Enter The Gungeon | Venha para morrer no Balabirinto! (Impressões)

Já faz um pouco mais de uma semana que estou preso na entrada do Balabirinto. Este lugar exótico, composto de 5 câmaras mortais (e mais três – até onde sei – secretas) na qual todos os inimigos são variações de munições ou possuem grande poder de fogo. Meu objetivo é construir uma bala que pode matar o meu passado. Sim, é isso mesmo! Bem vindo a Enter The Gungeon, título desenvolvido pela Dodge Roll e distribuído pela Devolver Digital.

A grande parada é que sobreviver para chegar ao final do Balabirinto não é algo fácil. Talvez você vá perceber vídeos no You Tube com jogadores encerrando o game em menos de duas horas. Bem, dá para fazer isso depois que você já tiver dezenas de horas de jogo e ter destravado quase tudo que ele tem para lhe auxiliar na tarefa de vencer o Balabirinto em tal tempo.

Isso porque Enter The Gungeon é um título roguelike com dungeon crawl. Termos complicados? Eu também vivo esquecendo ou me confundindo as vezes. Te ajudo a entender, vamos lá: roguelike significa que o game tem um sistema que gera aleatoriamente certos elementos, enquanto o jogador precisa desbravar uma masmorra (uma dungeon) em formato de labirinto que nunca é exatamente igual ao se recomeçar a partida, impedindo o jogador de lembrar o caminho, pegar os mesmos baús com os mesmos itens, encontrar os mesmos inimigos ou reconhecer padrões maiores a não ser uma ou outra sala de uma jogada anterior. O termo crawl aqui tem sentido de que o jogador terá que caçar itens aleatórios e investir em loot (recompensa) para conseguir avançar através da progressão do game, que fica mais difícil conforme mais fundo o jogador conseguir ir dentro do labirinto. E, claro, morreu é Game Over, sem segunda chance ou continues.

Para avançar, é preciso perseverar

Não vou mentir, não joguei tanto quanto gostaria de ter jogado Enter the Gungeon. Foram aproximadas setes horas ao longo dessa última semana com uma certa febre viciante com o game, e é bem verdade que se não houvesse outros títulos no meu backlog para dar uma olhada e escrever reviews por aqui eu poderia facilmente me pegar jogando Gungeon por mais algumas dezenas de horas, e ainda assim não me dar por satisfeito, querendo descobrir mais, destravar mais coisas.

Sinto que joguei o suficiente para entender suas mecânicas, para ver seus pontos fortes e pontos fracos. A bem verdade é que boa parte dos jogadores não vão conseguir encerrar o game, não a menos que invistam muitas horas jogando-o para destravar certos elementos dentro do game ou sejam realmente bons em jogos de tiros isométricos com pegada bullet hell (aquele jogo que enche a tela de tiros e o jogador tem um tempo e trilha muito exata e precisa para desviar).

Quer alguns dados para provar o que eu disse acima? Segundo as estatísticas de conquistas do Xbox One (na data em que publico este review), menos de 6% dos jogadores que adquiriram o game terminaram a quinta masmorra do game (a sexta é secreta), enquanto que a bala que pode matar o passado só foi obtida por menos de 4% dos jogadores. Ou seja, Enter The Gungeon não é um game fácil de ser fechado. Ele foi feito para fazer o jogador gastar dezenas de horas até ficar realmente profissional diante dos desafios em que ele apresenta ou parar quando já se der por satisfeito.

E de uma certa forma funciona. Mesmo passando boa parte das horas inicias preso entre as três primeiras câmeras – que foi só até onde conseguir chegar – o jogo proporciona muita coisa nova constantemente. Inimigos, armas e até mesmo batalhas contra chefes. Segredos acabam sendo descobertos e mais e mais acessível o game vai ficando. O problema é que mesmo assim ainda há que se contar com um pouco de sorte de encontrar certos itens que vão facilitar continuar indo adiante.

Claro que este é um gênero que o jogador tem que gostar de verdade. Repetição faz parte do DNA de games assim. Após algumas horas você estará reconhecendo salas, sabendo como usar certas armas, e como ativar certos segredos do game. Mesmo que o sistema apresente uma coisa nova, seja uma arma ou um inimigo novo, com o passar das horas o jogador verá e experimentará muito daquilo que já fez previamente no título. A diferença é que isso fará o jogador perceber que está jogando melhor, desviando e atacando melhor, tendo maestria para com desafios anteriormente enfrentados.

