Dangerous Golf | Quebre tudo e pontue o máximo que conseguir! (Impressões)
Tenho jogado muitos indie games ultimamente, não estou certo se já disse isso por aqui. E escrever a respeito destes games menores nem sempre é uma tarefa fácil ou até mesmo justa. Afinal, quando é que um indie game se torna um game ruim, sem que os jogadores tenham que considerar os elementos que compõem esse setor do atual mercado de games?
Indie games não são desenvolvidos por grandes estúdios com dezenas, às vezes centenas, de pessoas. Também são títulos que não possuem exorbitantes somas de dinheiro para produção. Até o tempo é um fator mais apertado para esse setor, pois quanto maior a demora para ser lançado, mais o game vai custar e maiores são as chances de um outro indie similar ser lançado e o que não saiu perder relevância (ou destaque).
Há que se pensar também que quando estes indie games são lançados eles não possuem o hábito de custarem o preço de um game regular, aquela linha que chamamos de AAA (60 dólares). Quando há que se colocar estes fatores fora da mesa apenas porque um indie game não nos agradou especificamente em certos pontos?
E tem outro lado: o quanto às críticas podem detonar um indie game a ponto de fazer com que sua equipe corra o risco de essencialmente morrer ali, com seu primeiro game? Afinal, um game ruim de um grande estúdio não é o fim do mundo para certas empresas, mas um indie game ruim pode sim ser o fim do mundo para um desenvolvedor indie com uma pequena equipe. São ponderações complicadas, não?
Quis trazer esse assunto aqui, para as minhas impressões de Dangerous Golf porque este foi justamente um indie game que passou por pesadas críticas assim que ele foi lançado no início de junho, e passado já duas semanas desde que comcei a jogá-lo, não acho que algumas destas críticas de lançamento foram totalmente justas com o título.
Sinto que existiu uma cobrança, um grande peso jogado nas costas do estúdio, a Three Fields Entertainment, por serem um time de desenvolvedores com experiência na área, pois trata-se de uma galera que fundou e trabalhou na Criterion Games, que hoje é um estúdio pertencente a Eletrônico Arts, e que foram responsáveis pela franquia Burnout, tão querida pela comunidade gamer.
Me pergunto se não rolou um pouco daquele ressentimento por conta desse histórico. As pessoas pedem por um novo Burnout desde que Paradise City foi lançado, e nem a Criterion, nem a EA parecem dar sinais de que isso vai acontecer tão cedo (ainda que rumores sempre surjam de tempos em tempos). E talvez os fãs tenham jogado essa bola para a Three Fields, achando que essa equipe conseguiria, de forma independente, criar um novo sucessor espiritual de Burnout. O que não foi o que aconteceu. Eles criaram um game de golf. Só que antes que você repita “golf” com tom de voz de desaprovação, deixe-me dizer que Dangerous Golf não é exatamente um game de golf, o que o torna muito mais interessante. Na verdade é o melhor game de “golf, não golf” que já joguei em todos estes meus anos de gamer.
Iniciando após o primeiro Patch!
Entretanto, sendo justo, só comecei a jogar Dangerous Golf em sua versão 1.1, ou seja, após um patch de aperfeiçoamento liberado para todas as plataformas na qual o game foi lançado. Muitos dos reviews que malharam o título foram realizados na semana do lançamento do mesmo, no início de junho. Primeiras impressões às vezes são um problema, não? Às vezes é por isso que sempre fico meio receoso com acesso antecipado a certos games, afinal eles nem sempre vão refletir aquilo que o game vai ser quando for lançado ou logo depois do primeiro patch de correção. E todo game tem um primeiro patch de correção hoje em dia.
Não tive acesso a primeira versão de Dangerous Golf, então realmente não sei o que o tornava tão ruim ao olhar de muitas críticas. Vi reclamações sobre loadings terríveis e falta de tutoriais mais objetivos. Bem, nada disso me prejudicou durante todos estes dias em que andei jogando o game.
O que estou querendo dizer é que tendo como base a minha experiência com o título, em sua versão de Xbox One, não tenho grandes reclamações ou pontos negativos que façam coro a enxurrada de reviews ruins que o game recebeu. De fato Dangerous Golf tem sido um dos games mais divertidos que andei jogando ao longo destas duas semanas, testando diversos games diferentes. Talvez posso tranquilamente enquadra-lo no meu Top 10 de melhores indie games de 2016, ou pelo menos torná-lo um forte candidato para tal.
Exploda tudo em três etapas!
Dangerous Golf segue uma proposta bem arcade, com aquele toque característico que tornou a série Burnout tão famosa: ambientação arquitetada para causar máxima destruição. Explicarei com mais detalhes.
Não se trata de um game convencional de golf, com campos ou buracos numerados, ou tipos de tacos e tacadas. Esqueça tudo isso. Dangerous Golf é mais ou menos um arcade de mira e destruição de cenários, na qual o seu objeto de controle é uma simples bola de golf.
