Originalmente lançado em 11 de março de 2015, Ori and the Blind Forest recebeu agora no dia 11 de março, em comemoração ao aniversário de 1 ano do game, uma nova versão chamada de Definitive Edition. A mesmo versão que também está chegando ao Windows 10 em breve (era para ter saído junto, mas parece que rolou um atraso).
O game foi totalmente aclamado pela crítica em 2015, elogiado por praticamente todos que jogaram e figurou entre os melhores indie games do ano passado e até então eu ainda não havia jogado-o como deveria. Até isso ter sido sanado neste feriado de páscoa quando finalmente terminei a nova versão do game!
Acho que sai no lucro por ter esperado um ano para jogar esta nova versão refinada de Ori. Isso porque a versão de 2015 tinha um problema sério que certamente teria me irritado se tivesse jogado na época: a falta de portais de viagem rápida pelas inúmeras locações do game. E isso é algo que foi inserido nesta versão definitiva.
Alias achei justo que para todos que compraram Ori em 2015 e que quiserem ter a nova versão, a Microsoft o liberou para a compra por apenas 10 reais (ou 5 dólares). Preço de um DLC honesto. Vale o upgrade, nem que seja para quem já encerrou jogar as duas novas áreas presentes no game, e que estão destravadas bem no começo de tudo, sem que o jogador precise finalizar toda a campanha original novamente.
Mas antes de continuar o papo sobre a versão definitiva do game e suas novidades, preciso voltar um pouquinho e explicar do que se trata Ori and the Blind Forest para quem está chegando agora e ainda desconhece o game. Então de volta ao começo, tudo bem?
Uma experiência original e única!
Ori and the Blind Forest é um projeto de um pequeno estúdio (que nem existe fisicamente, seus membros estão espalhados pelo mundo) chamado Moon Studios. O game é um plataforma adventure com forte influências metroidvania, que consiste em um sistema de áreas conectadas em que o jogador precisa avançar conforme descobre novas habilidades que o permitem chegar a lugares que ele até então não poderia, em um mundo todo conectado entre si, cheio de itens, segredos e colecionáveis. É um sub-gênero dos games que surgiu graças a games como Metroid e Castlevania, o que explica a origem da nomenclatura em si.
Claro que somente ser de um gênero que possui a tendência de atrair a paixão dos jogadores não faz exatamente que o game seja um ponto fora da curva. O que destaca Ori dos demais games do grupo em que ele se enquadra é todo uma gama de elementos que irão costurar todo o game. Seu estilo de arte é um destes pontos fortes, sendo original e inigualável, somado por uma belíssima história, na qual é claramente (e oficialmente) inspirada em contos como O Rei Leão, O Gigante de Ferro, além de toda uma inspiração artística nas grandes obras de Hayao Miyazaki.
São méritos louváveis para Ori. E mesmo assim, quando se começa a jogá-lo o jogador percebe que o game é muito mais do que apenas um game inspirado e bonito. Há um certo prazer no ritmo e na geniosidade na qual o gameplay se torna fluido e natural. O game é uma daquelas gemas que os jogadores possuem a sorte de encontrar uma vez ou outra a cada geração. É um game feito com amor e que o jogador sente isso ao jogá-lo. Tem aquele essência de tocar o jogador e fazê-lo se apaixonar pelo universo, pelos personagens, pela história e pelo gameplay. Há aquela conexão que os jogadores tanto gostam quando aconteceu. Eu tenho isso, por exemplo, com Beyond Good & Evil na geração Gamecube.
A história de Ori é uma destas surpresas que o jogador desavisado acaba sendo surpreendido logo no começo. Há um impacto do aspecto da morte no começo do jogo que te tira de órbita, que causa a paixão quase que instantânea pelo universo do jogo e pelo ímpeto de ir adiante.
E é curioso como até após a metade do game, ao menos pra mim, não estava esperando nenhuma grande virada dentro da história do game em si. Não a ponto de ser melhor que o impacto inicial do começo. E meio que isso acontece, e pega o jogador novamente desprevenido. Isso não é fantástico? Obviamente não darei esse spoiler aqui, independente do game já ter mais de um ano desde seu lançamento original. Descobrir qual o fim de Ori é uma satisfação enorme, não só pelo fator da conquista de virar o game, mas também ao descobrir como a sua jornada amarrou e proporcionou um belíssimo final para o game.
Ritmo de gameplay!
Claro que se tratando de um videogame não basta apenas uma bonita história. Gameplay é parte importante na receita de um bom game. E nisso Ori também manda muito bem. Tanto no aspecto das fases em si, como nas partes tensas onde funcionam como grandes cenas de fuga de um lugar prestes a ruir.
