Esquadrão Suicida | Vilões que salvam o dia e a busca por uma identidade! (Crítica)

Finalmente estreou no dia 05 de agosto um dos filmes que mais estava esperando assistir nos cinemas nesse segundo semestre de 2016: Esquadrão Suicida! Por que estava esperando? Porque esse é um grupo de personagens que eu já acompanhava nos quadrinhos da DC há alguns anos atrás, antes da fase dos Novos 52 e curtia. Já conhecia a proposta desse grupo, a identidade da série em si e porque, ao contrário do resto do planeta, estou realmente gostando da forma como está se criando esse universo cinemática da DC Comics nos cinemas, ao procurar uma alternativa para não apenas ser algo parecido com o que a Marvel vem fazendo. Tanto que não precisei da versão estendida de Batman vs Superman para curtir o filme, a minha crítica ao filme em abril já o defendia.

Aliás, é legal ver que Esquadrão Suicida fez uma ponte entre Batman vs Superman e se deixou influenciar parcialmente pelos eventos do filme anterior. Admito que não estava esperando isso justamente aqui nesta produção. De uma certa forma achei que o filme seria menos desconexo e mais como um spin-off do que fazer um gancho tão direto assim. Ficou ótimo.

Mas uma coisa é certa: o marketing e a divulgação pré-estreia do filme atrapalhou muito as expectativas pela qual as pessoas estavam para ir ver Esquadrão Suicida. Vi muita gente esperando um outro filme, uma outra pegada e que assim acabou odiando fortemente a proposta apresentada. Posso começar já chutando a barraca? O Coringa.

O palhaço

Poucos gostaram do novo Coringa. Muitos esperavam uma participação muito maior do personagem na trama, sendo que no fim ele faz apenas uma ponta, e somente para dar caldo e consistência à própria Arlequina, que é um dos grandes acertos do filme. O Coringa do Jared Leto é ruim? Não dá para realmente ter certeza. Ele é estranho, singular no mínimo. De uma certa forma ele me lembrou muito o Coringa do Jack Nicholson, porém de uma maneira mais crível, mais jovem, mais real com esse universo sombrio desta nova DC nas telonas.

E a graça de um personagem como o Coringa é que ele é um personagem que pode ter infinitas facetas. Recentemente no seriado Gotham houve justamente uma brincadeira muito crível com essa atitude de que existe um Coringa dentro de cada de nós. O Coringa apresentado aqui em Esquadrão Suicida é apenas um reflexo do que o personagem precisa ser para contar um pedaço da história da Arlequina, e ainda assim ele não conta exatamente tudo, deixando muita coisa de forma apenas interpretativa.

Não tem como tirar muitas conclusões sobre o Coringa nesse momento. Ele é um personagem ainda incompleto. Ele é realmente apaixonado pela Harley? Ou é mais uma de suas obsessões? O Coringa nos quadrinhos as vezes tem destas, de cismar com alguém ou alguma coisa e isso virar sua obsessão da semana. O fato do filme querer dar a entender que ele ama a Harley não é necessariamente algo imutável. Basta ver que na cena do acidente com o carro, ele simplesmente some debaixo d’água e cabe ao Batman salvar a Arlequina, pois caso contrário ela acabaria se afogando ali.

A sua faceta mais gangster é crível? Sim, não vejo porque não seria. O Pinguim é um personagem nos quadrinhos que passou por tantas reformas ao longo dos anos. Me lembro há muitos anos atrás que, após muito tempo sem acompanhar as aventuras o Batman nos quadrinhos, quando retornei o Pinguim era dono de um clube/boate, que agia ilegalmente as vistas de toda Gotham. Eu achava isso surreal, como assim um bandido pode ter um empreendimento “legítimo”? Enquanto hoje em dia essa faceta do personagem está até mesmo na série da TV, a do bandido que não precisa se esconder em armazéns abandonados, que não é como ladrões de banco que não podem ter qualquer negócio visível a todos, me era muito estranho.

