Mortal Kombat XL | Pacote completo de tripas e violência! (Impressões)
Tenho uma pequena memória de Mortal Kombat de quando criança. Me lembro de alguns finais de semana na casa do meu vizinho, junto com um monte de moleques da rua enfurnados em um pequeno quarto revezando controles jogando um dos primeiros Mortal Kombat (não me recordo se era o primeiro ou o segundo, mas certamente era um ou outro). Sabe, tempos quando as crianças tinham que se encontrar pra jogar, sem modos online e headsets.
Avançando no tempo, me recordo de jogar as futuras sequências da série em situações nem tão memoráveis assim. Lembro apenas de jogá-las pelo fato de ser uma série famosa e todo mundo jogava, tal como Street Fighter ou The King of Fighters. Lembro de revistas de games ensinando fatalities, brutalities, babalities, friendships etc. Também tenho memória a respeito dos filmes da série para o cinema, da clássica trilha sonora berrando “Moooortaaaaaal Kombat” – ainda que tenha reassistido o filme no Netflix alguns meses atrás e ter dormido no meio dele (era tão chato assim ou envelheceu mal?). Por fim, na geração passada admito que Mortal Kombat 9 não me despertou tanta curiosidade quanto Injustice (do mesmo estúdio, a NetherRealm), me entreteu. Alias, vamos esquecer Mortal Kombat vs DC Universe, certo?
É curioso também pensar que nunca liguei muito para a história de Mortal Kombat. E não a história geral, do torneio mortal ou dessa realidade de uma dimensão paralela que vive querendo entrar em combate com o plano terrestre. Digo a história em detalhes, dos personagens em si e como o jogo progrediu por 10 edições principais e ainda manteve coesão sobre os aspectos de todos os personagens criados em tantos games. E é impressionante como Mortal Kombat X meio que acertou estas brechas de contexto para qualquer um que esteja chegando agora na série, colocando tudo em uma perspectiva que seja fácil para todos compreenderem.
Acredito que o fato do game estar totalmente localizado para o português seja um dos grandes méritos de ter feito com que eu prestasse atenção à história de Mortal Kombat X e também de ter ido buscar informações adicionais sobre alguns dos personagens do game. O jogo tem um excelente arquivo de dados com a ficha de todos os personagens presente na versão, sejam eles clássicos ou novos, contando a história de cada um deles, remetendo até mesmo a eventos dos games anteriores e encaixando tudo em uma cronologia e contexto que torne concisa a história até aqui. Isso é um tanto quanto impressionante, considerando que muitos não ligam para esse tipo de informação em games de luta. O que importa mesmo são as porradas, certo? Concordo, mas acho que não faz mal engrossar o caldo do universo da série, tornando os personagens mais interessantes e complexos. E isso é feito com êxito aqui.
A aventuras pela Exoterra 22 anos depois…
Lendo alguns reviews do ano passado notei algumas críticas em relação ao modo campanha/história de Mortal Kombat X. Talvez esteja chegando muito tarde para a festa, mas a verdade é que não entendi muito bem as razões para tal. Na verdade ao jogar a nova versão, Mortal Kombat XL, ao longo de todo o mês de março, uma das coisas que mais me entreteu no game foi justamente a história apresentada na campanha.
O modo campanha consiste em uma grande história, que dura lá umas 6 a 8 horas, narrando eventos que se passam 22 anos após a derrota de Shao Kahn no Mortal Kombat. Desta vez trazendo uma nova geração de lutadores, filhos de conhecidos personagens, enquanto também traz muitas caras e rostos conhecidos pelos veteranos na série, envelhecidos pelo tempo que se passou na história.
A proposta combina com a renovação na qual a série precisava após tantos anos um pouco perdida entre veteranos dos clássicos e uma nova geração de jogadores que não se identificavam totalmente com a série. Foi ousado a NetherRealm ter criado tantos novos personagens, mas certamente estes são os que irão marcar essa geração e influenciar os futuros games. O sentido que tenho é de que foi algo inevitável, além de soar como algo bom para o futuro de Mortal Kombat. Ficou essa ar de um novo recomeço, sem a necessidade de um – tão manjado nos dias de hoje – reboot.
Assim, a campanha consiste basicamente em doze capítulos que se dividem entre alguns dos personagens mais importantes do game. Quatro lutas por personagem em cada capítulo, em diversos cenários e até mesmo contra inimigos que não estão na seleção oficial de personagens do jogo, como o clássico Baraka. Entre as lutas, os eventos que tomam essa nova geração vai se formando.
