Shantae Half-Genie Hero | Puro encanto visual! (Impressões)
Um ano após ter escrito a análise de Shantae and the Pirate’s Curse, eis que me vejo em uma nova aventura de Shantae, a jovem heroína e protetora de Scuttle Town, que é meio humana, meio gênio (do tipo mágico, e não no sentido de super inteligente). Shantae Half-Genie Hero é o quarto título da série, pertencente e desenvolvido pelo estúdio WayForward.
Half-Genie Hero foi revelado em 2013 junto com uma campanha de financiamento coletivo no Kickstarter na qual o game conseguiu ser financiado, e com diversas metas extras obtidas. Metas estas em que algumas já estão presentes no game desde seu lançamento e outras que estão em desenvolvimento para serem lançadas em forma de DLC ao longo de 2017. Aos financiadores do Kickstarter todo esse conteúdo ainda a ser lançado será liberado gratuitamente.
Uma das principais novidades desse novo título da série Shantae foi a atualização gráfica em relação aos games anteriores. O visual retro em pixel art foi aposentado para dar lugar a um estilo mais cartunesco, remetendo ao formato desenho animado 2D, que lembra bastante o utilizado em DuckTales: Remastered (2013) e que, não por coincidência, foi feito pela WayForward.
O visual de Shantae Half-Genie Hero entretanto conseguiu ir bem além do que o remake de DuckTales conseguiu em 2013. Tudo é incrível aqui. A ambientação ao fundo, que nem sempre é estático, o cenário frontal, os efeitos de sombra, embaixo d’água, fogo, explosões etc. Tudo impecável.
Claro que mais bonito ainda são as animações dos personagens, tanto da Shantae, quanto dos NPCs e inimigos. A própria Shantae, quando o jogador não está mexendo no controle, continua se mexendo e dançando ao som da belíssima trilha sonora, outro ponto impecável do game (escute abaixo a trilha tema).
E não me leve a mal, pois eu já adorava a pixel art do game anterior, também acho os gráficos encantadores, entretanto depois de Half-Genie Hero não vejo como a franquia poderia (e nem se deveria) retornar ao estilo gráfico mais retrô. Impossível.
Novo game, retorno bem sucedido
Na análise do game anterior (link lá no primeiro parágrafo) expliquei um pouco da história da franquia, e o meu contato realizado somente a partir do terceiro game. Peço que aqueles que se interessarem por tais pontos, que deem um pulinho no texto anterior, assim não preciso repetir o que disse lá na matéria. Em resumo, este é o segundo título da franquia na qual tenho contato, ainda não tendo a oportunidade de jogar os dois primeiros games da série: Shantae (2002) e Shantae: Risky’s Revenge (2010).
Sendo assim, só posso comparar este game com The Pirate’s Curse, ainda que tenha pesquisado um pouco e meio que entendo que parte das mecânicas desse quarto game da série remete muito mais aos primeiros games da franquia do que o do terceiro game.
As transformações de Shantae em animais por exemplo é um dos elementos presentes somente nos dois primeiros games da série e que retorna de forma magnífica neste novo game. Inclusive as formas como a da macaquinha e de elefanta são lembranças do primeiro game da série e que se fazem presente neste jogo, além de muitas outras transformações, incluindo algumas inéditas.
Nesse sentido Half-Genie Hero se diferencia bastante de The Pirate’s Curse, na qual Shantae ainda possui habilidades, mas estas relacionadas ao mundo da pirataria, devido ao fato do terceiro game a protagonista ter perdido seus poderes e se aliado a sua arqui inimiga e rival, a pirata Risky Boots.
De fato achei que esta nova aventura se desenrola de uma forma bem mais dinâmica, divertida e com um melhor ritmo do que o game anterior. Me parece um título bem mais robusto, ainda que não necessariamente maior. Não que seja curto. Foram necessários aproximadamente 8 horas para terminar a campanha principal, tendo colecionado 96% de todos os itens e colecionáveis do game. E depois disso há ainda um New Game Plus, podendo recomeçar o jogo com todas as transformações, habilidades, corações e itens coletados desde o início. Modo perfeito para aqueles que curtem speedruns.
