Quem nunca brincou de pular pelo sofá, móveis, poltronas, cadeiras e afins, na qual a única regra era nunca pisar no chão? Pois então, ClusterTruck basicamente é uma versão extrema – e um tanto surreal – dessa brincadeira dos tempos de criança. Desenvolvido pela Landfall Games e publicado pela tinyBuild Games esse divertido indie game está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.
Retire o sofá, e qualquer o ambiente interno de uma casa na qual precisássemos imaginar para a atmosfera pela qual o chão era proibido tocar – quase sempre era lava ou areia movediça – e transfira tudo para a surpreendente ideia de pular caminhões, que estão em alta velocidade pelos mais improváveis ambientes, pelas mais inacreditáveis rotas e impossíveis imprevistos que ocorrem constantemente.
ClusterTruck no geral lembra e, possivelmente, sofre de grande influência de games como Super Meat Boy, que exigem do jogador agilidade motora e muito memória muscular. É um daqueles games de velocidade em plataformas. Corra, pule, desvie, nunca pare e saia do ponto A e vá ao ponto B o mais rápido que puder. Se morrer deve recomeçar toda a fase novamente.
Hoje em dia dá para se dizer que este já se tornou gênero bem comum no cenário indie. Há diversos games que apostam nesse tipo de jogo, uns se dando melhor do que outros. Tudo vai depender da proposta e da criatividade na qual a equipe de desenvolvimento encontrar para tornar tal game diferente dos demais já existentes.
Pensando nisso, ClusterTruck nem de longe chega perto da genialidade do próprio Super Meat Boy, porém, em contrapartida, está longe de ser um game irrelevante ou fraco. Trata-se de um indie game de boas ideias, criativo e divertido (principalmente), só que talvez não atinja exatamente seu pleno potencial.
Duas coisas me agradaram no título. Primeira foi sua proposta inicial. A sensação de saltar entre um caminhão para um outro caminhão é emocionante. As fases não possuem exatamente uma linha reta de caminhões enfileirados. Na verdade os caminhões surgem de várias etapas ao longo do estágio, e mais parecem como um estouro de manada. São muitos, uns batendo nos outros, com mais chegando por vias laterais, outros explodindo, colidindo pelos obstáculos do caminho. Em suma, os caminhões em movimento causam caos e confusão, que desnorteiam o jogador em diversas situações.
A segunda coisa que me agradou além das expectativas foi justamente a sua jogabilidade. A física dos saltos aplicada ao game é uma delícia. Talvez pareça meio estranho no começo, mas é só questão de alguns minutos para pegar alguns truques. Além da possibilidade de correr, permitindo um impulso maior do que o salto normal, tem a questão da posição do salto e de onde o jogador colocar os pés ao cair. As mecânicas e boa jogabilidade auxiliam muito a diversão do título.
É possível correr na lateral de um caminhão para um novo salto. Ao cair próximo a traseira do caminhão se tem a sensação de que o game permite um impulso para ainda mais alto, como se o jogador segura-se nessa traseira e uma força irreal o jogasse para cima, tal como uma força elástica. É uma física maluca (tal qual saltar tamanhas distâncias de um caminhão em movimento), mas que casa muito bem a proposta do game.
E claro que os caminhões não vão dar moleza ao jogador. Eles saltam, cruzam entre si, as vezes empinam e você está em cima deles, sentido tudo. Ao bater o caminhão o joga para frente. A direção deles também influência na força e direção do salto, fazendo pulos laterais se provarem um imenso desafio em certas fases.
Além de tudo isso há os diversos ambientes. Ao todo o game possui 9 mundos, contendo 10 fases cada um. E aqui vale um parênteses: na versão para Steam, ClusterTruck já possui mais de 100 fases, pois updates gratuitos atualizaram o jogo com novos mapas festivos, no caso de Halloween e de Natal. Apesar de ter procurado nos fóruns e canais oficias do game, não encontrei indício de que estas fases extras serão portadas para as versões de consoles eventualmente. Torço pra que sim, mas não há nada oficial, por enquanto.
