Saintia Shô – Vol. 01 | Impressões do Mangá! (Os Cavaleiros do Zodíaco)
Minha história com Cavaleiros do Zodíaco
— porque todo mundo com mais de 25 anos tem uma
Não faz muito tempo em que a Editora JBC relançou (e concluiu) o mangá original – de 1986 – de Os Cavaleiros do Zodíaco. Foi uma boa oportunidade pra mim, que nunca cheguei a ler a antiga versão lançada no Brasil. Finalmente pude conferir o material que deu origem ao famoso animê de sucesso dos tempos da TV Manchete.
Consegui todos os 28 volumes. Li tudo, afinal há mais de uma década que não assistia as aventuras dos cavaleiros de Athena. Me lembrava vagamente do final do animê, já que cresci assistindo em looping a saga das 12 casas dos Cavaleiros de Ouro, que era uma constante na TV aberta brasileira. Vagamente me recordava da saga de Poseidon, o arco seguinte.
Ler o mangá foi… curioso. Memória afetiva é uma peça chave para entender o fascínio dos fãs por Cavaleiros do Zodíaco até os dias de hoje. Valeu pela nostalgia, pois comparando com outras obras que só fui conhecer depois, como Yu Yu Hakusho e Dragon Ball cheguei a conclusão de que as histórias de Seya e seus amigos envelheceram muito mal.
Os desenhos do Masami Kuramada da década de 80 era bem ruins, inconsistentes e não sobreviveram muito bem ao tempo. Parece algo realmente datado ler pela primeira vez nos dias de hoje. Me assustei, em um momento me desanimei, me preocupei de estragar algumas lembranças da infância, mas li tudo até o fim. Não foi ruim, mas foi trabalhoso.
Enfim, estou fazendo essa mega introdução primeiro porque não é todo dia que tenho a oportunidade de falar sobre Cavaleiros do Zodíaco aqui no site, segundo porque do universo original surgiram diversos outros contos e spin-offs e nem todos sob o total cuidado do autor original, porém que são até menos datados do que o mangá de 1986.
Não sou especialista no assunto, porém posso mencionar ao menos os mangás mais famosos (e salvo engano, todos estão sendo lançados ou já foram lançados no Brasil) como Saint Seiya: Next Dimension, Saint Seiya Episode.G, Saint Seiya: The Lost Canvas… e este que tenho em mãos e é assunto desta postagem: Saint Seiya – Saintia Shō!
* Lembrando que Saint Seya é o nome oficial dos Cavaleiros do Zodíaco internacionalmente.
Só não para ficar no vácuo, acho válido dizer que não conheço todos os mangás citados mais acima. Assisti um bom trecho do animê de The Lost Canvas e o achei animal, porém nunca o terminei (desanimei ao ouvir que a animação não tinha fim, porém algum dia pretendo retomá-la). Sei que há uma outra série dedicada a contos e histórias com os Cavaleiros de Ouro também. E até assisti, mas não cheguei a terminar, Saint Seiya Ômega, que não cheguei a achar tão ruim quanto muitos acham, só que chega em um ponto que a animação se enrola demais e aí sim se torna cansativa – porém qualquer dia desses tomo coragem e termino ela.
E caso a Editora JBC pense em futuramente relançar todo este materiais derivados da série original, começando de novo para quem pegou esse trem bem atrasado como eu peguei, aí sim penso seriamente em adquirir estes mangás. Hoje, já com muitos títulos em numeração avançada, não há sequer a cogitação de correr atrás de tudo que perdi. Exceto no caso de Saintia Shô, que está começando fresquinho e cheirosinho a ser publicado agora no mercado nacional. E é hora de falar sobre o título então!
Saintia Shô – As guerreiras de Athena!
A coisa mais bacana de Saintia Shô é que esta é uma série derivada de Cavaleiros do Zodíaco bem recente. Começou a ser publicado no Japão em 2013. Consta até o momento com apenas 8 volumes lançados, porém ainda não foi finalizado por lá. Por que isso é legal?
