This War of Mine: The Little Ones | Sobrevivência em tempos de guerra e o baque da moralidade! (impressões)
A primeira versão de This War of Mine foi lançado inicialmente em novembro de 2014, mas só agora, no final de janeiro de 2016, é que este muito elogiado indie game fez sua estreia nos consoles da atual geração, sendo disponibilizado então no Xbox One e no PlayStation 4, sob o guarda chuva da Deep Silver como publisher nestas plataformas.
E a versão dos consoles chega com bastante coisas extras em relação a versão de 2014. A alcunha The Little Ones significa que agora o game tem personagens crianças, além de novas missões, e também novos personagens adultos, dando uma imersão ainda maior e talvez até mais chocante do olhar da guerra pelos civis que vivem nestas fronteiras do medo, das mortes diárias e da destruição das regras e ordem da sociedade em regiões em guerra.
Eu nunca havia experimentado This War of Mine no PC, apesar de já ter ouvido muitos elogios sobre o game ano passado. Imagine então o meu choque ao ter o primeiro contato com ele alguns dias atrás, achando que ia jogar uns 15 minutinhos antes de dormir, apenas para aprender o básico, e quando de repente percebo que passei três horas ininterruptas preso naquele mundo, naquelas histórias, sem sequer ter percebido o tempo ao meu redor. Como é difícil um game conseguir isso de mim.
Para quem nunca jogou This War of Mine, explico do que se trata o jogo. É um game de sobrevivência, viva até onde puder, gerenciando recursos, materiais e a vida das pessoas que você controla em uma pequena casa, em meio a uma cidade sobre o combate de uma guerra. Qual guerra? Não importa, você não é um soldado, você é um civil tentando viver em meio ao terror da guerra. Porém é interessante saber que a 11 bit studios fez seu dever se casa, usando experiências e histórias reais com base no Cerco de Sarajevo durante a Guerra da Bósnia (1992-1996).
O gameplay é todo em 2D, na qual o jogador passar a maior parte do tempo em uma casa detonada pelo terror da guerra. Cada início é diferente e cada experiência é única. Como foi meu primeiro gameplay, comecei o game com três adultos, três amigos, vivendo juntos, tentando sobreviver a escassez de alimentos, remédios e lutando contra invasores e ladrões, porém como disse, a versão do console também inclui crianças no game, o que imagino que seja ainda mais tenso a experiência.
Cada personagem tem uma história, em uma ficha própria, assim como uma habilidade, podendo ser experiente com comida, correr muito, ter mais resistência, ser perito em combate, ser silencioso etc. Cada personagem tem seu próprios status, passando por categorias como fome, doença, ferido, estado mental (triste, depressivo, abalado) e cansaço. Cada indicador afeta individualmente o personagem e seu rendimento no jogo.
Um personagem abalado não faz nada, ficando imóvel e chocado, precisando que outros personagens conversem com ele. Um personagem muito cansado mal consegue andar, assim como o mortalmente ferido. Quando muitas coisas ruins acontecem e o personagem chega a depressão ele ainda executa comandos, mas o faz mais lentamente e sempre reclamando.
Cabe ao jogador cuidar destas pessoas, impedindo que elas morram enquanto os dias passam e a guerra não termina. Após três horas de jogo, eu havia sobrevivido por quase 15 dias e um dos personagens iniciais do meu gameplay havia morrido nesse meio tempo, o que abalou muito os que sobreviveram. Foram dias difíceis após esse evento, fazer eles continuarem vivos e executando coisas para mantê-los vivos. Um terceiro personagem, uma garota ladra, bateu a minha casa após alguns dias e eu a deixei se juntar ao grupo, o que facilitou muito que eles continuassem tentando viver. Isso é só para dar uma ideia da complexidade que This War of Mine pode chegar.
O jogo é dividido em dois ciclos, um de dia e outro à noite. De dia você fica dentro de casa, pois sair dela corre o risco de ser morto pelos militares, incluindo snipers que ficam caçando pessoas zanzando por aí. Então de dia você microgerencia seus recursos. Dá comida aos personagens, fortalece a casa contra invasores, melhora seus recursos, deixa o cara da noite e o vigia noturno descansando é assim por diante.
A casa oferece várias opções de melhorias. Fogão para a comida ser mais nutritiva e os personagens passarem menos fome, serralheria para construção de armas e outros aparatos de metal, aquecedores para que o frio não adoeça os personagens, hortas para cultivar alimentos e assim por diante. Tudo isso é feito com recursos que você consegue à noite, correndo pelos arredores da cidade em busca de materiais, estes sempre limitados e sempre escassos.
O jogo tem um relógio interno que é mostrado no topo da tela, então você sabe quando a noite vai chegar e quando ela vai terminar. Esteja sempre preparado para as trocas de dias e noite. Um coletor deve sempre retornar a casa antes do ciclo virar.
A noite o bicho pega. Primeiro porque você precisa se decidir, quem vai sair em busca de recursos? Quem vai descansar e dormir? Quem vai vigiar? Não precisa que cada um faça uma coisa, mas é essencial ter essa rotina. Quem coleta precisa voltar antes da noite acabar, ou ele pode voltar somente na noite seguinte ou nem retornar, podendo morrer por aí. Quem vigia pode ser ferido ou até morto por invasores que estiverem fortemente armados e você, o jogador, nunca vai saber, porque não o controla o vigia à noite, ficando apenas encarregado do cara que coleta recursos. E se ninguém dormir, durante o dia estão todos exaustos para gerenciar a casa. Inclusive, se você não providenciar camas, todos passam a dormir mal e ficam quase sempre cansados.
