Party Hard | Festejando até morrer… ou ser assassinado! (Impressões)
Descobrir um novo indie game é sempre divertido. Afinal são jogos que não requerem grandes comprometimentos por parte do jogador e que geralmente permitem partidas curtas e rápidas, ou para serem feitas intermediando com jogos maiores, ou quando a vida cotidiana não reserva muito tempo para ficar em um videogame por longas horas. Fora que com um orçamento baixo, os desenvolvedores precisam se desdobrar criativamente para criar um game visualmente atraente e com uma jogabilidade divertida.
Party Hard foi uma destas agradáveis e recentes descobertas, feita graças ao fato do game ter sido lançado no final de abril (dia 26) nas plataformas do Xbox One e do PlayStation 4. Digo isso porque inicialmente o jogo foi oficialmente lançado em agosto de 2015 para o PC, na Steam, que é uma plataforma que infelizmente não dou conta de acompanhar todos seus lançamentos, especialmente de seus indie games, que chegam as enxurradas por lá.
O game surgiu originalmente em uma Game Jam, aqueles eventos que ocorrem pelo mundo inteiro, onde pequenos desenvolvedores se reúnem para criar novos games em um curto período de tempo, geralmente em prazos de 24 a 48 horas. O protótipo de Party Hard pode até mesmo ser experimentado no site oficial do game.
Desenvolvido por um pequeno estúdio indie, chamado Pinokl Games, em parceria com outro estúdio, também indie, chamado tinyBuild, que também acabou se tornando a distribuidora do game. São estúdios que possuem outros pequenos games, alguns para mobile, sendo que não conheço muito de seus outros títulos, apesar de que da tinyBuild tenho vontade de experimentar o No Time To Explain que também está disponível no Xbox One. Quando puder o farei…
Continuando. Party Hard é um game de ação tática, na qual o jogador precisa planejar seus movimentos e reagir rapidamente conforme a situação assim o exigir. Acaba sendo um jogo de ação e reação. A ideia é simples, o jogador é um personagem que invade festas com a intenção de assassinar todos presentes ali, mas se descoberto não pode ser morto ou ser preso!
Festanças de matar (ou morrer)
Existe uma história principal que serve como base para o game acontecer em diversos tipos de festas e em várias localidades dos Estados Unidos. É um cuidado bacana dos desenvolvedores, ainda que não fosse realmente necessário que houvesse uma trama por trás da ideia do game. Porém ter uma história acaba sendo algo divertido, especialmente pelas vozes e pela arte usada.
Tudo começa com um investigador entrevistando o protagonista do game, que começa dizendo que só começou essa matança por todo os Estados Unidos porque estava de saco cheio de acordar as três da manhã com o barulho dos vizinhos festejando sem parar. E assim o cara meio que pegou o gosto pela coisa e saiu matando em festas ao redor do país. Conforme o game avança a trama vai crescendo e até mesmo reflexões em torno dos personagens acabam surgindo.
O roteiro é bacana, ainda que não seja essencial para se jogar o game. O que é uma observação válida se considerar que Party Hard não está localizado em português. O que é uma pena, entretanto bom que a história em si não se torna um impeditivo para quem vê o inglês como uma barreira.
Não quero entrar muito na questão da moralidade do jogo, afinal, o game deixa claro que trata-se de um serial killer e não cara bonzinho agindo de forma que pareça correto. Não é necessariamente um indie game para crianças também. E não deixa, de uma certa forma, de ter aquele espírito dos filmes de terror adolescente dos anos 80, onde sempre há adolescentes festejando e um assassino a solta matando geral. Só que aqui o jogador é o assassino e não um cara tentando sobreviver ao massacre.
Planejando múltiplos assassinatos
A estrutura da jogabilidade de Party Hard é bem simples. Cada fase do game tem um ambiente fixo na tela da televisão ou monitor. A visão do jogador é isométrica, tal qual as imagens demonstram aqui na postagem. Assim é possível ter a visão de toda a festa, seus cômodos, a área externa e locais onde as pessoas podem ir e vir e seus campos de visão, o que lhe obriga a ter cuidado em algumas áreas. O jogo tem diversas fases, com todos os tipos possíveis de festas, as vezes em locais enormes e diferentes.
Há festas que possuem cômodos, então o jogador pode entrar e assassinar alguém, sem que outras pessoas o vejam agir. Já em festas que rolam em áreas externas, matar alguém requer muito mais cuidado, pois o campo de visão das pessoas festejando é muito maior.
Todos os níveis do game possuem armadilhas, que podem ser acionadas e isso pode ocasionar uma única morta ou múltiplas mortes, como um cavalo que pode dar um coice em uma pessoa ou um carro que pode sair em disparado e matar várias pessoas.
