Quantos jogos de da série Lego existem? Faz algum tempo que perdi a conta. É curioso como alguns anos atrás eles haviam perdido um pouco de sua relevância e recentemente, talvez do ano passado pra cá, voltaram a chamar a atenção.
Aqui no Brasil talvez a principal razão para voltarem aos holofotes tenha sido o fato de que os games começaram a ser dublados em português. Até então, a razão de muitos deles estarem em inglês era um bom motivo para afastar uma parcela do público mais jovem, na qual tais games deveria naturalmente despertar a atenção. Ainda que legendados eles já estivessem vindo um pouco antes de começarem a serem dublados.
Claro que isso não significa que os games da Lego sejam apreciados apenas por crianças. Esse é um outro elemento que melhorou nos games da série recentemente. Tem havido uma preocupação por parte da Traveller’s Tales (TT Games), desenvolvedora dos games da franquia Lego em geral, em estar sempre renovando os títulos, trazendo novas mecânicas e melhorando elementos clássicos da série em geral.
Trata-se de um esforço para tornar os games divertidos para um público amplo, seja estes crianças, jovens ou adultos. A linguagem destes games parece funcionar com todas as ideias, especialmente se estes jogadores são fãs das franquias que servem como estrutura para as aventuras de tais games dentro do universo Lego.
Lego novamente no universo de Star Wars
É legal pensar que toda essa ideia de games de famosas franquias da Warner dentro do universo de Lego começou justamente com Lego Star Wars: The Videogame, lá no distante ano de 2005. Faz um tempão, não? E é legal ver que a série melhorou, e muito, ao longo de mais de uma década de games, sendo que muitos destes games foram baseados em ambas as trilogias cinematográfica de Star Wars.
Faz total sentido então que houvesse um game de Lego baseado em Star Wars – O Despertar da Força. Melhor ainda que ele tenha demorado meses para ser lançado, pois o game segue fielmente os eventos do blockbuster de sucesso do final de 2015, com direito a todos os spoilers possíveis.
Não daria certo lançar um game assim na semana de lançamento do filme nos cinemas, sem dar a devida janela de tempo para que as pessoas assistissem a obra original e logo em seguida experimentassem a humorada aventura Lego.
O game só funciona agora porque houve essa janela de espaço. As pessoas já estão apaixonadas por estes personagens, já os conhecem e estão animadas com a direção da nova trilogia. Dá para dizer que todos já estão ansiosos por mais destes personagens, em particular Star Wars Episódio VIII, que só será lançado no final do próximo ano. E é por esse carisma deixado pelo filme, que o game é tão apaixonante nesse ponto de seu lançamento. É mais uma chance de curtir O Despertar da Força, agora com uma pegada mais bem humorada.
Expandido uma aventura pela galáxia!
Um dos pontos positivos de Lego Star Wars – O Despertar da Força é a ideia de que o game mesmo seguindo a estrutura do filme tem a liberdade para explorar horizontes que a história cinematográfica não teria tempo para tal.
Um bom exemplo é o epílogo do game, que consiste em reviver a clássica batalha de Endor, no final da trilogia clássica, já pensando no salto que a história irá dar 30 anos depois. Além disso o game explora outros cenários dentro da nova trilogia, com fases extras desbloqueadas enquanto o jogador vai coletando blocos dourados ao longo da campanha principal.
Uma das primeira fases extras desse sistema de adicionar conteúdo ao game é uma na qual Poe, BB-8 e C3PO saem em busca do resgate do Almirante Ackar, preso dentro de uma das naves da Primeira Ordem. Em determinado momento o quarteto vai parar dentro de um compactador de lixo, e rola referências a uma clássica cena da trilogia original na qual Han Solo, Luke & Cia passam pelo mesmo aperto.
Fora outras pequenas adições no roteiro do filme de 2015 em si, como ter o Chewbacca ajudando a Rey na Ilha do Luke, até ela decidir continuar sozinha, já perto do topo da ilha.
São momentos assim que acabam enriquecendo a história do título, somado já ao característico tom cômico que todo game da franquia possui, sendo que é um elemento que funciona bem quando você aciona na mente aquele botão da brincadeira de serem bonecos e peças de Lego parodiando um grande sucesso de Hollywood e um universo seguido por milhares de fãs por todo o planeta.
Adições dentro da receita do bolo
As novidades não ficam apenas por fases extras que não constam no filme O Despertar da Força. A TT Games trouxe adições interessantes as mecânicas comuns dessa franquia de games de Lego. É um esforço admirável para inserir novidades a uma fórmula tão conhecida.
Uma das melhores sem dúvida são as batalhas de blasters, um momento singular do game quando os personagens entram em cobertura e precisam atirar nos inimigos no melhor estilo de games em terceira pessoa, tal como Gears of War. Ficou sensacional!
