Far Cry Primal | Aventuras pré-históricas em Oros! (Impressões)
Bem, quase 20 dias se passaram desde meu relato sobre o começo da minha jornada pelas terras de Oros em Far Cry Primal. E desde então muito aconteceu na vida de Takkar para reunir sua tribo, os Wenjas, e lutar contra a tirania dos Udams. Com isso, agora sim posso dizer que, sem qualquer sombra de dúvida, Far Cry Primal acabou se tornando o meu Far Cry predileto até agora!
Nestas duas semanas que se passaram, além de ter jogado muito o game, ultrapassando mais de 10 horas de gameplay, também li alguns reviews e também impressões de jogadores que experimentaram a nova aventura da série. Tal como qualquer sequência, há sempre as opiniões controversas e pequenas polêmicas em torno do game novo em relação a versões anteriores. E digo que mesmo assim esse foi o Far Cry mais divertido que já joguei e nem mesmo com as críticas a respeito de alguns dos pontos do jogo me incomodaram a ponto de prejudicar a minha diversão. Que pontos? Calma que voltarei a isso mais a frente.
10 horas de campanha são suficientes para qualquer jogador ver praticamente tudo que o game tem a oferecer. Nesse ponto você tem quase todas as mecânicas de jogo destravadas, faltando apenas aprimorar algumas delas. Já abriu toda a árvore de habilidades de todos os especialistas da tribo e já aprendeu a domar quase todo o catálogo de animais do game, além de ter explorado muito por toda a Oros, indo até mesmo as regiões de climas diferentes e encontrando muito mais feras e animais do que achou que encontraria inicialmente no jogo. Nesse ponto o jogador também já conheceu quase todo o elenco principal do game, especialmente figuras como o cara que lhe apelida de Homem-Mijo e a uma caçadora que lhe chama de Pé de Mamute. Porque na pré-histórica ninguém se importava com bullying, certo? Você é o herói da tribo Wenja, mas também é o Homem-Mijo e o Pé de Mamute. OK, as situações que gerou tais apelidos foram justas vai.
Isso não significa que nesse ponto eu já tenha terminado o game. Não terminei e nem quero terminar! Oros ainda vai me render mais horas e horas de diversão. Nesse momento eu tenho tudo que quero. Já dominei feras absurdamente fortes como o Urso e o Tigre Dente de Sabre, já tenho o gancho que me permite escalar qualquer lugar, tenho energia e recursos suficiente para sobreviver longe e afastado da minha vila e viagens rápida (fast travels) destravados para poder ir para qualquer lugar sem me estressar em ter que ficar preocupado com repetições desnecessárias de caminhar nos mesmo lugares sempre, fazendo as mesmas coisas. Há ritmo, sem parecer que estou andando em círculos.
Perigos na Idade da Pedra!
Também vi muitas loucuras nessas muitas horas de jogo, andando pelo mundo de Far Cry Primal. Um emblemático pra mim, foi ficar no topo de um pequeno morro, olhando a loucura do mundo animal embaixo, com cabras fugindo de onças, para de repente lobos surgirem do nada, e logo depois um urso chegar tocando o terror colocando todo mundo para correr e até mesmo alguns Udams chegarem achando que dariam conta do urso… até o urso me ver e também dar cabo de mim. Rá!
As vezes é realmente insano a vida animal de Oros. Parece que há coisas totalmente aleatórias acontecendo mesmo sem que o jogador esteja olhando, como se os animais e habitantes estivessem sempre fazendo algo. E não é incomum você escutar gritos de Udams e Wenjas sendo de atacados e devorados por alguma fera enquanto você passa quietinho pelas proximidades para não desengatilhar problemas pra si mesmo!
Outra situação que só fui descobrir mais a frente do game diz respeito aos rios de Oros! Ao contrário do riacho inicial que vi nas primeiras horas de jogo, mais a frente do game os rios apresentam grandes ameaças, com enormes piranhas (aqui chamadas de peixe-mordida) e crocodilos! Mas na boa? Não tem nada mais incrível do que arremessar uma lança e dar headshot em um crocodilo enorme, que morre virando a barriga pra cima e repousando sua carcaça no fundo do rio. E você vai até o fundo do rio e estripa o animal em busca de recursos, como carne e sua pele.
Achei que viajar por Oros seria muito mais tenso e problemático por conta das ameaças existentes em seu mundo, mas na verdade tudo muda quando se aprende a domesticar animais. Quer dizer, os pequenos animais não oferecem assim uma grande proteção ao jogador. Os Dholes são absurdamente fracos, morrem com uma paulada. Uma ÚNICA paulada. Os lobos parecem fortes, mas não duram muito contra os felinos do game. Mas a partir do seu primeiro felino, as coisas ficam bem mais tranquilas, com um guarda costas felino sempre pronto para lhe proteger de qualquer ameaça.
