Orange – Vol 01 | E se você recebesse uma carta de si mesmo, vinda do futuro? (Impressões)

Imagine se você pudesse escrever uma carta para si mesmo de 10 anos no passado. O que diria a si mesmo? O que pediria para corrigir de seus erros e arrependimentos? Tentaria mudar seu futuro? E o contrário? E se você recebesse uma carta de si mesmo de 10 anos no futuro contando todos seus erros e arrependimentos? Sabendo o que vai acontecer, você mudaria seu próprio futuro?

É em meio a estes dilemas que Orange, atualmente em publicação pela JBC aqui no Brasil, trabalha com a história de uma garota ainda em sua adolescência que recebe uma carta de si mesmo de 10 anos no futuro. Escrito pela autora Ichigo Takano, Orange é um delicioso mangá, que se completa em apenas 5 volumes. É curtinho, então isso o torna ainda mais interessante. Não se precisa esperar uma vida inteira para saber seu final.

O mangá começou a ser publicado no Japão em 2012 e foi concluído ano passado, 2015. Ele mudou de casa uma vez por lá, mas isso não importa, exceto saber que a versão publicada pela JBC é da nova casa do mangá por lá, que é a que traz como conteúdo extra, um one-shot extra ao final do volume chamado Haruiro Astronaut que… bem, mais ao fim falo sobre ele. Basta saber que ele foi feito especialmente para o lançamento do tankoubon na editora que publicou Orange até seu final no Japão.

O mangá

Orange conta a história de Naho Takamiya, uma adolescente em seus 16 anos que recebe um dia uma carta que alega ser dela mesmo, vinda de 10 anos no futuro. Naho de 26 anos diz que a data em que a Naho de 16 anos receberia a carta é muito importante e que os eventos que seguem descritos ali são importantes para seu futuro e de seus amigos.

A carta é quase como um diário, descrevendo pequenas coisas de cada dia da garota. Sempre com uma exatidão que a choca no começo. Como isso é possível? O mangá neste ponto de seu primeiro volume não deixa claro como é possível, e mesmo que ele não venha a explicar em seu final acredito que isso não seja algo ruim. Fica uma certa poesia na questão de saber seus próprios arrependimentos no futuro e escolher tentar corrigi-los ou manter eles assim mesmo. Até porque corrigir um arrependimento não é fácil. É preciso coragem que as vezes não temos. Especialmente na adolescência, na qual a vida é sempre um drama e todos os dias o adolescente tem aquela sensação de que suas decisões vão impactar seu futuro para sempre. E algumas destas decisões realmente vão impactar. Eu com meus 30 anos posso dizer isso com a mais absoluta certeza.

Mas voltando a Naho, o começo da carta marca um evento importante em sua vida escolar. A chegada de um novo aluno em sua classe: Kakeru Naruse. E com isso vem o primeiro aviso da Naho do futuro: não deixe que Kakeru saia com Naho e seus amigos no primeiro dia de aula. Não o convide hoje! Mas este era um evento que talvez Naho não pudesse controlar e assim Kakeru sai com sua turma, e todos viram amigos.

Duas semanas depois, sem que Kakeru tenha ido à escola em todos estes dias, Naho descobre o quão cruel foi a decisão de não deixá-lo ir para a casa naquele dia. Com isso Naho passa a dar atenção a carta de si mesmo no futuro e tenta fazer tudo que a carta diz que ela se arrependerá no futuro.

O futuro

Enquanto isso Orange também trabalha com uma outra linha do tempo, mostrando Naho do futuro, casada com um de seus amigos dos tempos de escola e já mamãe. Todos parecem se reunir para um evento importante e emotivo. Enquanto isso, o leitor continua seguindo a Naho no passado, esperando que ela possa mudar o cruel futuro que é revelado neste primeiro volume.

A carta diz que Kakeru não está mais próximo de seus amigos em 10 anos no futuro. Na verdade Kakeru faleceria aos 17 anos, em um futuro não tão distante da atual Naho de 16 anos. O que aconteceu com o garoto? Por que ele vai morrer e poderá a Naho mudar esse triste futuro?

Orange é um mangá bem denso, porém ainda assim juvenil. É uma história dos tempos de escola. Quantos arrependimentos não temos destes tempos complicados em nossa cabeça. Quando não entramos para aquele grupo de amigos, convites de jogos ou festas que recusamos, amigas ou amigos na qual tinham um afeto entre si e que nunca se declararam. O mangá mostra estes pequenos dilemas do mundo dos adolescentes, porém com uma trama de ficção e as vezes pesadas, colocando a morte de um amigo que se torna querido na linha de frente da história, sempre colocando em pauta arrependimentos da Naho do futuro e que cabe a Naho do presente decidir mudá-los, sem saber o porque se arrependerá as vezes. E o que Naho pode mudar em sua vida para impactar a de Kakeru e impedir que ele morra?

Naho descobre que mesmo com as instruções do futuro, vencer a timidez, suas próprias dúvidas e interagir com um mundo que não sabe o que ela sabe não é uma tarefa fácil.

