Ficha Técnica
Arte e Roteiro: Noriyuki Konishi (inspirado na franquia de games da Level-5)
Publicado no Japão: CoroCoro Comic (Shogakukan)
Publicado no Brasil: Editora Panini
Volumes: 11 volumes (tankōbon) – Ainda em publicação no Japão
Aspectos da edição BR: meio-tankōbon, periodicidade mensal, papel jornal, formato 13,7×20 cm, 104 páginas
Preço: R$ 8,90
De onde surgiu? — dos games para os quadrinhos e televisão
Yo-kai Watch tem sido uma franquia que tem chamado a atenção da galerinha mais nova. Surgiu lá no Japão em 2013, por meio de um game lançado para Nintendo 3DS. Desenvolvido pelo estúdio Level-5, famoso por cuidar de franquias de sucesso no mundo dos games, como as séries Professor Layton, Inuzuma Elevem e Ni no Kuni.
Apesar de ter sido lançado em 2013, o game de Yo-kai Watch só foi lançado fora do Japão ano passado, o que explica porque só agora a franquia está explodindo por aqui. Há inclusive uma sequência, lançada lá em 2014, que já foi prometida para ser lançada em 2016, porém ainda não há uma data oficial.
Além disso, a Level-5 sabiamente expandiu a franquia para além dos games. O animê baseado no universo da série de jogos estreou no Japão em 2014 e já conta com mais de 140 episódios, estando ainda em exibição por lá. Nos Estados Unidos está no catálogo da Netflix, enquanto aqui no Brasil a série chegou este ano pelo canal de TV a cabo Disney XD.
Nesse rol de merchandising, também surge a versão em mangá, bem antes do animês aliás, que começou a ser publicado no Japão em 2013, na CoroCoro Magazine, publicação dedicada a um público um pouco mais jovem, do que por exemplo uma Weekly Shonen Jump (publicação de Naruto, Bleach, One Piece e tantos outros shonens famosos).
O que a Panini está trazendo ao Brasil é a versão principal do mangá, que possui outros volumes especiais, escrito por outros autores e publicados de forma separada lá no Japão. O que temos aqui é a versão de Noriyuki Konishi, que reconta toda a trama da série desde o começo, a sua forma, adaptando a trama original.
Quer dizer, presumo que seja algo assim, pois admito que não joguei o game original, mas o mangá trata como uma história original inspirado no game, então é o dá para se imaginar. Cheguei até mesmo a assistir alguns episódios do começo do animê e há notáveis discrepâncias entre ambas as mídias. Cada uma conta a história de Yo-kai Watch a sua maneira, a sua ordem, do seu jeitinho.
Não quero ficar comparando aqui mangá e animê, porém acho importante frisar isso de que ambas as mídias adaptam a obra a sua maneira, até porque os artistas envolvidos são diferentes. Particularmente gostei muito mais do mangá, enquanto a animação achei meio blasé, meio comum demais, sem ter aquele toque do diferencia, do peculiar. É muito normal, muito comum.
Exatamente o que todo mundo diz da série principal de Pokémon há anos. Acredito que a criançada mais nova claramente curta o estilo da animação de Yo-kai Watch. Fiz o teste com o meu filho de 4 anos, e ele parou o que estava fazendo para ver um pedacinho do desenho. Funcionou para ele, mas para adultos o animê não me pareceu tão agradável assim quanto precisa ser.
Diferente do mangá que… bem… já volto a falar dele. Antes disso, preciso explicar sobre o que se trata Yo-Kai Watch.
Do que se trata? — Yokais por toda parte!
Yo-kai Watch conta a história desse garoto comum chamado Nathan ‘Nate’ Adams, vivendo um dia comum, em sua rotina comum, até que ele encontra uma estranha árvore com uma estranha máquina de cápsula (gashapon) em sua base. É bizarro, mas é aquela coisa do surreal que os mangás as vezes fazem tão bem.
Ao abrir uma cápsula da máquina, Nate acaba despertando um Yokai chamado Whisper , que lhe agradece e diz que a partir de agora será o mordomo do garoto, passando a seguir por onde quer que ele vá. Whisper conta a Nate que o mundo dos humanos está cheio de yokais, que interferem constantemente em nossas vidas, mas que ninguém pode vê-los.