A verdade é que o uso dos animais domesticados se provou a melhor coisa que o game tem a oferecer. Se tem uma coisa que me acostumei em Far Cry Primal é quase nunca entrar em combate direto com inimigos e feras na pele de Takkar. Sempre mando minha fera e minha coruja fazer todo o trabalho sujo. Houve duas ocasiões onde dominei uma vila inteira de Udams usando apenas meu enorme leão das cavernas e minha coruja. Não fui detectado em nenhuma das situações. Em uma outra situação entrei dentro da vila com um urso gigante e obviamente ninguém foi páreo para ele. Nem sequer me deram muita atenção.
Agora entendo porque os desenvolvedores optaram por um sistema simples de domesticação de grandes feras. Elas não são algo com que o jogador tenha que ficar entrando em combate e matando, mas são uma incrível ferramenta para gerenciar combates a longa distância, já que este é um game onde não há armas de fogo. Os grandes animais causam um dano e problemas tão grandes aos inimigos de Takkar quanto se ele tivesse uma granada ou um lança-chamas ou bazuca apontada para seus inimigos nos games de guerra.
E o menu de feras domadas é perfeito no sentido de trocar e chamar qualquer fera já domada. Contanto, claro, que ela não tenha sido morta. Se foi, basta revivê-la usando alguns itens que você precisa recolher pelo game (são algumas folhas específicas). Tive alguns casos de feras mortas (especialmente antes de conseguir domar ursos), mas foi tranquilo revivê-las. Em um outro momento do game, dei de cara com um rinoceronte a beira de um rio que não podia atravessar porque havia um crocodilo e piranhas dentro dele. Nunca que o Takkar mataria um rinoceronte apenas com um porrete, flecha ou lanças. Na mesma hora, enquanto fugia, abri o menu de feras e chamei meu urso, que em questão de segundos apareceu e me salvou do rinoceronte, um bom exemplo para se ter uma noção de quão apelão e prático é tal de convocar feras já domadas via menu.
Quanto a montar em grandes animais não achei tão divertido quanto esperava que fosse. A visão em primeira pessoa dá uma perspectiva toda esquisita e a falta de “galope” deixa o animal parecendo um “carro”. Para percorrer grandes distâncias é muito mais prático usar o fast travel e manter o animal ao seu lado, mandando o mesmo atacar o que lhe ameaçar. Inclusive o game tem aquelas missões em que o jogador é um mamute, que serve como uma pequena diversão extra, mas nem se compara com a experiência principal controlando Takkar.
Sobre mapas e vilões…
No que diz respeito as críticas, há essencialmente duas que estão na boca dos jogadores: o mapa de Primal ter sido feito em cima do de Far Cry 4 e a ausência de uma vilão carismático.
Sobre o mapa, vendo comparações no You Tube fica bem claro que a Ubisoft fez o mapa de Far Cry Primal totalmente em cima de Far Cry 4, mudando muita coisa é verdade, inclusive relevos, vegetação e efeito climático de diversas áreas, mas que na essência as semelhanças em ambos existem muito mais do que apenas seu tamanho. Talvez para aqueles que jogaram de forma minuciosa Far Cry 4 esse fato seja algo bem ruim, ainda que pra mim, a sensação que sinto é que com todas as modificações de relevo, pequenas adições aqui e ali, além de toda a nova experiência e mecânicas é que Far Cry Primal torna todo o mapa do game uma experiência próprio e original em detrimento a experiência de Far Cry 4. Porém admito que é um detalhe meio chato e que os desenvolvedores poderiam ter evitado simplesmente mexendo mais nas fronteiras e limites do mapa, puxando e esticando as coisas aqui e ali para dar a sensação de um mapa mais alterado.
Outro ponto que também se tornou uma crítica ao game foi a falta de um vilão carismático tal qual os últimos dois games da franquia receberam. Aqui eu discordo um pouco, pois não é porque o game não tem um vilão carismático que ele não tenha personagens carismáticos. Na verdade Far Cry Primal está cheio de personagens carismáticos e que se destacam à frente do próprio protagonista do game. Todos os Wenjas especialistas que Takkar recruta pela campanha são interessantes e possuem trejeitos e carismas individuais. Todos são meio malucos, engraçados e com bons diálogos (para humanos da pré-história). Enquanto os dois games anteriores tinham apenas um personagem que se sobressaia sobre os demais, em Primal há vários que disputam entre si como o personagem mais memorável da história do game.
E pra mim isso é mais interessante do que único personagem que se destaque frente a todos os outros personagens desnecessários e coadjuvantes esquecíveis. Far Cry Primal é rico pelo seu elenco bizarro e maluco, ainda que eles sejam “do bem”. Não que não haja, é claro, coadjuvantes de missões paralelas que não possuem qualquer personalidade. Porém como conjunto da obra, os especialistas que são os principais e conduzem toda a aventura de Takkar possuem premissas únicas e singulares. Pra mim são todos bem mais legais do que um único vilão estiloso.