O primeiro volume cria esse mistério em torno de Kakeru, que se mostra como um garoto simpático, amigos de todos, mas tímido e com uma tristeza grande na qual ele parece guardar para si mesmo. Naho tem suas dúvidas se deve ser algo mais de Kakeru ou apenas ser sua amiga, é certo ela se apaixonar por ele? E ela não parece saber que em 10 anos no futuro ela está casada com outro amigo e com um filho. O que acontece se a Naho de 16 anos salvar e se casar com Kakeru? Seu filhinho do futuro irá sumir da linha do tempo?

Enquanto isso, no futuro a história vai ficando cada vez mais pesada, enquanto ao poucos ela vai contando também o que aconteceu com Kakeru e o quanto eles não sabiam de certos eventos do passado. Uma cápsula do tempo é aberta e a carta de Kakeru emociona a todos no futuro. O que ele já sabia no passado e o quanto o destino já estava escrito no momento em que a Naho de 16 anos está tentando salvar a vida de Kakeru?

Uma grata surpresa

Orange acabou se tornando uma incrível surpresa pra mim. Eu realmente não esperava esse tipo de história. Achei que seria apenas um mangá adolescente juvenil, com meninas de calcinhas e garotos com sangue no nariz. Mas fique tranquilo, Orange não tem nada disso. É um mangá gostoso de se ler e sem aquele fanservice gratuito.

Mas ficar apenas no volume 1 é muito ruim! Ele é apenas um aperitivo que lhe deixa ansioso e afoito para ler mais de sua história. E tenho as expectativas para que o mangá continue na mesma qualidade que este primeiro volume. Se continuar, dá para colocar Orange como um dos mangás mais legais que já tive o prazer de conhecer.

Haruiro Astronaut

Como disso lá no início do texto: no fim do volume, há o primeiro capítulo de um one-shot que a autora escreveu especialmente para estar incluído nesta versão do encadernado de Orange. Ela explica sobre isso e conta mais de si mesmo em um freetalk no final do primeiro volume. Já sobre Haruiro Astronaut, de fato ele não tem a mesma qualidade e densidade que Orange. Não que isso seja ruim.

O one-shot conta a história de duas garotas gêmeas, com personalidades bastantes diferentes e suas aventuras escolares. Ser irmãs gêmeas tem suas desvantagens, especialmente se uma é extrovertida e a outra introvertida. Eu gostei desta dinâmica das protagonistas.

A história trabalha no evento que marca a vida da irmã introvertida, que acaba sendo apresentado a um garoto popular da escola pela irmã extrovertida e isso acaba mexendo com a vida de ambas.

O primeiro capítulo é curtinho e há alguns momentos mais de humor, não tão engraçados (humor japonês nem sempre casa com o nosso humor), do que de uma proposta de história mais séria. O personagem masculino é meio egocêntrico e metido, e as garotas do colégio caem matando em cima dele. É um clichê adolescente, mas é também um daqueles clichês que parecem bem reais, porque quem já foi adolescente sabe que é meio que assim mesmo que as garotas funcionam as vezes (sem querer generalizar), tirando é claro o exagero do próprio formato, por ser um mangá. Mas o cara se mostra um rapaz legal para gêmeas então isso não o torna um personagem escroto.

Não é um primeiro capítulo memorável, mas ele tem lá sua leveza e seu humor um pouco estilizado pelo gênero desse tipo de mangá adolescente. Não é ruim, mas só pelo primeiro capítulo não posso dizer que também é bom. Se não fosse por Orange ser muito bom, não seria um mangá que eu acompanharia, porém eu não passo nem perto de ser exatamente o público alvo desse tipo de mangá. Então não posso julgá-lo… muito.

Edição JBC

E só para não deixa passar em branco, acho que vale aqui elogios a JBC, porque a edição brasileiro de Orange é realmente muito caprichada. Capa cartonada, com a arte que não se repete nos dois lados do volumes – eu odeio isso nos mangás nacionais – papel branquinho e edição bem encorpada, com aproximadamente 220 páginas. O preço deste primeiro volume é de 15 reais, o que não me parece um mau negócio, já pensando que tem mangás nas bancas que hoje em dia custa seus 12 ou 13 reais e é impresso no papel jornal. Dito isso, Orange realmente tem um acabamento de luxo e que fica bonito colecionar pela qualidade gráfica que a editora apostou no título. Nesta caso a JBC mandou muito bem! Claro que ajuda muito a intenção de colecioná-lo o fato de ter apenas 5 volumes.

Fica aqui a extrema recomendação, especialmente quem procura algo diferente e de qualidade, fora dos clichês de mangás de batalhas, mangás de calcinhas ou mangás de sci-fi com robôs gigantes ou futuros apocalípticos. Orange é um mangá juvenil, porém com um papo sério sobre amizades, adolescência, arrependimentos dessa fase e como lidar com a morte, com uma pitada de ficção para dar aquele temperinho a mais, deixando a qualidade narrativa acima da média do demais mangás dentro de seu gênero. Gostei mesmo!

História apresenta uma proposta curiosa e instigante
Boa narrativa entre futuro e presente
Traço do mangá
Qualidade de luxo do volume impresso
Tema adolescente, mas que adultos podem apreciar
Capítulo 1 do One-shot Extra
Mangá juvenil, mas sem fanservice desnecessário

Orange apresenta uma proposta curiosa e interessante. Você fica preso nesse mundo e suas possibilidades. Você mudaria o futuro?

Sair da versão mobile