É curioso pensar que meu primeiro contato com Ore Monogatari!! aconteceu um pouco antes de agosto de 2015 ao assistir alguns episódios do animê na Crunchyroll.pt. Cheguei até mesmo a escrever uma indicação da série aqui no site na época do descobrimento da animação.
Eis que o tempo passou e a Panini sabiamente adquiriu os direitos do mangá, na qual o animê é baseado, e os dois primeiros volumes já podem ser encontrado nas bancas de todo o país e em lojas especializadas. O terceiro volume deve chegar em breve na banca, com um crossover especial com outro título lançado pela editora aqui no Brasil (AoHaraido).
Resolvi então falar um pouco sobre o mangá de Ore Monogarati!! por aqui, retornando para mais uma rodada de novas impressões de mangás que estão sendo lançados em nosso mercado nestes últimos meses.
Como mangá, Ore Monogatari!! surgiu em 2011, sendo que recentemente – em julho deste ano – o título foi concluído no Japão, sendo encerrado com 13 volumes. E já vale dizer que o animê não engloba todo o mangá, sendo que sua exibição se deu até setembro do ano passado, encerrando sua temporada com 24 episódios. Até o momento não há notícias sobre uma segunda temporada, ainda que eu torça muito para que possa acontecer futuramente.
Do que se trata?
Ore Monogatari!! narra as aventuras de Takeo Goda, um jovem estudante de tamanho corpulento, que talvez para uma pessoa que julgue o livro pela capa ao vê-lo por aí o chamasse de brutamontes ou gorila, porém Takeo é um cara cativante, de bom coração. Sem más intenções e sempre prestativo. Popular entre os garotos por ser o cara que é pau para toda obra, amigão da galera, sempre os ajudando em momentos de necessidade, seja nos esportes ou em qualquer outro tipo de situação.
Porém Takeo não é muito popular com as garotas, que o acham grandalhão demais. Não ajuda muito o fato de que o melhor amigo de Takeo é um cara boa pinta, tipo jovem astro de Hollywood, na qual as garotas todas se derretem. Esse bonitão se chama Makoto Sunakawa. A princípio Sunakawa parece ser o tipo de sujeitinho na qual o leitor não vai se simpatizar muito, mas logo se descobre que Sunakawa é um bom amigo para Takeo, que tem camadas de motivações e boa personalidade, tal qual o protagonista do mangá também possui.
E tal como todo bom shojo precisa, há a personagem feminina, aqui chamada de Rinko Yamato. A garota que diante de uma situação na qual estava sofrendo assédio em uma lotação no metro, é salva e resgatada pelo Takeo e acaba se apaixonando or ele, enquanto Takeo em um primeiro momento acha que Yamato está sendo gentil com ele para se aproximar do Sunakawa. É nessa relação Takeo-Yamato-Sunakawa que gira os dois primeiros volumes do mangá.
Animê versus Mangá
Cheguei a comentar no texto do animê que Ore Monogatari!! me despertou a atenção por conseguir fugir um pouco do clichê do gênero. Pegue a premissa inicial, por exemplo. A garota se apaixona pelo galã, enquanto o garoto mais feio acaba ficando de vela. Não é isso que acontece aqui. O desenrolar do mal entendido “Yamato gosta do Sunakawa” é resolvido bem rápido logo no primeiro volume do mangá, tal como ocorre na animação. Nisso o mangá passa a investir na relação do casal Takeo-Yamato, enquanto o leitor vai descobrindo também o que é essa relação de amizade na qual Takeo-Sunakawa possuem.
Descobri que a animação é bem fiel ao mangá, ao menos nestes dois primeiros volumes. Para quem assistiu a animação estes volumes não possuem muitos detalhes diferentes, exceto pelo fato de que há os extras do volume, como as várias conversas das autoras com os leitores japoneses, também reproduzidos aqui na versão da Panini. Gosto em particular da conversa que existe no final da edição no segundo volume, na qual se discute como o traço do Takeo mudou um pouco desde o primeiro capítulo do mangá. E de fato é bem perceptível tal mudança. Takeo foi ficando mais “ursão” com dos primeiros capítulos. Resultado este que se manteve também na animação.
Achei também muito legal que no segundo volume há páginas entre capítulos contendo as receitas na qual a Yamato utiliza dentro da história do mangá. Tudo muito bem traduzido pela Panini aqui. Não vou negar, dá vontade de testar alguma destas receitas para ver se realmente ficam tão gostosas quanto parecem ser no mangá.
