Deus Ex finalmente aportou na atual geração de consoles e que jogo incrível! Ainda não estou pronto para escrever o review conclusivo a respeito do game, mas pense neste texto como um “impressões em progresso“, a primeira parte de duas para uma avaliação final de Deus Ex Mankind Divided. Estou já um tanto adiantado na campanha, já foram aproximadamente seis horas de jogo e já posso comentar bastante a respeito do que venho achando até então.
Ainda não pude testar ainda alguns modos extras, como o Modo Breach, então por ora irei me focar apenas na experiência principal do game e sua campanha. E não se preocupe, pois não darei spoilers importantes a respeito da história em si. Pode ler sem medo, especialmente aqueles que querem saber mais sobre do que se trata o game e se ele é realmente tão legal quanto parece ser (e é).
O curioso é que cheguei a jogar um pouco Deus Ex: Human Revolution na geração passada, mas ele não conseguiu segurar a minha atenção como Makind Divided está conseguindo fazer. Provavelmente há dois motivos para tal: em seu lançamento original estava ocupado com algum outro título, e dois, Human Revolution chegou aos consoles totalmente em inglês, sem localização para nosso idioma. — Tudo bem que eu me viro muito bem com o inglês, o que não significa que as vezes em jogos com muito texto, onde parte da experiência está em entender e compreender o que se está sendo dito, isso não me canse, já que além de prestar atenção ainda preciso que o cérebro traduza o que um outro idioma está querendo dizer.
Já Deus Ex Mankind Divided não só está maravilhosamente legendado em português, como também está lindamente dublado em nosso idioma! Square Enix, muito obrigado por isso! Isso é sensacional, especialmente no meu caso, já que quando estou jogando em casa há sempre as chances da minha esposa estar vendo You Tube do meu lado, ou meu filhinho estar pendurado no meu ombro fazendo mil perguntas sobre o que está acontecendo no jogo e ao seu redor (ele está na fase do porquê, porquê). Não precisar ligar o interruptor bilíngue é um grande alívio.
O poder de matar ou passar incógnito
Seguindo adiante, acho que uma das coisas mais importantes para se entender a respeito de Deus Ex Mankind Divided é que não se trata simplesmente de um shooter futurista em primeira pessoa. Risque isso da sua cabeça agora! O game está mais para um RPG de ação misturado com o gênero de games narrativos do que um puro game de tiro em primeiro pessoa. Quer dizer, há ação, há primeira pessoa e há tiros, mas esse é um pequeno pedaço de um game muito maior.
Boa parte do que passei agora na campanha principal foi explorando o ambiente aberto do game e conversando com pessoas, aprendendo mais sobre a história em si do jogo. Há ação, mas não tão frenética quanto se pode imaginar. O game utiliza muito as mecânicas de stealth (furtividade). O jogador pode entrar em conflito com tudo e todos, mas a forma mais recompensadora, a meu ver, de jogar Deus Ex Makind Divided é evitar o confronto o máximo que conseguir.
Até porque se você quer jogar um título onde o objetivo seja apenas atirar em NPCs a esmo, metralhando tudo, há muitos outros games que fazem isso de forma muito mais satisfatória. Fora que as partes de ação se misturam muito com partes de longos diálogos, e certamente isso o faria esse tipo de jogador ficar muito entediado, apenas esperando o próximo segmento de ação.
O grande barato deste Deus Ex é justamente moldar o protagonista, Adam Jensen ao seu jeito, com atitudes na qual você escolhe como reagir. O jogo tem muito desse elemento do poder da escolha e como elas influenciam a continuidade da história. Suas decisões acabam sendo uma situação de causa e efeito. E parece que certo fluxo da história muda conforme estas decisões vão impactando a narrativa. Ainda não pesquisei se o game tem finais diferentes, mas ainda que não tenha, é legal que a narrativa seja realmente moldada por algumas decisões tomadas ao longo de todo o game.
