Cavaleiros das Trevas III – A Raça Superior #1 | O terceiro ato de um clássico! (Indicação)
A Panini vem lançando há alguns meses (três ou quatros já, não estou exatamente contando) Batman – Cavaleiro das Trevas III – A Raça Superior e é uma publicação meio que importante para o legado de Batman, e até da DC Comics, afinal estamos falando de um dos melhores e mais importantes universos alternativos já criados para os personagens da DC desde o lançamento do primeiro Cavaleiro das Trevas, lá em 1986.
Também vale se impressionar com a velocidade na qual a Panini resolveu trazer o título ao Brasil, e até mesmo respeitando a qualidade do formato utilizado lá fora. E note Dark Knights III: Master Race ainda não está concluído lá fora. Até onde a pesquisa pelo site oficial da DC Comics me levou, a sexta edição será lançada em outubro, enquanto aqui no Brasil tivemos o lançamento da quarta edição mês passado, ou seja, estamos bem coladinho com a publicação norte americana.
A quinta edição foi lançada lá fora há menos de trinta dias. Pra mim isso é impressionante, pois me lembro, quando era leitor assíduo (e assinante) dos quadrinhos da Panini e lia de tudo, que as histórias sempre chegavam por aqui com um ano ou mais de atraso em relação aos leitores norte americanos. Hoje em dia sei que ainda existe essa janela nas publicações regulares, mas salvo equívoco, diminui-se bem esse atraso. Fora estas ocasiões especiais, quando o material nem terminou lá fora e já estamos podendo conhecê-lo por aqui.
Houve um tempo, em um passado não muito distante, onde normalmente uma editora esperaria todo o material terminar lá fora, para aí encaderná-lo e lança-lo em um formatão no Brasil, ou talvez, inserindo-o junto as publicações mais tradicionais, misturados com outras edições e histórias, o famoso mix das publicações regulares. Enfim, em todo caso, é legal ver Cavaleiro das Trevas III em publicação no Brasil e neste formato dedicado exclusivamente a obra.
O mundo do futuro!
Então em 1986, Frank Miller imaginou um futuro distópico não só para o Batman, como para o Gotham e para o Superman. Planejado para ser algo como “a última história do Batman”, e por muitos anos foi exatamente assim. Cavaleiro das Trevas tornou-se um clássico, talvez um dos maiores clássicos de quadrinhos de super heróis já feitos e então, em 2001, Frank Miller resolveu retornar a esse universo, expandindo os conceitos da série para mostrar um maior elenco dentro do universo de super heróis da DC Comics.
E vamos deixar uma coisa bem clara aqui: o segundo Cavaleiros das Trevas não é tão apreciado pelos fãs quanto a primeira obra. Afinal os quadrinhos de super heróis tiveram um salto incrível de 1986 para 2001, em termos gráficos, narrativos e na qualidade em geral. Frank Miller é um gênio, isso não é algo discutível, porém o que vê no segundo Cavaleiros das Trevas é uma obra confusa, que talvez tenha demorado demais a ser lançada. Além de que o traço do próprio autor já apresentava sinais de cansaço, talvez pela própria idade de Miller. O que era uma identidade própria em 1986, com charme e técnica, em 2001 esse mesmo traço só aparentou algo estranho, deformado e muito distante da beleza gráfica que os quadrinhos já haviam atingidos na obra original.
Não é estranho então que, para Cavaleiro das Trevas III, Frank Miller tenha assumido apenas o roteiro – há quem diga por aí que estaria mais para um argumento do que roteiro, já que Brian Azzarelo está como co-roteirista, mas isso é discussão para outro dia provavelmente – deixando assim os desenhos para ilustres desenhistas desta geração, com toda a técnica e expertise dessa atual geração de criadores de graphic novels (ou algo assim).