Claro que vai chegar um ponto por aqui na qual o mangá irá passar e mostrar aquilo que o animê não mostrou. Mas isso talvez ainda demore alguns volumes para acontecer, apesar de que o mangá trabalha bem rápido seu roteiro. O final do segundo volume já apresenta e conclui o arco com o pai do Sunakawa, para que aqueles que viram o animê terem uma noção.
Um mangá de caráter
É fácil entender porque Ore Monogatari!! é um mangá de tamanha qualidade. Além dele ser diferente, explorando personagens que são diferentes do usual dentro desse gênero, todos eles são construidos com boas estruturas e que mexem com a perspectiva de caráter das pessoas, sejam dos personagens ao redor, seja o do próprio leitor.
É impossível não pensar que é um pouco estranho a relação do Takeo e da Yamato, ele sendo tão grande e ela tão pequeninha. E as autoras sabem disso, pois trabalham estes elementos na trama, de uma forma respeitosa, sem apelar ou parecer como um insulto ou preconceito a ideia de que há pessoas muito diferentes na aparência, mas por dentro são extremamente bondosas, de honra e respeito. Caráter é uma palavra que sempre me vem em mente quando penso nessa série.
Gosto muito da cena do incêndio no karaokê para elucidar esse sentimento do mangá. Ainda que a situação e a coincidência do momento desse incidente seja um pouco perfeito demais — ela acontece no melhor momento possível, com as pessoas que tinham que acontecer, para sanar uma situação de completo preconceito, sendo que precisou de algo extremo para que ficasse claro que Takeo é um cara bacana. Só que por ser um momento rápido, objetivo e claro, é fácil ver o quão as amigas de Takeo estavam julgando um livro apenas pela capa e o quão errado estavam ao fazer isso. Gosto desse momento de completo “quem vê cara não vê coração“. Acho que este é um dos momentos iniciais da série que deixam bem claro o tom que vai ditar a trama frequentemente, ainda que nem sempre ela vai trabalhar apenas com isso.
Outra metáfora que gosto nestes volumes inicias é a do conto do Ogro Azul e do Ogro Vermelho, que representa muito bem a amizade de Takeo e do Sunakawa. É o tipo de amizade que não é fácil de se ter hoje em dia. Eu mesmo há alguns anos atrás achei que tinha um amigo mais ou menos assim e descobri depois que estava errado. Ver esse tipo de relação sendo mostrada no mangá me fez lembrar dessa pessoa, ao mesmo tempo que fico pensando o quão difícil é ter um amigo assim hoje em dia. Então acaba sendo legal ver como o mangá trabalha com esse tipo de amizade com os dois, ainda que eles estejam na juventude, o que dá uma curiosidade de saber como ela pode acabar quando ambos estiveram no mundo dos adultos.
Talvez, dentro da perspectiva deste texto, pareça que Ore Monogatari!! é um tanto positivo e meloso demais. Bem, é um shojo, então não tem como esperar por personagens em briga de rua ou grandes cenas de ação. É um mangá de relacionamentos, seja com aquela garota que Takeo jamais achou que conseguiria ter, seja com um amigo de infância que é um cara muito mais incrível do que ele sequer pode imaginar. O que difere Ore Monogatari!! de um mangá comum dentro do gênero são estes personagens diferentes e cativantes.
É fácil torcer pelo Takeo. É um personagem que representa aquele sentimento de Ogro Vermelho que todo mundo tem um pouco. Aquele sentimento de que somos estranhos em relação as outras pessoas e de como até mesmos pequenos gestos podem ser interpretado errado pelas pessoas. Você torce pelo grandalhão, que é gente fina, daquele tipo que não se vê com tanta frequência hoje em dia.
Me recordo que no texto feito ano passado, na época do animê, disse que este seria um título na qual particularmente não colecionaria. Reforço que shojo realmente não é um gênero que tenho aquela ânsia de ter na prateleira, mas conhecendo um pouco mais de Ore Monogatari!! hoje, sabendo o quanto a minha esposa curte a série e sabendo que ela é curtinha em relação a tantos outras maiores que já coleciono, acredito que não teria problemas em tê-la em casa. Até porque se ela já foi finalizada, há uma pontinha de curiosidade em saber como essa história da Yamato com Takeo vai terminar.