Perseverar é o elemento chave para dominar Enter the Gungeon. O Balabirinto é cruel, mas não é impossível de ser vencido. Invista horas, pratique a defesa, domine melhores formas de atacar e descubra todos os segredos, armas e NPCs escondidos pelo game. É assim que o jogo irá lhe permitir avançar.

Você não está sozinho!

Antes de entrar no Balabirinto existe esse lugar chamado A Fenda. É basicamente o Hub Central do game. Aqui o jogador irá encontrar algumas opções de personagens para serem usados no game e após as primeiras investidas dentro do Balabirinto, perceberá que existem NPCs perdidos dentro das masmorras que precisam ser resgatados ou encontrados para que estes retornem A Fenda e lhe auxiliem na tarefa de vencer o game.

Estes NPCs são uma das principais formas de progredir no game. Alguns terão a função de vendedores de itens raros, outros lhe darão desafios que também valem recompensas importantes e um dos NPCs mais interessantes é aquele que promete fazer o jogador cortar caminho pelo Balabirinto, porém será necessário recolher certos itens e cumprir certos requisitos (que não são tão fáceis assim).

Tão importantes estes personagens são que o ideal é que, ao encontrar um dentro de uma masmorra, o jogador priorize meios de soltá-los (caso estejam presos) para que eles possam voltar a Fenda e serem destravados dentro do game. Não os deixe para trás querendo vencer um andar da masmorra porque está com uma boa arma. Não vale a pena!

Outra boa maneira de avançar em Enter the Gungeon é chamar um amigo para lhe ajudar. O game possui um modo cooperativo local para um segundo jogador. É uma pena não ter uma modalidade online, pois seria bacana pode jogar dessa forma também.

Com dois jogadores (limite máximo de tal modo) as coisas ficam relativamente mais fáceis. Principalmente nas batalhas contra os chefes do game. Há que se atentar somente que em certas salas existe aquele clássico problema de jogadores longe um do outro poderem prender a tela do game, deixando inimigos escondidos, fora que um jogador sempre acaba ficando desamparado por conta disso, sendo atacado por um inimigo que o encurralou ou não conseguindo pular direito sobre algum buraco.

Caso um jogador morra ele irá se tornar um fantasma, podendo ajudar o outro jogador vivo com um pequeno ataque que o faz explodir sua áurea. Após isso leva-se um certo tempo para ser recarregado tal ataque. O problema é que com um jogador morto um baú encontrado sempre será um restaurador de vida desse amigo falecido, ao invés de dar um arma ou item importante para progredir no game.

Acaba sendo importante que um aliado não morra demais. Brinquei um pouco com esse modo com o meu pequeno de 4 anos, então ele morria constantemente, se divertindo sendo um fantasma (assim ele não prendia a minha tela e não recebia dado dos inimigos). O problema é que assim todo baú que encontrávamos acabava restaurando sua vida e nunca me dando uma arma. O game poderia me deixar escolher – restaurar um companheiro ou me dar uma arma – ou de repente dar as duas coisas, já que o parceiro morto sempre vai surgir com sua arma básica, enquanto o que se mantém vivo vai se fortalecendo naturalmente.

Resta comentar sobre os personagens jogáveis disponíveis para o jogador. No início o jogo apresenta 4 personagens básicos: o Soldado, o Piloto, a Condenada e a Caçadora. Cada um com armas e habilidades específicas. O Soldado começa com um escudo, a Caçadora tem um cachorro que encontra itens, o Piloto tem descontos no mercadinho que tem em cada andar do Balabirinto, a Condenada causa dano em dobro ao tomar dano etc. E isso são só exemplos, pois há outras características únicas para cada um destes personagens. Alguns inclusive iniciam com duas armas, enquanto outros possuem itens ativos e passivos exclusivos (ao menos inicialmente).

Existe ainda um personagem exclusivo para o modo cooperativo, sendo que o segundo jogador só pode jogar com esse personagem, o que achei meio restritivo, mas tudo bem. Ah e… olha só… segredinho… há também dois personagens secretos que podem ser destravados quando o jogador conseguir avançar bem mais a fundo dentro do Balabirinto, só para você saber.

