Em junho deste ano escrevi aqui no site as minhas primeiras impressões ao iniciar um livro que sempre tive vontade na vida de ler: Jurassic Park (1990) de Michael Crichton!
O Parque dos Dinossauros, o famoso e um dos mais icônicos filmes de Steven Spielberg, é um dos meus filmes favoritos de toda a vida – como não me canso de repetir por aqui – sempre tive essa vontade de ler a obra original e nunca me tinha sido criado a oportunidade para tal, até a Editora Aleph relançar ele em 2015 em uma versão totalmente fantástica (várias fotos aqui).
Meu texto de junho, linkado acima, conta um pouco sobre o começo do livro, sem entregar grandes spoilers. Falo um pouco sobre o quão diferente é o início do livro, seu ritmo, para com o filme que todo mundo neste planeta conhece de cor e salteado.
Pois bem, meses se passaram e entre outras leituras continuei lendo o livro. E devo dizer que com uma grande dedicação nestas últimas semanas, incluindo uma ocasião em que passei três horas no soro no hospital por conta de uma preocupante gripe somada a uma incômoda conjuntivite que me derrubou por completo. O que resultou em uma intensa leitura de Jurassic Park e momentos tensos dentro de sua trama.
No momento em que escrevo este artigo, estou com 300 das 500 páginas do livro devoradas. Já passei da metade e por mim, poderiam me trancar dentro de um banheiro qualquer e só me deixar sair quando terminasse esse livro. Infelizmente o chamado da vida adulta, com todos seus problemas e responsabilidade não me deixaria fazer algo assim. Entretanto espero poder terminar e escrever a terceira parte deste livro aqui no site ainda este ano, mais perto do final do ano. E isso porque O Mundo Perdido já está aqui na pilha, para ser iniciado na sequência a este. Aí sim!
Velhos conhecidos, mas com suas características originais.
No meu texto anterior comento como o livro começa de uma maneira peculiar, com um ritmo diferente do filme que todo mundo conhece. Estava tão no começo quando escrevi a matéria que nem sequer os personagens utilizados no filme ainda se faziam presentes na trama. Hoje já posso dizer que esse status no enredo mudou.
Já acompanho a narrativa sobre a perspectiva destes velhos conhecidos do longa metragem do Steven Spielberg, com a diferença é que esta são as versões originais, concebidas pelo autor do livro, Michael Crichton. E sim, alguns personagens soam diferentes no conto original.
Alan Grant, Ellie Sattler, Ian Malcolm, John Hammond, as crianças Tim e Lex, Robert Muldoon, Donald Gennaro, Dennis Nedry, Ray Arnold, Harding e Henry Wu. Todos são personagens que aparecem no filme e que também se fazem presentes no romance original, só que com mais camadas, mais detalhes e algumas diferenças.
Fiquei admirado com o Hammond do conto original, na qual são poucas as vezes em que ele se parece com o Hammond do filme do Spielberg. Já tinha ouvido sobre esse fato, de que no filme os produtores criaram um Hammond mais “bonzinho”, inspirado na figura pública de Walt Disney. No livro, essa comparação com Disney também existe, mas o que se vê na realidade é um personagem sedento por grana, pelo sucesso do parque, por uma das maiores conquistas do mundo ser realizada antes de sua morte. Hammond muitas vezes no original se mostra um personagem frio, nervoso e até mesmo egoísta. É de dar medo algumas vezes, especialmente quando o vejo discutindo o futuro de Jurassic Park, franquias e o preço exorbitante que o mesmo cobraria das pessoas por tal maravilha criada por suas empresas. É um personagem digno de ser rival do Tio Patinhas.
Há um trecho muito legal, envolvendo um elefante em miniatura que me chamou muito a atenção. É estranho, mas acho já tinha lido, ou alguém me contou, a respeito desse momento na qual Hammond busca por investidores utilizando um mini elefante que seria uma maravilha da genética de seus laboratórios, e que não é o que se aparenta ser. Mostra um pouco da obsessão, ambição e até uma certa loucura do personagem. Segue um trecho desse momento:
Um outro aspecto que muda um pouco nos livros é o Alan Grant. No filme, o personagem não se dá muito bem com crianças, ficando meio incomodado com sua presença. No livro ela acha inspirador que Tim goste e entenda de dinossauros. E aqui outra diferença, Tim é a criança mais velha, com 11 anos, enquanto Lex é a caçula, com 8 anos. Isso permite algumas situações bem distintas do filme, porém a adaptação feita por Spielberg respeita muito os momentos, até onde li, com as crianças, mesmo com algumas pequenas mudanças.
Filme versus livro
No geral no livro a sensação que tenho agora é de estar lendo uma versão estendida do filme do Spielberg. Não chega a ser fiel como o primeiro Harry Potter livro e filme são, mas há muitas semelhanças interessantes, a ponto de entender porque no filme é adaptado certos elementos e porque no livro não há pressa em certos eventos e momentos.
Fora que no livro há momentos deliciosos, até melhores do que a versão do filme. O primeiro contato do elenco com os velociraptors me arrepiou a espinha. Me deixou suando frio, ainda sabendo que eles estavam presos, mas que eventualmente vão escapar, tal o filme. Dê uma espiada:
Outros momentos excelentes são as mortes. Dennis Nedry, o traidor, acaba sendo esperado que o mesmo vá morrer em algum momento, mas o autor do livro foi bem mais cruel, com uma cena uma imagem mental bem aterrorizante. E aqui o último trecho de hoje, para atiçar ainda mais a sua curiosidade:
O bacana é que no livro há mais personagens do que no filme. Ed Regis é um destes personagens. Ele é o personagem encarregado por apresentar o parque ao grupo que está indo lá avaliar o mesmo, tal como ocorre no filme. A cena clássica do filme com o T-Rex se soltando e atacando os carros é bem diferente entre filme e livro, e Ed Regis tem um papel bem interessante aqui.
