Shantae and the Pirate’s Curse | Conhecendo uma nova e divertida franquia! (Impressões)
Antes de começar a dar minhas impressões a respeito de Shantae and the Pirate’s Curse acredito que seja interessante voltar um pouco e explicar alguns detalhes em torno da franquia Shantae em si, especialmente para aqueles que estiverem conhecendo a série somente agora, nesta geração, especificamente pelo terceiro game da série. No Xbox mesmo, Pirate’s Curse é o primeiro game de Shantae disponibilizado. E se esse é o terceiro título de uma franquia, onde estão os demais games?
Shantae surgiu em 2002 – faz bastante tempo – e foi lançado originalmente para o Game Boy Color, quando inclusive a Nintendo já havia lançado o Game Boy Advanced! Chega a ser curioso que mesmo frente a explosão do GBA o título chamou a atenção e foi bem elogiado pela crítica na época.
Também é importante dizer que apesar do primeiro game ter sido distribuído pela Capcom, a franquia Shantae é de propriedade intelectual da WayForward Technologies. E é meio que o principal IP do estúdio, que apesar de já ter trabalhado em diversos games, não possui muitos jogos próprios.
A WayForward é conhecida lá fora por ser um estúdio norte americano que trabalha bastante em games baseados em desenhos animados da TV – dê uma olhada na lista aqui – porém também é um estúdio que tem alguns trunfos em seu curriculum, como a excelente adaptação de A Boy and His Blob (impressões), o belíssimo Ducktales Remastered e o curioso BloodRayne: Betrayal. No geral é um estúdio pequeno, que não tem o costume de trabalhar com games de grande portes, mas tem competência e excelência, especialmente quando o título facilita isso. Existe também uma grande foco em games portáteis e mobiles, e quanto possíveis, estes games migram para os meios digitais dos grandes consoles, como é o caso de Shantae and the Pirate’s Curse.
Voltando para Shantae. Então a série estreou em 2002 e só teve oportunidade de uma sequência em 2010, 8 anos depois! Shantae: Risky’s Revenge surgiu então como um título para o Nintendo DSi, na loja do DsiWare (Lembra disso? Achava péssimo a Nintendo ter segregado o Nintendo DS original do novo DSi, que é meio que ela está fazendo agora ao lançar o Virtual Console com títulos do SNES apenas no New 3DS e dando uma banana para quem tem o 3DS normal). Eventualmente Shantae: Risky’s Revenge alcançou outras plataformas, estando hoje disponível para iOS, PC, PlayStation 4, Nintendo Wii U (em breve) e há planos para o Nintendo 3DS ainda em 2016. É curioso alias ver que o título foi lançado em junho de 2015 no PS4 e nada até o momento dele no Xbox One, apesar que no Nintendo Wii U o título só vai ser lançado dia 24 de março. Talvez eventualmente ele também chegue no Xbox One…
E eis que chegamos em 2014 e Shantae and the Pirate’s Curse ganha vida, sendo lançado inicialmente para o Nintendo 3DS e hoje já estando disponível para Nintendo Wii U, PC, PlayStation 4 (em breve) e desde o dia 16 de março, também para Xbox One (que foi justamente a versão que joguei para escrever estas impressões).
O mais curioso é que apesar dos games da Shantae continuarem chegando a diversas plataformas, mesmo com anos de atraso em relação ao lançamento original, os games continuam interessantes e divertidos, sem sinais de envelhecimento precoce. O que demonstra que a WayForward está se esforçando para que uma gama diferente de jogadores consigam conhecer a série. E eu já torço que futuramente o estúdio possa fazer uma remaster do game de 2002 do Game Boy Color, pois ele é único que parece ter sinais de estar bem envelhecido em relação aos games de 2010 e 2014.
Ah e a série ainda não chegou ao fim! Shantae: Half-Genie Hero, o quarto título da franquia já está em desenvolvimento desde 2013/2014, graças a uma campanha de sucesso no Kickstarter e outras doações via Pay Pal de fãs da série! O game ainda não tem data de lançamento, porém os apoiadores já tiveram acesso a fases betas e acessos antecipados a fases ainda em desenvolvimento do game, que deve sair em diversas plataformas. O interessante é que Shantae: Half-Genie Hero será o primeiro título da série totalmente em HD, perdendo o efeito pixel art para uma arte totalmente animada, nos moldes de Ducktales Remastered. Ainda que eu ache um certo charme o pixel art, admito ter ficado curioso para ver o resultado final de Shantae: Half-Genie Hero, especialmente depois de ver quão bacana ficou o gameplay reformado de Ducktales.
