Crise Política | A semana com Brasil vs House of Cards (Ano 4)
Pode ler sem medo que não haverá spoilers da quarta temporada de House of Cards!
Chegou o final de semana de uma semana que provavelmente ficará marcada na memória de muitos brasileiros. A política nacional está uma loucura, mais intensa do que final de novela da Globo. Se o que aconteceu esta semana tivesse acontecido em um filme na TV muitos diriam que isso jamais aconteceria na vida real. Eu poderia dizer “só no Brasil mesmo pra algo assim acontecer”, mas soaria clichê e meio que falácia, como se no mundo afora certos absurdos e bizarrices políticas e governamentais não acontecessem as que não prestamos atenção porque não é em nosso quintal.
As brincadeiras com os recentes acontecimentos políticos do Brasil e com as intrigas de House of Cards foram inevitáveis essa semana, não só por brasileiros, mas até mesmo lá fora se fez tal menção. Talvez não de forma exata, mas a baixaria pelo poder, impunidade e questionamentos morais na realidade nacional e na realidade da ficção de House of Cards chegam a ser assustadoras em alguns momentos.
Chega a ser curioso que a crise nacional parece ter chego em seu ápice alguns dias após a estreia da quarta temporada de House of Cards, que foi liberada aos assinantes no dia 04 de março. Enquanto no Brasil se discute a moralidade de uma presidente e um ex-presidente que se veem em meio a um dos maiores processos e investigações de corrupção pelo qual eu posso me lembrar, a nova temporada de House of Cards também levanta os esqueletos do armário de Frank Underwood para assombrá-lo em uma temporada tensa, onde um presidente que divide uma nação tenta a todo custo se reeleger, onde mascaras e segredos tentam a todo custo virem a tona. E quão semelhante isso soa com a atual crise política aqui no Brasil? É de arrepiar um pouco acho.
Eu não posso dar muitos detalhes a respeito da quarta temporada de House of Cards, afinal por se tratar de uma série original da Netflix, há todo esse período de respeito para com os fãs, na qual tudo mundo acaba vendo a temporada inteira à sua forma. Uns fazem maratonas, outros assistem um episódio por dia, e há aqueles que levam semanas (meu caso) ou meses.
Foi estranho ter decidido começar a ver a nova temporada nesta segunda-feira, dia 14 de março, e logo em seguida ver todo esse panelaço brasileiro se intensificam dia após dia ao longo da semana inteira. Chegou um momento ao longo da semana que eu não sabia mais se queria assistir House of Cards ou ligar ou assistir o jogar para ver o que estava acontecendo de igual ao mundo real.
Resolvi então opinar, sucintamente, a respeito de ambos os assuntos aqui, juntinhos, misturando ficção e realidade, porque é isso que o mundo da política brasileira parece as vezes: uma grande novela, com momentos de galhofa, momentos de tensão e drama, e aquele suspense terrível para descobrir quem matou Odete Roitman? (ih, você jovem, não vai pegar essa referência – então clique aqui se quiser entender)
Sobre o Brasil é muito difícil ponderar uma opinião permanente, porque nunca dá para saber se o que as pessoas querem vai piorar ou melhorar esse remendo que é nosso sistema político. Alias é até difícil dizer o que as pessoas realmente querem. Há opiniões contrárias para tudo. Querem Dilma, Lula e companhia do PT fora do poder por todos os motivos que você possa imaginar, porém tem aqueles que não querem por terem medo do que sobra se tirar estas pessoas, que para o bem ou para o mal, acabaram se tornando o símbolo de uma parcela da população que nunca se achou merecedora da atenção dos governantes do país. Hoje vivemos em uma nação dividida, e quem está certo e quem está errado? E quem é neutro o suficiente para dizer qual lado tem maior peso? Não há!
Veja bem, estou tentando dar uma ideia neutra aqui, para poder exercer o poder de raciocínio, ainda que na minha opinião a troca dos governantes do país hoje é tão importante quanto era nas últimas eleições e deu tudo errado. Dilma deveria deixar a presidência? Lula não deve virar Ministro? Eu sou do time que sim, que precisa haver uma troca de responsáveis para o país voltar a entrar nos eixos. O PT teve seu tempo de casa, agora outro precisa assumir, sobre os riscos de que quem entrar maltrate ainda mais as coisas. É sempre um risco, mas acho que do jeito que as coisas estão é melhor arriscar do que manter as coisas sendo varridas para baixo do tapete. O Brasil precisa de uma nova faxineira.
Quanto aos escândalos, aos podres, à corrupção, eu sinto sono ao pensar o quanto tempo demora para as coisas serem investigadas no Brasil. A morosidade do sistema judiciário é pavorosa. Provar as coisas por aqui parece um pesadelo. E com tanto dinheiro, testemunhas, relatos, provas, ainda assim não se consegue dizer com 100% de certeza que fulano, beltrano e sicrano de fato estavam fazendo que não deveriam. Como as coisas podem ser tão complicadas assim?