Ter um Coringa gangster aqui é apenas um reflexo da modernização de um personagem que já teve tantas adaptações e que precisa continuar se reinventando. O Coringa de Heath Ledger jamais funcionaria em um filme como este, como um complemento a história da Arlequina.

Claro, as pessoas queriam um Coringa mais insano, mais caótico, mais imprevisível. E isso não aconteceu. Este Coringa até mesmo parece meio ingênuo, como se tivesse saído também do antigo desenho animado do Batman – The Animated Series. O fanservice da roupa original da Arlequina em uma das cenas do filme aliás me remeteu muito o clássico desenho dos anos 90.

O fato é que o Coringa é só uma ponta, um pedaço pequeno de Esquadrão Suicida. Quem foi esperando ver um filme dele, caiu do cavalo. Não é aqui que ficou claro exatamente quem é o Coringa de Jared Leto. Seja isso algo ruim ou bom.

Não há um filme do Batman para 2018? Pra mim este seria um momento perfeito para trabalhar um filme específico como Coringa e como ele se relacionada não só com a Arlequina, mas com o próprio Batman e todo o universo desta nova DC. Ele precisa ser o vilão principal, e nada melhor do que levar isso para o próximo filme solo do morcego. Não adianta mantê-lo apenas aqui, na série do Esquadrão Suicida. Não, ele não pode ser o foco de uma sequência!

Todo o resto

Agora deixando para trás o ponto discutido acima, resta abordar todo o resto do filme. Esquadrão Suicida não é um filme cabeça. Não é uma obra de arte. Sabe o que ele é? Um filme pipocão. Você realmente esperava mais dele? Conhecendo as histórias do grupo em quadrinhos, e pensando que não me lembro de nenhuma HQ memorável para poder citar aqui, cheguei a conclusão de que não poderia esperar nada mais além de um filme divertido.

Os críticos de plantão vão e já alegaram que a direção e o corte do filme é estranho, que o grande vilão da trama não funciona muito bem, que há personagens que não se encaixam direito, enfim, tudo que é ruim no filme que o torna menos divertido do que o esperado. Sério mesmo?

Quer dizer, há sim uma certa verdade que o filme tem um tom estranho em alguns momentos. Basta lembrar do primeiro trailer (está lá no fim do post) que tinha um tom todo macabro e sério e os trailers mais recentes, com musiquinhas e piadinhas, que me parece bem melhor. Basta ver este abaixo, o melhor de todos criados.

O fato é que agora não dá mais para saber. Acho que não teria gostado da primeira versão se ela tivesse saído na mesma vibe que Batman vs Superman, com um tom mais sombrio, mais sério. Não funcionaria com o elenco de personagens aqui apresentado. Meu único lamento seja que os produtores não tenham percebido isso antes, na própria concepção do filme em si.

Mexeram e fizeram o melhor possível, e em partes isso deu muito certo. O filme é engraçado, tem boas cenas de ação e tem personagens interessantes. Peca apenas as vezes em não conseguir estender demais a complexidade de certos personagens e suas motivações. O Capitão Bumerangue me pareceu um personagem tão interessante e teve muito pouco espaço para ver realmente qualé a desta versão. Katana é outra personagem que basicamente entra calada na história e sai calada. O plot dela é inexistente, o que a torna uma figurante de luxo.

Tudo bem, é um filme de grupo, há personagens demais e nem todos possuem o mesmo tempo de exposição. A própria Magia (June Moone) tem sérios problemas ao tornar seu plot crível, e olha que o peso dela no filme é imenso. Eu gostaria de ter visto muito mais da personagens antes dela apenas se tornar uma guia de roteiro. Porém acho louvável como a Warner e a DC simplesmente enfiaram o misticismo na trama, sem qualquer delicadeza. “Essa porra existe e pronto, acredite nisso, afinal já temos um alienígena como um dos maiores heróis da Terra mesmo.” Saber que magia e misticismo existe não traz qualquer problema, especialmente agora que tem meta humanos saindo de tudo quanto é bueiro.

