Para tudo há uma primeira vez, não? Talvez seja estranho dizer que aos 31 anos, conhecendo Star Wars desde sempre, somente agora tive a curiosidade de entrar nesse segmento de livros dentro do universo da franquia. É possível que quem for leitor novo aqui no site ou aqueles que já frequentem aqui, mas não leem tudo que escrevo, estejam se perguntando qual o meu histórico com a franquia de Star Wars por conta disso…
Bem, acho válido, neste caso, indicar dois textos que escrevi aqui no site em decorrência de O Despertar da Força no final do ano passado. Em um deles discuto a respeito do filme de 1977 e no outro faça a crítica do longa da nova trilogia sob o manto da Disney, onde ambos comento mais a minha experiência pessoal com a franquia. Mas assim, sendo bem sucinto, o caso é que nunca tive coragem de entrar no mundo dos livros de Star Wars pelo simples fato de que quando tomei conhecimento da existência de tais livros, quando ainda era jovem e cheio de tempo para tal, morria de preguiça de correr atrás de tudo. Era muita coisa, havia cronologia malucas, livros não lançados no Brasil ou raros de achar, enfim, nunca foi algo fácil para alguém que curte Star Wars, mas que não fosse aquele fã de carteirinha.
Com o advento da compra da LucasArt pela Disney e a decisão de que fora os seis filmes originais e algumas raríssimas exceções (como a série The Clone Wars) tudo que existia dentro do universo expandido de Star Wars não mais estaria dentro da cronologia oficial e que a própria Disney, por meio de novas parcerias, faria um novo universo expandido, junto com novos e frequentes filmes desse maravilhoso universo, me bateu aquele sinal de oportunidade rara de um bom momento para entrar mais a fundo nesse universo. Uma chance para entrar no mundo de Star Wars além dos filmes!
Claro que logo percebi que não seria tão simples assim. Afinal a máquina de fazer dinheiro que é Star Wars não para. Se você pensou que o universo expandido se limitaria apenas a um ou dois livros por ano… rá! Você provavelmente caiu do cavalo ao perceber que já existe toneladas de quadrinhos e livros, todos fazendo parte dessa nova linha do tempo da série. Uma boa dica para ficar por dentro dessa cronologia além dos novos filmes é dar uma espiada no excelente guia que o site O Vicio montou.
Tendo isso em mente já tomei a decisão de que não vou me estressar com o universo expandido. Não vou conseguir, e na verdade nem quero, acompanhar todos os livros e tudo que vem sendo lançado nessa nova linha do tempo. Até porque não vivo apenas de Star Wars, tem mais coisas que quero ler e acompanhar de outras séries e outros universos de histórias. Aí tomei a decisão de ignorar até onde puder o universo expandido que trabalhe com eventos anteriores ao Episódio VI de Star Wars (final da trilogia clássica). Talvez pegue um ou outro em um futuro onde a pilha de leitura na minha mesa não esteja tão grande.
Quando se olha somente o universo expandido após o episódio VI tudo se afunila de uma melhor maneira. De livros, tirando alguns com uma pegada mais infantojuvenil, Star Wars – Marcas da Guerra parece ser o principal carro chefe. Na parte dos quadrinhos talvez seja mais complicado no meu caso. Sei que uns parecem que ainda permanecem inéditos no Brasil, enquanto já vi um encadernado bonitão na banca com o mesmo selo “Jornada para Star Wars: O Despertar da Força” da mesma forma que Marca da Guerra possui em sua capa, mas não cheguei nem a ver a capa inteira na banca (estava sem grana e a mão começou a coçar). Ainda vou aguardar um momento melhor para o universo em quadrinhos. É preciso começar de algum lugar e optei por Marcas da Guerra, o primeiro livro que realmente começa a preparar terreno para o que foi mostrando em O Despertar da Força, ou pelo menos quase isso. Já vou explicar melhor isso.
A Trilogia Aftermath
Na verdade é preciso tomar um pouco de cuidado ao se dizer que Marcas da Guerra prepara terreno para O Despertar da Força. No momento em que escrevo esta indicação, ainda estou com a leitura do livro ainda não finalizada (comecei somente há 3 ou 4 semanas a lê-lo). A trama de Marcas da Guerra é dividida em 3 grandes partes (divida em uma porção de capítulos). Terminei a primeira parte (120 de 400 páginas), e aqui, o que tenho é só um pequeno cenário do grande cenário que o livro está montando.
A primeira coisa a se dizer é que Marcas da Guerra é muito mais próximo do Episódio VI – O Retorno de Jedi do que do Episódios VII – O Despertar da Força. A nova trilogia salta 30 anos no universo de Star Wars após os eventos da trilogia original, deixando aí um lapso temporal de três décadas de eventos e histórias que devem ser preenchidas pelo universo expandido, seja por livros, quadrinhos, animações, séries ou filmes spin-offs. Marcas da Guerra está fazendo justamente isso.