Vilão alias é o que parece faltar em Far Cry Primal. Sim, há o líder dos Udams e tal, mas a história do game não pede necessariamente um vilão engenhoso ou cheio de artimanhas. O grande desafio do game acaba sendo o desbravamento da região de Oros. Chegar a todos os lugares, domar todas as feras e sobreviver a tudo que os especialistas lhe desafiam a fazer. E conquistar Oros é o grande desafio do game, mas não necessariamente o vilão. Os Udams? Sim, eles são um problema. Mas olha o tamanho do meu Dente de Sabre aqui! Eles não representam uma ameaça tão impossível assim de ser combatida. O game dá aquela sensação de ser apenas questão de tempo até os Wenjas conquistarem tudo e os Udams serem derrotados. Os Wenjas progridem, evoluem com Takkar. Os Udams não.
De fato não cheguei a Far Cry Primal esperando um grande plot digno de um Oscar. Na verdade o que esperava era justamente o que o game me apresentou: um mundo instigante na pré-história, sem os clichês que todos os outros games da série apresentavam até então, baseado em confronto com armas de fogo e bases domadas do começo ao fim. Primal muda um pouco essa fórmula.
As bases existem, aqui são as vilas Udams, mas elas não são exatamente o ponto principal do game. Os especialistas lhe mandam fazer coisas malucas, como caçar animais raros ou subir grandes montanhas. No meio do caminho para uma coisa ou outra, você acaba detonando alguns Udams e vilas, mas estes não possuem a dificuldade ou os problemas que existiam nas bases dos games anteriores, onde era tudo a respeito de saber atirar e mirar em uma arma em primeira pessoa e indo mal o caos se instalava na base e o jogador apanhava para dominá-la, obrigando-o a recomeçar e ser mais sutil. Ao menos as minhas experiências eram assim nos dois games anteriores.
Uma grata surpresa
No geral, tudo em Far Cry Primal me agradou. Até mesmo as missões paralelas, na qual há muitas até criativas. Tive uma missão paralela que uma habitante da minha vila me pediu para investigar o rio, que estaria dando diarreia para os membros da tribo. E lá vou, seguir o rio, a trilha de peixes e outros animais mortos por intoxicação da água. Descubro uma caverna com Udams mortos por lobos, com cadáveres em decomposição na água. Bastou retirar os corpos, dar cabo dos lobos e missão concluída. Bem diferente de ir ao ponto A ao B e atirar em soldados, ao menos me pareceu. A sensação é diferente, ainda que ambas as coisas sejam parecidas. Não é a execução, mas a imersão da proposta.
E depois de abrir todos os especialistas da tribo, o que resta a se fazer em Oros? A árvore de habilidades só abre com todos os especialistas acampados na vila de Takkar e com suas Ocas montadas. Depois disso todos lhe dão missões que devem ser cumpridas em Oros, até Takkar ter condições e força o suficiente para chegar a vila suprema dos Udams. Antes disso o jogador precisa desbravar o mundo gélido de Oros, onde estão os grandes e peludos mamutes.
Aqui começa o momento de confecção e busca de recursos. Peles de animais, pedras de várias regiões, madeiras diferentes, plantas etc. Tudo para melhorar seu arsenal, suas roupas, e sua vila, para ir cada vez mais distante em Oros. Esse também é um bom momento para ir fazendo missões paralelas, aumentar a população da tribo e domar as feras que faltam em seu menu. É aqui que repouso e descanso em minha jornada. Sem pressa para terminar o game.
Há ainda uma grande curva de upgrade de armas, confecções e habilidades após ter aprendido do todo o básico do game. E nesse ponto o game já não fica mais pegando na sua mão e te deixa fazer praticamente qualquer coisa. Com grandes feras domadas, até mesmo as missões paralelas acabam sendo rápidas e recompensadoras. O jogo dá uma liberdade grande nesse ponto ao jogador e não o pune por querer desbravar tudo no mapa, sem se preocupar em finalizar a campanha principal. Não é preciso ter pressa.
Ao fim, percebo que esse é o Far Cry que mais joguei, e que ainda continuarei jogando. Talvez o que tenha realmente me agradado seja o que desagradou uma parte de jogadores: a ausência de armas de fogo e aquela fórmula de confronto de guerra e soldados. Pra mim o mundo de Primal me contagiou. A liberdade com os animais, com a exploração e com tanta coisa acontecendo de diferente em todo canto, sem os clichês de outros FPS e até mesmo dos games anteriores da série. Nunca me canso de ir de lá pra cá, caçar, correr, subir, pular, coletar e aprimorar tudo que for possível no game, mesmo após 10 horas de gameplay.
Me parece que desse mundo pré-histórico eu não saio tão cedo!