Obviamente não irei contar mais, porém saiba que o advogado que se esconde no banheiro e é comido pelo T-Rex no filme, bem, isso não existe no livro! Mas o ataque do dinossauro aos carros é de fazer roer todas as unhas da mão! É tensa, é assustadora!
É interessante que o livro explora algo que somente o segundo filme vai explorar: um T-Rex filhote. A ameaça nesse ponto da trama, indo mais adiante não envolve apenas um T-Rex adulto, mas também um menor. E isso cria um momento de arrepiar a espinha no livro.
Quer algo ainda mais aterrorizante? A quantidade de velociraptors espalhados pela ilha! Bem, também não vou revelar o número exato, mas basta saber que é muito mais do que no filme.
Estas distinções seguem por quase todos os momentos do livro. Spielberg respeito muito a obra original, mas fez muitas concessões para que o livro tivesse um ritmo apropriado ao cinema e também um visual que tornasse a obra memorável ao público. O livro de Crichton não precisou se preocupar com nada disso, então há muitos detalhes, muitas explicações e quase nenhuma pressa para a trama andar. Há muito conteúdo que para quem é fã desse universo, acaba sendo um prato cheio.
Computadores, a tecnologia que veio para ficar!
O único elemento da trama do livro que entrega totalmente a data na qual foi escrito, e que hoje soa bizarro e um tanto envelhecido é a parte de como o autor trata os computadores da época e a tecnologia do processamento de dados.
Eu consigo imaginar os funcionários do Jurassic Park operando antigos computadores em MS-DOS, e mostrando aos personagens como essa tecnologia é incrível e como tudo no parque é completamente automatizado e controlado por enormes comandos em MS-DOS. É de dar medo, não?
Só que é muito engenhoso como Crichton inseriu algo que ao final da década de 80 ainda era uma novidade tecnológica, vislumbrando algo que talvez na época apenas supercomputadores poderiam fazer algo crível dentro do contexto da trama.
Mesmo lendo hoje, ainda que com essa visão do tempo na qual a obra foi escrita, é bem legal ver como toda a trama deslancha porque, no final das contas, os computadores do parque não estavam preparados para o que veio a acontecer. E como todos, por mais óbvio que fossem, acabaram sendo enganados por um sistema de controle ineficiente. Aliás, não é para menos que muitos dos capítulos desse momento do livro possuem como nome “Controle”.
Não se pode controlar o caos, e eis que a figura do Ian se faz presente e de forma magnífica nesse ponto da trama, indo bem além dos poucos, mas memoráveis diálogos que ele apresenta no filme do Spielberg. Ambos os personagens são bem parecidos, porém gosto do Ian do livro, ciente e quase como um religioso da Teoria do Caos. Sim, tudo vai dar errado, ele acredita nisso veemente, desde o primeiro momento em que se depara com o primeiro dinossauro da ilha.
Parte da trama, que envolve a clonagem genética dos dinossauros acaba envolvendo questões técnicas voltadas a programação, linhas de programa e como os técnicos como Henry Wu criaram o método que torna possível trazer os dinossauros à vida. Não, basta apenas coletar o sangue dos mosquitos e colocar o dinossauro no forno. O livro mostra como isso é muito mais complexo e difícil, e como eles erraram muito antes de dar certo. Os dinossauros no livro possuem versões, como programas de computadores! Velociraptors versão 3.0, como uma atualização de programa de computador.
Aliás o personagem Henry Wu tem um peso enorme no livro, enquanto nos filmes ele sempre foi um personagem de fundo, sem tempo para trabalhar seu passado. O livro conta como ele foi recrutado por Hammond e qual é a sua visão para o futuro da clonagem dos dinossauros. O que ele realmente quer, mas Hammond não!
Blecaute e terror em uma noite de tempestade na ilha dos dinossauros!
No momento em que escrevo esta matéria, me encontro em um dos melhores momentos do filme, e que acredito que será também do livro. Como você deve saber, tudo deu errado, os dinossauros saíram de suas cercas e a ilha está totalmente sem energia, enquanto os computadores não respondem a mais ninguém.
Personagens estão perdidos, dinossauros estão se movendo, e Hammond ainda acredita que todo esse desastre pode ser remediado. Personagens morreram, outros estão feridos e os velociraptors ainda não tiveram a participação que eu sei que eles terão.
Fico arrepiado só de pensar no que vem a seguir! Talvez dizer estas coisas possa fazer soar como se o livro fosse manjado, mas sei lá, como fã do filme, como fã desde criança de dinossauros, estou gostando muito do romance original. Ele é tão bom quando o filme que conheci ainda criança.
É como disse, mesmo sabendo parcialmente alguns eventos, mesmo que eles ocorram diferentes entre filme e livro, a narrativa do Crichton é um deleite. O autor sabe criar tensão, sabe deixar o leitor com medo e até mesmo quando ele está sendo técnico, explicando sobre dinossauros ou como funciona todo o sistema de controle da ilha, Crichton consegue deixar o autor imersivo na história, como se estivesse assistindo de camarote todo o terror e suspense que a trama cria.
É um livro que dá gosto de ler e que me sinto realmente empolgado e animado de estar lendo-o. Um clássico bem adaptado ao cinema, sem dúvida nenhuma, mas a obra original vem provando pra mim que independente do filme, ela é digna de se conhecer. Dinossauros realmente podem dar medo, e muito! — Corra Alan Grant, corra! Salve as crianças!
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