Antes de me sentar para escrever as impressões de Akame ga Kill!, me peguei pensando qual foi o último mangá dentro deste gênero que me peguei lendo e não consegui me lembrar. Quer dizer, Akame ga Kill! é um mangá de fantasia, mas não como Pandora Hearts. Akame está mais para fantasia medieval, pois se passa nessa época de castelos, espadas e cavalos. Não há o que pode ser chamado de “sociedade moderna”. Além disso não encontrei aqui, neste primeiro volume, elementos do gênero de sobrenatural, como é comum as vezes serem inseridos no contexto destes mangás que remetem a épocas mais antigas.
A princípio gosto dessa ausência da fantasia exagerada, pois deixa Akame ga Kill! mais pé no chão, mais realista com a sua proposta inicial. Claro que não me surpreenderia se mais a frente pequenas inserções de sobrenatural acabassem aparecendo, como demônios ou magia. Dentro do contexto do universo da série isso me soa plausível e não me incomodaria, contanto que a estrutura mostrada neste primeiro volume não perdesse o foco.
Curioso aliás o fato de que a capa desta primeira edição não diz muito a respeito do mangá. Pelo contrário, a capa até me levou a achar que se tratava de um outro título sobre alguma protagonista feminina forte cumprindo algum tipo de jornada, tipo uma espécie de Claymore, que até hoje influencia muitos mangás dentro dessa proposta de trabalhar com protagonistas femininas e mangás de época, entretanto Akama ga Kill! não é nada disso. Entendi depois ao olhar na internet e perceber que a cada edição, a capa muda de personagem, revezando entre o grupo de personagens principais que fazem parte da história.
Mundo ruim!
Acho que se faz necessário explicar um pouco a trama de Akame ga Kill! para que algumas coisas mencionadas acima façam mais sentido. A história começa com esse personagem chamado Tatsumi, um jovem espadachim, que saiu de sua vila no interior para ganhar a vida na capital e assim poder ajudar o povo de sua vila. É a primeira vez que Tatsumi deixa essa vida do interior para ir para uma grande cidade.
Porém chegando a capital, Tatsumi percebe que as coisas não são exatamente como ele imaginava. Não vou revelar muitos detalhes para não dar spoilers e assim não tirar a graça dos viajantes de primeira viagem que quiserem descobrir mais a respeito do título. Basta entender que no universo deste mangá, as pessoas da capital são corruptas, más, violentas, aproveitadoras e, bem, basicamente são podres por dentro. Quem está no poder pisa em quem está abaixo e não há justiça para os pobres, a burguesia sai impune de qualquer atrocidade que ela queira (e vá) cometer.
Tatsumi aprende isso da pior forma possível. As coisas não são o que parecem e o mangá leva o leitor a acreditar até um certo ponto que há esperança nessa cidade, quando de fato não há! É interessante como a concepção dos personagens se invertem até o final do primeiro capítulo. É um plot twist deveras interessante. Tatsumi acaba tendo uma grande perda, de deixar o leitor se sentindo mal pelo personagem.
Nisso, no desenrolar do primeiro capítulo, Tatsumi acaba tomando conhecimento de um grupo chamado Night Raid e é aqui o ponto de partida para Akame ga Kill!. O mangá é sobre esse grupo de assassinos, que estão as sombras combatendo a podridão da capital da forma como a justiça era aplicada em tempos medievais, matando todos aqueles que merecem ser mortos! Claro que em um primeiro momento não é dessa forma que a Night Raid é apresentada.
Akame aliás é uma das personagens desse grupo, daí sua imagem na capa da edição e até mesmo do nome no título do mangá. Ainda que ela não tenha um destaque enorme no primeiro volume, quer dizer, não mais do que outros membros da Night Raid, fica claro que ela é uma das personagens que mais despertam a atenção do leitor. Não é para menos que existe um spin-opff deste mangá, chamado Akame ga Kill! Zero, que trabalha como um prequel para a história da Akame – e que aposto que deve sair futuramente aqui no Brasil pela Panini também. Esse spin-off começou em 2013, sendo que o mangá original é de 2010. Ou seja, ainda não é o tempo de se pensar neste outro título.