A ideia destas batalhas é fazer o jogador cumprir certos objetivos. Matar um número X de inimigos ou acertar alguma coisa. Se for bem sucedido, o jogador avança para a próxima linha da cobertura, se aproximando cada vez mais do final do segmento, que ocorre dentro das fases no estilo tradicional da série. Não são fases inteiras de blasters, seguindo trilhos, mas inserções de momentos dentro da dinâmica das fases do game.
Se bem sucedido, ou seja, se o jogador não morrer nenhuma vez, uma medalha dourada é concedida e muitas peças de Lego são adicionadas no inventários da fase, que continua com o elemento de uma barra que precisa ser enchida com tais pecinhas até se obter 100% dela antes da fase ser concluída. É um bom incentivo para ter cuidado nestas batalhas, ao invés de sair atirando sem se importar com sua própria vida.
Tão bom quanto são os segmentos em nave, espalhadas por todo o game. Basicamente quase todas as fases possuem um segmento em naves e… uau, como elas são legais! Me senti naquela pegada semelhante aos bons e divertidos tempos de Star Fox. Simples, porém extremamente divertidos.
São segmentos às vezes lineares e às vezes liberado dentro de um ambiente tridimensional, permitindo ao jogador executar loopings e meia volta completa pelo estágio. Se orientando e caçando inimigos pelo mapa no canto da tela.
Dá o que pensar caso algum dia o estúdio resolva criar um game de Lego apenas de nave. Não pensaria duas vezes na possibilidade de adquiri-lo. Realmente ficou bem impressionante a adição destas mecânicas. E pensar que os antigos games de Lego Star Wars nem sonharam com tal possibilidade.
Os controles nesse modo são bem simples. Não há tiro carregado, ainda que seja possível ir até um ponto e se armar com uma bomba que destrói certos objetivos em algumas destas fases. Fora isso, a mira é bem automática, com alvos ficando bem expostos na tela do jogador, não sendo uma dor de cabeça conseguir acertar os inimigos. É feito para funcionar de forma natural e divertido, mas não tão refinado quanto um Star Fox claramente é.
Depois destas duas adições (blasters e nave), o resto das novidades estão mais para mecânicas refinadas de elementos clássicos dos games da série. Agora, por exemplo, quando se tem aquele momento de montar algo com uma pilha de peças, o jogador pode encontrar áreas em que poderá escolher algumas opções de montagem. Não é só segurar o botão e ver o que será montado, mas de escolher o que montar e ver o que cada decisão reflete no puzzle proposto.
Outro elementos que me agradou também, e ainda não tinha visto em outros games, foi a possibilidade de ter até quatro ou cinco personagens na fase e poder ir revezando entre eles. Não é a todo momento em que isso ocorre, mas nas vezes em que rola, o game fica bem mais dinâmico e diversificado.
Vi alguns reviews criticando o fato do game ter diversos mini hubs e que isso engessava um pouco as coisas pela demora do carregamento entre estas localidades. Bem, no meu caso, não tive qualquer problema com estes hubs menores e fragmentados. A tela de loading no Xbox One tem sido bem amigável, e não tive muito problema em ter que ficar pulando entre os hubs. O jogo é amigável nesse sentido, permitindo que o jogador tenha acesso a qualquer fase do game simplesmente navegando pelo mapa da galáxia.
No geral ao longo de toda a campanha principal não senti aquela fadiga que antigos games da série Lego possuem. As fases estão sempre se renovando, apresentando algo diferente, divertido e que ficava me impulsionando para frente. Há fases com mais ação, outras com mais puzzles, algumas de veículos, com diferentes personagens. O ritmo do game está impecável.
Toneladas de colecionáveis
Já é característico da série dos games de Lego a brincadeira de todos os games ter pilhas e mais pilhas de colecionáveis, de uma maneira que faz até parecer velhos clássicos da Rare amadores nesse sentido.
Claro que isso não ficou de fora de Lego Star Wars – O Despertar da Força. Isso e mais trocentos skins de personagens, mais de 200, de todo o universo Lego. Até mesmo alguns cheats são possíveis de serem encontrados e comprados utilizando as pecinhas de Lego colhido nas fases. São denominados extras, e destravam opções como ímã de pecinhas (destrave isso na primeira oportunidade que puder), radar de colecionáveis e até mesmo multiplicador permanentes de pecinhas coletáveis.
Estes colecionáveis estão espalhados por todos o game. São eles que destravam novos personagens, novas fases e novos extras. E funcionam como pequenos esconderijos em todas as fases e nas áreas livres do Hub, como também há desafios extras oferecidos por alguns NPCs espalhadas nas áreas livres que oferecem mais colecionáveis.
