Crise | Bom dia, você acordou em um novo Brasil ou isso é tudo um sonho?
A charge acima, de Jean Galvão, foi publicada no jornal A Folha de São Paulo no dia 08 de maio. Para mais charges como esta, visite este link.
Bom dia. Brasil, 12 de maio de 2016. Seja bem vindo a um outro Brasil. Poderia dizer “novo Brasil“, mas quem realmente acredita nisso? Pois é. Talvez até mesmo “outro Brasil” também seja uma forçação de barra. Ou talvez apenas signifique um “eu quero muito acreditar que essa pocilga pode melhorar“.
Hoje os brasileiros acordaram com a notícia de que a atual presidenta Dilma foi afastada de suas funções e que, enquanto isso, Michel Temer se torna o novo presidente do Brasil no bolão da linha de sucessão. Muitos vão ficar confusos com toda essa novela política e que não é tão divertida como a novela em que House of Cards se propõem a ser. A realidade não é nada divertida, ao contrário do que a ficção consegue ser.
Eu passei quase 2 horas agora pela manhã lendo notícias, editoriais de jornais e artigos a respeito do que vem a seguir e a conclusão mais plausível é a de que… ninguém sabe! Vai ser muito difícil definir o que irá acontecer com o Brasil a partir de agora. Tudo pode mudar, para melhor, para pior, ou nada mudará e a gente vai continuar na mesma poça de lama que nos encontramos já há alguns anos. E esse última previsão, talvez a mais provável, é a que acredito que mais assombra o povo brasileiro. Sei que eu quero mudanças, mas mudar é tão difícil. Tome como exemplo as nossas vidas. As pessoas gostam de ficar em suas rotinas. Imagine um país então! Não dá para um país acordar e pensar “hum… hoje é um bom dia para chutar o pau da barraca e fazer tudo diferente“. Infelizmente as engrenagens não funcionam dessa forma.
Antes de continuar, preciso recomendar um link. Para quem quer entender melhor todo o processo de impeachment, o que vai acontecer, os prazos e outros detalhes realmente pertinentes e importantes desse momento em que vivemos, a melhor e mais completa matéria que li no dia de hoje veio desse link. Vale a pena dar uma olhada.
A realidade é que acordamos em um Brasil que tem a prerrogativa de que pode mudar. Dilma teve a sua chance de chutar algumas barracas, improvisar algumas mudanças, mas não o fez. É fácil entender que qualquer pessoa comum, talvez como você ou até eu, não aguentaríamos a pressão dos últimos meses. Eu já vivo um esgotamento mental só de ter que lidar com a minha crise financeira pessoal, de não conseguir pagar as contas, imagine um presidente responsável por tantos brasileiros, tanta gente insatisfeita querendo seu couro.
Pois é, não digo que Dilma seja realmente uma má presidenta, mas a minha visão é que ela se cansou, e não foi algo de agora que deu bateu esse cansaço. O Brasil é um país complicado, com uma cultura complexa, com uma sociedade facilmente corruptível. É fácil entender porque alguém no poder pode se cansar de tentar limpar a bagunça. Ouça o Café Brasil 506 – O Espelho e talvez esse ponto de vista faça um pouco de sentido. A mim fez.
E aí tem Michel Temer. Nosso novo presidente substituto. Interino é o termo correto, mas tal como um professor, substituto é o que melhor me soa. Temer tem 180 dias, prazo do afastamento de Dilma, para chacoalhar o Brasil. Pode se mudar um país em seis meses? Deveria ser possível, mas sabemos o quão difícil é conseguir tal proeza. Um presidente não governa sozinho. Leis não se fazem do dia para a noite e mesmo que se fizessem, o tempo de aprovação delas são cruéis. O processo legislativo no Brasil é de dar pesadelos em qualquer pessoa. Fora que há todo um debate filosófico e sociológico que diz que um país não se muda com leis. São as pessoas quem mudam um país e quando digo “pessoas”, não me refiro exclusivamente aos políticos. Nós precisamos mudar. Talvez a gente esteja mudando, mas não tão rápido quanto talvez você ache que estamos.