Porque significa que o traço da série segue um padrão e modelo mais moderno, que os mangás de hoje em dia possuem. Nada de traço ruim, personagens deformados, e todas aquelas outras limitações que existiam quando o material original foi produzido pelo Kurumada em meados da década de 80. Pra mim isso é um alívio.
O mangá de Saintia Shô aliás nem sequer é produzido pelo autor original. A responsabilidade sobre roteiro e arte recai sobre a mangaká chamada Chimaki Kuori, que nesse primeiro volume, naquele espacinho do Free Talk com o leitor se mostra bem animada e honrada com a possibilidade de trabalhar em uma série dos Cavaleiros do Zodíaco.
Claro que tudo isso não significa que o Kurumada não deva supervisionar algumas coisas. Por exemplo, neste volume a autora já revela que o nome da protagonista, a Shoko, foi dado pelo próprio Kuramada. Talvez ele atue como uma espécie de consultor em momentos em que se faz necessário, mas não deve interferir no processo criativo da autora a todo momento.
E não acho isso ruim, pois normalmente estes universos derivados tendem a dar certo quando cedidos a outros autores que saibam respeitar o material e as regras do universo original. E é a chance destes autores de também darem aquela pitada de si mesmos dentro das obras. Admito que foi isso que me interessou bastante aqui, neste título.
— Encaixe… ou deixe rolar
Uma coisa que não fico muito preocupado é tentar encaixar essa história no universo da trama original, como se tudo precisasse acontecer respeitando fatos e detalhes minuciosos que não podem contradizer a história original. Se focar nisso é cair em uma armadilha perigosa.
É preciso entender que esse tipo de mangá é produzido porque os fãs querem mais de um universo que o Kurumaka encerrou em 1990. O que vem depois disso, sendo alternativo, sendo posterior ou anterior ao conto original, até mesmo sendo parcialmente incoerente com regras estabelecidas dentro da série acaba sendo lucro aos fãs. A história sendo boa, os personagens sendo interessantes, os detalhes pouco me importam. Só não pode ser ruim. Essa é a minha regra de ouro.
Digo isso porque Saintia Shô tenta se encaixar na cronologia da série e tenho lá minhas dúvidas se isso vai dar mesmo certo. Os eventos, explica o mangá, se passam antes da Guerra Galática, antes do torneio dos Cavaleiros de Bronze da série principal. É então uma história antes da obra original.
Lembra que no mangá de 86 não existiam mulheres trajando armaduras? Normalmente esse posto eram apenas para os homens, e as mulheres normalmente se tornavam as Amazonas, usando máscaras que escondiam seus rostos. Pois bem, as Saintias existem fora desse sistema do Santuário. Isso porque quando Athena descende à Terra, há essa regra que apenas mulheres podem cuidar dela. As Saintias são como damas de honra, porém como elas também são uma espécie de guarda especial de elite, protetoras de Athena, é feito essa concessão e lhes é permitido usar armaduras. E eu fico pensando aqui que a Saori tinha um mordomo na história original… bem, é como eu disse, se ficar procurando pelo em ovo a história perde a graça. Aceite que as Saintias existem antes dos Cavaleiros que nós conhecemos e está tudo bem.
— A ameaça… e a protagonista
Como li apenas o primeiro volume do mangá (a segunda edição está para chegar as bancas em breve) ainda não tenho muito de enredo para comentar, pois não é um título que acompanho online. O que dá a entender é que há uma ameaça quando a Deusa da Discórdia Éris tentar reencarnar com o objetivo de matar Athena.
A primeira edição trabalha com as estruturas narrativas enquanto apresenta a protagonista da história, a Shoko. A jovem que não sabe nada sobre Athena, Cavaleiros, Santuário ou deuses. O que ela sabe é que sua irmã abandonou a família quando muito nova para ir para uma espécie de programa educacional, realizado por uma certa fundação que os fãs da série sabem bem o que é. A irmã de Shoko foi treinar para ser uma Saintia.