E essa é a graça do game. Tentar destruir a maior quantidade possível de itens em um ambiente, antes da bola ficar sem energia ou o tempo acabar, enquanto no meio disso há segredos escondidos em todas as fases, que rendem bônus extra na pontuação ou acontecimentos curiosos no cenário. É um game pela briga da maior pontuação, enquanto o jogador explora um ambiente altamente explosivo.
As fases são concluídas por meio de pontos de destruição. Quanto maior a destruição, melhor seu ranking, que é online e mundial, podendo render até quatro medalhas de mérito (bronze, prata, ouro ou platina). E nem sempre destruir aleatoriamente é a melhor maneira de pontuar.
Ao longo do modo campanha do game, que é gigantesca, composta de 10 capítulos contendo diversas fases, ao jogador vai sendo liberado novas habilidades com a bola de golf, entre elas uma mira laser ou o poder de manter o booster (chamado SmashBreaker) de controle da bolinha armazenando-a em certos tonéis.
Antes de continuar, preciso explicar sobre o então SmashBreaker. O gameplay de Dangerous Golf é composto de três atos, arremessar a bola, deixá-la em combustão e, por último, arremessá-la no buraco.
O ato mais interessante é o de causar combustão na bolinha, pois assim ela pega fogo e sai quicando pela fase, na qual o jogador tem o controle pleno dela, bem, ou quase isso, já que há uma física aí aplicada que não a permite fazer curvas impossíveis ou não respeitar a lógica do ricochete ao acertar um objeto ou parede. Essa bola em chamas dura alguns segundos, podendo com o avançar do jogo, ganhar algumas técnicas novas para manter sua chama ou encher sua barra novamente, permitindo assim que esse movimento continue acontecendo.
E uma das coisas mais legais é que para ativar essa habilidade cada fase tem um requisito inicial de quantos objetos o arremesso inicial da bolinha precisa quebrar. Se o jogador não quebrar objetos o suficiente, o game simplesmente pula para o terceiro ato, de acertar o buraco. Os pontos obtidos assim normalmente são insuficientes para que o jogador ganhe a medalha de bronze e possa assim abrir uma outra fase. Ou seja, o SmashBreaker é parte essencial para vencer as fases do game.
Quanto ao último ato, de acertar a bola no buraco, este talvez fosse um grande problema se pensar que a bolinha saiu quicando como uma maluca pelo cenário, deixando o chão completamente cheio de destroços que atrapalham não só a visão do jogador como também o caminho da bola até o buraco.
Nesse ponto Dangerous Golf não cria grandes entraves para os jogadores. De fato acertar a bola no buraco é uma das coisas mais tranquilas dos estágios. Você só precisa estar realmente de um caminho que seja lógico que a física de uma tacada perfeita poderia fazer a bolinha chegar até o buraco.
Isso acontece porque essa tacada ao buraco é um tanto quanto magnetizada. Estando em um caminho possível e ao alcance do buraco, a bolinha sempre vai acertar nele, mesmo que você a jogue meio torta, ela vai bater na parede criando um ângulo perfeito para ir parar dentro do buraco, exceto nos casos, como disse, onde isso seja impossível de acontecer.
Porque é o que disse mais acima. Dangerous Golf não é um game de golf, mas um jogo de destruição de ambiente. Acertar a bolinha no buraco é um requisito final para conclusão com êxito das fases, e que exige que o jogador fique esperto no local em que vai parar após a habilidade de combustão da bola. Requer apenas atenção.
O game até cria mecanismos para que esta fórmula de jogo siga se renovando constantemente. Novas habilidades são adicionadas e novas regras vão sendo inseridas na campanha. Há fases onde a bandeira com o buraco só é revelada quando o jogador atinge ou destrói algo específico do cenário. Ou fases com cronômetros, na qual o jogador precisa interromper a combustão da bolinha antes do cronômetro chegar a zero. Ou fases com áreas ou objetos que não podem ser tocados ou destruídos.
Dangerous Golf é um título agradavelmente viciante. Percebi que já o estou jogando por quase seis horas e que só cumpri metade de sua campanha, ou seja, cinco capítulos. E o game continua adicionando novidades,novos cenários e novas mecânicas. Me sinto animado para continuar jogando e descobrindo quantas horas a mais isso vai me custar no minha pequena janela diária para games.
Não é um game onde o jogador vai ficar empacado por horas em um estágio. Tive sim que repetir alguns deles, às vezes mais de quatro ou cinco vezes, mas normalmente porque estava usando a estratégia errada ou não prestando atenção nas próprias dicas que o game dá ao início de cada fase. Se você emperrar em alguma fase, preste atenção a introdução dela, no vídeo de voo completo que o jogo dá pelo ambiente antes da fase ser iniciada. Porém houve diversas fases que apenas quis jogá-las mais de três ou quatro vezes apenas para descobrir segredos ou tentar bater minha própria pontuação. Considerando que cada fase leva apenas alguns minutinhos, coisa de 3 ou 4, isso não é algo que o fará perder tempo demais sem a sensação de estar avançando no game.