O game tem uma evolução impressionante para um game metroidvania. Por um momento, bem lá no começo, senti um pouco de preguiça em começar o jogo, pensando em todas as horas que perderia fazendo coisas semelhantes, indo e vindo por lugares iguais, já que isso é típico de games com esse elemento. Afinal nunca tive muito saco para Metroid ou Castlevania (podem me condenar por isso, mas é verdade). Entretanto Ori é um game que sabe muito bem se desvencilhar dos problemas de repetição e cansaço que esse subgênero pode oferecer.
O ritmo de progressão constante do game é bem sólido. A ponto de cada região, cada novo local a ser explorado, mudar a forma como o jogador deve progredir mecanicamente. O que significa que o gameplay muda, se adapta, e me mostra coisas novas a todo o momento.
O mérito disso é feito por um engenhoso sistema de habilidades que permitem que Ori ao longo de sua aventura viaje por novos lugares de seu mundo de diferentes formas, encontrando novos e refrescantes desafios. Isso deixa pouquíssimos momentos de tédio ou repetição no game. E mesmo naqueles momentos em que o jogador vai morrer até aprender como passar por um trecho, a satisfação da vitória é maior do que a fadiga das múltiplas mortes.
Ori and the Blind Forest acaba tendo um desafio alto, mesmo na dificuldade normal. E é interessante como ele coloca o elemento plataforma como algo que constantemente desafia o jogador. Suba, pule, desvie, caia no lugar certo e morra algumas vezes tentando aprendendo o tempo certo de pulo. O desafio é continuar em frente, enquanto muitos games desse gênero se preocupam mais com deixar o jogador perdido sem saber para onde ir para justificar mais tempo de jogo. É bom ter descoberto que o game evita com todas as suas forças esse elemento ruim dos metroidvanias.
Existe um ponto na campanha do game onde tudo muda um pouco. Me refiro a parte onde Ori aprende o impulso usado com o botão Y, que lhe permite alcançar lugares que até então jamais seriam possíveis. A ideia de ganhar impulso por meio de inimigos e até mesmo de projéteis que os inimigos atiram em Ori cria um mundo novo de possibilidades de movimento e até mesmo ataques, já que o impulso com o Y também permite rebater de volta estes ataques. O game acaba se renovando no meio da campanha, tornando tudo ainda melhor.
O time de desenvolvedores estão de parabéns pela forma como o jogo evolui a cada nova localidade, utilizando sempre uma nova habilidade de Ori a ser trabalhada em conjunto com as anteriores e em favor da nova locação. Isso dá um ritmo inesperado ao game e quando o jogador percebe horas se passaram.
E o sistema de save fica por conta do jogador. Salve onde quiser, como quiser. E o jogo retorna neste exato ponto. E apesar de parecer que o save é injusto no começo, porque ele é finito, vindo de uma barra de energia que o jogador gasta a cada save, logo se descobre que essa limitação é ilusória, já que o game recarrega essa energia frequentemente. Nunca passei por um aperto de não conseguir salvar em um momento em que precisava salvar. Foi um risco ter colocado isso na mão do jogador, mas tudo deu certo aqui pra mim nesse ponto. Não tenho do que reclamar.
Um pequeno problema a ser relatado
Boa história e bom gameplay, sem enrolações típicas do gênero, não quer dizer que Ori and the Blind Forest seja um game pequeno. Pelo contrário, o jogo é bem maior do que imaginei. Para terminá-lo para esse review o game me tomou um pouco mais de 9 horas de jogatina, e ainda assim não fiz todos os colecionáveis ou explorei exatamente todos os cantos do game. Para um indie game, com apenas uma campanha single player, esse é um tempo bem satisfatório de jogo, sem exigir muito do jogador.
Entretanto há uma pequena falha na forma como o game se encerra, pois após a vitória final, o jogo não lhe devolve ao mundo aberto do game, para que seja possível recolher tudo que o jogador pode ter deixado trás. Encerrar o game é um ponto sem volta. Ele simplesmente acaba e te retorna pra tela inicial.
E ao carregar o save, o jogo te coloca te novo um momento antes da batalha final do game. Pra mim esse foi a única pisada de bola dos desenvolvedores do game, o que também acaba matando um pouco aquele gostinho do replay. E era algo que poderia ter sido consertado na Versão Definitiva sem qualquer comprometimento com o final do game.
Achei meio chato que após encerrar Ori pela primeira vez não há nada para o jogador fazer pós-game/campanha. Exceto jogar tudo novamente em outra dificuldade ou carregar o salve antes do final da história e voltar para coletar tudo que possa ter ficado para trás. Admito que esperava alguma recompensa ao terminar o game, como um modo espelhado ou alguma habilidade nova ou um modo “New Game+” com modificadores. Não sei. Terminei com uma sede por mais e o game não me deu. Que pena, não?