A primeira missão mesmo seu comandante já pergunta se você, na pele de Jensen, quer executar sua primeira missão de forma legal ou não letal. E aí? Você é do tipo que sai metendo bala na cabeça de todo mundo, ou é do tipo que vai se esgueirando pelos cantos, colocando os inimigos para dormir? Para os propósitos de tentar algo diferente, tenho jogado todo o game desde então de forma furtiva, sem matar nenhum inimigo. E até o momento, por tudo que vi, os produtores não mentiram. Dá para avançar o jogo inteiro sem matar ninguém!
Minha única morte (justificada) até o momento!
Entretanto tive um caso onde resolvi deliberadamente abrir uma exceção. Vou contar, mas sem dar muitos detalhes. Após a primeira missão, ao voltar para casa, o game libera a primeira área aberta do jogo. A segunda missão principal, revelada nesse vídeo, liberado até antes mesmo do laçamento do game, mostrava que Jensen deveria ir até uma livraria, conversar com o cara que conserta seus aprimoramentos. Só que no meio do caminho há uma barreira policial que não lhe deixa passar. Como já havia assistido o vídeo do link acima eu já sabia que dava para passar por essa barreira subindo pelo prédio ao lado, mas não foi isso que fiz em um primeiro momento.
Fui conversar com o tal guarda que estava impedindo o acesso do pessoal. Conversa vai, conversa vem, porque o Jensen é todo espirituoso, querendo ganhar as pessoas na lábia e insultando sem parecer um insulto, já que a voz do cara é meio quase como um sussuro, eis que o guarda me diz que conhece um cara que faz documentos falsos para aprimorados e que se eu fosse lá e comprasse dele o tal documento ele me deixaria passar. Um esquema para roubar aprimorados, assim conclui Jensen.
Tudo bem, essa não era uma missão principal, mas a primeira missão opcional do game. Eu poderia deixar quieto, ir fazer a missão principal e seguir a minha vida. Mas acabei comprando essa afronta! Lá vou no muquifo do falsificador comprar tal documento, até na esperança do game me abrir todas as áreas de uma vez e assim evitar ser bloqueado em outros lugares (ao menos foi o que pensei na hora). Chegando lá descubro que o documento custa um valor absurdo, os caras realmente estavam extorquindo as pessoas. Comprei mais a briga ainda, putaço com a situação. Nem mesmo consegui entrar para falar com o falsificador. Ah isso não ia ficar assim!
Nem foi tão difícil descobrir como entrar no esconderijo do cara, porém lá dentro me deparo com um verdadeiro desafio: desviar de câmeras e lasers de alarme. Uma morte acidental depois, e um checkpoint carregado, eis que sigo para o segundo andar da casa, derrubo um capanga (sem matá-lo) e chego a um terminal de hack para uma porta eletrônica fechada. Após duas tentativas erradas no genial sistema de hack do game, eis que descubro que o falsificador é uma garota, sendo mantida presa por todo esse esquema de quadrilha e do policial corrupto.
Nesse ponto o game me dá algumas opções. Acredito que ela estava presa mesmo? Ou seria uma líder querendo se fingir de vítima. Prendo-a ou ajudo ela? Resolvi apostar que ela era inocente. Assim ela me pede a ajudar com mais dois documentos falsos de aprimorados que se ficarem onde estavam, acabariam sendo eventualmente presos ou mortos. Eles eram como refugiados. Resolvo ajudá-los. — Já percebeu a volta que estou dando no game, e nem sequer ainda fui fazer a segunda missão principal do game? Isso é maneiro, pois é uma missão opcional totalmente com cara de missão principal.
Antes de ir ajudar os aprimorados refugiados, volto para o posto policial e confronto o guarda. Tento alguns diálogos, querendo acabar com esse esquema dele. Em todos acabo sendo morto. Não há conversa com esse cara. Imagino que haja sim uma forma de assustá-lo sem partir com a violência, mas depois de dois checkpoints e já sabendo como ele reage a certos diálogos, subo em um prédio e bang… uma única bala na cabeça do safado.
