Passei algumas horas divertidas neste final de semana jogando A Boy and His Blob. Originalmente esta versão foi lançada em 2009 para Nintendo Wii, e agora em 2016, no dia 20 de janeiro, um port do game para a atual geração, com um upgrade deixando-o totalmente em HD, feito pela Abstraction Games foi disponibilizado para Xbox One, PlayStation 4, PlayStation Vita e PC! E o preço também é convidativo desta nova versão: 19 reais!
Vale lembrar, conforme comentei rapidamente aqui, que o game é baseado em A Boy and His Blob: Trouble on Blobolonia de 1989 para o NES, porém a nova versão foi totalmente reimaginada pela WayForward (o diretor do game, Sean Velasco, é um fã assumido do game original) para funcionar e se comunicar com uma nova geração de jogadores, ao invés de simplesmente se criar um remaster do game de 89. Porém a minha comparação fica por aqui, pois não me recordo de ter jogado a velha versão do game.
Direção de arte é tudo!
O grande charme de A Boy and His Blob fica por conta da direção de arte do game, que traz essa incrível versão 2D animada que parece uma fluida animação dos antigos desenhos animados da TV.
Esse tipo de animação – que, vale dizer, é anterior ao que a Ubisoft veio a fazer depois com Rayman Origins em 2011 – faz totalmente a diferença nestes games menores e lançados na esfera digital e indie. E até hoje é um estilo de arte difícil e mais caro de ser produzido do que o habitual 3D chapado em um ambiente 2D. Talvez o exemplo mais claro atualmente seja Mighty No.9 na qual muita gente esperava que fosse ter exatamente esse estilo, mas a Comcept optou pelo estilo 3D.
E tá muito bonito o visual do port de A Boy and His Blob nos consoles atuais e nas TVs modernas de hoje. A abertura do game ainda rola em uma tela um pouco menor do que a do game em si, mas o gameplay que é o que interessa preenche toda a tela da TV. E não há nada de serrilhados ou defeito que deixe claro que trata-se de um port de uma versão feita em um momento onde os games do Wii nem sequer pensavam na possibilidade do suporte as TVs em HD.
Claro que há que se pensar que hoje em dia há alguns games mais bonitos e fluidos com essa técnica de animação 2D, como Valiant Hearts e Child of Light, que utilizam da engine que a Ubisoft criou e aperfeiçoou com os atuais games de Rayman, a UbiArt Framework. Não que isso tire o mérito de A Boy and His Blob ou que deixe-o com cara de um game envelhecido. Felizmente não é este o caso. A única coisa mais perceptível que você diga “é um game feito alguns passos atrás desse tipo de técnica” é que o cenário e ambiente não são tão “vivos” quando os personagens e inimigos em tela. É tudo muito bem colorido, com uma linda paleta de cores, mas com um ambiente um pouco mais estático do que poderia, especialmente pensando nas técnicas que hoje os Indie Games que, optam por essa direção, dispõem.
Blob e os feijões coloridos!
O charme de A Boy and His Blob não fica apenas no visual, mas na grande harmonia de seu gameplay, que mistura o estilo de plataforma 2D com puzzles para avançar as fases.
O jogador controla este garotinho, sem nome até onde sei, que durante a invasão dos “blobolonianos” à Terra encontra o Blob, essa pequena criatura branca – diferente dos demais blobolonianos que são pretos – que parece uma gosma moldável, que se transforma em qualquer coisa, dura, mole ou elástica (lembra o Gleep dos Herculóides), e juntos decidem enfrentar estes seres do Planeta Blobolonia.
A verdade é que o game não perde muito tempo com história ou tutoriais. Ele segue aquele sentimento dos antigos games 2D, mostrando uma breve introdução animada e já te jogando ao universo do game, para ir se virando e aprendendo os controles. Eu gosto de pensar que ele não fica pegando na minha mão para mostrar como as coisas funcionam. Por exemplo, eu demorei um pouco a entender que o botão “B” não era apenas para soltar um feijão no meu pé, e sim que eu deveria segurar o botão e aí controlar o arremesso do feijão para distâncias maiores.
Feijões são os itens que o garoto usa para permitir que Blob se transforme em coisas que lhe permitirá progredir na fase. Cada habilidade, uma cor diferente de feijão, selecionados por um botão de menu. O jogo funciona justamente na administração de seu Blob e em suas habilidades O garoto não faz muita coisa a não ser pular e jogar feijões. É o cara do comando, enquanto Blob é quem executa as ações e o jogador nunca o controla, exceto quando Blob ativa algumas habilidade que são controladas pelo garoto (como uma bolha onde ele entra dentro, ou um pula pula). É nessa dinâmica que você avança pelos quatro mundos do game.
