Imagino que o lançamento de Steep aqui no Brasil não tenha despertado muito a atenção dos jogadores neste final de ano. Quer dizer, meio que dá para entender as razões, não? O game chegou aos consoles em 2 de dezembro. Praticamente o último grande – mas nem tanto – lançamento de 2016.
Nesse momento todo mundo já está extasiado com os demais blockbusters da temporada. E Steep nem sequer está em um gênero muito popular ao gamer brasileiro, sendo que trata-se de um game de esportes radicais na neve, algo que no Brasil tropical é uma parada muito fora de nossa realidade.
Porém não se engane, Steep é um game maneiro. Talvez a oportunidade para testá-lo ou jogá-lo não venha nesse momento, mas deixe-o anotado aí na sua lista para jogos futuros, pois é um título fora da bolha, diferente, mas divertido.
Menos tecnicamente esportivo,
mais exploração de mundo aberto
Acho que o grande mérito de Steep – após andar testando-o nestas últimas semanas – se dá pelo fato de que ele não é apenas um game técnico de esportes radicais. Existe um enorme esforço da Ubisoft Annecy em tornar o título um grande jogo de exploração em mundo aberto, tendo como influência o ambiente das famosas cadeias de montanhas dos Alpes europeus.
Se Steep fosse apenas um game de corrida, ele seria uma chatice que só. Competir em corridas foi o que menos fiz durante as horas em que me vi preso em geladas montanhas e neve até os joelhos. Em boa parte do tempo estava na verdade explorando o ambiente do game. Procurando novas montanhas, pontos de trilha e acesso a novas missões escondidas em topos na qual apenas o meu binóculo conseguia alcançar.
E as missões em Steep não são necessariamente corridas contra outros competidores. Quer dizer, mais ou menos, afinal são desafios baseados quase sempre em bater um tempo pré-determinado pelo game para ganhar uma medalha de ouro. Só que o jogador faz isso aperfeiçoando a sua trilha, e não trombando com NPCs para conseguir ultrapassá-los.
Há outros desafios, como encontrar pontos que devem ser destruídos no mapa, tipo placas ou bonecos de neve ameaçadores, ou desafios que consistem em pontuar alto e passar por anéis de checkpoints até o final de um determinado trajeto. Isso é positivo, pois acaba agradando essa sensação de que não estou fazendo as mesmas atividades em um looping sequencial. Há uma boa diversidade na jogabilidade e tarefas impostas ao jogador.
Em certos momentos Steep me lembrou da liberdade que sentia quando jogava games como Burnout Paradise, na geração passada. O de ficar apenas rodando o mapa descobrindo novas coisas. E olha que inicialmente achei que haveria grandes chances de achar esse game um porre. Fico feliz de ter me enganado.
Na neve ou no ar
Claro que ajuda muito o fato de que Steep não é apenas um game de snowboard na neve. Na verdade há quatro tipos de esportes presente no game. Além da prancha de snowboarding, o jogador ainda se movimenta de parapente (uma espécie de paraquedas), esquiando e planando de wingsuit, que é uma espécie de traje planador (que lembra aquele tipo de esquilo voador – que na verdade não voa).
As missões de wingsuit são as mais divertidas de todo o game. É realmente muito legal pular de grandes alturas e tentar voar muito próximo ao chão para melhor pontuar, além de se manter na trilha para passar pelos aros de checkpoints. Os controles são fáceis, ainda que seja necessário ficar atento aos desvios e ao vento que pode lhe empurrar para perigosas colisões.
No que diz respeito aos esquis e da prancha de neve, estas duas modalidades não consegui sentir um diferencial tão grande assim. Talvez snowboarding seja um pouco mais veloz, o que me faz sempre usar tal modalidade e esquecer um pouco os esquis. Aliás é bem estranho como os controles sempre forçam o personagem descer grandes encostas de costas quando se está de esquis. O eixo de giro do personagem com esse aparato é meio estranho mesmo.
Alguns reviews internacionais reclamaram um pouco da modalidade do parapente, alegando ser meio monótono e mais chato de todas as modalidades. Não sei. Não o achei tão ruim quanto fizeram soar por aí. É um um modo mais lento, que requer mais precisão e que quando se perde o controle, mesmo que um pouco, vira uma loucura acertar novamente o ponto de retorno ao percurso. Porém não é tão ruim assim. Apenas falta adrenalina. Só que fora das missões, enquanto estou explorando o ambiente, usar o paraquedas para subir em alguns pontos é realmente mais útil do que tentar andar até lá.