Claro, ele cai duro na hora ali no chão e todo o esquadrão policial sai a procura do culpado. Rapidamente me escondo em uma casa próximo de onde estava. Já havia pensado nela como refúgio, e aguardo até toda a situação de busca acabar. Ninguém me viu, ninguém sabe como sou. Problema resolvido. A falsificadora me agradece por me livrar do chefão do esquema e ganho XP por ter cumprindo a primeira etapa dessa missão.
Depois disso lá vou ajudar os aprimorados refugiados. Vou encurtar a história, mas precisei viajar para outra cidade, para invadir um posto de validação de passaportes. Tudo dá errado, não sei se foi porque eu invadi de uma forma mais abusiva (ainda que tenha apenas desacordado os vigias, porém alertei as câmeras) ou se o game já tinha apenas essa opção no script, mas o caso é que o meu hack deu errado e só poderia validar um passaporte, em um tempo de 10 míseros segundos. Escolher um é melhor do que não escolher, certo? Salvei um dos refugiados, enquanto o outro provavelmente morreu por não conseguir da cidade.
E não pude deixar de ter aquela sensação de que poderia ter feito algo diferente e ter salvo os dois. Em tese isso deve existir no game, mas como? Esse é o tipo de situação que também não gosto de voltar atrás, só para obter o melhor resultado. Na vida não há segundas chances as vezes. Era o que tinha que acontecer e pronto. É esse tipo de impacto que Deus Ex Mankind Divided possui. O modo como o jogador age, como escolhe seus diálogos, como decide as coisas tem peso e tem impacto na narrativa. E isso é muito, mas muito intenso! E foi apenas uma missão opcional.
Você tem medo dos humanos aprimorados?
Situações como descritas acima acontecem a todo momento no game. Na primeira missão da campanha existe um objetivo opcional. Seu comandante diz que se você topar com tal coisa, desative, senão a sua prioridade é cumprir a missão primária. Eu joguei essa missão com isso em mente. Não topei com tal objetivo secundário, mesmo ficando atento a ele. O jogo segue adiante, porém lá para frente, não tendo feito isso acabo gerando consequências e diálogos na qual outras pessoas vão jogar na cara a minha incompetência de não ter realizado isso no começo do game. É muito bacana esse tipo de nó de roteiro. Há essa situação em que fica parecendo que certas decisões do Jensen acabam piorando certas amarras de roteiro e você, como jogador, é responsável por isso!
Talvez para algumas pessoas esse tipo de game possa parecer maçante. Você tem que estar a toda hora conversando com todo mundo, tomando decisões e estando atento a seus atos. Há muito diálogo e as vezes pouca ação, especialmente quando o jogador resolve não ser porradeiro e tirar vidas apenas porque pode tirá-las.
O caso é que parte da narrativa talvez justifique que o Jensen seja um cara mais da da paz do que o justiceiro que sai metralhando todo mundo. O mundo de 2029 passa por um momento onde a humanidade se sente dividida (tá aí o título do jogo), na qual as pessoas naturais, sem aprimoramentos cibernéticos, possuem medo dos humanos aprimorados, como Jensen. E não é só medo, mas preconceito e até mesmo repulsa. Graças aos eventos de Human Revolution, na qual um extremista ativou um chip em milhares de humanos aprimorados que ficaram ensandecidos e saíram matando geral — Isso há dois anos atrás na cronologia do game. E não se preocupe, há uma completa introdução no começo do game que resume toda a história do game anterior para quem não o jogou (é um vídeo de 12 minutos).
Se o mundo de 2029 teme os humanos aprimorados, se agora existem seitas de profetas dizendo que os aprimorados hão de herdar o planeta, se há ignorância, preconceito e medo espalhados para todos os cantos do mundo de Deus Ex, não me parece correto Jensen ser um aprimorado que preze a violência, que saia matando e tocando o terror. O que Jensen quer, ao menos em minha visão, é expor a conspiração que aconteceu no tal atentado que criou todo esse cenário e provar que a humanidade não precisa ter medo dos aprimorados. Com isso em mente, decido que o meu Adam Jensen é um pacifista, ele só vai matar quando a pessoa realmente merecer e até o momento só encontrei uma situação na campanha onde isso foi preciso, na qual minhas primeiras tentativas foram em vão.