Os mundos de ClusterTruck são bem variados, ainda que os desafios entre si as vezes parecem iguais em certos lugares. Os três mundos inicias, por exemplo, são deserto, floresta e neve e nos três não há nada realmente que os torne distinto uns dos outros. Há bifurcações, caminhões saindo de diferentes rotas, obstáculos etc. Até aí tudo bem, mas não existe no mundo do gelo, caminhões escorregadios por exemplo, ou neblina que atrapalhe a visão.
Claro que mesmo assim cada mundo tem um sentimento próprio; E as coisas ficam mais malucas conforme o game progride. O mundo quatro é com lasers, e é de suar frio (veja abaixo). No próximo, o mundo é medieval, então espere machados gigantes balançado pelas rotas dos caminhões. E estas pequenas adições vão surgindo sempre ao game.
No geral Clustertruck não é um game cansativo. Pode ser frustrante as vezes, o que vai exigir do jogador parar alguns minutos, respirar fundo, talvez clarear as ideias e só aí depois voltar novamente para um estágio em que tenha lhe travado. E o game trava. Se não passar de um estágio, um novo não é aberto.
Felizmente o título também consta com uma árvore de habilidade e uma de utilidade. A cada fase vencida o jogador acumula pontos. Com estes pontos você os troca por algo destas árvores. No meu caso, minha primeira aquisição foi um pulo duplo. Espiando pelo You Tube, percebi que muitos gostam do gancho, mas eu testei e achei um pesadelo. Vai de cada um. Há também jetpacks, poder de levitação, dash aéreos entre outras possibilidades.
Na parte da utilidade há comandos como desacelerar a tela um pouco (fazendo aquela efeito de câmera lenta) entre outras habilidades, como dobrar a pontuação, parar os caminhões ou fazer um caminhão surgir em um local desejado. Obviamente não basta jogar meia dúzia de fases e achar que tudo isso vai ser liberado rapidamente. Não vai. Demora-se um pouco e o jogador só pode optar por uma habilidade e uma utilidade por vez.
Esse sistema de fortalecimento das mecânicas é ótimo para impedir o jogador de ficar travado. Os pontos se acumulam, até mesmo revisitando algumas fases, e assim pode escolher uma habilidade na qual ache que o ajudará a passar pela fase infernal. E vai por mim, existem estágios infernais.
ClusterTruck não é um game longo. Dá para fechá-lo em torno de 4 a 5 horas, calculando uma estimativa na qual o jogador não passe muito tempo preso entre as fases, mas que também não passe todas de primeira. No You Tube há diversos walkthroughs de malucos que conseguem fechar o game em até 2 horas. Mas é difícil de acreditar que é uma virada de primeira, sem já ter algumas habilidades prontas para facilitar o serviço desde o começo.
Críticas? Não tenho tantas assim. A trilha sonora não é muito empolgante, entretanto não incomoda em nada. O game não tem uma história como uma campanha de um jogo mais tradicional. Começa direto ao que interessa, com o jogador em cima de um caminhão, saltando sem parar até a linha de chegada. Não existe então uma desculpa para a loucura para os momentos surreais do game. Também não há multiplayer. E é uma pena também que a versão para consoles não tenha o modo de criação de fases ou sequer um leaderboards, sendo que ambos os aspectos estão presentes na versão do game na Steam.
Seria interessante também se o game tivesse a representação de um ser humano pulando. Na qual o jogador pudesse ver mãos ou pés, tal qual Mirror’s Edge por exemplo. A sensação de não ter nada no perfil da visão em primeira pessoa as vezes é meio desorientador.
Só que tais detalhes não são o suficiente para estragar o game. Clustertruck é divertido por ir direto ao ponto, sem enrolar, e apresentar ao jogador bons e criativos desafios. Há algo procedural em suas mecânicas, pois, por exemplo, os caminhões não iniciam milimetricamente em um mesmo ponto a cada morte. As vezes as batidas entre eles criam trilhas diferentes. Principalmente fases mais caóticas, com saltos, explosões e colisões.
Ao fim, a impressão é de um game simples, mas que entretém. Cumpre aquilo na qual se propõe a ser. É um game para aqueles dias na qual você não quer jogar algo muito complexo. Quer apenas sentar em frente ao videogame e pular, pular , pular e morrer, morrer, morrer. Agilidade e memória muscular, sem pensar demais. Funciona. E muito bem. Vale o preço, vale a diversão!