Subindo a montanha?
Aí está um ponto que me desagradou um pouco em Steep: subir encostas. Sim, o game lhe deixa ir para qualquer lugar já previamente descoberto. Basta acessar esse ponto no mapa e apertar um botão no controle. Rápido e simples, e sem qualquer loading.
Entretanto para descobrir novos pontos as vezes se faz necessário chega perto deles. O binóculo só revela novos trechos e missões a partir de 1.000 metros de distância. E normalmente vocês já os enxerga estando até a 5.000 metros de distância. Muito, não?
Normalmente quando isso ocorre o jogador vai no mapa e acessa o ponto mais alto e próximo do mapa. E aí é só descer a montanha até chegar a uma distância em que o ponto possa ser revelado e adicionado ao mapa do game. Só que nem sempre é só descer. Há pontos realmente complicados de serem acessados. Que tomam esforço do jogador. E aí não tem jeito: tem que andar um pouco.
Andar não é de todo mal. Melhorou bastante desde o primeiro alpha do game (que tive a oportunidade de testar). Dá até para correr um pouquinho. Só que mesmo assim pode demorar um pouco para chegar a um ponto desejado. Especialmente se o jogador estiver subindo.
Sabe o que eu gostaria aqui? Daquelas motos de neve (snowmobile). Bem que poderia ter alguns pontos do mundo do game, especialmente nos mais baixos, com motocas encostadas em alguns trechos e que se permitisse o jogador a usar para subir a montanha. Seria legal também ter missões, desafios e corridas com estas motinhos. Bem, é uma sugestão válida. Quem sabe em uma eventual sequência…
Felizmente após algumas horas de jogo já se tem tantos pontos descobertos e acessíveis que vai ficando mais e mais fácil chegar a novos pontos de descoberta. O suor e a trabalho para tal são apenas no começo mesmo. Até conseguir se habituar a se movimentar em um ambiente tão diferente de outros games de mundo aberto.
Coisas boas e bem feitas!
Steep também se dá bem com outros elementos do game. A customização do personagem é um destes pontos. O jogo está constantemente recompensando o jogador com novos trajes, peças de roupas, cores de paraquedas, mochilas, luvas, máscaras e afins. Há uma boa diversidade e o jogador realmente tem a liberdade de customizar seu próprio personagem como bem entender. E há manequins para personagens masculinos ou femininos.
A dinâmica do clima também pode ser alterada com um clique no D-Pad, o que faz a mudança visual do game ter um grande impacto. A paisagem de Steep é estonteante. E é bem impressionante isso, já que inicialmente achei que o game teria um visual semelhante para tudo quanto é lado. Mas que nada, há realmente diferenças entre picos e áreas.
Os recursos de replay para cada missão e de reiniciar desafios também são pontos importantes. Caiu ou perdeu tempo no meio de um desafio, errou o caminho, ou se quebrou por inteiro? Basta apertar o Y no controle que o game reinicia a prova instantaneamente. Basicamente não há loadings em qualquer momento do game. Isso é fenomenal. Fora que assistir as provas já finalizadas é divertido graças aos multi ângulos e da GoPro.
Ao jogador, a cada desafio cumprido, a cada manobra realizada, lhe é dado pontos de experiência. Subir de nível não lhe torna mais forte ou mais rápido, porém libera novas áreas e montanhas. E é legal como o jogo sabe apresentar bem seu universo. Cada montanha tem sua história, tem sua personalidade e voz.
Aliás os desafios e provas em Steep também possuem suas pequenas histórias. Há um narrador que está sempre lhe contando histórias do mundo de Steep. Seja relacionada a patrocinadores, seja de áreas descobertas, seja novas histórias de trechos das montanhas. Com o prestígio da progressão do personagem, este mesmo narrador lhe convida para participar de novas provas exclusivas da campanha.
Multiplayer?
Se Steep faz muito bem muitas coisas, por outro lado o game tem também alguns problemas. O multiplayer do game, por exemplo, não me agradou muito. No multiplayer o jogador simplesmente pode se conectar com outros jogadores e competir pelas provas presentes no game. Ou simplesmente dar um rolé juntos pelo mundo do jogo, explorando cooperativamente com até quatro jogadores. É possível também criar desafios exclusivos e compartilha-los online com os amigos (fiquei na dúvida se poderia ser com a comunidade online do jogo, pois nunca encontrei um desafio online de um jogador desconhecido ao explorar o jogo).