Na trama a Saori ainda não se tornou totalmente a reencarnação de Athena, estando naquela fase de aceitação de seu destino, ainda que entenda perfeitamente o que ela é e já tenha alguns poderes. Saori ainda está cursando o ensino educacional do mundo dos humanos (sabe-se lá porque). E em meio a um destes momentos onde tudo é coincidência (ou não), os destinos de Shoko e Saori irão se encontrar.
Na verdade existe um motivo para Shoko ir parar no olho do furacão. Mas essa é uma boa surpresa do final deste primeiro volume. Até lá, o leitor acompanha a invasão de uma das guerreiras de Éris ao local onde Shoko e Saori estão. E assim a irmã de Shoko irá surgir como a Saintia de Equuleus (Cavalo Menor) e trajando uma armadura.
As batalhas continuam sendo bem no jeitão de Cavaleiros do Zodíaco. Um golpe desferido e ou a luta acaba, ou será necessário que o mesmo golpe seja usado mais algumas vezes, até o cosmos queimar na potência que supere o cosmos do adversário. Cavaleiros do Zodíaco nem sempre tem as melhores batalhas, ainda que elas não se estendam demais ou atrapalhem o desenvolvimento do roteiro. Não acho ruim e não me incomoda, porém talvez eu esteja ficando velho para curtir um Meteoro de Equuleus.
Ao fim, o primeiro volume abre o palco para uma nova guerra, anterior a Guerra Galáctica, na qual Saori precisará contar apenas com a ajuda das Saintias (ainda que Cavaleiros de Ouro apareçam rapidamente em certos momentos da edição), enquanto se descobre como Athena. Já Shoko, ela descobre que há seu cosmos adormecido e precisará se tornar uma Saintia ou não irá sobreviver contra o adversário que surge no horizonte da trama.
Vale ou não vale ler?
Preciso dizer que me impressionei com o título. Superou minhas expectativas, ainda que estas fossem baixas. Gostei muito do traço da Chimaki Kuori, que tem boa flexibilidade, fazendo ótimas páginas com cenários, personagens com expressões críveis, cenas de movimento e ação que causam impacto e as linhas de diálogos do mangá são bons, sem tantos clichês ou frases batidas (há, mas não tanto quanto achei que teriam).
Gostei da protagonista, a Shoko e das Saintias que se fazem presentes nessa edição. A Saintia Mii de Golfinho é uma personagem legal, com personalidade e com características sólidas. Espero que ela acabe entrando no time da Shoko, da mesma forma que Seiya tem seu grupinho no mangá original.
O mangá lembra bastante uma obra dos Cavaleiros do Zodíaco. Não é porque todas as personagens são mulheres que a obra acaba se equiparando com um Sailor Moon, que é uma obra que fala com um público feminino de forma mais ativo. Saintia Shô pode ser legal para leitoras, mas certamente a obra tenta pescar o público masculino que já é fã desse universo.
A edição da JBC também está caprichada. Não é um mangá da linha mais luxuosa, mas mesmo sendo impresso em papel jornal não deixa a desejar. A impressão gráfica e a intensidade da tinta estão boas (nada de dedos sujos, o que pra mim é ótimo), a transparência é outro ponto que não me incomoda como sei que há quem se sinta incomodado (ela existe, mas minimamente, tal como quase todos os mangás em publicação atualmente) e além disso me agrada o Free Talk na capa interna e que a edição não seja com capas espelhadas em ambos o lados. Internamente, tem alguns páginas coloridas para dar aquele tcham. Uma edição agradável de se ler e colecionar.
Espero continuar acompanhando. São poucos volumes lançados, então não é algo que vai encarecer meu bolso. E vai ser legal resetar a minha memória, adicionando mais coisas legais dos Cavaleiros do Zodíaco depois de ter lido o mangá original e descobrir que o mesmo envelheceu bem mal.
Aliás, Saintia Shô é um título válido até mesmo para quem nunca leu ou assistiu Os Cavaleiros do Zodíaco. Ao menos nessa primeira edição tudo é explicado direitinho, tornando desnecessário que o leitor conheça a base original da série. Ajuda, pois há referências, porém não conhecer não é uma barreira para curtir o título.