Hitman – Colorado & Hokkaido | A conclusão e seu… gancho! (Impressões)
Janeiro se encerrou com o lançamento em mídia física de Hitman, concluindo assim de vez o ciclo de sua primeira temporada. Ao todo foram seis episódios, um prólogo tutorial, quatro capítulos extras e dezenas de contratos temporários, de agravamentos e desafios da comunidade. Um conteúdo bem razoável para aqueles que apostaram no formato episódico e receberam cada atualização praticamente de forma mensal ao longo de todo ano de 2016.
Desde o lançamento do primeiro episódio, em março do ano passado, a IO Interactive também fez diversas melhorias na performance do game. Os loadings que eram um problema quando o primeiro episódio foi disponibilizado e tão logo o estúdio tratou de arrumar isso. Analisando o game hoje os longos carregamentos são algo do passado.
Além disso o game recebeu vários aprimoramentos em informações e navegações em seus menus. Dezenas de bugs foram consertados. O modo offline do game, para consoles que não ficam sempre online, também recebeu suas modificações, permitindo que o perfil do jogador quando ganhasse um destravável online também funcionasse no modo offline (isso não ocorria no início).
A sensação que tenho é de que o formato em episódios fez muito bem ao game. Isso permitiu que a experiência proporcionada pelo estúdio pudesse ser expandido e aprimorado ao longo de diversos meses após seu lançamento, usando como base muito do feedback da comunidade. Se não fosse por isso me pego pensando se o game estaria tão redondinho quanto está hoje.
Bem, antes de continuar, acho que vale a pena constatar que esta já é a quarta vez que venho dar as minhas impressões em torno do título. Para aqueles que quiserem saber mais sobre os episódios anteriores recomendo a leitura dos seguintes artigos:
- Prólogo & Paris | Vista-se e venha para o mundo do assassinato!
- Episódio 2 | Um fim de semana em Sapienza, na Itália!
- Hitman | Episódios 3 & 4! (Marraquexe & Bancoque)
Quanto aos últimos episódios, vamos lá!
Episódio 5 – Colorado (EUA)
Um dia de fazenda e lidando com terroristas
No quinto episódio os jogadores são transportados para uma imensa fazenda no Colorado, Estados Unidos. Aqui, o cenário é um tanto mais contido e restrito do que alguns dos episódios anteriores, como Sapienza na Itália – que acabou-se configurando como o melhor de todo este arco de lugares e missões.
A principal diferença deste para os demais episódios diz respeito a quantidade de alvos a serem assassinados. Desta vez não são dois, mas quatro alvos a serem eliminados. Fora que quase toda a área do episódio é restrita, ou seja, o jogador precisa andar disfarçado sempre. E dentro desta área, tal como qualquer outra localidade há espaços ainda mais restritos, na qual apenas disfarces específicos funcionam para não ser detectado como um intruso.
Entretanto esse aspecto engana um pouco o jogador. Inicialmente achei que este seria um dos episódios mais difíceis dentre os episódios anteriores. Ledo engano. Na verdade achei um dos mais fáceis. Sabendo entrar inicialmente na fazenda, o resto se desenrola naturalmente.
As oportunidades dentro deste capítulo são bem tranquilas, havendo até mesmo uma situação na qual matei dois alvos em um único acidente planejado. Em outra situação, um dos alvos simplesmente apareceu em um dos galpões na qual estava apenas investigando.
O mais difícil nesse cenário foi entrar dentro da casa e descobrir a grande conspiração do game. Porém imagino que foi apenas uma dificuldade meio condicionada a forma como jogo, já que fiquei meio apreensivo em não se descoberto depois de ter assassinado todos os alvos. Ainda que essa seja uma apreensão meio boba, pois os salvamentos e checkpoins do game são generosos, e sempre faço os salvamentos manuais para precaver burradas inesperadas.
Quanto ao clima do episódio, apesar de clichê, o tema de alvos que estão planejando uma missão terrorista é bem ambientada. A infiltração acaba sendo bem imersiva, especialmente em um cenário onde me vi treinando para um ataque, como agente infiltrado, enquanto esperava a aproximação dos alvos próxima a área de treinamento que simulava o atentado. É um episódio que tem muito dessa paranoia norte americana. Senti como um episódio da série 24 Horas, porém sem o Jack Bauer.
Episódio 6 – Hokkaido (Japão)
Um dia de exames médicos no oriente e um cirurgia experimental
O último episódio da temporada leva as regras de games de stealth ao máximo. A missão é se infiltrar em uma instalação hospitalar em uma montanha em Hokkaido no Japão, e assassinar os dois últimos alvos que irão colocar um fim a uma das narrativas apresentadas após a conspiração levantada ao final do episódio 4.
O grande lance aqui são as regras da missão: o Agente 47 não pode iniciar a missão portando nenhuma arma ou apetrecho de espião. O jogador começa de mãos vazias. O hospital também é severamente vigiado por uma inteligência artificial, que trava todas as portas na qual o jogador não tenha permissão, que só é dada através de disfarces bem específicos. Além disso, qualquer objeto que apresente perigo visível nas mãos do Agente 47 vai ser considerado suspeito por qualquer um dentro do hospital.
Outro grande desafio dentro deste episódio é conseguir disfarces. Me encontrei em algumas situações a quais tive que derrubar alguém, roubar suas roupas e sair correndo antes que alguém me perseguisse, pois muitas vezes o crime era percebido por pacientes ou médicos do hospital, ainda que estes não conseguissem me identificar e assim arruinarem o disfarce.