Porém aqui um dica: não se preocupe em fechar as fases em 100% em uma primeira jogada. Isso é impossível já que muitos segredos destas áreas só são habilitadas quando o jogador terminar a campanha principal e liberar o modo livre geral, que consiste em poder usar qualquer personagem em qualquer lugar de todo o mundo do game, incluindo os Hubs. Esse é o melhor momento para sair caçando colecionáveis e obviamente fazer o game ter uma sobrevida absurda.
O melhor é que após o game liberar acesso a trocar de personagem em qualquer fase ou hub, essa modalidade é feita em tempo real. Sem precisar recarregar a fase ou área. Não tem essa coisa chata de escolher um time e ir com ele para tal lugar. Todos os 200 personagens são acessíveis em tempo real (estando eles desbloqueados), basta acionar o menu de personagem e trocar por aqueles que o jogador quiser.
Vale ou não vale?
Depois de tudo que comentei acho que dá para colocar sobre tal perspectiva: se você curte e já tem o hábito de jogar os games da série Lego, com certeza vai adorar Lego Star Wars – O Despertar da Força. Tudo que faz a série ser um sucesso entre os fãs e a comunidade está presente aqui e com novidades pertinentes e impressionantes, além do refinamento geral de mecânicas já consagradas do título.
Agora se você nunca jogou um game da franquia Lego, não há momento melhor do que um baseado no incrível mundo de Star Wars para começar. Foi a propriedade que consagrou essa série de games, é aqui que a TT Games certamente se sente em casa.
Não fique com a impressão de que trata-se de um game infantil apenas por causa de seu visual. Na verdade é um título para todas as idades, pequenos ou grandinhos, pegando um gênero de jogo difícil de ser sucesso hoje em dia: plataforma 3D. Um gênero que hoje talvez seja melhor categorizado como aventura.
Porém de fato o game emula um pouco aquela áurea do plataforma 3D, do humor de personagens com mascotes e de uma era onde isso era o gênero de maior sucesso do mundo dos videogames. Não se engane pela aparência colorida do game. É muito mais divertido do que você pode imaginar.
Claro que se você odeia Star Wars – o que alguns diriam ser um absurdo tal possibilidade – aí realmente seria difícil lhe dizer que Lego Star Wars lhe fará mudar de ideia nesse aspecto. Gostar de Star Wars é um ponto importante aqui, obviamente.
Talvez seja interessante comentar a respeito do preço do game, afinal trata-se de um lançamento normal, com o preço padrão para qualquer lançamento no mercado nacional atual. O que nos faz chorar um pouquinho, é claro. Na Steam o jogo está custando 120 reais, enquanto no Xbox One e PlayStation 4 os valores são temerosos 250 reais.
Pois é, não tem como não ficar triste com a inflação e a crise na qual os preços dos games também andam sofrendo no Brasil, mas não é o caso deste único título ou desta única distribuidora a sofrer desse problema dentro do nosso mercado.
O que posso dizer é que sendo mais ou menos um novo preço padrão dentro deste mercado em crise inflacionário, o preço está dentro do que o conteúdo do game oferece. Não é como um indie game que dure uma única sentada e ofereça uma experiência menor devido suas limitações (e não que todo indie seja assim). Lego Star Wars – O Despertar da Força é um game completo e robusto, com tudo que um lançamento normal tem a oferecer na atual geração.
Eu terminei a campanha principal em aproximadamente 10 horas, sem me preocupar muito com colecionáveis. Depois destas 10 horas, ainda tinha à disposição todas as fases extras do game, uma montanha de colecionáveis e segredos para descobrir e destravar. Não me surpreenderia se levasse mais 10 horas para fazer tudo isso. Ou seja, é um game que tem longevidade, que o jogador vai se entreter por muito mais tempo do que muitos dos títulos atuais dessa caríssima faixa de preço.
Lembrando que o game tem um modo cooperativo, permitindo que dois jogadores tenha toda a experiência da série de uma maneira simultânea. Aliás acho incrível como o sistema de coop dos games da série Lego funcionam, com a tela dividida quando os jogadores estão longe um do outro e como ela se une a uma coisa só quando ficam próximos. Acho genial isso. Gostaria de ver mais games com esse sistema de quebra e junção de tela em modos cooperativos.
Enfim, acho que quem gosta e tem condições de adquirir o game agora, vai encontrar um dos melhores Legos já lançados. Com Star Wars como abordagem, não tem como dar errado. Quem não puder comprar agora, ao menos precisa ficar de olho, pois se tem algo bom nos games da franquia Lego é que eventualmente eles estão sempre em promoção nas lojas virtuais dos consoles e até mesmo em grandes lojas nacionais de venda on-line. De qualquer forma, é um título que tem credito, competência e acima de tudo, é deveras divertido.
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