O livro trabalha com os eventos posteriores a destruição da segunda Estrela da Morte, das mortes do imperador Palpatine e de Darth Vader – este aliás na nossa cabeça sempre foi um grande vilão dos filmes, mas que de uma certa forma sempre foi apenas um mero capataz (meio que manipulado) do Império.
Com o livro tão próximo dos eventos de O Retorno do Jedi, não há muitas conexões tão explícitas ou diretas com O Despertar da Força, exceto talvez pelo personagem Temmin Wexley, que no livro ainda é um adolescente, e que faz uma ponta não lá muito marcante em O Despertar da Força (interpretado pelo ator Greg Grunberg – aquele ator que nunca esqueceremos de seu papel em Heroes).
Tem um outro detalhe aqui. Marcas da Guerra não é um livro exatamente fechado. Bem, ainda não posso afirmar o quão conclusivo ele é, afinal ainda não o terminei (e quando o terminar voltarei aqui no site para falar mais), mas o caso é que desde o seu lançamento nos Estados Unidos, em setembro do ano passado, já se sabia que seu autor, Chuck Wendig, estaria preparando uma trilogia com os personagens e eventos que se iniciariam em Marcas da Guerra.
Aliás fico feliz de já estar a meio caminho andado com Marcas da Guerra e não estar necessariamente tão atrasado na trilogia, pois o segundo livro, Star Wars Aftermacth: Life Debt foi lançado nos Estados Unidos esta semana (veja só que coincidência), ou seja, ainda deve levar um ou dois meses, com sorte um pouco mais, para a Editora Aleph o lançar oficialmente no Brasil.
Se nada atrasar, a trilogia Aftermath terminará em janeiro de 2017, com Star Wars Aftermath: Empire’s End, o que pelo que o nome entrega, mostrará exatamente o fim do Império (e talvez o surgimento da Primeira Ordem ou o que irá costurar a linha para tal evento).
— E o que posso dizer até o momento de Marcas da Guerra?
Antes de começar a ler o livro, acabei indo procurar alguns reviews internacionais do livro, ver o que a crítica havia achado, porém tomando cuidado com spoilers sobre a trama (é claro). Parece que lá fora a recepção do livro foi um pouco morna. Tem quem curtiu e tem quem não gostou. Talvez seja aquela coisa de expectativas, talvez não.
Sendo um novato no mundo expandido de Star Wars o que posso dizer pertencendo a tal categoria é que o livro não é tão acessível quanto achei que seria. Ele exige um certo conhecimento prévio desse universo e o autor do livro, Wendig não é tão amigão assim com os novatos.
Quer dizer, como um romance de ficção científica, há muitos termos, muitos personagens, muitas raças, que o autor não perde muito tempo pegando na mão do leitor e explicando o que são, quem são e o que representam nesse universo. Demorou um bom tempo para conseguir pegar o ritmo do livro, e até por isso achei que deveria terminar a primeira parte dele antes de vir aqui começar um pouco a respeito.
Star Wars possui um ritmo bem diferente, por exemplo, do amigável Guerra do Velho, outro universo também de ficção científica, sem nada a ver com Star Wars, mas que comentei aqui no site recentemente (e em breve farei um novo texto continuando a falar um pouco mais de onde parei no texto anterior).
Marcas da Guerra trabalha com diversos personagens de maneira paralela. Cada capítulo há um personagem em foco, e a linha de história de cada um não se misturam no começo. Cada um está vivendo algo, com outros personagens, as vezes já famosos na série, as vezes alienígenas que sinceramente nem sequer consigo imaginar como são. É difícil acompanhar esse quadro inicial, até porque o elenco não tem nomes fáceis de lembrar. Demora um tempo para o cérebro assimilar todo mundo.
Achei uma obra de difícil entrada para quem nunca leu um livro de Star Wars. Claro que após 120 páginas, e um pouco de dedicação e algumas releituras de certas passagens, isso melhorou consideravelmente. Agora até consigo descrever um pouco a respeito desse castelo de cartas que o Wendig está montando aqui. E então vou tentar dar uma ajuda por aqui.
O personagem principal, ou que mais parece conectar tudo nesse começo, é o Wedge Antilles, piloto que está presente na trilogia clássica e famoso entre os fãs por ter sobrevivido ao ataque e destruição de ambas as Estrelas da Morte. Após a queda (mais ou menos, está mais para o enfraquecimento) do Império com a morte do Palpatine, a Aliança Rebelde de Leia está patrulhando a Orla Exterior, compostas por planetas meio distantes de tudo e onde o Império provavelmente se esconderia tentando agrupar suas forças novamente. E lá está Wedge Antilles, no planeta Akiva, quando uma grande nave do Império chega ao planeta, corta todas as comunicações externas e encurrala Antilles sozinho.