Adições ao original
A boa notícia é que nessa nova versão há duas novas locações que podem ser exploradas. Se o jogador evitar estas locações ao longo da campanha, ao terminar o game ganha-se um respiro de mais uma ou duas horas de gameplay.
Curioso dizer que, pelo que se diz pela web, estes dois novo locais seriam lançados em 2015 como um DLC, mas no fim acabou virando a Definitive Edition, o que não faz uma diferença muito grande no fim.
Para quem não souber onde encontrar estes locais, basta ir para a primeira fonte de viagem rápida do game. Após conseguir o pulo escalada, Ori sobe no paredão à direita da primeira fonte, onde tem uma estátua. Este é o lugar da entrada das áreas inéditas. O jogador pode fazer elas no começo da campanha ou ao fim. Elas não são obrigatórias em nenhum momento. Pode-se encerrar o game normalmente sem vencer estas áreas.
O que mais posso dizer? Bem, fiquei com a sensação de que estas novas áreas não possuem exatamente o mesmo charme do resto dos lugares de toda a campanha principal. Há uma sensação de ser algo realmente à parte do game. Não tem o ritmo ou a química de quando se vê Ori pela primeira vez. Apresentam bons desafios e misturam um pouco de cada coisa que existe na campanha principal do game, porém não senti realmente um elemento novo para me impressionar. É apenas legal para essa euforia de querer um pouco mais desse mundo após terminar o game e conhecer um pouco mais do passado de um personagem importante da trama.
Fora que as novas habilidades do Ori, o dash e a granada não causam um grande impacto na jogabilidade ao se explorar essa região próximo ao fim do game. Já quem for brincar ali no começo da campanha, além de sentir uma dificuldade bem maior por conta de habilidades que ainda não estarão destravadas (e não são obrigatórias de se ter, mas que são uma mão na roda mesmo assim) ao se ganhar as habilidades da versão definitiva para jogar na campanha principal isso me soou um pouco estranho, como se estas habilidades tirassem um pouco o brilhantismo do ritmo original do game. O próprio dash mesmo já vem sendo mencionado em tudo quanto é review que é uma habilidade perfeita para speed runs e só. Sendo assim, são habilidades legais para quem tem essa ânsia por jogar um game várias vezes, caso contrário elas não serão tão úteis quanto possam parecer.
Veja bem, não estou desmerecendo a versão definitiva. Acho que é uma excelente versão, com pequenos mimos e uma modificação importante (as fast travels). O preço dela para quem tem Ori é realmente o de um DLC. Vale a aquisição. Para quem não tem Ori, essa também é a melhor versão, e provavelmente você não vai saber dizer o que soa melhor ou pior em relação a versão original. É importante estar mais completa e ponto. A questão aqui é que talvez ela não precisasse ter sido chamada de “versão definitiva”. Parece apenas uma nomenclatura que diz mais do que precisa dizer. O game original por si só tem todos os méritos necessário para ser um excelente game.
Vale ou não vale?
Antes de terminar, preciso fazer um elogio que não pode ser negligenciado aqui, especialmente porque não tenho o hábito de ficar ressaltando esse elemento nos reviews que ando escrevendo, que é em relação aos efeitos e trilha sonora do game.
A soundtrack do game realmente casa de forma perfeita com todo o ambiente do jogo e da história. Dá a emoção, as sensações que o jogador precisa para ter a simpatia com seu universo. Deixa tudo meio mágico, meio emotivo. E não só a trilha sonora, mas até mesmo os efeitos sonoros, como os emitidos pelo grande narrador do game ou o pequeno espírito guia que acompanha Ori. Não há áudio, mas é quase como se seus murmúrios ecoassem dentro da mente do jogador. Chega a ser um pouco assustador isso.
Ao fim, Ori deixa uma marco ao jogador que se deixar encantar pelo game. Há bons desafios, uma história envolvente e uma mecânica de progressão que segura o jogador por horas e horas. 39 reais é um preço justíssimo para um game com tanta competência técnica em quase todos seus aspectos.
Ele pode ter um probleminha aqui ou ali, como o que relatei com o pós-fim-do-game ou um conteúdo adicional nem tão incrível quanto o game original em si, mas certamente é um indie game que vale a geração. Pode não criar novos parâmetros para o resto de seu gênero, mas cria uma experiência singular e única, que ficará na memória daqueles que se deixarem levar pelo game.
E a versão definitiva ao menos faz o que se espera com o que diz respeito aos extras, com uma tonelada de materiais de making off do game que vão fica registrados nessa nova versão para que nunca que isso caia no esquecimento da internet. É um tipo de extra importante para a memória do game, ainda que não acrescente muito na experiência de jogo em si.
Ori and the Blind Forest vale essa experiência. Vale essa recordação.