A sensação de jogo no capítulo de Hokkaido é bem diferente dos demais episódios. Há todo o clima oriental, pois ainda que ele não passe em uma área externa típica do Japão, o hospital tem aquela atmosfera da região. Os NPCs reverenciam ao cumprimentar, a cozinha é típica japonesa, o jardim tem as tradicionais árvores com sakuras caindo no chão e assim por diante. A visão então da montanha e da vila abaixo desse hospital que beira um penhasco é sensacional.
Sem armas ou aparatos de espião o jogo realmente obriga o jogador a seguir oportunidades e ser inventivo. Me disfarcei de paciente sujeito a uma cirurgia plástica, de piloto de helicóptero, de médico, de cozinheiro. Foi um dos capítulos que mais troquei de disfarce e sem ser descoberto. Bem diferente do papelão que foi a minha experiência no capítulo 4 em Bancoque dentro de um hotel de luxo.
Chegar até um dos alvos, que estava ali para uma cirurgia experimental foi um dos maiores desafios, já que ele se encontrava em uma área isolada do hospital e fortemente protegido. Mexer com alguns dos experimentos do hospital foi satisfatório, mas no fim, acabei eu mesmo decidindo operar meu alvo. E já dá para imaginar o resultado, certo?
Ao fim dá para classificar o sexto episódio como o segundo melhor episódio desta temporada, perdendo apenas para a incrível Sapienza. Depois, indo por essa ordem, diria que Marraquexe e Paris são os próximos desse ranking, ficando no meio e deixando assim, Colorado e Bancoque como os meus episódios menos favoritos.
Impressões derradeiras de uma temporada completa
Termino esta saga de Hitman de forma positiva, pensando que se a Square Enix e a IO Interactive estiverem interessadas em uma segunda temporada, com certeza estarei lá para continuar por novas missões e contratos. Foi o primeiro game da série na qual me senti motivado a terminar, e que ainda sinto vontade de retornar para fazer missões extras e novos desafios que o pouco tempo que tenho para me dedicar a um game as vezes me impede.
E olha que joguei muito. Fiquei boquiaberto ao descobrir que meu Xbox One já cronometrou 17 horas jogando Hitman. Impressionante, não? Cada um dos episódios do modo história talvez levem 1 hora aproximadamente, porém é fácil esquecer o tempo que se passa carregando saves, voltando o gameplay, ou fazendo desafios e explorando outros modos do game. Ao fim, um game me entreteu por todo esse tempo sem dúvida posso dizer que valeu a pena. E pior que não me saciou. Quero mais Hitman!
Meu único pesar diz respeito justamente ao enredo do game. Foram seis episódios e a história mal andou. Este Hitman funciona mais ou menos como um reboot para a franquia, desconsiderando todos os antigos games de gerações passadas, ou ao menos é o que ele dá a indicar, já que o Agente 47 surge sem qualquer memória de seu passado. Nisso os jogadores que estão chegando agora se perguntam… quem é o Agente 47?
E ao fim tal resposta não aparece. Sendo que espertamente os produtores colocaram justamente isso como gancho para uma segunda temporada ou uma sequência. Se der certo a investida, e mais games da série forem desenvolvidos, a história agora vai começar a desenvolver esse mistério. O game termina sem exatamente um fim. A conspiração é revelada e o alvo final é executado, mas a animação que vem depois mostra que o Agente 47 apenas cortou um tentáculo de algo muito maior. E seu passado talvez esteja vindo para assombrá-lo.
Tudo muito legal, mas inconclusivo. Se não houver novos episódios e por consequência uma nova temporada, o jogo perde muito de sua energia. Precisa haver mais, para que a narrativa seja finalizada, caso contrário haverá uma enorme sensação de insatisfação para com esse game daqui alguns anos. Espero que muito em breve novos conteúdos possam ser anunciados. No momento tudo depende deste lançamento físico ser bem sucedido tal qual foi com a temporada do game apenas de forma digital.
Claro que deixando de lado a narrativa, e se prendendo ao desafio, a diversão que a jogabilidade e as mecânicas criam para o jogador, Hitman já é um excelente game. Há muito que explorar, muito que se fazer e é um gênero singular, na qual não existem grandes concorrentes para competir contra a franquia. Isso o torna ainda mais atraente.
Só desejo que novas adições possam vir em novos capítulos, pois o que se vê aqui são mecanismos que sempre existiram na série, sem nada que reinvente a jogabilidade. Para o futuro gostaria de que o Agente 47 conseguisse conversar com alguns NPCs que não fosse de uma forma scriptada. Por exemplo, e se ao invés de jogar uma moeda em um beco para atrair um transeunte, não poderia apenas assoviar ou chamar essa pessoa para uma conversa? Ou porque o Agente 47 não pode usar veículos como bicicletas, lambretas ou carros? Neste Hitman, em especial nos episódios em ambientes externos há locais na qual isso teria sido interessante. A interação nesse game já é grande, mas poderia ser ainda maior.
Ao fim, termino esta temporada de Hitman satisfeito. Havia um receio que ao final de tudo o jogo apresentasse uma experiência curta, repetitiva e com pouco conteúdo. Felizmente nada disso aconteceu. O jogo vale o investimento, vale a experiência. É uma renovação mais do que bem vinda a franquia, que certamente é atrativa para novos jogadores que não precisam se preocupar com cronologia ou a história dos games antigos, porém também é agradável aos veteranos da série, que podem se auto desafiar e competir pelos placares de líderes globais, além de criar contratos e novos desafios entre si. É, portanto, uma experiência realmente completa.