A Raça Superior tem então desenhos modernos, da qualidade dos quadrinhos atuais. Acho ótimo, apesar de que há sim uma perda da originalidade e peculiaridade do traço original de Cavaleiros das Trevas. Parte da ideia de uma Graphic Novel que possa marcar época muitas vezes não é só do mérito de um roteiro excepcional ou peculiar, mas também de sua estética, o visual precisa ser além do que é normal para sua época. Cavaleiros das Trevas III parece não entender isso muito bem, trazendo um visual extremamente bonito e competente, mas que está muito além do que se espera dentro da ideia de algo marcante, além do esperado. Pega-se algo que poderia ser extraordinário e o torna apenas ordinário, apostando algo que o roteiro compense tal comodidade visual, sem a provocação que talvez os leitores desejem.
O fato é que o universo que Frank Miller estabeleceu em Cavaleiro das Trevas 1 e 2 é deveras interessante, um futuro onde os maiores super heróis da Terra estão um tanto quanto velhos e preparando uma espécie de futura geração. Batman tentando desesperadamente deixar um legado, ainda que falho e tão problemático quanto sua galeria de vilões, enquanto o Superman e a Mulher Maravilha assumem um relacionamento que resulta em uma filha, e o casal tenta encaixá-la em um mundo onde ela não parece se encaixar sendo metade amazona e metade kryptoniana. Mas assim, Cavaleiro das Trevas 2 é cheio de problemas e pontos estranhos, mas o contexto desse universo, desse futuro, é interessante no geral. E parece que é este o ponto em que Cavaleiro das Trevas 3 parece querer explorar, tendo, é claro, mais uma vez o Batman como o ponto de ruptura para eventos supostamente catastróficos.
E é curioso como o que um dia a DC Comics considerava como um futuro alternativo para tais personagens segue para que cada vez mais essa distopia se torne algo crível com a linha do tempo atual. Eu consigo ver o Batman do atual presente da DC Comics se tornando o Cavaleiro das Trevas insano que Frank Miller criou. O relacionamento do Superman com a Mulher Maravilha que parecia improvável em 2001 hoje, após os Novos 52, acabou se tornando uma realidade. Ou seja, talvez Cavaleiro das Trevas III não seja algo tão fora da curva do que se espera para estes personagens da DC Comics de hoje, desta geração de leitores. Não que isso também faça muita diferença na forma como apreciar esta obra, é apenas algo interessante de se observar.
A Raça Superior
Tendo lido apenas a primeira edição de Cavaleiros das Trevas III ainda é cedo para julgar o roteiro além de uma mera apresentação inicial do retorno desse universo de Miller. O que existe neste começo são ganchos e pontos que ainda não levam a muitas conexão para onde esta nova história pretende levar tais personagens.
Vou comentar pequenos spoilers desta primeira edição, até porque mesmo que você saiba disso de antemão por este texto, não tem como saber para onde estes eventos irão resultar sem continuar lendo. O máximo que posso fazer aqui é instigar e criar curiosidade para ir atrás dessa série.
O mais importante talvez seja saber que Cavaleiro das Trevas III não puxa necessariamente alguma espécie de plot das antigas séries. Não é exatamente uma continuidade direta, mas uma nova história, com começo, meio e fim, considerando, é claro, o que já foi apresentando dentro dessa realidade já estabelecida nas séries antigas.
Se faz necessário ler Cavaleiros das Trevas 1 e 2 para poder acompanhar esta nova série? Bem, não necessariamente, entretanto há personagens e situações que vão soar muito estranho e gerar dúvidas ao leitor que não souber nada sobre as obras anteriores do Miller. Por exemplo, a própria personagem chamada Lara, filha da Mulher Maravilha e do Superman. Ela chega aqui sem muitas apresentações. Talvez neste momento você não precise disso, talvez as próximas edições expliquem melhor, mas são dois grandes talvez.
Eu, no entanto, senti a necessidade de ir até minha prateleira de encadernados para abrir novamente a segunda série para relembrar dela, pois até então havia simplesmente esquecido seu papel na série anterior. E na boa? Se até hoje você ainda não leu o Cavaleiro das Trevas de 86, por favor leia, pois ela ainda é tão incrível quanto você talvez possa imaginar. Não é uma HQ judiada pelo tempo, como muitos clássicos hoje em dia são.