Então Whisper presenteia Nate com um Yo-kai Watch, um relógio que imite uma luz que faz o garoto enxergar yokais que estejam próximos e ao seu redor. Cabe agora a Nate viver com esse yokai ao seu lado, e ter uma percepção melhor do mundo ao seu redor, encontrando novos yokais e resolvendo conflitos e problemas que estes estejam causando ao mundo humano. Ou seja, Nate arranjou uma baita dor de cabeça ao pegar aquela cápsula da estranha máquina e se vincular ao Whisper. Mas ele é jovem, então tudo vira diversão!
O mangá funciona em capítulos fechados. Sempre com Nate sendo apresentado a um novo yokai, enquanto tenta voltar a sua vida normal. Ele passa a perceber que o envolvimento dos yokais no mundo dos humanos é bem mais frequente do que sequer poderia imaginar.
Yokais no geral são entidades, espíritos, que não necessariamente são pessoas ou animais mortos. Objetos abandonados também podem se tornar yokais, por exemplo. Eles podem influenciar os humanos de muitas maneiras, sendo que cada yokai tem normalmente uma peculiaridade, ou uma habilidade, podendo deixar o humano nervoso, feliz, depressivo etc. Há também os yokais que não afetam humanos a esse ponto, mas que também os azucrinam, como um que joga bolinho de arroz grudento nos pés de um garoto ou um chapéu que faz todo mundo perder a memória. É tudo bem maluco. Basicamente não há limite para quão bizarro ou estranho os yokais possam ser.
Nate descobre que se tornando amigos dos yokais, ele ganha uma moeda (ou medalhão, já que se chama Yo-kai Medal). Esse é o reconhecimento do yokai para com o garoto, a prova da amizade entre eles. Sendo assim, ele pode chamar um amigo yokai para ajudá-lo sempre que um yokai desconhecido estiver causando alvoroço.
Essa é a estrutura geral da trama de Yo-kai Watch. Todos os capítulos possuem aquele toque de humor característico dos mangás japoneses. Os personagem tem expressões exageradas, gritam para reforçar um absurdo e há momentos nonsense ou aquela de tiração de sarro. Mas calma que ainda tenho mais a dizer.
Pontos a serem considerados — pensou em Pokémon?
Tenho que dizer: achei impossível não pensar em Yo-kai Watch como uma espécie de Pokémon dessa geração. Nate conhece vários seres espirituais bizarros, que poderiam facilmente serem pokémons. São fofinhos (até quando são feios), são mega coloridos (pelas artes das capas e olhando eles na versão animada), possuem movimentos e habilidades especiais, assim como os pokémons também são.
Existe uma fórmula a ser seguida em cada capítulo, ao menos destes dois primeiros volumes. Nate encontra estes yokais fazendo arruaça, conversa com eles, chama o Jibanyan – já falo dele – e no fim se torna amigos deles e ganha a moeda desse yokai, aumentando assim seu acervo de amigos que podem ser invocados a qualquer momento por meio de seu relógio.
Me pareceu uma espécie de Pokémon, mas adaptado ao mundo do politicamente correto. Nate não os captura, não os coloca em rinhas de batalhas, porém coleciona moedas de diversos yokais e pode convocá-los para ajudá-lo sempre que for necessário. Não é ruim, mas é uma fórmula que fica manjada rapidamente.
O que segura Yo-kai Watch é o carisma dos personagens e o bom humor sem noção do mangá. E é por isso que ele me agradou mais do que a animação na TV, que estica demais o que não precisa ser esticado e tem um tom de humor direcionado ao visual em si mais contido, menos “barulhento”.
Aí sim, entro na premissa do gato Jibanyan. Este, no mangá, é o primeiro yokai, após Nate encontrar Whisper, a fazer amizade com o garoto. Ele tem toda uma história meio triste, mas que o autor soube deixá-la mais amena, mais divertida. Jibanyan foi atropelado quando ainda vivo e ao morrer vê sua dona o chamando de patético (“apenas” porque morreu atropelado). Ele se revoltou, se transformou em um yokai e agora fica tentando bater nos carros com seu golpe, Patas da Fúria.
