Batman The Telltale Series (EP1) | As decisões e escolhas de Bruce Wayne! (Impressões)
Já comentei algumas vezes por aqui: não ter expectativas as vezes é uma bênção em se tratando de lançamentos no mundo dos games. Hype é bom, mas também pode ser um grande problema. E esperar demais de um título do Batman, especialmente depois de ter consciência da existência da série Arkham da Rocksteady Studios seria querer demais, convenhamos. Não que Batman The Telltale Series saia prejudicado por ser um game diferente dos games do morcego lançados nos últimos anos. O que se tem aqui é um outro gênero de jogo, uma outra abordagem ao universo do morcego e até mesmo de Gotham City. É, enfim, uma outra pegada.
Também dei muita sorte deste ano ter conhecido games incríveis dentro do gênero narrativo, como Life is Strange e King’s Quest. Isso me ajudou muito a saber como lidar melhor com esse tipo de jogo, pois me deu uma base para melhor avaliar o gênero e até mesmo aceitar estas mecânicas em games que são mais abrangentes, como o recém lançado Deus Ex: Mankind Divided, que também bebe muito dessa fonte, na qual suas escolhas interferem na forma como a história do game vai avançar em alguns aspectos.
Quanto aos títulos da Telltale Games tenho que confessar aqui que este é o meu primeiro game desta sua atual fase, que se iniciou com os games da franquia The Walking Dead. Até tenho na minha biblioteca do Xbox One títulos como The Wolf Among Us e a primeira temporada de The Walking Dead (que segundo dizem por aí é a melhor de todas), mas nunca bateu aquela vontade de testá-los. Quer dizer, até cheguei a testar TWD há muito tempo atrás, acho que ainda no Xbox 360, mas na época esse gênero ainda não havia me conquistado. Soma-se ao fato de que estes, até onde me lembro, nem sequer eram localizados para português. E em games deste gênero, por mais que você saiba inglês, é muito mais confortável jogar em um idioma que você domine completamente.
Nesse aspecto Batman The Telltale Series já ganha um belo ponto positivo, e que também o torna uma ótima porta de entrada para aqueles que sempre quiseram conhecer mais de perto os novos games da Telltale, afinal o título está todinho legendado em português! Isso sim é um excelente aspecto a ser considerado.
Menos Batman, mais Bruce Wayne!
Como estou escrevendo estas impressões há algumas semanas após o lançamento do primeiro episódio, de uma série que terá cinco capítulos, muitos já devem ter lido comentários ou até mesmo outros reviews comentando o fato de que este capítulo inicial tem um foco enorme na figura de Bruce Wayne, deixando o Batman apenas para pontuais aparições.
Não sei exatamente se isso deveria ser um problema, ou até mesmo se deveria ter sido apontado. Mais uma vez, estão não é um game que deva ser comparado com a série Arkham, pois sua proposta é outra. O game da Telltale lembra uma história em quadrinhos, e como tal, a figura de Bruce Wayne muitas vezes é muito mais importante para a estrutura da história do que o próprio Batman.
Sem entrar no mérito que envolveria spoilers, o que este primeiro episódio, O Reino das Sombras, trabalha é com a candidatura de Harvey Dent para prefeito de Gotham City, e a importância do envolvimento de Bruce Wayne em sua campanha eleitoral e o apoio de Bruce à Harvey, que ainda não se tornou o Duas Caras e ainda é um (dos poucos) amigo de Bruce.
Em meio a isso, o game envolve outras duas figuras emblemáticas do universo do personagem: a Mulher-Gato e Carmine Falcone, um dos mais poderosos mafiosos de Gotham (um personagem que teve um papel importante na primeira temporada do seriado Gotham, à titulo de curiosidade). Cabe ao jogador decidir flertar ou não com a Mulher Gato e como agir, tanto como Bruce Wayne, quanto Batman, em relação a presença de Falcone na história.
Trata-se de um primeiro capítulo instigante. Eu pelo menos fiquei com o enredo apresentado pela Telltale. Não é exatamente escolher como bater ou não bater em bandidos, e algumas destas decisões não possuem efeitos práticos neste primeiro episódio, mas certamente irão refletir muito mais nos próximos episódios, o que os tornam muito mais interessantes.