Nesse meio tempo outros personagens são apresentados, todos sendo trabalhados com os eventos após esse enfraquecimento do Império. Leia manda mensagens para toda a Galáxia, pedindo para as pessoas se rebelarem contra o Império, que está cada vez mais fraco. Para não contar muitos detalhes, o livro trabalha com uma gama de personagens diferentes, tipo um RPG, há o cara que é um ex-agente do Império (Sinjir Rath Velus) e que agora não quer mais nada da vida, que não quer mais se envolver em lados. Há uma mulher da força rebelde (Norra Wexley) que está de volta ao lar, tentando reencontrar seu filho (Temmin Wexley) a muito abandonado por ela devido ao seu alistamento para a guerra contra o Império, há essa almirante do Império (Rae Sloane) que dá a impressão de ser a grande dor de cabeça dos mocinhos no livro e também essa caçadora de recompensas (Jas Emari) que se encontra em uma enrascada com alvo valiosos demais e oportunidades de menos para conseguir abate-los.
Há mais personagens, claro, mas estes são os que estou de olho, prestando atenção e vendo qual o desfecho de cada um deles. Somente agora, ao final da primeira parte, é que seus caminhos começam a se cruzar, o que tem tornado a narrativa muito melhor.
Ainda é cedo para dizer se será uma boa história. O livro queima boa parte de seu começo fazendo essa limpeza na casa. Mostrando personagens, criando cenários que trabalhe suas personalidades e abrindo a jornada individual de cada um deles. Digo que passado estas dificuldades inicias com a narrativa, agora sim começo a curtir bem mais a história e estou intrigado para ver até onde ela vai. Começo a gostar de personagens como Jas e Sinjir, até mesmo a Sloane é uma figura interessante de se ver desdobrando para driblar outros figurões do Império. Se no começo foi meio turbulento entrar nesse universo, agora finalmente tem sido mais divertido, sem dúvidas.
Trechos!
Como já é de praxe das minhas indicações de livros aqui no site, trouxe três trechos dessa primeira parte de Marcas da Guerra. Sem delongas, o primeiro dele é um momento chave para a narrativa do Wedge Antilles, preso dentro de uma nave do Império, enquanto a história mostra que Rae Sloane não é uma figura que o herói não deve temer.
A segunda parte, que é mais um interlúdio para um dos capítulos dessa primeira parte, mostra o desfecho de uma conversa com personagens secundários, sem importância na história em si, mas que me chamou a atenção para a filosofia em torno de tomar lados em uma guerra onde você talvez seja insignificante. É uma conversa entre um pai e seus dois filhos, um do lado do Império e outro do lado da República, na qual o pai se irrita com as provocações entre eles e dá a sua opinião sobre o assunto. Eu gostei bastante desse trecho. Não importa quem está no poder? Basta ficar no poder por tempo demais para se tornar corruptível? Temos isso claramente no cenário político do mundo, especialmente no Brasil. Gosto quando a ficção coloca esse pé no chão da realidade.
O último trecho é parte da apresentação inicial da Jas, que é apresentada ao leitor como uma caçadora de recompensas de alto calibre. Chega na história com a maior pinta de sniper, e todo o segmento inicial de sua apresentação (que infelizmente não caberia no trecho aqui) é muito legal, com ela descobrindo que há três alvo valiosíssimos ali nessa localidade do trecho abaixo e que não poderia catar somente um, sem assustar os outros dois. Eu achei muito maneiro esse momento do livro.
E é isso! Para aqueles que tinham um pouco mais de curiosidade de saber sobre Marcas da Guerra, acho que consegui passar um pouco das minhas impressões iniciais do livro, sobre a perspectiva de um leitor não habituado tanto assim ao universo de Star Wars, é claro. Até porque, quem é fã roxo mesmo, já comprou e leu o livro quando ele foi lançado por aqui no final do ano passado.
Onde comprar Star Wars – Marcas da Guerra? O melhor é que hoje em dia dá para achá-lo em lojas como Americanas – melhor preço no dia publicação deste post – (R$ 13 no boleto), Amazon, Submarino, Saraiva e Livraria Cultura e estar sempre de olho em qual loja está oferecendo o melhor preço. Vejo regularmente em promoção nestas lojas. É sempre bom ficar de olho caso o interesse tenha surgido.
E futuramente, quando o terminar, volto a falar mais dele por aqui! Prometo!