Um detalhe que não poderia deixar de fora destas impressões são os cenários do game. Há realmente uma boa diversidade de ambientes, objetos, interações e missões em todas as fases do título. Há segredos aos montes, diferente tipos de destruições e ambientes que pedem para serem destruídos por completo. Com centenas de itens por estágios, dos mais diversos tipos. E graficamente o game é estonteante. Gráficos que realmente lembram esta geração de consoles, o que a meu ver é ótimo.
Os por menores?
Chego então ao revés, o outro lado da moeda: existem críticas a serem feitas ao game? Poderia me queixar de algumas sim, mas nada que tenha estragado a minha experiência positiva com o título.
Os loadings, um dos pontos negativos originais das críticas, existem para cada fase do game, e não são exatamente loadings de 10 segundos. Houve situações onde eles realmente me cansaram, ainda que esta seja uma versão atualizada com loadings otimizados. Não é nada horrível, mas o jogador vai notar a presença deles constantemente.
Também acho uma pena o título não ter recebido uma localização em português. A Three Fields Entertainment poderia ter se esforçado mais para localizar o título em mais idiomas, especialmente pelo potencial de venda e de jogadores que isso acaba ocasionando. Não saber inglês vai lhe complicar? Não necessariamente. O game é bem intuitivo a ponto de você não precisar ficar perdendo tempo lendo ou assistindo aos seus tutoriais, mas admito que algumas dicas na tela de carregamento das fases me ajudaram a ter uma melhor performance em certas técnicas ou fases. Dá para jogar de boa, mas certamente a experiência seria muito melhor se o game tivesse sido localizado.
Uma última critica diz respeito aos elementos facilitadores do gameplay. Como comentei o jogo tem algumas artimanhas magnéticas para que a bolinha não siga exatamente como um game de golf tradicional. Entretanto às vezes isso faz o game parecer mais fácil do que ele realmente precisaria ser. Gostaria que o efeito magnético do ato de bater a bolinha no buraco final pudesse ser menos efetivo, deixando esse momento final da fase mais desafiador (porém isso claramente poderia frustrar mais os jogadores). Poderia, por exemplo, ser algo que pudesse ser desligado nas opções do game. Digo isso porque passei por algumas situações onde mirei na parede querendo ir para um buraco bônus, mas a bolinha acabou se magnetizando no buraco final e assim o fez. Saber que a bolinha sempre vai cair no buraco final tira um pouco a graça desse último ato das fases em certas ocasiões.
Ainda que talvez o grande objetivo aqui seja inventar meios de pontuar ainda mais, seja rebatendo ou criando lances malucos, na qual o poder magnético da bola faça que ao fim, mesmo com os ricochetes, ela vá cair no buraco ao final de todos os malabarismos que o jogador inventar. Há então duas maneiras de ver esta situação. A magnetização pode ser então algo ruim, mas também boa. Difícil decidir a respeito.
Vale ou não vale?
Para concluir acredito que Dangerous Golf não é esse desastre que muitos sites pintaram em seu lançamento. Ao menos agora, pelo que pude jogar, após o tal patch que corrigiu várias coisas no título.
É um game de arcade, com pequenas fases, com foco e objetivo de pontuar por meio da destruição do ambiente. Não vá achando que irá encontrar um game de golf tradicional, porém com regras malucas, pois há realmente muito pouco do golf tradicional no título.
A campanha principal é longa e duradoura, rende fácil entre 9 a 10 horas de single player, indo para ainda mais que isso se o objetivo do jogador for pontuar para ganhar medalha de platina em todas as fases. Há modos de multiplayer, competitivos ou colaborativos (a campanha principal pode ser jogada totalmente de forma cooperativa) e também há um modo on-line onde os jogadores disputam pelas fases do game com os melhores placares.
Trata-se de um título robusto, completo em suas opções e extremamente divertido. E vale o preço pela qual está sendo vendido: 37 reais na Steam, 39 reais na Xbox Store e… err… 61 reais na PlayStation Store (sempre mais caro, vai entender estes preços nacionais da loja da Sony). Enfim, tirando o caso do preço da loja BR no PlayStation, acredito que seja um ótimo preço pelo conteúdo oferecido em Dangerous Golf.
Fora que é um game diferente, fora da bolha da mesmice que às vezes indie games podem ser. Acho uma tremenda injustiça que um título tão bacana não tenha tido uma recepção mais calorosa da comunidade. O game decididamente merecia mais.
Fica aqui a minha recomendação. Se puder, jogue Dangerous Golf. Eu não acho que vá se arrepender. Destruir coisas nos videogames é sempre bem divertido, seja com um carro, seja com uma bola de golf.
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