O coletor também é um personagem complicado. Sua mochila tem slots de quantos itens que ele aguenta levar, obrigando o jogador a votar para várias áreas até conseguir levar tudo. E voltar pra casa à noite, significa encerrar a noite, não dar para ir e voltar duas vezes em uma mesma noite. É preciso então pensar bem antes de se decidir o que coletar. Leve materiais e recursos, mas não esqueça de comida e remédios se tiver alguém doente. Colete também itens de troca, pois durante o dia há personagens que baterão à sua porta querendo trocar coisas e às vezes você precisa de algo que ainda não achou nas noites de coleta.
Outro problema nas coletas noturnas são as pessoas. Você passa a frequentar lugares e casas onde há pessoas vivendo nelas. Algumas lhe atacam e, se você não correr de lá ou se defender, você morre, deixando seus companheiros sozinhos. O jogo tem um sistema de som, onde você pode passar silenciosamente por alguns lugares sem ser percebido, ou até mesmo se esconder, mas há momentos em que barulhos são inevitáveis, como abrir um armário trancado com um pé de cabra ou sair correndo de uma casa. Isso alerta os moradores dela. Você também pode espiar pelas fechadores e ver o que há depois de cada porta.
Há casos em que você pode ajudar um habitante destas casas, dando remédios por exemplo, mas isso não quer dizer que ele vai deixar que você lhe roube. Eu tive um caso em que invadi uma casa de um casal idoso e eles não podiam me bater. Roubei a casa inteira (é viver ou morrer, o que devia fazer?) e o meu coletor ficou abalado por dias, em choque por ter deixado os velhinhos lá sem nada, já que provavelmente morreriam pelo que meu coletor fez. O jogo mexe fácil com suas percepções. O que é certo, o que é errado aqui? Até onde vou, que limite não devo cruzar e ainda assim manter meus personagens vivos? E tudo bem outros personagens NPCs bonzinhos morrerem? É complicado.
This War of Mine tem muito mais camadas dos que as relatadas aqui neste texto, e vale a pena ser jogado e conhecido. É uma experiência intensa e diferente, dando um soco na sua cara sobre moralidade e o qual cruel é um lado da guerra que ninguém consegue enxergar direito.
E a boa notícia é que o jogo inteiro está localizado no bom e velho português brasileiro. O jogo tem muito texto, já que não há diálogos em áudio, muitos menus, muitos documentos, muitas descrições de itens. E tudo, tudo mesmo, está totalmente traduzido. É o tipo de barreiro que um jogador sem ser craque no inglês não precisa se preocupar.
A versão para consoles é mais parruda, com mais conteúdo, mas é também um pouco mais salgada: 59 reais (confirmei pelo Xbox One), porém é aquele tipo de game que você paga e pelo conteúdo de qualidade e acha que o que pagou valeu à pena. Fora que o replay dele é grande, já que cada início você abre com personagens diferentes na casa e precisa lidar com eles de forma distinta. É um ótimo tipo de gameplay, pois a cada recomeço, alguns macetes você já vai conhecer, mas os personagens e como eles interagem acaba sendo diferente, fora que a experiência inteira com as crianças já é diferente as dos adultos (vale espiar esse vídeo feito pela IGN americana com o produtor do game apresentando essa novidade).
De qualquer forma, se mesmo assim for difícil pegar a versão dos consoles, a versão da Steam está sempre em promoção e é mais barata. E é tão válida quanto. Apenas não arrisco dizer muito sobre as versões mobiles, sim elas existem para Android e iOS, mas a jogar pelo formato do game, a fidelidade do clima deve estar ali presente. Porém não achei que This War of Mine não é um jogo de jogatinas rápidas, pois ele requer tempo e atenção as decisões, e não me vejo conseguindo jogar um ciclo de um dia e uma noite e parando para retornar um outro momento. Eu quero ver as consequências das minhas decisões, o que consigo aprimorar na casa, o que preciso fazer para os próximos dias. Não conseguiria jogar de outra forma. É um jogo que requer tempo e um pouco de comprometimento em virtude da imersão.
Independente da versão que você escolher, eu recomendo altamente This War of Mine. Sinceramente é um jogo incrível, sem que não tenha nada para reclamar dele. Os controles nas escadas – para subir e descer – das casas pode ser chato às vezes, mas nem isso chega a ser um incômodo. Apenas tenha em mente que não é um jogo alegre. Ele mexe com você, e é bem tenso, porque a realidade da guerra é assim. É um soco na cara mesmo e são raro os games que fazem isso aos jogadores. Não é um game de final feliz, que isso fique bem claro, e é totalmente OK ele ser assim, isso em nenhuma circunstância é um defeito.
Sobrevive a guerra, pelo tempo que puder.
Vídeos
Proposta do game original e intensa
Totalmente localizado em português
Replay inteligente, onde cada jogo é único
Mecânicas de gerenciamento de recurso e materiais
Jogabilidade sem grandes problemas de mobilidade
Personagens que se conectam ao jogador
Ciclos de dia e noite com escalada de dificuldade
Intenso e altamente imersivo, This War of Mine: The Little Ones é uma experiência inesquecível nos consoles!