Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme | Fidelidade, porém sem surpresas? (impressões)

Não é muito fácil pra mim definir qual a minha relação com Peanuts, ou como o conhecia na infância: Snoopy & A turma de Charlie Brown. Quer dizer, fui uma criança que gostava muito mais de Garfield, pois era ele quem sempre estava na TV, era ele quem encontrava nas tiras do jornal que meu pai assinava. Snoopy e os demais personagens de Charles Schulz eu só os encontravam em ocasiões especiais, como no Halloween, no episódio da grande abóbora, ou no finais de ano, com os especiais de natal em especiais na TV.

Claro que cresci e tive um contato maior com as tiras do Peanuts, passei a entender a complexidade daqueles personagens, crianças com problemas adultos, personalidades distintas e com uma incrível crítica à sociedade em si. Só que eu aí já era um adulto e bem, ainda que admitindo que Schulz foi um gênio à frente de seu tempo, não havia aquela paixão de criança por estes personagens. Não foi diferente com as tiras de Calvin & Haroldo por sinal, mas esta é uma história para um outro dia.

Feito essa pequena introdução, fui conferir há uma semana atrás a nova animação com os personagens de Schulz, agora pela primeira vez totalmente em 3D, mas com uma charmosa técnica em 2D nas feições dos personagens que fazem totalmente a diferença na hora de dar vida a turma do Charlie Brown.

A animação levou muito anos para sair do papel, teve a mão direta do filho e pai do Schulz, a família que agora cuida dos direitos da marca Peanuts. E felizmente foi um sucesso de bilheteria tão grande que a Fox já está brigando com eles para que uma sequência ocorra, mas que não demore 8 anos como está animação levou.

Acho uma tremenda pena que a Peanuts O Filme tenha atrasado consideravelmente a sua estreita no Brasil. Lá nos Estados Unidos a animação estreou no fim de novembro, enquanto aqui ficou para a meados da segunda quinzena de janeiro, praticamente o fim das férias escolares da criançada, um tempo difícil para a criançada ir conferir o filme. Sem mencionar que veio logo após O Bom Dinossauro, que foi o que foi, mas ainda carregando o selo Disney/Pixar nos cinemas, o suficiente para causar mais barulho do que Peanuts.

Fora que o filme tem toda uma carinha de filme de fim de ano, ainda que não necessariamente seja um filme que mencione o natal. A história narra as aventuras do Charlie Brown durante todo um ano letivo, o que combina com aquela clima de encerramento de ano, e vê-lo agora na primeira semana de fevereiro não talvez não tenha me passado o mesmo clima que a animação pedia para uma experiência no cinema.

A animação é deslumbrante. Tecnicamente o visual dos personagens, os efeitos, tudo é maravilhosamente estonteante. O charme da técnica 2D dão vida aos personagens que muitos filmes 3D não conseguem dar aos seus personagens. E toda a fidelidade do universo de Charlie Brown foi respeitando com uma fidelidade de impressionar, quase não há nada realmente novo a se acrescentar aos clássicos personagens. Os produtores não tentaram acrescentar ou mexer em praticamente nada desse universo.

Não parece exatamente um roteiro que se passa em décadas atrás, sem tecnologia ou informática, apesar de passar, pois não se fala em celulares, computadores, internet ou qualquer tecnologia ou trejeito das crianças de hoje em dia. O filme não dá esse ar de antigo, deixando bem sutil essa diferença temporal, quase como uma nostalgia (pipas, bibliotecas com livros enormes etc). Eu me surpreendi um pouco com isso, e também me decepcionei um pouquinho admito, pois tinha essa curiosidade de ver os personagens em um contexto mais moderno, inseridos em uma realidade de hoje, mas não rolou. Felizmente isso não fez mal ao filme, talvez até tenha sido uma boa ideia.

Quanto a história, ela também não é nada realmente inédita, de fato é uma história que todos os fãs de Peanuts já conhecem, que é quando Charlie conhece a garotinha ruiva, apenas contada com alguns aspectos novos, dando o pequeno Charlie uma visão um pouco diferente de ser apenas o eterno fracassado. Ele ainda continua fracassando, não se enganem, agora seu azar vem diante de outras qualidade positivas que nem sempre o material original nos deixava claro perceber, mas provavelmente ali estavam.

Snoopy também faz seu papel na animação, talvez sua a maior estrela até. Ele é a cola de todo o roteiro e é essencial para a animação funcionar. A sua história paralela à história de Charlie é tão importante quanto, fora que garante ao filme belíssimas cenas de ação com o clássico Barão Vermelho. Posso dizer sem medo que esse é o Snoopy mais carismático que já vi sendo feito. Nos originais eu sempre o achei um pouquinho mais arrogante do que deveria e aqui no desenho não há nada disso, ele é 100% gente boa, o melhor amigo de Charlie Brown sem duvida alguma.

Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme é uma animação encantadora, mas talvez nos dias de hoje não basta ser apenas encantadora, é preciso um pouco mais, provocar um pouquinho talvez, mexer em alguns parâmetros, não sei. Fui conferir a animação como meu filho de 3 anos e ele ficou encantado. Morrendo de sono e cansado, ainda assim aguentou a sessão inteira. Mas não saiu da sessão animado, falando como gostou desses personagens ou impressionado com eles, diferente de outras animações e filmes que ele já assistiu no cinema. Ele gostou e só. E talvez hoje, isso não seja mais suficiente.

Eu também sinto um pouco disso. Sai do filme contente e satisfeito, mais por não terem errado, mas sem ter um efeito de “UAU” em mim. Gostaria de ter visto algo 100% original, algo novo, algo diferente do que eu já conheço desse mundo e não foi dessa vez. Uma pena. Quem sabe em uma sequência.

Diga o que quiser do filme Live Action do Garfield de 2004, mas foi o filme que fez o Jim David, criador do personagem, dar finalmente uma namorada ao Jon, o dono do Garfield. É esse tipo de coisa talvez boboca que eu queria ver. Vamos mexer um pouquinho nesse universo, fazer algo que mexa com os fãs. Peanuts não fez isso. Foi apenas uma fiel é bonita adaptação. É só.