E pronto. Que baita volta precisei dar para explicar um pouco o mundo de Shantae! Agora é hora de focar nas impressões de Shantae and the Pirate’s Curse!
Chegando no meio de uma história…
Achei importante contextualizar um pouco sobre a série como um todo porque Shantae and the Pirate’s Curse é meu primeiro contato com a franquia e algumas coisas de cara me deixaram confuso em sua história a ponto de me fazer pesquisar mais sobre a série.
Isso porque Shantae and the Pirate’s Curse meio que chega na voadora, sem explicar muito seu universo e seus personagens. Por se tratar do terceiro game, há uma certa presunção errada de que todo mundo já conhece a história e seus personagens. Só que, por exemplo o meu caso, que estou conhecendo através do Xbox e sabendo que os outros games da série não estão nessa plataforma, fiquei realmente boiando em certos eventos que se passam antes da história de Pirate’s Curse.
Claro que seguindo o game algumas coisas vão se encaixando por si próprio. Shantae é uma ex-gênia. Aqui no terceiro game ela não tem mais seus poderes e se tornou uma humana. Presumo então que deve ter perdido em alguns dos games que não joguei. A outra personagem importante aqui é a Risky Boots, que pelo que o game dá a entender é uma das antagonistas do game anterior, mas que em Pirate’s Curse precisa se aliar a Shantae para cuidar de uma ameaça que também lhe diz respeito.
Pirate’s Curse traz essa história então de uma maldição de um grande pirata, mestre da Risky, que parece estar tentando ressuscitar e isso ameaça todo o reino onde Shantae vive, e Risky também parece ter medo de seu mestre, desejando que ele não volte a vida. Assim ambas se unem para deter a maldição que irá reviver o tal pirata, e para isso elas precisam viajar por algumas ilhas, destruir as forças do mal que estão surgindo em cada uma delas e recolher a magia negra e os artefatos perdidos da Risky. Como Shantae não tem um barco, ela não tem outra escolha a não ser aceitar navegar com Risky.
Sobre a premissa de Shantae ser agora apenas humana e ter perdido seus poderes mágicos o gameplay precisa se reajustar em relação aos games anteriores, ao menos pelo que pude pesquisar. Por exemplo, nos jogos anteriores Shantae podia assumir novas formas de animais, mudando suas habilidades e a jogabilidade nas fases. Já em Pirate’s Curse não há nada disso, pois sem sua magia, Shantae se vira como pode, no caso ganhando habilidade envolvendo os artefatos piratas que ela irá encontrar em sua jornada pelas ilhas do game ao lado de Risky.
Parece uma mudança ousada, mas que só deve mesmo ser sentido pelos jogadores que jogaram os games anteriores. Pra quem está chegando a série pelo terceiro game, a única estranheza mesmo vem de todas as referências e personagens que aparecem e são de games anteriores e que o jogador nem sempre entende exatamente o que eles representam no mundo de Shantae, causando apenas uma certa estranheza.
E é algo que a WayForward poderia simplesmente ter solucionado criando um glossário (databook) ou banco de dados do mundo de Shantae como um recurso extra do game. Trazendo fichas técnicas, falando sobre as origens da história e quando cada personagem foi inserido dentro do universo da série. Especialmente com tantas plataformas na qual o game vem sendo lançado, imagino que ele esteja sempre sendo apresentando a um jogador que nunca tenha tido contato com a franquia.
Sem isso, a apresentação inicial do game meio que se perde um pouco. Os jogadores podem ficarem confusos na parte do contexto dos personagens e história até aqui. Ainda que a trama principal do game seja bem clara e você consiga entender. É como uma trama fechada dentro do game, mas cheio de referência e um plot de fundo, que segue uma linha cronológica de todos os três games lançados.
Não ajuda também a falta de localização do game para português. E há muitos diálogos e linhas de texto para compreensão da história. Sem um inglês básico, alguns jogadores brasileiros podem se perder um pouco, ou nem dar bola a trama do game, o que é sempre uma perda ter que jogar um game apenas com base em seu gameplay, sem conseguir acompanhar a história em si.
Um mix de boas influências!
É importante ressaltar esse aspecto da história e enredo que existe em Shantae and the Pirate’s Curse porque o game não é simplesmente um plataforma adventure como tantos que existem por aí. O game mistura elementos e mecânicas que remetem um pouco ao sistemas de dungeons de games como The Legend of Zelda, Paper Mario e Super Metroid, que consistem no jogador investigar cavernas e locais a fim de descobrir novas habilidades que permitem investigar novas áreas dentro de cavernas, assim como cumprir atividades relacionadas a side quests de personagens que precisam de ajuda e que abrem os caminhos para que a aventura continue. Sem um enredo e história estas mecânicas acabariam sendo prejudicadas.