Em todo caso, esta primeira edição é sobre Tatsumi, sua entrada na Night Raid e esse período de experiência e provação que ele precisa para se juntar permanentemente ao grupo, enquanto o mangá vai abrindo espaço para o leitor conhecer os outros membros do grupo, suas histórias e seus estilos de combate. Por isso é estranho que não seja o próprio Tatsumi a aparecer na capa da primeira edição. Bem, mangás as vezes tem destas, já que as séries são publicadas em revistas com diversos outros mangás e só depois são encadernados em volumes próprios, nesse ponto a série já é conhecida e os fãs já conhecem o universo do mangá, sua proposta e seus personagens. Uma capa de primeiro volume lá no Japão pode ir além da premissa inicial de sua história.
Mate as pessoas podres!
Como mencionei lá no começo, o que me agradou em Akame ga Kill! foi justamente a sua proposta de ser um mangá de fantasia, mas que trabalha com tramas envolvendo seres humanos, mostrando a crueldade de nossa própria raça, além de mexer com problemas sociais e hierárquicos de uma sociedade dividida em classes sociais. Afinal, seria muito simples criar um grupo de assassinos que fica por aí matando monstros e demônios. A perspectiva muda totalmente quando a proposta do mangá é trazer um grupo de assassinos que saem matando pessoas, por mais vis e cruéis que elas sejam.
E me pareceu um título que soube mexer com estes valores polêmicos sem necessariamente banalizar assassinatos ou desvirtuar padrões morais. Gosto de uma das cenas onde Tatsumi diz ver a Night Raid como uma espécie de bando de vigilantes justiceiros, e aí todos caem na risada, dizendo que ele não deve ficar iludido com os objetivos do grupo, mas que ele deve pensar o que quiser se isso o fizer dormir bem a noite. A Night Raid é composta de mercenários sim, e matam para quem pagar um bom valor, contanto que o alvo realmente mereça morrer, o que é um conceito que levanta questões sociais e morais que dividiriam opiniões no mundo real. Até por isso achei importante que todos os alvos destes primeiro volume eram pessoas realmente horríveis, deixando bem explícito aquele ódio por tais pessoas e o quanto decididamente elas mereciam morrer sobre a ótica da justiça olho por olho.
Em todo caso não vou chegar a lugar algo filosofando o conceito de pessoas ruins, sociedades corruptas ou no direito de qualquer um ali fazer justiça com as próprias mãos ou cobrar para tal. Trata-se de uma obra de ficção, que reflete um mundo de fantasia, irreal, na qual os valores não precisam e nem devem ser equiparados com a realidade. É importante, ao fim, saber distinguir isso.
Tudo isso não deixa, é claro, de também servir como aquela crítica a maldade que existe no mundo e em como a própria sociedade muitas vezes vira as costas a tudo isso, especialmente no que diz respeito a como as pessoas tratam aquelas abaixo de suas classes sociais.
Período de aprovação!
A primeira edição então trabalha com Tatsumi, sua entrada para a Night Raid e suas primeiras missões, sobre a supervisão de um parceiro do bando. A Akame foi a primeira, na qual Tatsumi acabou ganhando sua confiança. Bacana ver que o mangá tem boas cenas de ação e lutas, com momentos tensos, já que fica aquela impressão de que o Tatsume pode morrer a qualquer momento, pois ele é realmente o mais fraco ali do grupo, sem mencionar que as vezes os mangás enganam, fazendo o leitor achar que esse personagens vai viver para sempre e de repente ele é apenas uma ponte para o verdadeiro protagonista aparecer. Não é o caso aqui. Tatsumi vive, mas todos seus combates tentem a ser complicados, já que ele é elo fraco do bando, é o que está em período de experiência.