Existem vários tipos de interação com o cenário em cada fase. Há as armadilhas que podem ser acionadas sem pessoas próximas, as que exigem alguém perto para funcionar e aquelas que são armadas e são acionadas após um tempo ou quando alguém se aproxima delas. Além disso há locais onde o jogador pode esconder corpos ou se desfazer dos mesmos, evitando assim que outras pessoas descubram que há alguém matando pessoas na festa.
O jogador pode matar os festeiros utilizando armadilhas ou simplesmente se aproximando e usando uma faca. Há também alguns estágios especiais onde é possível recolher itens, como bombas com soníferos ou de fumaça que prestam um grande auxílio.
Tirando alguns casos onde pessoas mortas viram uma poça de sangue, quando um carro as atropelas por exemplo, toda morte expõem um corpo, que cabe ao jogador decidir como lidar. Deixar um corpo na festa faz com que ele eventualmente seja encontrado. Se encontrado, a pessoa que o achou corre para um telefone e chama a polícia, no geral cada fase tem dois locais com telefone.
Muitas vezes as pessoas ficam desconfiadas, especialmente se o jogador estiver próximo do corpo encontrado, assim você é acusado e quando a polícia chega para cobrir o corpo, um policial também o persegue. Se você for pego é Game Over e o level precisa ser reiniciado novamente.
As vezes é possível fugir da polícia, utilizando esconderijos e atalhos presentes em algumas fases. Quando isso ocorre, após a fuga ser bem sucedida, um personagem aparece, com roupas de encanador, parecendo o Mario, e fecha esse atalho, inutilizando o local para uma segunda fuga. E cada vez que a polícia aparece para lhe perseguir, o policial corre mais rápido e demora mais para desistir.
Pode ocorrer também do corpo ser encontrado e o jogador já estiver em outro cômodo e bem longe, assim se houver muitas pessoas no cômodo do corpo, alguém acaba sendo acusado injustamente e a polícia o leva. Isso é vantajoso ao jogador, já que o objetivo do game é zerar as pessoas na festa.
As vezes o game também criar situações inusitadas, como as pessoas descobrindo um corpo e saindo para todos os lados da festa nervosa com a situação e algumas vão para rua e acabam sendo mortas pelo carro policial ou pela ambulância, já que as vezes não fica claro que a pessoa morreu (personagens envenenados apenas caem após um tempo e aí alguém chama o Pronto Socorro). Dá até mesmo para colocar fogo em um cômodo em alguns estágios, e aí são os bombeiros que chegam com tudo, as vezes atropelando quem estiver na porta do local.
E se o game mata as pessoas que o jogador deveria matar, por causa dos eventos e das situações que acontecem em cada gameplay, há também a possibilidade de mais pessoas chegarem para a festa, aumentando ainda mais o número de festeiros e a dificuldade para o jogador, que precisa lidar com mais pessoas em um mesmo ambiente em que pode ser descoberto.
Cada estágio também possui pequenas variações cada vez que se perde e a fase reinicia. Não dá para dizer que Party Hard é um jogo roguelike, aquela situação onde tudo muda a cada recomeço, pois as variações não são tantas assim e nem muito diversificadas. No geral as variações se limitam a mudança em alguns tipos de armadilhas e no numero de pessoas nas festas e em suas movimentações. O ambiente por exemplo, não muda. Mesmo assim estas variações são o suficiente para que cada recomeço o jogador precise planejar as coisas do zero, sem ter como refazer a mesma estratégia do gameplay anterior.
Prática gera acertos
No geral Party Hard oferece um repertório considerável de ações para o jogador, ainda que após algumas horas você sinta que mesmo com tantos estágios diferentes, há muito mais repetições do que inicialmente possam parecer. E se há muitas ações, as reações são mais restritivas. No geral as reações consistem em fugir e se esconder até tudo ser esquecido (é uma festa, as pessoas esquecem de tudo bêbadas).
O ideal é sempre começar vendo as armadilhas de cada estágio, se vale a pena ativar elas logo no começo ou esperar um tempo. Depois disso passar a matar os personagens isolados, em locais onde não é fácil ver isso acontecendo. Esconda os primeiros corpos para não causar muita confusão e passe a observar as brechas do game.
Existe também um recurso onde o personagem pode dançar, e isso incomoda algumas pessoas, que saem do local em que você está e vão para outros lugares. Isso é útil quando só restou poucas pessoas e estão todas juntas em um mesmo lugar. E não presuma que restando dois, você matará um e depois pegará o outro antes dele chegar ao telefone e chamar a polícia. Os personagens assustados andam rápidos e nem sempre vão no telefone que você ache que eles deveriam ir.
