Novembro iniciou meio barulhento nesta terça-feira, com as redes sociais e canais dedicados a televisão, animês e afins malucos com o fato de que o canal de TV aberta, chamado Rede Brasil, tal como vinha prometendo realmente estreou a reexibição de dois clássicos da animação japonesa, e da dublagem nacional: Os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z.
Para alegria dos fãs, ambas as animações chegam remasterizadas, com abertura e vinhetas clássicas e sem cortes. Tudo lindo e maravilho. Mas não consigo deixar de pensar: sabe o que seria ainda mais legal? Se alguma distribuidora em Home Video resolvesse lançar exatamente essa versão completa destes clássicos em DVD e Blu-ray em nosso mercado. Tal como existe mundo afora.
Aí talvez os fãs não ficassem tão reféns da exibição da TV aberta, ou da TV por assinatura ou dos serviços de streaming. Todo mundo poderia ter, bonitinho em suas casas, para ver e rever quando quisessem. Apesar de que com a internet e com os torrents da vida, isso não seja tão impossível assim. O que existe também de sites dedicados a colocar a melhor versão possível destas séries em DVDs e vender de forma informal e irregular por aí (já que ninguém o faz de forma oficial). Bem, eu realmente não entendo exatamente todo o barulho e festa por causa do retorno da exibição de dois animês tão antigos assim. Quer dizer até entendo… mas… bem… o fato é que não deveríamos talvez estar festejando isso.
Não sei. Os animês no Brasil, ao contrário dos mangás, parece estagnados, preso ao passado. Não conseguem seguir adiante. Eu aqui vibrando com a chegada, com severo atraso, de Dragon Ball Super na Crunchyroll Brasil e aí vejo tantos outros felizes apenas com o fato de que Dragon Ball Z está sendo exibido na TV aberta. É muito estranho.
Quer dizer, que tipo de público estes animês estão atraindo na TV aberta, exatamente as 20 horas da noite? Jovens, crianças, e adultos nostálgicos? É difícil conjecturar. Me pego pensando se há realmente público que nunca viu tais animações e que irá ver dessa forma pela primeira vez. Não é masoquismo demais?
São séries antigas, hoje consideradas nostálgicos, mas se for pensar de forma racional, tanto Cavaleiros do Zodíacos quanto esta versão de Dragon Ball Z (que não é a Kai – que retirou toda a gordura dos fillers) são realmente ruins. A trama é arrastada por demais, não tem a dinâmica e a agilidade narrativa que as animações japonesas de hoje possuem. Nossa memória afetiva engana muito nestes clássicos. Para alguém chegando hoje, dá para encarar e engolir o formato antigo de ambas as séries?
Enfim, só quero finalizar aqui dizendo que não estou desprezando ou debochando da iniciativa da Rede Brasil. Não entendam desta forma. Acho interessante a iniciativa, ainda que a festa realizada em rede nacional possa parecer exagero na minha humilde opinião. Tão pouco estou dizendo que está na hora de esquecermos Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z, pois de uma certa forma, eles ainda são os pilares dos muitos novos animês que existem hoje no Japão. Só estou dizendo que talvez a gente deva parar de ver os animês apenas como algo nostálgico, vivendo apenas do passado.
Se não sairmos dessa bolha, a entrada de novos animês, seja na TV aberta, seja na TV por assinatura, vai continuar tão impraticável quanto já é hoje em dia. De que adianta fazer festa porque tem animê sendo exibido na TV se trata-se apenas de produção da década de 80, que boa parte dos fãs já viu e reviu tantas e tantas vezes?
E tente adivinhar quanto dessa audiência irá se manter firme e forte pelos próximos dias, pelas próximas semanas e pelos próximos meses. São animações que passam das centenas de episódios e por mais que existam fãs de ambas, quantas você acha que possuem paciência e tempo para reverem ambas nesse formato novela, todo dia em um mesmo horário? Eu que assisto animês pela na Crunchyroll normalmente acabo deixando acumular episódios de séries que acompanho, e olha que elas são semanais, imagine ver um animê todo dia na TV aberta sabendo que não posso perder um único capítulo… eu não conseguiria.
Toda essa volta para dizer que a estreia de animês na TV não é exatamente algo que não acontece de tempos em tempos. Até acontece. O problema é parar e pensar o quanto destas estreias da última década conseguiram durar até o final de suas séries a qual o canal e emissora se propuseram a exibir. Quantas foram até o fim? Eu sinceramente não sei.
A Rede Brasil é um canal de TV aberto pequeno. Realmente minúsculo. Eu nem sabia de sua existência até esse acontecimento. Certamente para a emissora foi um bom negócio todo esse barulho que Cavaleiros e Dragon Ball tem causando pela internet. O que espero é que a emissora agora que começou vá até o fim. Ou que ao menos se preponha a não viver apenas do passado. Procure coisas novas, animês legais, fora da bolha. Ou não. Afinal, que sou eu para dizer o que precisa passar ou não na TV.
Talvez a próxima estreia da Rede Brasil seja Yu Yu Hakusho com a sua dublagem clássica. Já pensou que irado seria? É… esse é o Brasil dos (velhos) animês…