Antes de começar este texto é preciso esclarecer um ponto: este é apenas o começo de uma avaliação que deve levar todo ano de 2016 para ser concluída. Isso porque a Io-Interactive e a Square-Enix decidiram dividir HITMAN em uma experiência episódica e assim o game completo acabou se dividindo em seis partes. E cada uma será liberada aos poucos, com o ciclo completo do game terminando em dezembro de 2016. Tem uma ótima matéria na IGN Brasil com o chefe do estúdio Io-Interactive a respeito do assunto que vale a pena dar uma olhada.
Esta é a primeira vez que algo assim ocorre na franquia Hitman e é uma experiência interessante para a Square Enix e também para todos os jogadores interessados no título.
De imediato já digo que achei ótimo a quebra do game em episódios. Não poderia haver uma decisão melhor. Quando paro e olho o passado da série e penso que já joguei vários games da franquia, mas não me recordo de ter encerrado um único sequer, me parece que diluir o game e me fazer ter vontade de voltar a cada episódio lançado pode ser uma experiência muito melhor do que me dar o game completo e não me incentivá-lo a ir até o fim.
Afinal, sempre tive essa percepção de que mecanicamente os games da série Hitman não tem um sistema progressivo, ou pelo menos não um que tenha me marcado no passado. Trata-se mais de um jogo de observação. O jogador sempre está em um ambiente repleto de oportunidades de como assassinar um alvo específico. Cabe assim apenas decidir e encontrar uma maneira de lidar com o cenários e interações que o game dá. E o game não precisar evoluir além disso. Cada missão apenas muda o cenário e as opções, mas no plano geral é sempre a mesma coisa. Ao menos assim era nos antigos games que joguei. Então é fácil imaginar porque um jogador pode se cansar do game no meio do caminho antes de terminá-lo, já que nem sempre sabemos dosar o quanto jogar e quando nos damos conta, estamos cansado do gameplay. Sendo assim um game como Hitman, sendo liberado aos poucos, é uma forma de nos forçar a jogar de forma moderada, sem que o gameplay acabe sufocando o jogador.
Enfim, após ter terminado a experiência inicial deste novo Hitman em apenas dois dias, já me sinto maluco para jogar o episódio 2, mas antes que eu mesmo me inflija uma alta dosagem do game, sob o risco de me cansar sem perceber, já sei que vou ter que segurar a minha ansiedade e esperar um mês inteiro pela minha próxima missão e sei que quando ela for liberada estarei no pique renovado, já bem descansado das horas iniciais do primeiro episódio. Ainda que haja muito que fazer no game nesse meio tempo em termos de conteúdo extra e desafios mais complexos.
Preços episódios
A minha maior crítica quanto a divisão episódica talvez seja a questão do preço. Todo o game custa hoje 230 reais (60 dólares). E eu esperava que a soma dos episódios avulsos, para quem fosse adquirir em partes, o fizessem custar exatamente os 230 reais do game completo. E não é isso que está parecendo custar, ao menos no momento que escrevo este review e olhando os preços na Xbox Store.
O pacote inicial custa 59 reais, e todo o restante da experiência também está sendo vendido na loja do Xbox por 195 reais, o que já dá um total de 254 reais. 24 reais acima dos 230 reais para quem já comprar toda a experiência desde o começo. Chato isso, não? Mas lá fora parece que essa discrepância também está acontecendo, com o pacote inicial custando 15 dólares e o resto saindo por 50 dólares, o que reverte em 5 dólares mais caro para quem está comprando dessa forma (65 dólares).
E que baque pensar que 15 dólares hoje em dia já custa 60 reais pra gente, não? Lá fora a Square Enix já confirmou que os próximo episódios devem custar 10 dólares. O preço oficial para o Brasil ainda é incerto. Eu chuto que os próximos episódios deve chegar por 39 reais cada. Totalizando assim 5 episódios de 39 reais e um de 59 reais, somando assim os 254 reais pelo game completo. Parece caro, não?
Apesar de gostar da ideia de ver o game dividido em episódios, acho que o preço dos episódios em si deveriam ter sido mais amigáveis. É algo a se pensar em uma próxima vez certamente.
Bem vindo ao mundo dos assassinatos!
Deixando para trás a questão do preço, o pacote inicial de Hitman vem com três cenários dividido em dois conteúdos: o prólogo/treinamento e a missão em Paris. Iniciando assim a campanha do game e outros conteúdos extras envolvendo contratos e desafios da comunidade.
O prólogo contém dois cenários para o jogador aprender as regras e mecânicas do gameplay. Um cenário envolvendo uma festa em um Iate e um outro cenário em uma espécie de prédio militar/hangar. Cada cenário aqui contém um alvo e um assassinato.
Já em Paris o game traz apenas uma missão, porém com dois alvos a serem assassinatos no gigantesco ambiente de uma mansão com 4 níveis de andares, com um enorme heliporto, estacionamento e até mesmo uma passarela de desfile de moda. É um cenário impressionantemente enorme, fazendo os cenários do prólogo parecerem uma casa de 3 cômodos sem banheiro (ok, talvez isso seja exagero, mas deu para entender meu ponto).
