na época, mas é difícil acompanhar esse mundo enorme de games, mangás, seriados, quadrinhos e filmes em sua plenitude. Eu sempre vejo coisas que acabo deixando passar muitas coisas porque é impossível prestar atenção em tudo. Jaco passou, mas que bom que ele apareceu novamente em meu radar!
Isso só aconteceu porque eu finalmente terminei há alguns dias atrás o animê do Dragon Ball Kai (arco do Majin Buu) e resolvi finalmente entrar na nova série Dragon Ball Super, porém antes disso resolvi também tirar o atraso e conferir o filme animado lançado no começo do ano: Dragon Ball Z: O Renascimento de Freeza. Jaco, o pequeno alien roxo aparece logo no começo do filme falando com a Bulma como se a conhecesse. Imediatamente fiquei na dúvida. O que diabos perdi da série que nunca vi esse personagem? Bastou alguns minutos no Google para descobrir suas origens e correr para algum lugar e ler os 12 capítulos que o Toriyama fez em 2013 para inseri-lo dentro do universo de Dragon Ball.
Um conto em 11 capítulos!
(alerta de pequenos spoilers – mas não revelarei algumas surpresas da trama e nem o final)
A história se passa antes de tudo que aconteceu na cronologia de Dragon Ball. Especificamente há alguns dias antes do pequeno Goku chegar ao planeta Terra em sua pequena astronave, que seria então encontrada pelo Son Gohan, o velhinho que se tornou avô adotivo de Goku.
Jaco é enviado justamente a Terra para interceptar a chegada dessa pequena nave vindo do Planeta Vegeta, lar da terrível raça de guerreiros conhecidas como Saiyajins, que na época eram todos comandados por Freeza, que no fim acabou destruindo o planeta inteiro com medo de que os Saiyajins se tornassem mais fortes do que ele e se rebelassem contra sua liderança e bem, sabemos como essa história termina e como o mundo dá voltas, certo?
Só o mangá não vai trabalhar com nada disso, sendo que isso é apenas uma costura para colocar Jaco dentro do universo de Dragon Ball, ainda que a história pudesse acontecer sem qualquer ligação com a maior obra do autor. Só que hoje dá para entender, ainda mais vendo que Jaco acabou indo parar em um game de Dragon Ball, no longa animado deste ano e na nova série animada. Eu entendo o porque de inseri-lo dentro desse universo, porém a sua história solo funcionaria perfeitamente sem que nada disso fosse necessário. Mas que bom que acabou sendo inserido!
Como estava contando, Jaco é convocado pelo Rei da Patrulha Galáctica a investigar a Terra, ver se essa nave pode ser uma ameaça aos terrestre e se for realmente algo muito perigo, ele tem até mesmo autorização para exterminar por completo a vida no planeta. Logo de cara fica claro que Jaco não é lá um membro muito apreciado da Patrulha. Um outro membro da Patrulha diz “está tudo bem mesmo mandar o Jaco?“, outro responde, “ah é um planeta meio sem importância“. Em alguns momentos mais a frente da história Jaco acaba admitindo que já exterminou a vida em dois ou três planetas sem querer. Acontece, Jaco! Quem nunca?
O caso é que Jaco acaba colidindo a sua nave na Lua. Ele estava meio distraído, também acontece. E vai parar nessa pequena ilha no meio do nada, onde vive apenas um velhinho que não gosta muito de humanos ou visitas, e aqui o leitor conhece o Omori. Lá Jaco e Omori precisam aprender a conviver juntos porque não há muito o que se fazer. A nave quebrou e ele não pode ir embora por conta disso. Omori é um ex-cientista e engenheiro acaba topando a tentar consertar uma nave alienígena, na esperança de que o Jaco vá embora o quanto antes e ele possa voltar a sua vida solitária na ilha.
Logo o leitor descobre a história do Omori, como um ex-cientista ele trabalhava em um projeto de viagem no tempo – que por sinal é proibido por lei pelos Patrulheiros Galácticos conforme ressalta Jaco – e em uma acidente na ilha todos, exceto Omori morrem, incluindo a sua esposa. O pobre Omori perde então seu financiamento governamental e acaba ficando sozinho na ilha, tentando por si mesmo fazer a máquina do tempo funcionar, com um pretexto até sentimental, admito.
E Jaco é esse alien entranho, meio que uma homenagem ao Ultraman, que certamente é da época do autor do mangá. Ele vive fazendo poses e gesticulando quando fala, pois em diálogos muitos longos ele pode entreter o Omori quando ele fala. Hahaha. Ele também não entende muito bem os humanos, mas pretende descobrir se eles são ruins, e se for o caro, tem a bomba de extinção a seu favor. Omori o convence a não matar ninguém ainda, afinal se ele o fizer, não haverá ninguém para consertar a sua nave. Justo.