O game é progressivo também no sentido dos desafios e nas habilidades destravadas. Você não tem tudo desde o começo. E nem mesmo escolhe qual a cor do feijão e habilidade levar para a fase, pois isso poderia frustrar os jogadores ao levar feijões que não resolvessem os puzzles de cada nível. O game te dá os feijões que você precisa para cada fase específica. Tal como você não pode levar todas as habilidades já destravadas para todas as fases.
Também não encontrei casos onde um puzzle pudesse ser solucionado de maneiras diferentes. Isso é um pouco chato talvez, pois aí basta o jogador acertar qual habilidade usar e pronto. Porém ainda assim o ritmo da dinâmica de plataforma e puzzle se mantém sempre divertido. Ah e também acho desnecessário as placas indicadoras de qual habilidade do blob usar em algumas situações. Poderia não ter tais placas. Acabam sendo um facilitador desnecessário. O game não me deixa pensar muito e ver se assim consigo resolver um puzzle de forma diferente.
Pequenos detalhes charmosos
Uma coisa que me agradou foi ver meu filho de 3 anos, prestando atenção enquanto jogava A Boy and His Blob. Em certo momento do game ele começou a repetir as falas do garoto, que berra coisas como “Let’s Go, Come On, Blob, Hey“. E no sábado o levamos em uma festinha de seus amiguinhos da escola e na volta até o carro ele se adiantou em nossa frente e começou a dizer “come on“, apenas reprisando aquilo que ele havia visto no game mais cedo e entendido que aquela fala em específica servia para chamar o Blob quando ele estivesse longe do garoto. É um tipo de detalhe em um game que sem querer acabou na memória de uma criança e consequentemente me lembrarei por muito tempo.
Voltando ao gameplay, A Boy and His Blob funciona com um sistema de 4 mundos, sendo mostrados em um pequeno mapa acessado em uma Hub Space, que muda a cada mundo, que serve para mostrar itens colhidos em fases e acessar alguns extras do game. Cada fase consiste não só em atravessá-la, mas também em encontrar e colher 3 baús em cada uma. E as vezes é fácil esquecer um ou outro baú para trás.
Ao final de cada mundo há uma batalha de chefe, o que acaba sendo muito impressionante justamente pelo estilo de arte que o game possui. Você precisa descobrir o que deve fazer na batalha de chefes para causar dano, pois não é só pular ou arremessar algo. É preciso combinar alguma habilidade do Blob com algo interativo do chefe ou do ambiente da batalha. É bem engenhoso se parar pra pensar.
Além das fases normais, o game possui algumas fases challenges. Mais complicadas do que as fases normais.
Conclusão!
No geral A Boy and His Blob é um game competente e especialmente simpático. Não é um action adventure, pois a ação não é frenética. O melhor é deixá-lo na categoria puzzle platform adventure. Há combates, com habilidades que permitem matar os inimigos, mas geralmente é em detrimento da progressão ao próximo puzzle. Não que isso seja ruim, mas é um game com um ritmo mais calmo, que vale ser jogado com calma, sem pressa.
As fases no geral são bem curtinhas. Coisa de um ou dois minutos, com algumas exceções, especialmente se o jogador enroscar em algum puzzle ou baú para coletar. Eu passei por alguns casos assim, onde demorei de duas a três tentativas para sacar o que deveria fazer ali. Os inimigos matam instantaneamente o garoto ao tocá-lo, porém felizmente o checkpoint é no puzzle em questão, então você renasce basicamente aonde morreu, sem ter que jogar toda a fase desde o início, o que funciona já que você já solucionou os puzzles até a parte em que morreu. Não seria divertido ter que repeti-los a cada morte.
É um bom game de hora de almoço ou pequenas jogatinas antes de dormir. Você passa duas a três fases em 10 minutos e já fica satisfeito. Porém é um jogo que facilmente em uma sentada de 5 a 7 horas dá para fechar sem muitos problemas, exceto se você engasgar em algumas das fases finais, o que é bem possível. E mesmo assim lhe sobram os challenges para jogar. Ou seja, por 19 reais ele tem um excelente conteúdo e duração. Fora a qualidade técnica já mencionada. Como não se apaixonar por estes games com estilo desenho animado em suas artes? Impossível!
É isso!