Ecotone é um jogo de plataforma bastante simples, sombrio e mutável. Cada fase possui um título, uma frase um pouco críptica que dá conta de contar a história do jogo e refletir o mistério por trás dela.
O indie game foi desenvolvido pela Sundae Factory, empresa francesa composta por três membros – mas 5 para o jogo – e que aparentemente já trabalharam com grandes empresas, como a Ubisoft. Seu primeiro projeto foi Ecotone mesmo, que recebeu a SteamGreenlight em 2014 e foi lançado recentemente em acesso antecipado e disponibilizado por completo agora no dia 06 de maio, custando 18 reais.
No momento em que comecei a jogar Ecotone, ele ainda estava em acesso antecipado, e os desenvolvedores estavam terminando de aparar as arestas do jogo com a ajuda da comunidade, e posso dizer que eles estão dando muita atenção a comunidade. Tive problemas por conta de minha humilde placa de vídeo e fui no fórum do próprio Steam para relatar os problemas que poderiam ser bugs; em menos de duas horas após cada postagem minha a equipe já havia respondido! Muito bacana isso. Sem contar que vi por lá alguns tópicos de sugestões que estão sendo acatadas! Mas acesso antecipado é isso mesmo: o jogo ainda estava incompleto, mas caminhando com tranquilidade para o produto final. É uma realidade bem diferente da existente nos consoles domésticos. Acesso antecipado tem todo um carinho na Steam quando os desenvolvedores estão comprometidos com suas criações.
A arte do jogo é bastante simpática e sombria. Por mais fofa que seja: não sabemos quem e muito menos o quê somos, em um ambiente próprio do jogo com algumas criaturas peculiares, que às vezes são inimigas e às vezes plataformas. Acredito que ela não se destaque tanto por ser um 2D sem gradientes de cores nem nada, mas nem por isso ela é ruim. O jogo se passa em 3 mundos diferentes e ela se adapta muito bem. Embora o primeiro fundo seja o mais rico e bem trabalhado, também é visualmente o mais estranho – o que é o oposto de ruim, acredite!
Já a trilha sonora me chamou muito a atenção! É um grande trabalho imersivo do Aleksi Aubry-Carlson, que coincidentemente fez a OST de Xenonauts também (aquele jogo que veio pra bater de frente com o recente XCOM 2). Pelo que é possível ouvir na página do seu Bandcamp, ele tem essa característica imersiva e quase sombria em suas músicas, em que poderíamos ficar ouvindo a música e viajando em nossas mentes. Minha única ressalva é que são músicas longas – uma para cada mundo – e que por mais que se transforme enquanto a ouvimos ao ponto de parecer outras músicas, fica essa sensação de “mas é só UMA música?”. Recomendo que passem na página dele e ouçam a trilha do Ecotone, é gratuita.
A jogabilidade é bastante simples. Basicamente é a já conhecida jogabilidade de um jogo de plataforma habitual: use setas e o personagem anda – agora pule e corra. Porém, devo dizer que ela é toda escorregadia, o que não só dificulta como frustra! Isso achei ruim. O diferencial do jogo é que, como já foi dito, cada fase possui um título enigmático que dita a mecânica daquela fase: “I want to go…” aparentemente não diz nada, mas ao chegar na extremidade da fase ele completa com um “…back” e aí você deve voltar para o começo.
Habilidades especiais e únicas (pulo duplo, mudar plataformas), pequenos segredos e mecânicas da fase (como vento, gravidade modificada, tamanho), e vislumbres da história são entregues ao jogador por estes curtos e simples enigmas. Criatividade não falta: “I wish my brother were here” te dá o controle de outro personagem ao mesmo tempo; “I needed to be another one” te põe no comando de alguns animais do jogo que flutuam ou se arrastam; “I need to think outside the box” tem um cenário que te faz sair da parte visível da tela para alcançar! Nenhuma ideia de fase se repete no jogo todo!
Fica aqui uma menção especial (ou um easter egg maroto): achei muito legal como uma das últimas fases do jogo faz uma referência direta àquela fase de Earthworm Jim 2 em que ele é apenas uma minhoca flutuando em algo que parece um organismo com bumpers de pinball e uma música melancólica de fundo – a mesma música é usada nessa fase também!
O jogo se divide em 3 mundos de 15 fases cada, cada um em um ambiente diferente. Parece pouco, mas a quantidade de vezes que você vai morrer compensa, pode apostar! Eu quis terminar o jogo quando vi que estava próximo do fim, e acho que fiquei umas 2 horas na fase 3-12! Até onde vi ele não tem um contador de morte, embora talvez seja preferível não passar vergonha. Este ponto é meio equilibrado, entretanto: algumas fases você passa de primeira, mas outras você vai morrer 30, 40, 50 vezes – o que admito ser um pouco frustrante.
Cada mundo, porém, termina com uma daquelas fases frenéticas de “corrida musical”, onde a corrida segue a música e se você morrer, deve começar de novo, sem parar! Vale notar que cada fase possui uma pequena máscara que é difícil de ser alcançada. Quando conseguirmos todas, é liberada ou uma nova fase ou mundo, que ainda não foi implementado (ao menos não havia no momento em que escrevi este review)! Vi isso de passagem pelo fórum!
Por fim, acho que Ecotone peca na sua simplicidade: o jogo é bem feito e é possível ver dedicação da parte da equipe, mas é só isso. Por mais que literalmente cada fase tenha uma mecânica diferente da anterior e ele não seja em nada repetitivo, o jogo não chega a ter um diferencial gritante que o destaque, consequentemente me lembrando muito os melhores jogos em flash que já joguei (e isso não é ruim, claro). Por sinal há um demo de Ecotone que pode ser conferido neste link.
Entretanto, nem por isso é um jogo passível. Para os fãs de jogos em plataforma como Super Meat Boy (que por sinal é outro que lembra um jogo em flash e isso não é qualquer demérito para tal) o aproveitamento de Ecotone é muito bom!