O mangá segue essa excelente veio do humor que o Toriyama possui, lembrando muito aquele jeitinho clássico do Dragon Ball com o Goku criança. Em uma viagem a capital, para comprar leite e queijo, a única coisa que Jaco come, o pequeno alien acaba ficando horrorizado com o quanto as pessoas são más e grosseiras, decidido cada vez mais que é um horror como uns tratam os outros e em seu dever como Patrulheiro Galáctico se impõem a agir.
Em uma destas ações Jaco acaba agredindo dois policiais que acabaram indo tirar satisfações com ele por ele ter detonado alguns cara que estavam abusando de uma garota, que depois o leitor passa a conhecer como Tights. Colocando a capital inteira contra Jaco, obrigando ele a fugir com Omori e a Tights, que chantageia ambos para levá-la junto porque… ora é uma aventura e Jaco parece ser divertido!
Dentro da pequena trama que rende um volume único de Tankōbon do mangá – que por sinal bem que poderia ser lançado oficialmente no Brasil pela Panini que terminou recentemente os volumes da série clássica – há um plot envolvendo o lançamento de um foguete especial e de uma cantora pop que estará nesse foguete. Logo descobre-se que Tights é a dublê dessa cantora e é ela quem devem estar no foguete.
O final do mangá irá convergir todas as pequenas sub-tramas que os 11 capítulos trabalham. Omori está sendo despejado da ilha, Jaco está sendo caçado, Tights está indo para um foguete que tem 60% de chances de explodir! E os poucos dias em que esse trio passam dentro da pequena ilha do Omori criam uma linda amizade entre eles. E o capítulo final é uma derradeira surpresa aos fãs de Dragon Ball!
Tenho apenas alguns problemas com as motivações e o plot da Tights em si. Não quero contar muito quem ela é ou seus origens, mas não sei se entendi completamente o desejo de risco da jovem. Ainda mais por causa da sua família. Nesse ponto achei esse ponto do enredo contraditória. Não que estrague a história, mas a desculpa de “eu queria ver o espaço” não me pareceu tão convincente assim.
Eu adorei essa pequena história. Achei Jaco um excelente personagem, sendo engraçado e simpático, em seu jeito estranho de ser. Acabei assistindo Dragon Ball Z: O Renascimento de Freeza depois de ler o mangá do Jaco e foi uma ótima surpresa ver que ele tem uma participação até maior, especialmente quando participa da luta contra o exército de Freeza, junto com outros personagens clássicos da série. E no jeitinho na qual ele foi concebido no mangá, fazendo poses e não querendo se envolver demais.
Capítulo Extra – O pai e a mãe de Goku
No lançamento do volume único do tankōbon de Ginga Patrol Jako no Japão o Akira Toriyama fez um capítulo extra para a edição, contando a história antes de Jaco partir para a Terra, mostrando o pai e a mãe do Goku no Planeta Vegeta decidindo mandar o Goku para Terra, um planeta onde sabiam que ele não teria problemas.
É bacana ver isso, especialmente depois de tantos e tantos anos após o término do mangá oficial. A minha única estranheza é que o Toriyama fez o Goku um pouco grandinho já quando ele foi enviando para a Terra. E eu tenho essa memória do animê clássico com ele sendo encontrado pelo Son Gohan ainda bebêzinho e pelado, sem a roupa características dos Saiyajins. Talvez seja a minha memória pregando alguma peça. Porém o Goku no pequeno tubo parecia menor do que quando ele é colocado na cápsula de fuga do planeta.
Fora que eu gosto ainda mais dessa volta que o mangá dá em relação ao Freeza como o grande vilão final de tudo, sendo ele o responsável pelo fim dos pais e de todo o planeta de origem do Goku. Claro que isso também está no mangá original, mas esse capítulo extra deixa as coisas um pouco mais óbvias.
Sei que gostei demais desse pequeno presente que o Toriyama acabou dando a todos os fãs de Dragon Ball. Obrigado, ainda que 2 anos atrasado!
Aos 58 anos (na época), os desenhos do Akira Toriyama continuam belíssimos!
Omori é um grande personagem, no nível de um mestre Kami!
Jaco é carismático e funciona bem naquele sentimento de homenagem ao herói, tal como Ultraman
Tights é simpática, mas tenho certos problemas com seu plot em si
O conto inteiro do mangá é recheado com boas cenas de humor e a ação, quando vem, é animal!
A inserção dele no novo universo de Dragon Ball torna este mangá ainda mais obrigatório de se conhecer!
O capítulo extra é de um fanservice incrível. Mas pontual e nada gratuito!
Jaco é um excelente conto, mas é ainda mais incrível sua inserção no mundo de Dragon Ball!