O game é muito mais do que apenas um jogo de “siga em frente“. Cada ilha tem uma área aberta, envolvendo uma história e a entrada de uma dungeon, na qual o jogador precisa descobrir como ativar essa entrada. Dentro da dungeon, há um labirinto (nada muito complexo) na qual se faz necessário descobrir onde ir para poder avançar em certas áreas. No geral estas cavernas são resolvidas descobrindo o baú com uma nova habilidade para acessar algumas de suas áreas. São simples, mas não simples demais!
Há baús e itens escondidos por todo o game. Estes baús podem conter os mapas das dungeons, chaves que abrem portas trancadas, aparatos de habilidades, e itens que devem ser retornados para algum dos personagens do game, que provavelmente vão lhe recompensar com alguma coisa e que geralmente envolve a solução de um puzzle para seguir adiante em algum ponto do jogo.
É um sistema funcional e interessante, ainda que exista um risco real de travar o jogador, sem que ele saiba o que fazer em seguida por falta de direções claras do game. Tive um caso assim na terceira ilha do game, das aranhas. Em um certo momento um personagem me diz que precisa de um item chamado Squid Oil, porém o mesmo me avisa que este item não existe na ilha.
Isso me deixou em dúvida. O que faço então? Estava meio sem paciência para ficar voltando nas duas ilhas anteriores para conversar com todo mundo e explorar tudo de novo afim de resolver a quest. E sem isso o jogo não poderia avançar.
Digitei no Google “Shantae Squid Oil” e encontrei vários links remetendo justamente a essa quest, com vídeos e faqs explicando que deveria voltar ao primeiro mundo e entrar na caverna abaixo do palácio e abrir o baú de lá e pegar o item para conversar com um dos personagens ali em frente ao palácio, e depois com o polvo no canto do palácio. OK, depois que vi o que devia fazer, percebi que era óbvio. Entretanto o game poderia ser mais claro nas direções da quest em si, pois o divertido não é ficar perdido, mas saber para onde ir para resolver um problema apresentado.
O game então segue essa mecânica, onde há muitos diálogos, todos em textos, sendo que as artes e expressões dos personagens mudam a cada cena de diálogo, o que cria muitas vezes um efeito divertido e alguns momentos engraçados. Nestes diálogos a história se desenrola e problemas a serem solucionados para avançar pela história são apresentados, uns óbvios, outros nem tanto.
É um sistema de progressão interessante, demonstrando o esforço dos desenvolvedores em criar uma narrativa que não seja apenas focada em gameplay, onde o jogador apenas vença fase após fase e pronto. Os elementos de RPG, ainda que bem pequenos, casam com a proposta do game.
Os inimigos e o dano causado
Quando não está rolando os diálogos e quests, o jogo se foca no gameplay nos moldes de um adventure clássico, com plataformas e inimigos a serem derrotados.
O sistema de plataforma é engenhosos muitas vezes, com plataformas móveis e pulos precisos em algumas áreas. O jogo também é recheado de inimigos, na qual Shantae os derrota usando seu cabelo como um chicote. Nada de pular na cabeça dos inimigos, isso seria clichê demais.
Os inimigos também não morrem de primeira. Eles possuem status de energia, tal como em RPGs, então o jogador vê pontos de dano cada vez que ataca um inimigo, até que o inimigo seja completamente derrotado. Nos tipos de inimigos normais as vezes se faz necessário acertar de três a quatro vezes para derrotá-los. E eles atacam enquanto o jogador também está atacando.
Dentro das dungeons há também inimigos que funcionam como sub-chefes, que demoram bem mais para serem derrotados. Na primeira dungeon há uma dupla de lagostas gigantes que me deu trabalho, pois na primeira dungeon a Shantae ainda tinha apenas dois corações de vida e eu fiquei dessincronizando os movimentos dos chefes, complicando o momento em que tinha que pular de ambos. Foi um desafio que me remeteu aqueles bons momentos dos chefes dos games clássicos do Mega Man. Dá para ver que Shantae tem forte influência de clássicos games da era Super Nintendo, né? Isso é muito bom.
E cada ilha tem um grande chefão de mundo. Não são chefes extremamente difíceis, mas apresentam um desafio de ter que ficar atento. E dá trabalho derrotá-los. Não é aquele clichê do acerte três vezes e pronto. Funciona como um RPG mesmo, você espera a brecha do ataque, e aí ataca como louco, e depois desvia dos ataques e espera sua próxima chance. E os padrões de ataques vão mudando conforme o chefão vai apanhando.