São decisões que impactam como icônicos personagens do mundo de Batman passam a observa-lo, seja uniformizado, ou com apenas em seu disfarce de Bruce Wayne. Que tipo de Batman você quer se tornar?
Talvez seja legal dizer que tirando uma cena em uma mesa de um restaurante, que é bem clichezão, todas as outras cenas e atos deste primeiro capítulo são criativas e originais. Quem poderia imaginar uma festa de campanha para Harvey Dent acontecendo dentro da Mansão Wayne? O game leva o jogador a situações inesperadas e se esforça para não dar escolhas e decisões óbvias demais. Isso é importante em um game narrativo.
Siga o script!
Uma coisa que me incomodou um pouco neste game, e talvez por ser o primeiro título da Telltale que tenho contato, é o quanto preso ao roteiro o jogador fica. Citei mais acima títulos como Life is Strange e King’s Quest, e o que estes games tem de diferente, que Batman The Telltale Series não tem, é a liberdade para explorar ambientes.
Boa parte do game é como uma animação mesmo. O jogador tem pontuais e pequenos momentos onde não está apenas acompanhando a história e decidindo as coisas por meio de diálogos. Há poucas situações onde o game lhe solta em um ambiente e o deixa andar, vasculhar e conversar com as pessoas por conta própria.
É diferente dos games que citei acima, na qual é o jogador quem decide o momento em que a história avança e o quanto ele pode explorar um ambiente, ainda que nessa situação muitas vezes nada acabe sendo acrescentado ao roteiro principal. A cena da mansão, por exemplo, com os convidados é toda roteirizado, ou seja, o jogador não tem a liberdade para andar e escolher com quais convidados quer conversar. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque deixa dinâmico e mais imersivo a cena em si, mas ruim porque prende o jogador, talvez mais do que ele gostaria.
Isso também faz o contraponto de que a ausência de liberdade em certas cenas me fez sentir que o primeiro episódio desta série termina muito mais rápido do que esperava. Fechei Reino das Sombras com três horas e meia de gameplay. Foi bem mais rápido do que levei com os outros episódios iniciais do dois games que estou usando como comparação.
Não que isso prejudique o game, mas acabou não sendo o suficiente para me sentir satisfeito. Fiquei com o desejo de querer um pouco mais dessa experiência. E não rolou. Talvez seja uma boa dica aguardar o lançamento de mais um ou dois capítulos, para poder ter uma experiência mais duradoura, ainda que isso obviamente possa vir a lhe custar o preço de três capítulos de uma única vez. Exceto é claro que você compre todos os cinco já, de antemão, o que eu indicaria fazer sem medo, especialmente se você curte uma boa história ou Batman, ou já aprecia o trabalho da Telltale e confia no estúdio de olhos fechados.
Morcego detetive!
Outro ponto que se faz necessário comentar são as cenas na qual o jogador está na pele do Batman! São momentos bem intensos e de ação relativa, afinal, como disse, o game não lhe dá muita liberdade aqui. Algumas das cenas com o Batman são conduzidas pelo velho esquema de Quick Time Events, ou seja, o jogador apenas aperta um botão certo, na hora certa, para que a animação em si continue rolando.
Não achei que estes momentos são tão impactantes quanto gostaria que fossem. Não há, por exemplo, decisões nestes atos. Não posso decidir como o Batman vai bater nos bandidos. Não há dois caminhos ou duas maneiras da ação ser conduzida, como, King’s Quest possui em certos momentos, por exemplo. O jogador segue o roteiro, aperta os botões e o game segue adiante. Não apertou? Não faz mal, há uma barra com o símbolo do morcego no canto da tela, você pode errar algumas vezes, contanto que no fim essa barra encha, o game prossegue. Se a barra não encher, da Game Over e você precisa recomeçar esse ato novamente.