Quanto aos outros personagens da Night Raid, ainda não tenho uma opinião realmente formada. São vários personagens, na qual tirando a Akame, eu não consegui gravar o nome de todos ainda. Mas dentro do mundo ali proposto todos eles parecem que se enquadrariam muito bem em um game de RPG, por exemplo. Não é surpresa isso, já que o mangá foi publicado no Japão em uma das publicações da Square Enix, famosa por seus games de tal gênero.
Mas todos os personagens ali são carismáticos, ainda sejam estranhos e peculiares, no bom sentido disso. A Akame é aquela garota singular, tem um passado sombrio, é super forte, e meio que na dela, apesar que mesmo assim ainda há muitas cenas de humor com ela e Tatsumi. Dá impressão de um par romântico. Achei legal o carinha gay, e toda forma como ele é apresentado. Não é totalmente estereotipado como as vezes mangás japoneses o fazem, ainda que haja algumas brincadeiras com sua opção sexual. Leone, a garota com orelhas de gato, também me agradou, sendo que ela é a responsável pela entrada do Tatsumi ao bando. É uma personagem com aquele elemento da malandragem, cheia de artimanhas e que dobra as pessoas com palavras.
Há ainda a chefe do bando, que me lembrou uma pirata, mas que parece mandar bem, ainda que não aparente ser muito forte. E a outra parceira do Tatsumi, próximo ao final do primeiro volume, a sniper do time. Faz o tipinho de garota mimada, mas que sabe se virar bem. Em um game de RPG ela seria o personagem suporte.
É um mangá de bando afinal, com vários personagens diferente, esquisitos e peculiares, sobrevivendo em uma espécie de era medieval com fantasia. Enfrentando a podridão dos seres humanos, e não necessariamente seres mágicos ou demoníacos (por enquanto). Ainda que criaturas fantásticas existam, já que Tatsumi enfrenta um Dragão da Terra nas primeiras páginas do começo do mangá.
Vale ou não vale?
No geral a leitura de Akame ga Kill! foi divertida. Só agora, ao escrever sobre o mangá aqui, é que acabei descobrindo que o título possui um animê, lançado em 2014 e com apenas 24 episódios. Update: E veja só, ele está disponível na Crunchyroll com legendas em português! (obrigado ao leitor Fabio R. Lima por ter me alertado)
É um título que continua em publicação no Japão, possuindo no momento da publicação deste post 13 volumes lançados. Para um mangá que surgiu em 2010 me parece um número razoável, o que significa que ele não tem tantos volumes sendo lançados regularmente por lá.
Aqui no Brasil o título chega pelas mãos da Panini, sendo que este primeiro volume foi lançado em abril. Já há mais duas edições em bancas, sendo que a terceira foi lançada agora em julho. O formato é o modelo mais tradicional, em papel jornal, sem grandes atrativos de luxo. A primeira edição com 240 páginas aproximadamente (maior do que normalmente estes mangás tendem a ser), e uma página colorida dentro. Com capas e contra capas em cores. Vide a galeria no começo do post para ter uma ideia. O preço da edição também é agradável, custando os 13 reais normais dessa linha da editora.
Para quem procura um mangá dentro desse gênero, dá para recomendá-lo tranquilamente. É cheio de ação, tem uma boa historia, daquelas que prendem o leitor, e não há aquela coisa do fanservice sexual gratuito, com personagens mostrando bundas ou peitos. Há sim alguma coisa pequena nesse sentido ali ou aqui, mas não chega a ser escancarado. É mais pelo tom de humor do que pela gratuidade do elemento. No fim, é um bom título para quem procura algo novo para ler e não anda encontrando em meio a tantos títulos semelhantes que existem em publicação no Brasil atualmente (não que eu esteja reclamando da quantidade, é claro). Ao fim, Akame ga Kill! me deixou sedento por mais, e isso é uma coisa boa!