Voltando. Também é o caso de duas personagens femininas na que diz respeito ao arco de Batman aqui nesta primeira edição. A comissária Ellen Yindel e Carrie Kelly, que é a Robin lá do primeiro arco de 1986 (e meio que a HQ não faz esse alerta, deixando quem está chegando agora meio que boiando no final desta primeira edição). O que aconteceu mesmo com o comissário Gordon? Como mesmo Carrie se tornou a Robin? Não faz muita diferença saber isso aqui, mas é preciso estar preparado para um novo cenário, com novas regras e novos personagens, pois o futuro onde se passar Cavaleiro das Trevas não é para ser a mesma coisa que o presente da DC apenas com personagens mais velhos. Tudo começou como um universo alternativo, e é preciso se lembrar disso.
A primeira edição serve apenas para reapresentar esse mundo. O Batman desapareceu ao final de Cavaleiros das Trevas 2 e assim ficou por um bom tempo, porém supostamente o morcego retornou a Gotham no começo deste novo arco, mais violento do que nunca, e estranhamente atacando policiais. Por que? Ainda não se sabe. Superman? Está hibernando/congelado, em uma espécie de sono profundo. Por que? Não se sabe. A Mulher Maravilha agora tem um filho! De quem? Ainda não se sabe! Ou seja, é uma edição de perguntas, sem qualquer intenção de responde-las aqui.
No que diz respeito aos certos elementos da obra original, há um pequeno momento onde a mídia tem seu destaque, fazendo aquela transição de debate e inquisição a respeito do morcego de Gotham. A exposição da mídia é um lance importante na obra original. Outro ponto importante é, também, a violência exacerbada. É algo que não pode ficar de fora do mundo criado por Miller. Destaque especial para o final da edição, com uma tropa de polícias no encalço do Batman e na surra e nas páginas sangrentas que se seguem até culminar na revelação final de quem está embaixo do manto do morcego desta vez, tornando impossível não desejar ver o que acontece na próxima edição.
Pequenas páginas: Átomo
Junto com cada edição de Cavaleiro das Trevas III está sendo lançado uma revista menor (vale dizer gibi?), com apenas 12 páginas. Pelo que vi olhando por aí, cada edição trará a perspectiva de um personagem do mundo da DC que vai se correlacionar com os eventos da revista principal. Nesta primeira edição: o Átomo.
Aliás, esse é um personagem que tenho um certo apreço, pois ele teve um arco bem legal há alguns anos atrás, chamado Crise de Identidade. Curioso que na época ele tinha o nome de Eléktron aqui no Brasil, mas acho que sempre houve essa confusão com seu nome no original (Atom). Fiquei na dúvida se a Panini finalmente acertou o nome do personagem aqui no Brasil ou se apenas utilizou Átomo desta vez por se tratar de um universo alternativo.
Em todo caso os eventos dessa HQ parecem estar interligados com a história da Lara, com o ponto deixado na edição principal. O que não me anima muito a ideia de trazerem mais uma vez a cidade de Kandor para o centro das atenções. Não é um plot nada original, tendo em vista que mesmo estando uns dois ou três anos afastado das histórias da DC Comics (os Novos 52 realmente não me conquistou como gostaria que tivesse conquistado), já vi duas ou três vezes essa brincadeira de “vamos desminituarizar Kandor e ver o que acontece?”. Será que a “Raça Superior” de que trata o título deste terceiro arco de Cavaleiro das Trevas diz respeito aos kryptonianos de Kandor? Podia ter pesquisado por aí, mas resolvi não fazer. Vou tentar continuar lendo e ver que surpresas a revista aguarda.
No fim, espero que Kandor não seja exatamente o foco desta série, mas se for, quero ver como isso irá se correlacionar com a trama envolvendo não só o Batman, como o paradeiro de Bruce Wayne. De toda forma, foi interessante rever Ray Palmer nesse futuro, tendo em vista que o personagem meio que se perdeu desde Crise de Identidade (ele teve uma aventura legal na série 52 – salvo erro na minha memória – mas depois isso, o Dr. Palmer sumiu completamente do meu radar).