O ruim destes atos de ação e quick time é que não há consequências. Você está apenas apertando os botões para que as lutas e conflitos terminem, e não podem terminar de uma forma diferente do script. Errou o botão? Não há exatamente um dano colateral na história. O Batman não vai apanhar mais ou se lembrar depois que você errou aquele botão gerando uma sequela em seu corpo. Isso é ruim, não? Sendo um game de causa e efeito, momentos assim não podem ser tão lineares.
Porém há um outro momento mais a frente do primeiro capítulo, que vai envolver o Batman tentando descobrir o que aconteceu em uma cena de um crime. Isso sim é um dos momentos mais geniais do game. Há um ambiente na qual o game dá liberdade para o jogador interagir com os objetos do crime e depois começa um puzzle, bem simples, na qual o Batman tem que linkar fatos na qual ele aprendeu investigando a cena. Eu queria que houvessem mais momentos assim no game. No primeiro episódio há apenas um. Torço que nos próximos haja bem mais momentos assim!
O game até tenta dar uma certa liberdade no ato final, com o Batman envolvendo um de seus gadgets, mas no final, é tudo bem roteirizado e guiado por quick time, não deixando muita liberdade para ser inventivo. Talvez seja por isso que os melhores momentos do primeiro episódio do game sejam justamente com Bruce Wayne. Porque é com ele que recai grandes decisões do começo dessa série.
Vale ou não vale?
Pela história aqui apresentada? Vale sim. O roteiro é criativo e original, é instigante e há excelentes momentos onde me senti dividido: o que dizer, o que decidir, o que apoiar, quem escolher! E não são decisões em que posso ter todo o tempo do mundo para me decidir, pois há uma barra que vai diminuindo quando aparece uma decisão a ser tomada, decida-se ou o jogo decidirá por você (e isso é ruim, pois ele vai escolher uma opção neutra que não afeta nada – assim acredito). Sei que não deixei nenhuma vez o jogo decidir por mim, ainda que tenha rolado uns momentos tensos onde a contagem regressiva me fez suar frio.
Para quem não está habituado com games desse gênero narrativo, talvez Batman The Telltale Series não seja o mais indicado. Em relação a outros títulos que estão chegando fresquinhos nessa geração, sinto que a Telltale está um pouco atrás em suas mecânicas. O problema é que não há tantas opções assim, ao menos nos consoles. Life is Strange é ótimo, mas é uma aventura bem juvenil inicialmente, King’s Quest é divertidíssimo, porém não está localizado em português (o que é uma pena). Deus EX: Mankind Divided é excelente, porém não é necessariamente um game exclusivamente narrativo. Outros títulos da Telltale não posso indicar por não ter jogado-os. Sinto que os interessados por esse game precisam estar preparado para um título onde nem sempre se está no volante da situação. É um game que vai pedir para que você decida algumas coisas sim, mas é o jogo em si que vai assumir o volante do veículo por quase toda a parte do percurso.
Felizmente há sempre a chance de testar somente o primeiro episódio do game, ao menos nos consoles. E ele está com uma preço legal: 46 reais no Steam (com todos os cinco episódios), 19 reais na Xbox Store (completo sai por 97 reais) e 15 reais na PlayStation Store (completo sai por 93 reais). Por mais que o game possa ter alguns problemas, com certeza a experiência proporcionada vale o que estão cobrando.
No geral, Batman The Telltale Series é um título instigante, mas que me pareceu levemente atrasado mecanicamente frente a outros títulos com a mesma proposta, desenvolvido por outros estúdio, que dão mais liberdade ao jogador e causam o mesmo tipo de impacto quando se pensa no poder de escolher e como isso irá impactar o futuro da história. Ao fim, eu curti e gostei da experiência aqui apresentada, me convenceu a aguardar o segundo episódio, mas sem dúvida alguma esperava um pouco mais de sua jogabilidade em si. Recomendo-o, mas com tais ressalvas.
ATENÇÃO – GRANDE SPOILER NA IMAGEM ABAIXO – LEIA ESTE AVISO! — Meu quadro de decisões deste primeiro episódio está logo abaixo deste parágrafo. Não leia a menos que você tenha jogado o game! Estou colocando aqui apenas para que outros que jogaram possa conferir as decisões que tomaram em relação as minhas.
FIM DO SPOILER!
Mais imagens!