Fiquei surpreso como o game parecia simples inicialmente até descobrir como cada estágio pode levar um bom tempo para ser concluído. O jogo é um pouco mais difícil do que pode parecer. Chega a causar um pouco de frustração quando se erra demais e se tem a sensação de não está avançando. Tive uma ou duas situações onde precisei parar, tomar um ar e voltar 15 minutos depois a jogá-lo. Cada vez que o game dá Game Over em um estágio, o jogador tem uma tendência a retornar ao level mais afobado, achando que sabe o que fazer e, como disse, as pequenas variações de cada recomeço impedem que rejogar uma fase novamente seja uma experiência levemente diferente.
Party Hard é um pouco do tipo de jogo em que a prática acaba gerando acertos, entretanto é preciso ter um pouco de paciência com o game quando se erra demais e tudo acaba recomeçando do zero. No geral um estágio pode levar de 10 a 15 minutos para ser concluído, isso sem errar. Errou duas vezes? Provavelmente você já gastou meia hora em um único estágio. E ao todo o game possui 19 estágios. Dá para gastar então entre 6 a 8 horas fácil jogando-o, o que no geral é um ótimo tempo para um indie game com um bom preço.
Acho que também é válido comentar que no começo de abril a versão do game na Steam recebeu um editor e criador de fases, em comemoração a 100 mil cópias do game vendidas. Para um indie esse é um bom número de vendas, não? Enfim, eu procurei, mas não encontrei qualquer informação se este modo de criação também acabará vindo para as versões de consoles. Seria legal se viesse em uma atualização futura. Party Hard é um game que ganha muito com essa ideia de criar uma comunidade de jogadores criando novas fases regularmente. E no momento em que publico esse review, este modo está disponível apenas em sua versão na Steam.
Vale ou não vale?
Diante da exposição que fiz acima, acabei deixando dois pontos de elogios para a parte final desse review: gráficos em pixelart e trilha sonora!
Não me canso de comentar aqui no site o quanto gosto de indie games que usam e abusam de uma forma positiva de gráficos em pixelart. Party Hard consegue fazer uma arte bacana e que casa totalmente com a proposta do game. O cenário são detalhados e específicos, as cenas pixeladas com a história também são charmosas. Se for para criticar, só diria que o game poderia ter um pouco mais de personagens diferentes. Se está usando pixelart, ter mais personagens não pesaria tanto assim no processamento do game (acho). Felizmente não é o caso de estágios com trocentos personagens iguais. Se não ficar prestando a atenção, passa despercebido que as fases frequentemente tem trios iguais de vários personagens. Fora que alguns personagens repetem praticamente em todos os estágios. É um detalhe que deixo relevar um pouco justamente por conta da essência de um indie game, mas que não teria como não mencionar por aqui.
Quanto a trilha sonora, essa eu aplaudo em pé, pois o game tem ritmo. As músicas das festas empolgam e mesmo que o jogador fique ali no mesmo cenário por meia hora (ou mais) tentando passar o estágio, a musica não cansa ou enjoa. São realmente baladas de festas e que deixam o jogador no clima de sua ambientação.
Party Hard no geral é um ótimo indie game. Há sim alguns problemas, como a inesperada dificuldade elevada, por conta de questões como ter ou não sorte (afinal você não sabe para onde todos os personagens estão indo a todo o momento) e que podem frustrar certos jogadores, ou problemas como a falta de variações mais malucas após muitas horas jogando o game de forma ininterrupta (se possível não faça isso, pois acho que prejudica um pouco a experiência). E há também a questão do modo de criação de fases, que após saber de sua existência e que não está na versão do Xbox One e PlayStation 4 também senti que seria mais legal se estivesse.
Porém é admirável a evolução do game, que surgiu em uma Game Jam e veio se aperfeiçoando desde então. É desafiador, criativo e divertido. E no decorrer de seu gameplay ainda reserva certas surpresas aos jogadores, como novos personagens jogáveis (com habilidades próprias) e eventos especiais em alguns cenários (como… zumbis!).
O preço também é convidativo e justo. Na Steam está por 26 reais, no Xbox One por 25 reais e no PlayStation 4 por… 40 reais (why?). Bem, parece meio mancada o preço nacional na loja da Sony, vai entender, porém independente desse detalhe, o game ainda tem conteúdo que vale tal preço, até mesmo nessa plataforma (ainda que se puder escolher, vá em outra).
Então se arrume, pegue seu convite e venha para a festa!