E não se preocupe, não vou entrar nos méritos da história. Sem spoilers por aqui. Se ela é boa ou não, se é clichê ou não, não acho pertinente, além desse ponto se bem subjetivo. Sei que eu gostei e sendo sincero, nunca espero que um game de luta tenha um enredo de pirar a cabeça tal como um RPG, por exemplo, precisa ter. Digo que pra mim foi satisfatório. Como disse mais acima, preencheu a minha ânsia por entender mais do mundo de Mortal Kombat e conhecer mais alguns backgrounds de personagens clássicos, como Raiden, Scorpion e Sub Zero. Pra mim foi uma história divertida, mas não digna de uma Oscar (e não que fosse isso que eu esperasse).
Acho válido também comentar que entre alguns capítulos há os famosos Quick Time Events (QTE) que não causam um grande impacto na história se o jogador não os apertar, porém existem algumas variações interessantes nas lutas de QTE quando se acerta ou erra o tempo do botão, permitindo que o personagem da história apanhe mais ou menos conforme o êxito do jogador nos QTE. Mas no geral é apenas uma forma de dar ritmo as longas animações que existem entre cada capítulo e luta do modo campanha. E, por sinal, o jogador pode pular as animações caso não esteja interessado na história da campanha (ou já a tenha visto).
Jovens guerreiros!
Os vilões deste novo Mortal Kombat convencem, ainda que pra mim eles não tenho causando tanto efeito quanto o elenco jovem do game. Mesmo com toda aquela polêmica do ano passado com a Cassie Cage sendo dublado pela Pitty. E em relação a esse ponto, realmente a entonação da Pitty como Cassie destoa da qualidade do restante da dublagem nacional feita para o game. E eu concordo com as defesas feita pela própria Pitty ano passado. A culpa é da direção da dublagem e da decisão do estúdio em contrata-la, muito mais do que ela ter feito um serviço pela qual não estava capacitada a fazer com a qualidade que os jogadores desejavam. E é uma pena isso, pois a Cassie Cage acaba tendo um papel enorme na campanha do game. Faz jus as críticas dos gamers que se irritaram com essa dublagem, ainda que mesmo ruim, ela não quebre em nada a narrativa da campanha. Apenas incomoda um pouco vez ou outra.
Ignorando um pouco essa questão da dublagem, no contexto de personagens maneiros, acho que o Takeda e o Kung Jin são os novatos mais interessantes, enquanto que as garota, Cassie e Jacqueline Briggs, são apenas okey. Quer dizer, Takeda e Kung Jin possuem movimentos e golpes bem diferentes do que até então estava acostumado a ver em Mortal Kombat mais antigos. E isso desperta a vontade dos jogadores em usá-los. Ou pelo menos foi o que senti ao jogar e pesquisar um pouco opiniões pela web.
Falando em movimentos, o novo sistema de estilo de luta é uma das melhores coisas que poderiam ter inventado para a série. Há realmente uma variação que causa impacto nas lutas para cada um dos três estilos que cada personagem possui. Mudam armas, mudam golpes, muda a estratégia de luta dependendo da variação que o jogador escolher ou o oponente estiver usando. Ficou realmente viciante descobrir todas as variações de estilos que foram inseridos dentro do game. Foi uma mudança tão grande quando o golpe do Raio-X inserido na geração passada, que também está de volta em Mortal Kombat X e continua tão insano quanto no game anterior, ainda que sinta que eles pesem muito mais nas viradas de luta do que talvez devessem.
E como estou avaliando a versão XL do game, que contém tudo que o game lançou de DLC de um ano pra cá, obviamente a seleção de personagens e roupas está ainda maior do que quando o game saiu em 2015. Os personagens extras são bem legais, ainda que não possuam o mesmo impacto que os originais que estão desde o lançamento original do game. Há uma simpatia bem maior pelos personagens que fazem parte da campanha do que a galera extra que veio depois, em particular os vilões de filmes de terror (entendo a graça deles participarem, apesar de não ter muito interesse em jogar com eles), apesar de que gostei bastante de ter jogado com o Goro, que até então era um personagem que só foi disponibilizado na época da pré-venda do game em 2015. O caso é que o XL não é uma versão com apenas gordura desnecessária, e sim uma baita versão recheadas com extras que dão mais dinâmica ao game como um todo.
Tripas e violência sem pudor!
Como não poderia deixar de ser este também é um dos mais sangrentos, violentos e nojentos games da série Mortal Kombat. A violência não é podada ou contida. Os golpes de Raio-X estão mais agressivos do que no game anterior, e os fatalities então estão absurdamente brutais em um nível de embrulhar o estômago das pessoas mais sensíveis. E não que Mortal Kombat precise ser diferente. De fato é uma coisa normal para os padrões atuais da série, entretanto, isso também o faz ser um game não recomendando para crianças. Tive que jogar o jogo longe do meu filho de 3 anos. Não deu nem para deixá-lo me ver jogando. É muito agressivo mesmo.