Quanto a história deste novo game, não é nada que tenha me chamado muito a atenção. Shantae está protegendo o reino, como de habitual, quando icônicos inimigos retornam para tentar ganhar o dia. Enquanto isso, seu tio está montando uma máquina que fará o trabalho de Shantae de proteger todos, mas para isso ele precisa da ajuda da jovem para conseguir as peças finais. Isso leva a um final interessante, porém que não vale a pena dar o spoiler por aqui. Tem que jogar para descobrir. Há momentos bem divertidos e até engraçados em meio a tais situações.
Na semana de lançamento desta análise a WayForward também está lançando o primeiro update do game, incluindo um novo modo de jogo chamado Hard Core Mode, que tal como o nome diz trará uma campanha com uma dificuldade ainda mais elevada, para aqueles que gostam de um desafio maior, colocando inimigos mais fortes, em maiores números e em novas localidades. Pobre, Shantae!
Aventura, plataforma e vai e vem
Em um contexto geral Shantae Half-Genie Hero segue bastante a fórmula já consagrada da franquia. Trata-se de um game de aventura, plataforma side-scrolling com alguns elementos que remetem a Mega Man e jogos no estilo metrodvania.
Isso significa que o game não tem um modelo linear de progressão, com o jogador passando uma fase e indo para a seguinte e assim sucessivamente. Nada disso. Os estágios do jogo foram criados pensando na obrigatoriedade do jogador ter que retornar para fases já vencidas mais algumas vezes.
Há áreas e segredos em todos os estágios do game, na qual o jogador só conseguirá acessar quando retornar ao mesmo, após ter liberado algumas das transformações necessárias para chegar até determinado seguimento ou destruir alguma barreira que impeça a progressão.
Nesse sentido lembra muito os bons tempos de Mega Man X, em áreas na qual o jogador só conseguia acesso após ter conseguido uma nova parte da armadura secreta ou destravado alguma arma específica de chefe do estágio. E tal como Mega Man, as fases de Shantae também sofrem leves alterações a partir da segunda vez que o jogador a visita, já que a protagonista resolve parte do problema de cada área ao vencer a área pela primeira vez.
Um por exemplo é a área da fase da fábrica de sereias, na qual a primeira vez o jogador encontrará sereias penduradas e sendo “fabricadas” (isso mesmo) e ao retornar ao estágio a fabrica não tem mais essa linha de montagem sendo processada.
No sentido de ser um game que puxe um lado meio metroidvania… não acho que chegue a tanto. O jogador não fica exatamente passando pelas mesmas áreas sem precisar. O retorno aos estágios não é tão tortuoso quanto um game metroidvania pode vir a ser. Há recursos até mesmo de fast travel (viagem rápida) já que as fases são divididas em três segmentos e, se o jogador quer algo no terceiro segmento existe ainda a possibilidade de pular os segmentos iniciais de determinado fase utilizando uma das habilidades (dancinhas) que a Shantae adquire ao longo da campanha.
Esse tipo de opção (pular trechos) ocorre mais quando há alguma necessidade de retornar a algum estágio em uma terceira ou quarta vez, ao perceber que deixou algo para trás quando jogou pela segunda vez. Entretanto no geral, a estrutura das fases de Half-Genie Hero são tão bem feitas que voltar uma, duas ou três vezes acaba sendo divertido ao ter conseguido novas transformações e perceber que há novas maneiras de vencer alguns dos desafios propostos em certas fases.
Minha única crítica em relação a campanha como um todo é que houve um ou dois momentos em que me senti travado, sem ter a certeza real de aonde deveria retornar e o que deveria pegar para continuar a história, já que retornar é um requisito obrigatório para avançar.
