Que bacana a oportunidade de poder voltar a falar de One-Punch Man aqui no site. Para quem não se recorda, foi em outubro do ano passado que comentei a respeito da versão em animê e também aproveitei para falar da plataforma da Daisuki, plataforma que trouxe o animê para cá oficialmente enquanto ninguém mais conseguiu autorização para tal. Quem perdeu a matéria e quiser lê-la, basta acessar este link.
Meses passaram, o animê fez um estrondoso sucesso e era meio que inevitável que alguma editora eventualmente acabaria conseguindo a licença para publicar o mangá aqui no Brasil e a Panini conseguiu! O primeiro volume de One-Punch Man então chegou as bancas nacionais agora em abril, como um tratamento todo especial e com a promessa de uma periodicidade bimestral, o que é uma excelente ideia tendo em vista que todo o tratamento de qualidade que a edição recebeu também o encareceu. One-Punch Man custa 17 reais por edição, um valor bem acima do que é normal para o atual mercado de mangás. Mas antes que você se revolte por isso, já digo que achei o preço mais do que justo.
Tratamento gráfico que é um nocaute!
Ia dizer que o mangá tem mais páginas do que normalmente os mangás publicados possuem, porque olhando seu aspecto físico ele é muito mais grosso do que mangás como One Piece ou Naruto, mas que nada! O primeiro volume tem aproximadamente as tradicionais 200 páginas comuns ao formato tankobon. Pelo visto a Panini caprichou na gramatura do papel, que é em off-set, aquele branquinho e de melhor qualidade do que o papel jornal (que hoje em dia acho uma abominação que ainda seja usado em certos títulos de mangás e até mesmo publicações em quadrinhos, porém isso é papo para outro dia).
Achei importante mencionar a gramatura porque como andei resenhando alguns outros mangás que também possuem a impressão em papel off-set me andaram pedindo para comentar isso, e aí também passei a dar mais atenção a este detalhe. Muita gente reclama que o off-set de baixa gramatura (ou seja a finura que causa a transparência entre suas folhas) é ruim pois a impressão de uma página acaba “vazando” na página contrária a folha.
Sinceramente esse é um aspecto que nunca me preocupei ou prestei atenção. Quer dizer, obviamente já tive casos de quadrinhos e mangás onde de vez em quando noto a transparência da página, mas até então isso nunca estragou a minha leitura, nem mesmo ao ponto de incomodar. Porém aparentemente isso realmente incomoda muitos leitores. Toda essa volta para dizer que parece que a Panini tomou um cuidado extra com One-Punch Man, pois em termos de gramatura, a qualidade parece existir justamente pela grossura desta primeira edição.
E esta primeira edição tem todo um acabamento de qualidade. Adoro, por exemplo, que finalmente muitos dos mangás publicados atualmente, não possuam mais duas capas iguais. Há vários mangás atuais em publicação que não sofrem mais com esse aspecto visual sem graça. One-Punch Man tem duas artes excelentes na capa da edição, sendo que uma delas tem aquele efeito 3D que o leitor mais atento perceberá que irá existir em toda as edições do mangá, e é algo muito elogiado lá fora. E o mangá tem abas! Quão maneiro é isso? Parabéns a Panini por tanto cuidado gráfico para tornar One-Punch Man um passo acima do que já existia em mangás de boa qualidade aqui no Brasil. O nível técnico da edição é realmente impressionante.
Então sobre o aspecto técnico One-Punch Man cumpre todos os requisitos: boa encadernação, sem quebrar o encadernado ou páginas estalando, há impressão é de alta qualidade, sem aqueles tons de preto esbranquiçados, o papel é de ótima qualidade e gramatura e até mesmo trabalho gráfico das capas de ambos os lados da edição foi mantido de acordo com o original. É de bater palmas, sim!
Se há algo a ser criticado, posso dizer apenas que é uma pena que em um mangá com tantos quadros inteiros de páginas duplas, as vezes o miolo central da edição não nos deixar ver a arte inteira. Dê uma olhada na foto abaixo e também nas fotos que tirei para a galeria que abre a postagem que fica mais fácil de entender. Não é um demérito muito grande, mas já vi casos, na própria Panini onde rolou um cuidado com isso, dando um espaçamento dentro do miolo para que a arte ficassem junta. Pena que aqui, no calor do momento não vou saber citar qual mangá já vi isso “não acontecer” (faz muito tempo que algo assim não desperta a minha atenção).
Vi algumas resenhas por aí também comentando a respeito do fato de ter mantido alguns nomes de vilões originais do mangá japonês, como o caso da Mosquito Musume que na tradução do glossário a cita como Garota Mosquito. Aqui eu não tenho ainda uma opinião formada. Quer dizer, Garota Mosquito poderia ter sido usado sem problema algum, mas há casos onde o próprio personagem tem um nome em inglês, provavelmente uma opção do autor para com a obra em si, e seria errado traduzir o nome (como o caso do Vaccine Man). Nesse sentido acho que a decisão de manter o nome original a melhor escolha.
Leitores de mangás estão habituados com isso, então não é necessariamente algo que incomoda. Ainda que alguns nomes sejam bem difíceis demais de serem lembrados, com o caso do Homem Louva a Deus que no original se chama Kamakyuri. Não sei, parece apenas um detalhe que no fim não muda muito o resultado de como o leitor encara a obra. Alias outro aspecto estranho, mas que não faz qualquer diferença pra mim, é o curioso caso do hífen no título daqui. No original é One Punch-Man e para nós ficou One-Punch Man. Uma mudança que a Panini declarou que fez a pedido do licenciante japonês. Que estranho.