Além deste início da campanha, o que mais me impressionou foi o conteúdo extra que este novo game de Hitman apresenta. E por ser totalmente online, o game parece ter uma longa cauda para replay e conteúdos adicionais.
O jogador que terminar os 4 assassinatos da campanha deste primeiro episódio tem ainda uma vasta opção de contratos alternativos e desafios para jogar nos três ambientes desse pacote inicial. É permitido até mesmo que o jogador crie novos contratos, colocando regras como alvos novos e armas que devem ser usadas para tal assassinato.
A sensação é que a parte comunidade do game é vívida e de estarem fazendo parte desse conteúdo extra, adicionando desafios, novos contratos e competindo uns contra os outros por melhores rankings e pontuação.
É verdade que em umas três horas dá para encerrar a primeira parte do modo história. Ao menos uma única vez. Paris me custou certa de 1 hora, porém eu não fiz o assassinato do jeito que queria e nem vi tudo que o cenário tinha para oferecer. Entretanto me parece que a grande sacada de Hitman é seu replay. Voltar novamente, tentar novos contratos em cenários já vencidos, ou pegar novamente os contratos dos alvos da história e tentar executá-los novamente de maneiras diferentes. Aqui está o filão de ouro da série.
Dou um ótimo exemplo: no cenário da base militar, há um jato na qual o jogador pode sabotar, e quando seu alvo o for testar a cadeira vai ejetar como um foguete, mandando seu alvo para uma altura absurda e sem paraquedas. Incrível, certo? Mas é um objetivo mais difícil do que parece, já que não basta sabotar o jato (isso é fácil), mas cumprir uma série de requisitos e objetivos dentro da base para levar o seu alvo até o momento de testar o jato. E fazer isso sem ser detectado ou levantar suspeitas não é moleza, fora que nem sempre o jogo lhe diz o que mais se deve fazer para a situação que você começou a montar se conclua. Na minha primeira tentativa o assassinato não foi pela ejeção da cadeira do jato. Acabei assassinando o alvo em sua sala mesmo, já que ele se recusou a sair dela, e depois sai de mansinho da base com meu uniforme de coronel.
Hitman é um game de oportunidades. O jogador deve infiltrar em cenários e se disfarçar (neutralizando personagens sem ser notado) para ir adiante. E disfarces são o grande foco do game. O jogador precisa se camuflar, precisa virar um guarda, um segurança, um garçom, um mecânico, um cozinheiro, um modelo, qualquer um, contato que isso lhe permita avançar pelos bloqueios que existem nos cenários, de seguranças e potenciais figurantes que possam duvidar de seu disfarce.
Não é um game de tiro e combate. Quer dizer, isso pode acontecer, mas as chances de um combate ocasionar em derrota do jogador são enormes. Eu tive uma situação em Paris onde derrubei intencionalmente um enorme candelabro de teto em vários civis, e mesmo longe do evento, os seguranças partiram para me procurar e não descansaram até encontrar alguém suspeito, nesse caso: eu. E me vi rodeado por uns 20 seguranças, e não adiantou correr ou me esconder na multidão. Uma vez revelado, é praticamente impossível escapar.
O game então tem como foco a criatividade e engenhosidade de não entrar em combates abertos. Você pode sim pegar um ou outro segurança em algum ponto distante e partir para o combate, mas com algum objetivo de passar despercebido por algum ponto. Você ganha pontos por não matar mais ninguém além de seu alvo.
Há pelo menos umas 15 formas diferentes de matar um alvo em cada missão. Pode ser um acidente, jogando algo pesado em cima de seu alvo (eu joguei um bote salva vidas na cabeça do meu alvo na missão de treinamento), pode ser por envenenamento, pode ser sufocando em uma privada, pode ser enfornando, pode ser das maneiras mais diferentes possíveis, porém para cada uma o jogador precisa mexer as peças certas no tabuleiro do cenário e nem sempre fica claro quais são estas peças. O jogador descobre simplesmente explorando, sem pressa para terminar a fase. E fique tranquilo que o game não te pude por demorar a concluir uma missão. Não há contagem de tempo em Hitman.
Também gosto da ideia dos objetivos de interação. Bebidas, moedas, martelos, pé de cabra, ferramentas, facas. Ao longo de todos os cenários há objetos de interação que permitem ao jogador criar novas e inusitadas situações. Uma ferramenta pode desligar um aparelho, venenos podem ser colocado em bebidas ou comidas, moedas causam distrações e assim por diante. As vezes uma oportunidade de assassinado só pode ser gerida se o jogador tiver o objeto certo em mãos.