— Temer é corrupto, os políticos são corruptos. Estamos trocando seis por meia dúzia. Este talvez seja o novo discurso daqui para frente. Vamos tirar o Temer, assim como o Eduardo Cunha também caiu (o que foi justíssimo em minha opinião). Concordo que atualmente as figuras políticas que estão representando o país lá em Brasília tenha baixa ou quase nenhuma credibilidade. Não se pode esvaziar Brasília, não se pode deixar um país sem um governante. E mesmo que novas eleições fossem convocadas, quem é idôneo o suficiente para assumir a administração desse país? E mesmo que fosse, quem garante que ele não teria que se corromper para se adequar ao sistema sujo e falho do processo executivo e legislativo que hoje temos graças a nossa constituição arcaica e um sistema de leis que mais parece uma colcha de retalhos, rasgada, com buracos e desgastada com décadas de maus tratos? Não há ninguém assim. Precisamos parar com essa ilusão.
Mais uma charge da Folha de São Paulo, esta de 2 de Maio de 2016, da sessão Hora do Café. Para ver outras, clique aqui.
Temos que trabalhar com as ferramentas que existem hoje em dia. Temer é ruim? Não sei. Ele tem seis meses para fazer o que normalmente um presidente precisa de 4 anos para fazer. Acho justo dar um voto de observância (nem é de confiança). É vigiar, ficar de olho. Se ele roubou, é corrupto e estiver se sacanagem com o Brasil, em seis meses descobriremos.
Dilma deveria voltar daqui seis meses? Sinceramente espero que não. Se voltar, que volte diferente. Ciente de tudo que errou e com uma nova forma de conduzir este país. Afinal, a impressão de todo mundo não é que a Dilma é uma ladra, que nos roubou e nos sacaneou. Essa me parece apenas uma desculpa do tipo “sem querer, querendo” apenas para tirá-la do poder e ver se alguém muda o jogo político do país, se alguém consegue fazer algo que ela não vinha conseguindo mais fazer. Se ela voltar, que não volte do mesmo jeito, caso contrário estamos apenas andando em círculos.
Para terminar, a única coisa que me parece sensata em toda essa transição em que o país começa a passar a partir de hoje é que trocar o presidente não está significando apenas trocar uma única pessoa no poder. Ao contrário do que aconteceu em 92, quando Collor foi afastado e Itamar Franco assumiu e decidiu manter os Ministros de Collor (só os alterou depois da renúncia de Collor), agora o processo está sendo diferente. Os Ministros de Dilma não querem continuar em suas pastas e Temer também quer novos Ministros.
Me soa como uma troca de técnico de um time de futebol. Sai o técnico que está desagradando geral, entra um novo que faz uma nova escalação. Não significa que o time de Temer é melhor ou pior que o time de Dilma. Nem mesmo significa que novos Ministros e um novo Presidente vão resolver mais facilmente os problemas do país, até porque a Câmara dos Deputados e o Senado estão aí, com seus problemas, seus membros corruptos sendo investigados e cassados quando bem convém ao cenário político nacional. Câmara e Senado fazem parte da tripartição dos poderes da República. Eles são o processo legislativo do país. Sem eles, a estrutura da República se torna precária. Mas trocar quem pode ser trocado é interessante. Me soa mais como ou vai ou racha. Mude o que pode ser mudado e comece por aí.
Pois é. Hoje acordamos com novos políticos no poder. Políticos com problemas sim, políticos que possuem defeitos. E hoje eles não acordaram apenas com seus próprios problemas, mas também ganharam novos problemas. Nossos problemas. Os problemas do Brasil e do Governo Dilma. Que eles saibam lidar com isso, caso contrário, em seis meses tudo pode mudar novamente.
Tirinha do Garfield, publicado hoje, 12 de maio, na Folha de São Paulo. Para mais tirinhas, basta acessar esse link.
Bom dia, e por favor, me belisque para ver se não estou sonhando, ok?
Já cansei de políticos e Governos Humanos. Nunca, em nenhum momento da história, houve um governo que atendesse a todas as necessidades do povo, e nunca haverá. Ilude-se quem ainda deposita fé em políticos, mesmo os mais bem-intencionados. Já dizia a Bíblia e muito bem: “Homem tem dominado homem para seu prejuízo” e “Não é do homem que anda o dirigir o seu passo”. É impossível para alguns humanos comuns governarem um país de milhões de pessoas. Não dá. Temos de aceitar a realidade de que não temos essa capacidade.
O momento de mudança é sempre aquele lugar entre as esperanças e as incertezas.
Seu texto traz um pouco de esperança, e mesmo com uma posição política contrária a que teremos neste 180 dias (por hora) no país, espero que mudanças boas possam surgir.
Afinal, democracia é democracia mesmo quando meus argumentos perdem.
Parabéns pelo bom trabalho de sempre, Thiago!
Jonathan