O caso é que Jibanyan é super carismático. O gato tem apresentações realmente engraçadas para cada vez que o Nate o chama pelo relógio. E não é surpresa que rapidamente ele se torna aquele personagem pelo qual o leitor está esperando sua aparição em cada um dos capítulos do mangá, seja sua participação pequena ou grande. Ainda que ache bizarro o exagero em torno de sua popularidade, já que tirando a primeira capa da edição americana, todas as demais são com apenas o Jibanyan na capa, sendo este um espaço normalmente concedido aos protagonistas da série, como Nate e Whisper.
Levando em consideração apenas estas duas primeiras edições, que no Japão, compõem o primeiro tankobon do mangá, me pareceu ser um título bem descontraído. Nate é o pilar da série, sendo quem promove as resoluções entre os yokais problemáticos e também o que promove encontros entre yokais já apresentados, que passam a interagir com os novos que vão surgindo. E por enquanto é só isso. Não dá para saber, apenas com estas duas edições, se o mangá pode ou vai se desenvolver para algo maior ou mais megalomaníaco. E não precisa, ainda que também não achasse ruim se houvessem algumas tramas que tomassem mais do que um capítulo em futuros volumes.
Vale ou não vale? — precisava ser em meio-tanko?
Meu único porém diz respeito a decisão da Panini aqui no Brasil de quebrar a série no antigo formato meio-tanko. Entendo o pensamento de que sendo um mangá para uma turminha mais jovem, para um público mais infantil, o lançamento do mangá a um preço menor seja atrativo aos pais, que talvez não entendam nada de mangá e preferem pagar por algo mais em conta. Entretanto me sinto meio sacaneado ao pensar que estou pagando por um mangá em papel jornal a quantia de R$ 17,80; valor de duas edições de Yo-kai Watch que valem o formato original do tankobon japonês. Ruim, não?
Você pode até justificar, claro, que é um meio-tanko por mês. Então se você compra para um pequeno esse mangá, o custo mensal é mais camarada do que se tivesse que comprar o tankobon completo a cada mês. Mas aí tem o contra argumento: é um mangá de apenas 11 volumes (no momento da publicação desta matéria). Não é como se fosse um mangá enorme, com dezenas de volumes já lançados. O que a Panini fez foi estender ele mais do que talvez devesse.
De 11 edições em 11 meses, se tornou 22 edições em 22 meses, fora os outros volumes que vão continuar saindo lá no Japão (3 volumes por ano). Este é o meu único pormenor em torno deste lançamento. Não acho que precisava ter feito me lembrar dos tenebrosos meio-tanko, que assombrou os colecionadores por anos e anos na década passada. É um formato que realmente me incomoda. Não sinto que a leitura rende, acabando rápido demais. Felizmente, para a editora, há leitores que obviamente não ligam para essa questão do formato e do preço. Quem é fã, quem gosta da franquia, vai colecionar sem qualquer problema a série.
No que diz respeito a outros aspectos, quanto qualidade de impressão, e da edição física em si, cheguei a ler por aí que a primeira edição estava com aquela clássica encadernação que estala ao se abrir. A minha também está assim, o que incomoda um pouco. Entretanto a Panini deve ter ouvido as críticas, pois a segunda edição claramente tomou-se um cuidado e não apresenta tal problema.
Ao fim, acho que Yo-kai Watch é um lançamento interessante ao mercado brasileiro. Sempre digo que apoio aqui quando as editoras trazem livros, quadrinhos ou mangás baseado em jogos eletrônicos. Yo-kai Watch nasceu nos videogames, então é muito bom ver que seu mangá conseguiu chegar ao Brasil, ainda que tenha certeza que isso foi mais mérito de sua versão animada do que do game para Nintendo 3DS. Quem curte a animação, com certeza vai curtir muito mais a versão em mangá, mais nonsense, mais engraçada. Minha opinião, é claro.