Já li reflexões e textos que sempre abordam aquela questão do Brasil ser um país relativamente novo, que ainda estamos aprendendo como os governantes devem agir, como o processo democrático deveria ser. E sim, isso é meio que verdade. Mas é irritante as vezes como o óbvio simplesmente é ignorado em meio ao rito burocrático e político da coisa. Tome por exemplo o Lula? Ele é culpado? É inocente? Isso no momento não importa (muito), de qualquer forma estamos falando de um ex-presidente sendo investigado por algo que talvez ele possa não ter feito (mas eu acredito que fez). Diante disso não seria sensato não dar ao cara, por todos os mérito que ele possa ter tido no passado, um cargo dentro do Governo? Por que fazer isso agora? Por que isso não foi feito anos atrás? Por que uma presidente ter que vir e intervir dando aquele impressão “pow, o cara é tão inocente que eu boto a minha mão no fogo por ele e vou dar um cargo no Governo pra mostrar isso“, é ridículo a falta de bom senso no mundo político nacional.
Mas novamente é uma lição dada ao povo, não que eu acho que a gente aprenda muito com isso, afinal lá em 2014 era realmente só pelos vinte centavos. Uma coisa que dá para tirar disso tudo, é que os políticos talvez fique com mais medo da população do que ficariam uns três ou quatro anos atrás. As pessoas querem fiscalizar mais, querem menos pão e circo, querem uma imprensa mais comprometida com a sociedade e sem rabo preso com políticos e com o Governo (ainda que elas ainda sejam). Há o surgimento de uma cultura de que precisamos desconstruir esse Brasil da malandragem, da roubalheira, do “ele rouba, mas faz“.
Eu torço por dias melhores, eles virão com certeza. Seja ainda em 2016, seja nas próximas eleições. Ainda não dá para dizer que o impeachment vai realmente acontecer, eu espero que aconteça, mas não por ódio dos atuais governantes, e sim porque em se tratando de competência, responsabilidades e bom senso, já houve essa comoção de que ele não aguentam mais a pressão. O Brasil precisa de uma lufada de bom ar, para refrescar esse cheio de mofo que está exalando de nosso sistema econômico, do sistema educacional, da rede médica, do sistema judiciário. Renovar em tempos de crise é uma visão interessante, porque se nada se faz, o mofo só vai crescendo e se tornando mais perigoso e tóxico. E ninguém quer isso, né?
Mas não existe receita certa para consertar o Brasil. Precisamos de tentativas e erros, e as vezes é a população que paga o pato, precisamos entender e aprender a lidar melhor com isso.
E House of Cards? Bem, eu disse que não daria spoilers aqui, não disse? O que posso dizer então sobre a quarta temporada que não vá entregar nada a quem ainda vai assistir? Bem, dá para se dizer que eu mordi a língua. Pois havia comentado por aqui uns tempos atrás que vinha notando um certo cansaço da série após três temporadas e que não esperava um quarto ano tão emocionante e intenso quanto a série já foi em seu passado. Decididamente errei.
O quarto ano de House of Cards está incrível. Tão tenso e inesperado quando os rumos futuros de Frank Underwood. Eu tiro o chapéu aos produtores que souberam criar reviravoltas inesperadas por mim. Melhor ainda foi resgatar várias premissas bases do primeiro ano da série como consequências indiretas nesse quarto ano. House of Cards decididamente tem fôlego para uma nova temporada, independente de como esta deve acabar. Sim, porque eu ainda não sei como ela acaba. Assisti apenas os seus primeiros episódios, mas do que vi até agora, me surpreendeu e me deixou tão tenso quanto acompanhar as notícias do Brasil ao longo da semana.
Enfim, falar de política é sempre chato, não? Pra mim ao menos é. Sempre parece que lógica e bom senso não conseguem se misturar com política, como óleo e água. É bizarro. E pra encerrar uma última comparação entre Brasil e House of Cards, pois é curioso que no Brasil toda essa briga política, toda a crise, toda a discussão causada não é sobre poder, e sim sobre dinheiro, sobre lucrar ilegalmente, sobre arrancar dinheiro de quem não tem, de não se importar com responsabilidades. Essa é visão Brasil da crise política, enquanto em House of Cards, que tem uma visão americanizada, pois o jogo político lá também é bem diferente daqui, legislativamente falando, a briga é sobre poder e influência. Não é sobre corrupção, sobre lavagem de dinheiro ou se enriquecer com tanto dinheiro que você nunca vai conseguir gastar em toda a sua vida, mas sobre estar no poder, querer governar, querer por suas ideias de uma sociedade melhor ao seu país. É uma visão muito romantizada é verdade, mas Frank Underwood é todo inescrupuloso não porque ele quer uma piscina de dinheiro, mas porque ele quer ser um líder. São pesos e medidas muito diferentes.
Mas novamente, pesos e medidas diferentes, ficção versus realidade. E realidade aqui segue muito mais dura e fria do que falsa moralidade pelo poder de House of Cards. Em todo caso, não há momento melhor ou clima mais intenso para começar a ver House of Cards do que em meio a toda crise política nacional.
É isso!
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