Aposte sua vida para ter itens e armas!

Sobreviver em Enter The Gungeon é importante, mas mais importante do que sobreviver é armar-se até os dentes! Nem que para isso seja necessário arriscar um pouco da sua barra de vida, compostas de pequenos corações em formato de duas balas.

Digo isso porque explorar as masmorras atrás de baús talvez seja mais importante do que simplesmente encontrar a saída do lugar. Na saída há sempre um chefe, que você nunca sabe qual será. O jogador sempre irá começar o game com uma arma que tem munição infinita e essa é uma boa arma para se virar contra os inimigos das duas primeiras câmaras (como são chamadas as masmorras no game) e normalmente funciona contra o primeiro chefe, entretanto depois disso, ter armas mais poderosas é o que torna tudo menos frustrante e mais acessível.

E aqui há um dos problemas que o game possui: ter sorte de encontrar bons itens logo nas primeiras masmorras. Enter The Gungeon não facilita em nada a vida do jogador. Os baús são divididos em cores (sendo que marrons, os mais comuns, tem chances menores de sair algo realmente bom) e todos possuem cadeados. Ter chaves é essencial, pois achar um baú, não ter uma chave e ir para o mercadinho para comprar uma chave fará o baú ser pilhado antes que você tenha tempo de voltar até ele.

Chave são raras, pois caem de inimigos aleatoriamente nos combates, além de terem um ou duas à venda nos mercadinhos. E dinheiro não é algo na qual o jogador tem de sobra durante as partidas. De fato acaba sempre faltando grana para o que se quer realmente gastar. E atenção: todo jogador entra no Balabirinto com uma chave, use-a com sabedoria nesse primeiro momento.

Nos baús pode haver armas ou itens, que podem ser passivos ou ativos. Itens ativos são aqueles que o jogador escolhe o momento de usar, como um coração que restaura a vida de um companheiro em cooperativo, ou armas como coquetéis molotov ou bombas que podem ser arremessada nos inimigos. Alguns itens ativos são ilimitados, possuindo um tempo para serem recarregados ou limitados, sumindo após serem utilizados uma única vez.

Melhor do que itens ativos são os itens passivos. São aqueles que dão habilidades perpétuas ao jogador, ao menos enquanto ele não morrer e recomeçar tudo de novo do zero. São itens que podem aumentar a chance de caírem mais chaves de inimigos, aumentar o poder de ataque ou defesa, itens que direcionam o jogador para a saída do labirinto, que dão um coração a mais, que fazem o loot dos baús serem melhores ou que aprimora sua arma básica e assim por diante. Pra mim, estes são os itens mais úteis do game, quando se encontra bons itens passivos, claro.

Quanto as armas, estão são as mais malucas possíveis. E Enter the Gungeon tem toneladas delas (esse número deve se aproximar de cem tipos, não tive coragem de contar). Há armas ruins, armas boas, armas bizarras e malucas e também armas apelonas. Tem armas que atiram camisetas e arco-íris, armas que disparam lasers e cantam ao serem recarregadas. Armas que ricocheteiam em tudo quanto lugar e armas que matam com um único tiro os inimigos mais básicos. Há armas que podem ser carregadas para um tiro potente, como uma que arremessa bigornas ou outra que basicamente é a Mega Buster de Mega Man. Enfim, há armas para todos os gostos e fregueses, só é preciso dar sorte de encontrar uma que lhe agrade, e de preferência logo nas primeiras duas masmorras iniciais.

E justamente sorte é uma dessas coisas que as vezes desanima o jogador caso ela não venha em boa frequência. Depois de algumas partidas do game na qual não se consegue nada bom é normal querer desistir. E isso aconteceu comigo algumas vezes.

Acho chato que não posso montar meu kit de aventureiro antes de entrar no Balabirinto. Tudo é destravado no guia do explorador ao se conseguir pela primeira vez dentro do Balabirinto. Novos itens em vendas e missões cumpridas na Fenda são destravados para serem encontrados dentro das masmorras. Mas ser destravado e conseguir encontrar são coisas bem diferentes.