Reforço mesmo: não é um game recomendando para crianças pequenas. Que isso fique bem claro! É uma evolução que Mortal Kombat sofreu ao longos destes últimos anos que o torna bem diferente daquele Mortal Kombat que jogava na casa do meu vizinho quando criança, conforme a história que abre este texto. Não dá mesmo. Adolescentes talvez joguem sem grandes problemas, apesar de que classificação etária e mentalidade é algo difícil de medir. O que dá para afirmar é que este é um Mortal Kombat para adultos e para aqueles que não se incomodam com a excessiva violência e sanguinolência que sempre foi marca da série, e que agora, na geração dos gráficos realistas, foi ainda mais enfatizado.
Mais uma vez: não que isso seja uma crítica negativa. Acho que a franquia para sobreviver hoje em dia e ter a sua relevância é preciso mesmo dessa peculiaridade. Não dá para se ter mais um Mortal Kombat pasteurizado ou até mesmo com opções que desliguem esse fator do game. Porém é algo que os pais precisam ficar de olho nos menorzinhos, para que eles realmente entendam que é um game de violência gratuita porque o mundo é um pouco sádico por isso. Mortal Kombat não sobreviveria muito bem sendo apenas politicamente correto.
Torres, outros modos, Kriptas e alguns sustos!
Continuando, então apesar de ter gostado bastante da campanha do game e de todo o contexto da história apresentada, Mortal Kombat X tem muito mais a oferecer do que esse modo, o que acabou sendo uma surpresa pra mim.
Quer dizer, o que se espera de um game de luta? Um modo campanha onde você enfrenta os principais personagens do game e um modo multiplayer para surrar jogadores ou o NPC caso esteja sozinho em casa. Entretanto Mortal Kombat X tem muito mais a oferecer, seja na experiência single player, seja no multiplayer online.
Há uma porrada de variações (online e offline) do modo Torre, que é uma espécie de evolução do clássico modo Arcade dos games deste gênero. A Torre Klássica (com K mesmo), por exemplo, o jogador enfrenta lutadores até chegar ao topo. Ao final, há uma pequena história narrando o que aconteceu com aquele personagem após os eventos da campanha do game. É bem legal ter isso para todos os personagens do jogo. Meio que me surpreendeu, pois não esperava esse tipo de complemento extra após uma campanha tão longa.
Só que os modos Torres vão além disso. Há torres com modificadores, torres que mudam semanalmente, torres infinitas, torres que testam a sorte do jogador (mudando nível de força dos lutadores), torres que o jogador tem apenas uma barra de energia para todas as lutas que conseguir ganhar, torres de eventos (participei de um de páscoa no feriado que foi deveras divertido) e assim por diante. É um modo de jogo extenso e completíssimo, que o jogador perde fácil horas e mais horas se auto testando por ali. É realmente viciante a modalidade.
Fora isso há o modo online, com dezenas de modalidade de partidas. Por raking, em equipe, por grupos, torneios, campeonatos etc. Não cheguei a testar todas porque lutas online não são exatamente a minha praia e quem joga nestes modos tende a ser apelão e especialista no game em questão e eu sou meio de noob contra estes jogadores e sempre sou surrado vergonhosamente. Entretanto as partidas que joguei foram divertidas (ganhei uma alias) e surpreendentemente nenhum deu um lag monstruoso como é normal em lutas online, especialmente com minha conexão ruim de internet. O modo online me pareceu bem sólido e estável. Mesmo que jogando um ano após o lançamento original tenha demorado um pouco para encontrar lutadores (coisa de 3 a 4 minutos por luta).
Mortal Kombat X ainda tem um modo de facção, que instiga o jogador a se afiliar a uma facção (de Raiden, dos vilões, dos combatentes etc, dos grupos que existem na campanha principal do game). Afiliado a uma, o jogador recebe desafios diários (usar golpes tantas vezes, conseguir executar fatalities, ganhar lutas etc) que o recompensam com moedas que vão ser usadas na Kripta (já irei explicar o que é isso). Ao final de uma semana, a melhor facção também é recompensada com moedas e o ranking reseta para que todos tentem novamente ver qual facção acumula mais moedas entre o grupo de jogadores afiliados por uma semana. Não é a melhor coisa do game, mas é um sistema interessante, para manter o jogador interessado um pouco mais enquanto está jogando o game.