Independente dos pequenos detalhes, que até parecem bobos olhando em mãos o belo trabalho gráfico realizado, One-Punch Man acaba se tornando um dos mangás mais bonitos nas bancas nacionais atualmente. Quem não acreditar no que estou dizendo, recomendo que compre ou ao menos vá na banca ver como ficou esta primeira edição. Eu aplaudo em pé.
Já vi o animê, vale a pena ler o mangá?
Esta é uma dúvida que eu mesmo me fiz ao ver a primeira edição aqui na banca da cidade. Já havia assistido toda a primeira temporada da série, super satisfeito e animado com o trabalho da Madhouse. Haveria a necessidade de acompanhar a mesma coisa na versão mangá?
Realmente é uma boa indagação. Levei em conta aqui dois fatores: a quantidade de volumes que haveria de comprar, sua periodicidade e o acabamento da versão impressa. Bem, sobre a qualidade não preciso mais mencionar, certo? Está detalhadamente descrito acima. O mangá, nesta versão, começou a ser publicado em 2012 e tem até o momento apenas 10 volumes. Não são muitos volumes e a Panini está sendo bacana em publicá-lo bimestralmente. São bons fatores então. Independente da crise econômica do país e de um problema sério de orçamento que venho enfrentando em casa atualmente, posso dispor de 17 reais a cada dois meses para ter um mangá de incrível qualidade. E quando digo qualidade, também me refiro a narrativa de One-Punch Man e não apenas ao trabalho gráfico.
Não quero ter que explicar novamente sobre do que se trata One-Punch Man . Acredito que fiz uma resenha legal, sem spoilers, sobre a série na matéria de outubro do ano passado aqui no site. Dê uma lida lá. Mas aos preguiçosos, One-Punch Man traz uma ideia singular, trazendo um personagem que é tão forte que acaba com qualquer tipo de vilão com apenas um soco, por mais absurdo que essa premissa possa soar, o mangá funciona de uma maneira impressionante com essa fórmula.
Esse personagem, Saitama, descobre com o passar do tempo que ser invencível, imbatível e resolver tudo com um único soco fez com que sua vida se tornasse um tédio total, sem mais prestigiar o sabor do desafio, da adrenalina de uma batalha. E é aqui que o mangá vai brincar, trazendo vilões inacreditáveis e colocando o poder do Saitama sempre a prova. Será que algum dia ele irá encontrar um novo desafio?
Não vou me alongar na história porque aqui é a resenha apenas do primeiro volume. Há já a chegada de Geno, o ciborgue que irá se tornar pupilo de Saitama que dará um frescor aos próximos capítulos dos próximos volumes.
No geral One-Punch Man é um mangá que as vezes trabalha com aspectos filosóficos da vida mundana do homem em si. Saitama é um cara entediado com a vida, o mundo do mangá também é estranho, pois trabalha com valores onde a humanidade não tem grandes méritos por existir, como se nós fôssemos apenas formigas, fora toda a discussão que a história irá criar abordando a ideia de heroísmo e vilania, ética e moral. Tudo isso com muito bom humor e ação colocada de uma forma insana, como algo que o leitor acaba sendo surpreendido constantemente.
Para não dizer que o primeiro volume não tem nada de novo para quem assistiu o animê, há um capítulo extra, chamado 200 Ienes, que apresenta uma história que não foi animada na primeira temporada da série (eu ainda não vi os OVAs lançados posteriormente ao animê, então não sei se chegou a ser animado neles). É um curto conto de Saitama aos 12 anos, quando ainda não havia se tornado o herói que o leitor passa a conhecer aqui.
E eu dei uma mancada grande, pois antes de ler o mangá, acabei o folheando e vi que tinha algo diferente no final dele. Acabei criando expectativas por esse material antes de chegar até ele. No fim 200 Ienes não tem nada de especial. Achei até inferior a narrativa normal da série em si. Não é ruim, mas também não se provou como algo memorável. Gosto mais da versão careca do Saitama. Uma história dele aos 12 anos não me impressionou muito. Valeu como curiosidade e um mero extra, pena que acabei achando que seria algo mais antes de ler e criado expectativas erradas.
Torço para que nos próximos volumes haja mais extras legais, ou até mesmo conversas entre os autores da série. ONE é o roteirista, criador da série, que inicialmente surgiu como uma webcomics (muito mal desenhada por sinal, um leitor me apresentou esse detalhe no artigo anterior que fiz sobre a série e caramba fiquei chocado), e do Yusuke Murata, famoso artista da Jump, conhecido de trabalhos como Eyeshield 21, que ficou responsável pela arte de One-Punch Man na versão publicada pela Shueisha.
E Murata é um monstro, porque a arte de One-Punch Man é uma coisa animal. Super detalhista nos cenários, na ação, nas explosões, nos movimentos. Os vilões, os closes e feições que os personagens retratam. É tudo muito impressionante e absurda o que o Murata consegue fazer. Se alguém só viu One-Punch Man pelo animê e não acredita que o mangá possa ter uma arte tão bonita quanto, deixo o desafio. Dê uma olhada no mangá. Pra mim é quase como se os personagens se movimentassem sozinhos. Como o cara consegue esse nível de qualidade? É surreal!
Enfim, vale a pena ler o mangá? VALE! Até porque One-Punch Man é uma obra que vale a pena ser vista uma, duas ou até três vezes. Eu li o primeiro volume já conhecendo a história e mesmo assim vibrei nas lutas, ri novamente nas partes de humor e me peguei admirado tudo de novo com a obra. O mangá é tudo de bom! Mal posso esperar pela segunda edição!