Entendo, claro, que certos itens e armas não podem ser parte de um set inicial do jogador, mas deveriam ter algumas opções ao menos, e não apenas o set dos quatro personagens jogáveis. Isso tornaria a experiência inicial dentro das primeiras horas, na qual o jogador ainda está descobrindo segredos, mais saborosa e diversificada.

É normal se sentir cansado e até frustrado quando tais elementos não lhe favorecem dentro de um certo número de partidas e mortes. Aí não tem jeito, é parar de jogar, descansar e voltar uma outra hora, quando o ânimo retornar.

Considerações finais

Sinto que poderia falar muito mais sobre Enter The Gungeon, porém não quero alongar mais do que o necessário. A verdade é que o título ainda tem diversos segredos e descobrir alguns destes faz parte da graça de suas horas iniciais.

Porém acredito que um destes segredos vale a pena ser revelado aqui. Diz respeito ao NPC que promete consertar o elevador e assim criar atalhos entre as masmorras. Depois de encontrá-lo dentro do game, ele vai para a Fenda e conversa com o jogador dizendo que deve encontrá-lo novamente dentro do Balabirinto.

Isso me deixou confuso, e ao pesquisar a respeito vi que outros jogadores tiveram o mesmo problema de saber onde reencontrá-lo. Esse NPC fica escondido dentro do buraco na qual o elevador dá acesso ao jogador a partir da segunda câmara. Desça dele, espere-o subir e aí caia nesse buraco. Lá está o NPC que lhe pedirá alguns itens para abrir os atalhos entre as masmorras. Dica dada!

O que posso dizer ao final destas impressões é que Enter The Gungeon me surpreendeu bastante. Descobri o título através da recomendação de um leitor do site – obrigado José Saraiva – e fiquei realmente impressionado com o game. O jogo é viciante a ponto de ter que saber segurar a vontade de passar horas e horas jogando somente ele. Querendo ver todas as armas, todos os tipos de inimigos e descobrir seus muitos segredos.

Os inimigos são os mais diversificados possíveis, fora que a direção de arte destes personagens é impecável. Há uma variedade enorme, são designs super criativos e as vezes até surreais. O fato de tudo ser procedural acaba criando misturas interessante de salas e inesperados inimigos, me surpreendendo constantemente.

As batalhas de chefes estão são um show à parte. Épicas e assustadoras em seus primeiros confrontos com novos chefes. E o game tem uma galeria enorme de chefes, uns secretos, outros que só vão surgir nas câmaras mais difíceis. O game dá acesso, mas sem mostrar, o número de inimigos, itens, armas e chefes existentes dentro de Enter the Gungeon e é um menu absurdamente grande. E esse arquivo de dados é um grande estímulo para querer descobrir 100% de tudo que o jogo tem a oferecer.

Algo que merece muito ser elogiado é a localização do game para o português brasileiro. O título não tem áudio, os personagens não possuem voz, tudo ocorre via texto e todos estes estão em bom português. Bem traduzido, com boas piadas e excelentes diálogos. Tudo está em nossa língua incluindo esse banco de dados mencionado acima, na qual há a história de todos os chefes, inimigos, armas e itens (sim, estes últimos possuem descrições que dizem o que fazem e também a história por trás de cada artefato encontrado dentro do Balabirinto).

Existe desafio, a ambientação é imersiva, há variedade dentro do combate, dos itens que modificam o poder de ataque e reação do jogador, boa trilha de som (os efeitos sonoro das armas merecem um elogio extra à parte, porque são fantásticos), há uma boa história, ótima localização, modo cooperativo e rende dezenas de horas de gameplay fácil fácil. Não é todo dia que se acha um indie game roguelike tão rico de conteúdo assim. Louvável. Vale seu preço cobrado em todas as plataformas já lançadas (e em breve deve chegar também ao Nintendo Switch) com toda certeza.

Venha para morrer no Balabirinto, mas talvez você seja um dos poucos que conseguirá vencê-lo!

Galeria de imagens

Altamente viciante diante de sua proposta
Robusto (muitas armas, itens, inimigos, chefes, desafios)
Pixel art encantadora e bem detalhista
Desafiador, porém aposta em progredir pela repetição
Excelente controles, mecânicas e jogabilidade de combate
Impecável localização em português (legendado)
Segredos que motivam a continuar explorando

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