Quanto a Kripta, para mim foi a segunda melhor coisa de Mortal Kombat X. Trata de um labirinto em primeira pessoa onde o jogador pode gastar as moedas ganhar em qualquer modo do game. Lá se destrava artes conceituais, novos fatalities e brutalities, novas skins de personagens, novas músicas de cenário etc. Sim, o game, mesmo na versão XL, não traz tudo de mão beijada ao jogador. Há coisas que se destravam e dão a sensação de progressão dentro do game.
A Kripta é composta por inúmeros enigmas que o jogador precisa resolver e por várias áreas, incluindo um cemitério e uma toca de aranhas gigantes. Nestas áreas há criaturas que surgem do nada e assustam o jogador constantemente. A toca das aranhas é o que dá mais aflição. Nos enigmas o jogador precisa encontrar peças/objetos que abrem o caminho para novas passagens dentro das áreas da Kritpa.
É um modo bem legal. Que acaba sendo uma grande surpresa o tempo que se despende se jogando no que poderia ser apenas um mini game, mas que acabou se tornando muito maior. Acho que na brincadeira eu devo ter perdido umas duas ou três horas explorando e tentando resolver alguns enigmas e ainda assim não consegui resolver todos. Mas é legal passear pela Kripta com dinheiro, já que para destravar os extras do game é preciso explorar todas as áreas. E apesar da Kripta conter alguns locais e situações onde se ganha moedas, é nos outros modos que se consegue mais moedas para continuar adquirindo coisas dentro da Kripta. Jogue nela e o susto fica por conta da brincadeira!
Edição gordinha que vale seus extras!
Ao fim, Mortal Kombat XL é uma versão melhor do que Mortal Kombat X do ano passado. Por mais óbvio que seja afirmar isso. Curioso dizer que quando essa versão foi anunciada isso meio que não foi uma surpresa para muitos jogadores. Eu mesmo não corri para comprar o game ano passado justamente porque tinha essa suspeita de que uma versão completa sairia futuramente (achei demoraria um pouco mais, mas um ano é uma espera razoável).
Acho que o estúdio errou um pouco ao não oferecer nada aos jogadores do ano 1 que deram suporte ao game, mas isso não invalida a qualidade da versão XL, que realmente contém muito conteúdo extra, especialmente os personagens novos e as muitas skins maneiras que ele traz consigo. Skins não mudam a dinâmica das lutas ou dos personagens, mas dá uma apelo estético interessante. Parecem renovar um pouco o game, ainda que esteticamente.
E é interessante que a versão XL chegue mais em conta do que a versão original do game do ano passado (na Saraiva a versão de PlayStation 4 e Xbox One estão por R$ 199 – lançamento em 07 de abril, sendo que a versão de 2015 quando lançou ano passado chegou a custar 259 reais). É bizarro pensar que há aqueles que pagaram tão caro no game ano passado, mais todo o valor gasto com DLCs e agora tudo sai por bem mais em conta, mas no fim é uma boa vantagem para quem não comprou o jogo ano passado. Não adianta olhar pela perspectiva negativa, já que aumentar a comunidade do game é tão importante para a longevidade da série quanto o apoio inicial de quem adquiriu a versão do game ano passado.
Para encerrar, posso dizer sem dúvida que Mortal Kombat XL acabou se tornando o melhor Mortal Kombat que já joguei na vida. Admito que não estava esperando essa qualidade e me surpreendi positivamente com o tanto que o game tem a oferecer e com todo o cuidado que o estúdio teve, seja com uma história que qualquer jogador que esteja chegando agora a esse mundo da série pode assimilar, quanto aos estilos de combates criados e reformados entre todos os personagens clássicos da série. É um jogo digno de se aplaudir, pois em qualquer outro momento do passado, qualquer um poderia achar que esse seria apenas mais um Mortal Kombat e os desenvolvedores conseguiram ir além de apenas mais uma sequência. Trata-se de um novo recomeço para a série e isso é algo enorme para um game que surgiu em 1992, há 24 anos atrás.
Dando uma nota
Modo história/campanha - 8.8
Excelente adição das variações de estilo de combate - 9.5
Sustos no modo Kripta - 9
Diversos modos (destaque para as Torres) - 9.2
Versão XL é realmente uma versão completa - 9.5
Novos lutadores carismáticos - 8.9
Sólido multiplayer e suporte a competitividade - 8.8
9.1
Excelente
Mortal Kombat XL é a versão que você quer ter. É a reinvenção da franquia, com diversas novidades, modos e conteúdo. Agora completo com todas as DLCs. É o melhor que a franquia tem a oferecer até que uma sequência seja desenvolvida.