Progrida e colete!
A sensação de progressão em Shantae também é bacana, pois cada ilha, uma nova habilidade. Na segunda você ganha uma pistola para aumentar o alcançe do ataque e ativar certos mecanismos. Na terceira um chapéu que lhe permite planar. E assim por diante. Se o jogador voltar as ilhas anteriores, vai perceber que existem locais que apenas são alcançados com as habilidades das ilhas futuras.
Há também itens colecionáveis, como uma criatura vermelha, que parece um mini-polvo. Com quatro deles, você leva a uma amiga da Shantea na primeira ilha e ela lhe dá um coração extra. O que é importante porque esse não é exatamente um game na qual o jogador nunca é atingido. Pelo contrário, nas ilhas mais a frente, há sempre um inimigo ou momento onde Shantae acaba caindo ou tomando dano. Há um sapo na segunda ilha que é um inferno, pois ele pula e cospe uma bolha verde, sendo que para atingi-lo com o chicote cabelo da Shantae o jogador precisa ficar perto dele. Ao longo de todas as ilhas tem estes inimigos que são xaropes (no bom sentido), como zumbis que perdem a cabeça e lhe seguem, ou inimigos que atiram em cinco direções ao mesmo tempo.
Outro colecionável importante são umas criaturas que parecem morcegos piratas. Ao derrotá-los, eles liberam magia negra (Dark Magic), na qual Shantae pode recolher com sua lâmpada mágica. Ao se coletar todos, o jogador destrava o final verdadeiro do game.
Vale ou não vale?
Shantae and the Pirate’s Curse é um game old school que não se vê sendo feito com tanta frequência nos dias de hoje. Remete a tantos estilos de games, demonstrando inspirações a tantos clássicos da era de ouro dos videogames, que chega a ser impressionante que o game não seja muito mais famoso do que deveria ser hoje em dia. Provavelmente por causa dessa bagunça de games em tantas plataformas, mas nunca cronologicamente ou sempre faltando aqui. Por isso importância de um extra contendo a história e seus personagens dentro de cada game.
Há sim alguns problemas de execução e background que a WayForward deveria se preocupar, especialmente se desde o início eles pretendiam lançar o titulo em quantas plataformas fossem possível. Felizmente isso não chega a comprometer a diversão do game.
O game tem uma boa longevidade, com cada uma das seis ilhas podem levar aproximadamente uma hora cada, sendo que elas possuem no geral duas locações, uma área aberta com um puzzle e a dungeon que precisa ser explorada com mais cuidado e aonde se encontram os chefes de mundo de cada ilha.
Para um título indie é um tempo considerável de jogo, somado ao fato de que depois do game ser vencido uma vez, há um novo modo com todas as habilidades destravadas e uma conquista na qual o jogador precisa terminar o game em menos de 2 horas e meia (é impossível fazer isso na primeira jogada).
Sei que virei fã de Shantae. O game apresenta desafios razoáveis (sem ser difícil ou fácil demais), tem um design de fases e layout inteligente (na qual as ilhas não são apenas uma linha reta) e charmosos gráficos em pixel art (que estão para se aposentar neste terceiro game). Vale seu preço (39 reais no Xbox).
Porém entendo que não é um título para qualquer jogador. O inglês pode ser uma barreira em algumas side quests e na compreensão da história como um todo, ainda que na parte dos puzzles o Google e o You Tube resolvam, já que são simples e vê-los por aí não estraguem a experiência. É um game de aventura mais focado nos elementos de RPG do que ação. Porém é um título que cada um deveria jogar para tirar suas conclusões. Ao menos se for começar pela terceira aventura de Shantae.
Não tenho base para comparar Pirate’s Curse com os games anteriores da série, mas pelo que joguei neste, não sinto que ele seja inferior aos demais. Como um título isolado, para que o jogador conheça a série e seu universo, ele funciona parcialmente e diverte, ainda que levante questões sobre origens e personagens que somente jogando os games anteriores poderiam esclarecer.
Ao fim, fico na torcida para que o segundo game, Risky’s Revenge, que chegou a sair no PS4 ano passado, possa vir também para o Xbox One. Ao menos enquanto Shantae: Half-Genie Hero segue em desenvolvimento! De qualquer forma, Shantae and the Pirate’s Curse é uma porta de entrada ao mundo de Shantae! Tem uma ótima jogabilidade e um mundo cheio de carisma e influências de grandes games clássicos do passado!