Uma coisa que não comprei muito bem foi o Pistoleiro, personagem do Will Smith, um ator que curto pra caramba. O problema é que o filme o retrata quase como um mocinho, um vilão arrependido. Aí não, há momentos em que ele soa bonzinho demais, sem que não haja uma única cena do filme com ele realmente agindo como um vilão. Achei muito zoado esse detalhe. Todo mundo ali é vilão, é preciso ter momentos onde isso fique visível ao espectador. Ao fim, o Pistoleiro quase se tornou o Gavião Arqueiro da DC e isso é muito, mas muito errado!

É diferente da situação da Arlequina, que existe todo uma situação visível de maus tratos, de vitimização. A Dra. Harleen Quinzel se apaixonou pelo Coringa, e não ficou louca automaticamente. Houve toda uma construção para que a sua insanidade aflorasse, ainda que tudo na Arlequina dá a entender que ela já tinha algo errado dentro dela desde o início e que o Coringa apenas trouxe isso a tona. No fim, ela se torna uma vilã, não há um processo de cura, e ela age algumas vezes sem se importar com as coisas. A interpretação da atriz Margot Robbie é de aplaudir em pé. Não é um filme apenas dela, mas ela rouba os holofotes quase o filme inteiro.

E é legal que o filme tenha conseguido guardar algumas surpresas. El Diablo tem um papel muito maior do que imaginava. Amanda Waller, interpretada pela atriz Viola Davis conseguiu criar uma das melhores versões dessa personagem que já vi desde que leio DC. Waller aqui é implacável, louca e tão perigosa quanto qualquer membro do Esquadrão.

Ao fim, Esquadrão Suicida é um blockbuster de final de temporada de verão (para os norte americanos). Há coisas estranhas no filme, mas são passáveis. O fim pode parecer meio fraco, mas não chega a estragar tudo. Basta lembrar que Guardiões da Galáxia termina seu plot final com uma dancinha tosca (e não estou falando de dancinha de créditos finais). Aliás Esquadrão Suicida tem muito de Guardiões da Galáxia. É um grupo improvável que se mete em uma aventura improvável. No filme da Marvel, o estúdio jogou de forma mais segura, pois havia uma fórmula já estabelecida, uma identidade visual já criada. Aqui, em Esquadrão Suicida a Warner não tinha as mesmas regalias, e improvisou com o que tinha em mãos. Deu parcialmente certo.

E acho louvável que a Warner esteja criando todo o universo da DC nos cinemas de uma forma não linear como a Marvel precisou para funcionar. Bote todos os personagens juntos, mande os filmes de origem para o inferno e veja o que acontece reunindo tudo mundo em uma só salada. Eu fico realmente contente com isso. Obviamente essa pressa, ou ansiedade acaba criando problemas de consistência para as produções, mas a expectativa é que tudo isso eventualmente acaba se acertando. Enquanto isso, continuarei indo aos cinemas ver o resultado de suas produções.

Que venha Esquadrão Suicida 2 e um filme do Batman com Coringa & Arlequina! Torço por isso!

— Deixo de curiosidade aqui o primeiro trailer, que dava um tom um tanto diferente ao filme que está hoje nos cinemas. Trailer lançado na Comic Con de 2015, antes dos novos trailers mais musicais, antes de torná-lo mais “colorido” e divertido.

É um filme pipoca, e não acho que ele queira ser mais do que isso!
Arlequina de Margot Robbie rouba os holofotes
Já o Coringa de Jared Leto deixa muitas dúvidas
Pistoleiro de Will Smith é "bonzinho" demais, aí não
Amanda Waller de Viola Davis está inacreditável
Cortes e roteiro sofreram, mas entregaram diversão
Fanservice e conexão com Batman vs Superman funcionam

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