Não que o multiplayer seja ruim, mas sei lá. Ele não me conquistou. A impressão que tenho é que ele apenas faz o básico e o que se espera que faça. Sendo que particularmente eu gostaria que ele fosse mais intimidador, como – mais uma vez citando um velho amigo da geração passada – Burnout Paradise, que seu online sempre lhe jogava na cara que fulano ou sicrano bateu seu recorde de tempo em qualquer uma das muitas ruas do game. A competição para ter seu nome nas ruas de Paradise era acirrada. Steep poderia prometer isso, mas não consegue nem chegar perto.
Sendo um game que incentiva tempo, recordes e competições, apenas esperava mais desse elemento online. Até porque o mundo do game está sempre online, sempre conectado e sempre mostrando e revelando jogadores online nas proximidades de onde você estiver jogando (e aí cabe a você interagir e se juntar ao grupo ou apenas ignorá-los). Para um grupo de amigos o multiplayer pode funcionar, já para desconhecidos online, ele não me parece tão impactante e importante assim. A experiência solitária me agradou muito mais.
Outros pormenores…
Antes de encerrar há mais alguns pontos rápidos que preciso mencionar. Um deles é a poluição visual do game. Isso me incomodou um pouco em certos momentos. Tudo é mostrado na tela do game, marcações, provas, pontos de acesso, trilhas etc. Durante as provas a tela limpa tudo isso, mas no modo exploração as vezes tem coisa demais aparecendo junto ao cenário. Incomoda um pouco. Dá para se acostumar, mas aos olhos de alguém que esteja assistindo uma pessoa jogar, Steep pode parecer um jogo bem confuso.
Outro detalhe que esperava que pudesse ser mais legal é a sua trilha sonora. Não a de ambiente, mas as faixas musicais do game. Não há rádios para ouvir durante o gameplay e nem dá para mudar a faixa de áudio que a mesma começa a tocar. Gostaria que houvesse mais opções para esse recurso. Sendo um game com um forte traço de exploração, bem que isso poderia ser aprimorado.
Também preciso alertar que o sistema de manobras de Steep pode não agradar muitos jogadores. A jogabilidade não é tão arcade quando alguns trailers possam fazer parecer. Os controles são mais baseados na simulação real mesmo. Os pulos são baixos e as manobras são difíceis. Acertar o próprio timing do pulo não é fácil. Acho que seria bem mais divertido se os desenvolvedores tivessem optado por um estilo mais arcade nesse aspecto.
E um último detalhe, mas a Ubisoft também anunciou que o Season Pass do game trará um DLC que adicionará três novos modos ao jogo: Rocket Wings, Base Jumpings e Speed Gliding. Sendo bem sincero? São três modalidades que já deveriam estar presente no jogo base para torná-lo ainda mais diversificado. Acho errado serem vendidos como conteúdos adicionais. É meio chato adicionar novas modalidades e cobrar por elas posteriormente.
Vale ou não vale?
Steep é um ótimo game. Surpreendentemente divertido, mesmo para um gênero que não tem tanto destaque quando um First Person Shooter ou qualquer outro tipo de jogo que faça sucesso nos dias de hoje. Certamente foi uma proposta diferente e até mesmo ousada da Ubisoft, porém que bom que um jogo assim foi desenvolvido. O mercado e a atual geração de consoles precisa mesmo de mais games diferentes.
É um título que apresenta, acima de tudo, diversão. Há uma boa base para ser mais do que apenas um game de esporte, o que certamente me agradou bastante justamente por ser um mundo aberto e com muita liberdade para se jogar da forma e como quiser. Não há ordem natural para ser feito as provas e desafios. Vá e faça o que quiser primeiro, ainda que haja áreas limitadas a seu nível.
Os desafios são diversificados, as áreas são diferentes entre si e as modalidades de locomoção no game não fazem o jogador se entediar. E veja só: não há muitos bugs ou glitches. Para ser sincero não me lembro de nenhuma situação assim neste momento em que estou escrevendo estas impressões. A Ubisoft realmente aprendeu a lição de não liberar seus games bugados na janela de lançamento dos mesmo.
Obviamente não é um título que deve agradar a todos os jogadores, porém certamente vai surpreender muitos. Acho que vale a pena dar aquela chance. Se puder testar, jogar na casa de um amigo, alugar ou emprestar com alguém, veja se Steep vai cair no seu agrado. Especialmente se você é um daqueles jogadores que está sempre procurando algo diferente para jogar.