Há que dizer que este novo Hitman chega a nova geração ligeiramente renovado, atraente e diferente de outros games lançamentos nesta geração. Posso pensar em Assassin’s Creed, que também tem essa aura da furtividade e de assassinatos de alvos importantes, mas Hitman funciona bem diferente. Não se trata de ser furtivo e se esconder nas sombras. O Agente 47 age na cara do inimigo, disfarçado, e é engenhoso na forma como se mata ou oculta suas vítimas nocauteadas. Assassin’s Creed nesse sentido poderia aprender um pouco com Hitman, em como criar cenários e ambientes de livre escolha do jogador para que ele decida quando e como agir.
Claro que por outro lado Hitman também poderia aprender um ou outro truque com Assassin’s Creed. Me incomoda um pouco, por exemplo, ver como os personagens andam em Hitman. Eles são meio “duros”, sem jogo corporal, quase como bonecos tridimensionais. Faltou uma fluidez de movimentos naturais, do Agente 47 poder andar em meio uma multidão sem que ele estivessem “batendo” nos outros personagens. Ele poderia ter a sutileza que os assassinos da Ubisoft possuem ao se movimentar em meio as pessoas normais.
No geral não sinto que este Hitman é uma reinvenção da série, tal como aconteceu com Tomb Raider. Pelo contrário, ele segue de uma maneira bem semelhante aos antigos games da franquia, com uma ou outra novidade, mas visualmente está mais imponente, graças ao poder da nova geração. E esse poder gráfico faz a diferença no estilo deste game, de objetos, cenários, situação e pessoas, pois quanto maiores estes números, melhor o game se torna.
As multidões do game realmente são impressionantes. E é bom ver que a série não tentou mudar por completo. Caberia sim algumas reformas, mas não é nada que estrague a experiência do game. A decisão por dividi-lo acabou sendo o grande chamariz do título, pois acho que se tivesse saindo completo, com as mecânicas que vi neste primeiro episódio, não demoraria muito para o game fosse prematuramente esquecido, em meio a uma mercado inflado de recorrentes lançamentos, grandes ou pequenos. E assim, o esmero dos desenvolvedores em prover uma experiência de um ano online pode vir a fazer a diferença ao título, mas só saberemos disso mais a frente, quando novos conteúdos e eventos semanais começarem a somar ainda mais ao conteúdo inicial.
Não duvido que esse acabe sendo um grande momento para a franquia e que mais coisas além das já planejadas acabem sendo incluídas no título ao longo desse ano. Só torço para que dê certo e que os próximos episódios tragam mais coisas diferentes e mais assassinatos malucos e criativos.
Pontos rápidos
— Pena a Square Enix não ter conseguido dublar o game para o português. Hitman no momento possui apenas legendas em nosso idioma. Não que seja ruim as legendas, mas me peguei algumas vezes me complicando tentando observar o mundo do jogo, enquanto algum diálogo acontecia em tela. Fora que as vezes os guardas falam com o jogador, dizendo para não ultrapassarem e não há legendas nestes diálogos.
— Os loadings do game são de doer. Demoram de forma absurda para serem carregados. É de uma agonia enorme dar um reload (carregar) em uma jogada errada de uma missão e ter que aguardar um novo loading. Isso poderia ser verificado e melhorado em um patch com os próximos episódios.
— Entretanto o resultado do carregamento, ainda que demorado, é compensado por um game que não trava, não tem carregamento de texturas atrasadas, personagens desaparecendo ou reaparecendo do nada, ou multidões com personagens iguais ao lado do outro. O game quando está sendo executado o faz perfeitamente, sem qualquer engasgo.
— E que sistema de save inteligente! O jogo salva automaticamente de tempos em tempos dentro de uma missão e também é permitido o jogador a criar vários save points no momento em que lhe convier. E o jogo retorna do jeito que você o deixou se precisa carregar um destes saves. E não é um slot de save, mas vários para o auto save e para o salvamento manual. Você então tem vários momentos de um missão para carregar quando algo der errado em seu gameplay. Isso é uma mão na roda se pensar que é desnecessário refazer toda uma missão por ter morrido ou fracassado.
— Claro que o jogo também poderia pegar leve em algumas trilhas de oportunidades. As vezes o game pega muito na mão do jogador, impedindo que ele descubra as coisas por conta própria. Felizmente alguns destes facilitadores podem ser desligados no menu de parâmetros do game.
— História da campanha? Ainda não dá para se ter uma ideia do que o game quer. Sabe-se que o Agente 47 está meio sem lembranças de seu passado, mas ele aceita trabalhar pra essa agência e cumprir as missões de assassinato. É quem ele é e o que ele faz. No final do capítulo de Paris há um diálogo de vilões que criam o gancho para a sequência da história, mas dizer o que vai sair disso é impossível nesse ponto. No geral o gameplay vence fácil a necessidade de uma história em Hitman, ao menos neste primeiro episódio.
Agora que venha o Episódio 2 (Itália) e os novos conteúdos prometidos nesse meio tempo. Continuarei jogando e voltarei para novas impressões quando o próximo conteúdo for lançado. Aguarde!