Habilidades aprimoradas!
E uma coisa muito legal em Deus Ex Mankind Divided é que o game permite essa determinação do jogador. Jensen tem um leque enorme de habilidades, algumas inéditas em relação ao game anterior, o que também é um dos plots narrativos que o jogador deve investigar (de onde diabos estas habilidades vieram).
Há habilidades para jogadores mais ativos e também para quem preza a furtividade e lábia. Uma das primeiras habilidades que comprei foi a de persuasão. Jensen consegue analisar os padrões de fala das pessoas, ver se ela está mentido e assim ter um relatório em tempo real de qual é estatisticamente a melhor resposta para dar a pessoa, dentre as que o game oferece. Sendo que esse recurso não lhe dá a resposta 100% precisa, mas apenas indícios do que talvez melhor vai funcionar. É impressionante ao mesmo tempo que engenhoso.
Fora isso é possível melhorar as habilidades de hack, facilitando assim destravar mais rápido qualquer computador presente no game (e há muitos), entre habilidades focadas em ação, como um tiro elétrico que atordoa inimigos, camuflagem para ficar invisível e até mesmo silenciador de pernas, já que elas são metálicas e fazem um barulhão em áreas de acesso restrito, chamando a atenção dos inimigos.
Não que eu também não esteja usando armas. Claro que estou! Tenho um fuzil de dardos tranquilizantes, que ganhei na primeira missão do game, e uma pistola de balas elétricas, adquiridas de um vendedor do mercado negro da segunda área aberto do game. São úteis para pegar inimigos a distância ou criar uma agitação necessária as vezes em torno de uma vítima. E assim não saio matando ninguém, ainda que isso me custe caro, já que tais munições são mais caras que as munições normais, e não são facilmente encontradas por aí.
Isso não é tudo!
Como disse lá no começo, esta é uma matéria ainda em progresso. O meu objetivo principal agora é continuar jogando a campanha e ver até onde a história do game se mantém interessante e se sustenta. Até agora tudo está indo muito bem, e o game parece realmente enorme e tudo é muito instigante.
Parece que a pegada do título, suas mecânicas e a proposta em si, do poder de ação e reação do jogador já estão bem claras, agora é continuar vendo até onde o game vai reforçar e trazer novidade nestes aspectos ao longo de sua campanha.
Também quero testar tal Modo Breach e ver até onde os mini games de hacks vão se mostrando mais complexos e se ficam progressivamente mais engenhosos próximo ao final do game. Tem ainda algumas cartas nessa mesa que preciso virar para ver o jogo como um todo.
Porém, para hoje, até onde já vi de Deus Ex Manking Divided, isso já é o suficiente para me deixar impressionado e empolgado com o título. Certamente posso dizer que ele está cumprindo as expectativas que tinha para ele. E se você tinha algumas dúvidas a respeito dele, espero ter esclarecido um pouco algumas delas.
E sim, eu teria facilmente pernas e braços biônicos! Tem como trocar também a pança por um tanquinho biônico? Praticidade do mundo das máquinas né!
Extra – Gostei que o game tem diversos esquemas de controle. Eu realmente não me adaptei muito bem aos controles de Makind Divided no esquema abaixo, mas é possível deixar tudo mais tradicional a games em primeira pessoa (como o B agachar e apertar L para correr). Basta escolher “padrão”. Fora isso, para quem gosta de jogos com diversos níveis de dificuldade, Deus Ex vem com quatro! Estou jogando no que seria o normal. Realmente não é difícil, há um certo desafio mesmo, porém nada de destruir sonhos. O “Eu não pedi por isso” é o mais surreal. Morreu em qualquer momento da campanha é Game Over!