Há um ou dois momentos em que o jogo faz uma espécie de mistério. — Vá naquela área e naquela outra também, pois talvez haja algo que possa lhe ajudar, sem dizer o quê ou as vezes com quem devo conversar. Aí na duas vezes em que isso aconteceu, o jeito foi revisitar tudo, pois estava com a impressão de que havia deixado algo para trás (e de fato em uma das vezes tinha mesmo).
Nesse caso uma boa dica é falar com todos da vila central do game, uma área que funciona como Hub, onde Shantae pode comprar itens e falar com todos. E estes normalmente dão as dicas para aonde ir caso não esteja muito claro.
Pura magia!
No geral Shantae Half-Genie Hero é um game de pouquíssimos defeitos. É um jogo que tem pique, que compele o jogador a continuar jogando, sem se sentir cansado ou enjoado. É um game que progride fabulosamente bem, sempre apresentando uma mecânica nova, um segredo que dá a sensação de ser recompensado por continuar jogando a aventura.
Ao público brasileiro só é uma tremenda pena o game não ter qualquer tipo de localização em nosso idioma. Nem mesmo legendas em português. E olha que tive a sensação de que o jogo não tem tanto texto quanto The Pirate’s Curse possui. Não significa que o inglês acabe sendo uma barreira intransponível para os jogadores. Não é. Os diálogos em texto colocam as palavras chaves em cores diferenciadas, então os jogadores mais atentos vão entender o que está sendo pedido ou indicado, mesmo que não saibam muito bem inglês.
O retorno das transformações também merece elogios, pois é graças a esse recurso de jogabilidade que dá asas ao jogador (metaforicamente e literalmente). Shantae escala, nada, voa, quebra paredes, anda de ponta cabeça quando se transforma em algo. Uma das últimas transformações do game, um ratinho, apresenta um novo recurso de jogabilidade na qual o jogador sequer nota ao longo da campanha e que estava no cenário todo tempo. É sensacional.
Há, por último mas não menos importante, que se elogiar as batalhas contra os chefes do game. O visual gráfico somado a grandeza de escala destas batalhas traz como resultado algo memorável. Em alguns casos até me deixaram de queixo caído, como o chefe do estádio da corrida de tapete, que sequer tive coragem de fazer uma captura de tela porque é muito mais legal que alguém que vá jogar o game e descubra por si próprio como é e como a luta progride nesse segmento.
Shantae Half-Genie Hero cheira como um daqueles clássicos da era de ouro dos games de plataforma, porém soube inovar e renovar mecânicas, elementos, gráficos e jogabilidade ao que os indie games modernos de hoje em dia fazem. É encantador, sabe ser desafiador (mesmo na modalidade normal) e a sensação é de puro êxtase ao progredir em sua aventura. Há um charme impossível de se resistir.
Mais três clipes de gameplay! (divulgados pelas redes sociais do site)
Mais imagens
Gostei da analise e das imagens, tem 3 títulos na Steam, o primeiro, acho, ficou somente para os consoles?
Na verdade o Shantae (2002) é uma pérola perdida do Game Boy Color. Um jogaço, embora eu ainda não tenha tido tempo pra jogar até o final. Tem na Store do 3DS (e nos emuladores marotos né, claro ;D)
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Muito boa a análise! Por um lado eu achava o estilo fake-16 bit de Pirate’s Curse mais carismático que essa roupagem HD, mas por outro as animações são tão lindas que fica difícil reclamar. O retorno das transformações é sensacional, adoro essas mecânicas desde Wonder Boy 3 (Turma da Mônica: O Resgate, na verdade, mas tá valendo né hahaha)!
Ainda não fechei nenhum jogo dessa franquia, apesar de curtir pra caramba! Essa análise me fez querer subir o Pirate’s Curse na prioridade da pilha de jogos!
Muito obrigado! 🙂