Ler ou não ler?
Tendo lido apenas a primeira edição é impossível dizer se no final das contas este será um clássico que terá valido a pena ter sido criado e quais os frutos que voltar a mexer no mundo do futuro de Miller trará para uma nova era da DC Comics (que andou se reinventando nos últimos anos, insatisfeita com vendas, com seu universo nos cinemas, com rumos editoriais de suas revistas e alguns personagens). O fato é que Cavaleiro das Trevas é um universo interessante e cheio de potencial para histórias diferentes do universo tradicional.
Aqui eu tenho a mesma sensação de quando leio histórias em mangás e vejo seus personagens crescendo e evoluindo. O futuro de Miller coloca personagens clássicos para um outro momento de suas jornadas, o tempo realmente passa nesse universo, diferente das eternas aventuras no universo tradicional, na qual o tempo permanece sempre o mesmo e os personagens não podem evoluir, tal como personagens de mangá podem. Isso torna Cavaleiro das Tevas meio que imperdível, até porque não é algo rotineiro na DC voltar para esse universo todos os dias. Levou 15 anos desde Cavaleiro das Trevas 2 para que pudéssemos avançar nesse futuro. E acredito que seja importante esse conceito de deixar esse mundo descansar de tempos em tempos.
E até acredito que é importante agora ver o Frank Miller trabalhando com uma nova geração de artistas, pois vai saber se ele ainda vai estar vivo quando daqui uns 15 ou 20 anos a DC Comics decidir mexer novamente em um quarto Cavaleiro das Trevas. Funcionaria sem Frank Miller? Não vejo porque não deveria, ainda que a obra prima original, a primeira aventura, jamais será esquecida e nunca será superada. O que não impede que os fãs continuem revisitando esse universo tão divertido e interessante nas mãos de outros autores.
Há que se apontar que a versão em publicação pela Panini aqui no Brasil não está muito preocupada em ser muito econômica, o que talvez diminuísse a experiência de leitura da obra. Então nada da porcaria de papel jornal para Cavaleiro das Trevas, comemore! O que temos aqui é uma edição com capa cartonada, papel especial dentro da edição e impressão gráfica de alta qualidade. A brincadeira não sai muito barato, a edição de Cavaleiro das Trevas, mais a revista menor, com um personagem diferente por edição, está custando 10 reais para cada nova edição (sendo que a série não é necessariamente mensal).
Porém é tudo isso que venho reforçando: trata-se de algo especial, e que precisa de uma tratamento gráfico que corresponda a obra. Acaba sendo uma série totalmente colecionável, que os fãs devem acompanhar agora por quererem conhecer o que está sendo feito novamente neste universo.
Claro que é meio óbvio que quando a série terminar – a previsão é que seja uma aventura em 8 partes – possivelmente lá foram já devem começar a encadernar toda a saga em um único encadernado. Obviamente isso deve acontecer também aqui no Brasil, mas não este ano. Talvez em 2017, ou 2018. Aguardar tudo isso para poder ler Cavaleiro das Trevas III pode ser meio pauleira para fãs deste universo. Então cabe a cada um essa decisão, esperar ou não esperar.
Não se deve esquecer que também há algo prazeroso em acompanhar uma boa história no formato original na qual ela está sendo criada. Para instigar os leitores entre as edições, promover a discussão e o suspense no que vai acontecer a seguir. Para uns funciona, para outros nem tanto. Reflita e veja que tipo de leitor você é.
O importante é que, seja agora, seja no futuro, me parece que Cavaleiro das Trevas III – A Raça Superior é um daqueles títulos que não tem como qualquer fã do Batman ou da DC Comics não conferir assim que tiver a primeira oportunidade. É Frank Miller, é o Batman insano e porradeiro, e é um futuro incomum aos personagens da DC. Não importa se é ou não um universo alternativo.