Call of Duty: Black Ops III | A graphic novel que veio antes do game (Impressões)
Tenho que admito que ando curtindo muito os quadrinhos que a Editora Pixel tem lançado nos últimos meses aqui no Brasil. Em particular aqueles baseado em franquias famosas de videogames. Adoro os dois volumes da Graphic Novel baseado no universo de The Witcher (A Casa de Vidro e Os Filhos da Raposa), curti muito ter lido Mirror’s Edge Exordium com a história que precedeu o game lançado ano passado (e que também é ótimo) e, mesmo com alguns pontos negativos graves, sigo aguardando novas publicações do universo dos quadrinhos de Plants vs Zombies pela editora – quem sabe futuramente isso aconteça.
E eis que recentemente tive a oportunidade de ler outro título dessa linha da editora, a prequel de Call of Duty: Black Ops III, graphic novel que chegou ao nosso mercado meio que com considerável atraso em relação ao game que se baseia. Veja bem, o game é de 2015, lá fora a HQ saiu junto com o jogo (já que a história se passa antes do game), porém aqui no Brasil acabou chegando somente em dezembro do ano passado. Um ano é bastante coisa, certo? Felizmente não é algo que estrague realmente a leitura da HQ.
É até legal que a história tenha sido lançada. Melhor do que se não tivesse. Ao menos é o que acredito que os fãs de Call of Duty pensem. Eu, por exemplo, sou muito frustrado que alguns livros e quadrinhos de Gears of Wars até hoje não tenham sido lançados no Brasil, e mesmo sabendo que a janela de oportunidade destes títulos tenham se perdido no tempo ainda sonho com a possibilidade de que alguma editora os traga algum dia, especialmente porque a franquia em si ainda vai gerar novos games no futuro.
Porém vale elogiar a Editora Pixel pelo fato dela estar mais atenta as janelas de tais títulos. A graphic novel de Mirror’s Edge mencionada acima chegou ao nosso mercado bem próximo ao lançamento do game. O livro, que ainda não pude colocar minhas mãos (infelizmente) de Mass Effect Andromeda que a Pixel recém lançou também chegou junto com o lançamento do game. Isso mostra que a editora está antenada, lançado as novidades, enquanto também corre atrás de bons materiais que ficaram no passado.
Enfim, indo adiante, o que posso dizer a respeito da Graphic Novel de Black Ops III é que me senti dentro do universo do game. É bem diferente de uma HQ de super herói alias. Na capa tem um aviso que diz “contém cenas de violência” e o alerta não é brincadeira. Sendo uma história de guerra há mocinhos e bandidos morrendo a torto e reto dentro da história, e nem sempre em cenas comportadinhas e matança feitas de forma disfarçadas. Cabeças estouram e miolos explodem dentro do estilo gráfico da história.
Não é então um produto para crianças, que isso fique bem claro. Tal como Call of Duty também é bem agressivo em sua violência e também não é indicado ao público mais novinho. Sendo que criança não é a mesma coisa que jovem, já que estes a gente sabe que aguentam um pouco mais, e verdade seja dita, são grande parte do público que joga Call of Duty.
Gostaria de poder comparar a história da graphic novel com os eventos do game, mas sendo bem sincero, apesar de ter jogado um pouco Black Ops III, não me lembro de praticamente nada a respeito do universo e de seus personagens. Um game por ano, cada um com sua própria gama de personagens e universo é realmente um desafio a minha memória. Normalmente Call of Duty pra mim são campanhas com momentos épicos de explosões, missões e veículos em situações malucas e de multiplayer com outras pessoas. É difícil um conto de guerra me pegar e conquista a ponto do meu cérebro guardar sua história.
Dito isso, a HQ é bem legal mesmo. É bem provável que eu não a esqueça, já que nesse cenário não estou jogando, mas apenas sendo guiado pela narrativa dos quadrinhos. Ainda que se você me perguntar o nome dos soldados da Black Ops presente na HQ eu não vá saber dizer sem ter que ir olhar dentro da revista. O que significa que gostei bem mais da aventura em si do que seus personagens.
Até porque bem pouco da história e background dos personagens é dado na história. A sniper (a loira da imagem acima) que entra no meio da aventura é a única que tem um passado revelado (e é uma das personagens mais legais da HQ, eu deveria me lembrar de seu nome… hum). O conto aqui é de uma elite de soldados atrás de uma organização liderada, supostamente, por uma mulher de cabelos vermelhos.
Não vou dar muitos detalhes a respeito dessa mulher porque há um plot twist no meio da HQ que envolve sua identidade, e porque a história em si também não especifica direito quem diabos ela é. O final sequer é um final, mas um gancho para o game em si. Uma proposta em si se encerra, mas todo o palco da guerra, não.
O barato mesmo da Graphic Novel é a ação desenfreada. Cada capítulo do encadernado traz os soldados em operação em algum lugar do planeta, perseguindo uma vilão que está sempre um passo à frente. Soldados da equipe morrem e são substituídos ao longo da aventura. Não dá muito bem para sentir a perda desses personagens, ainda que isso acabe dando ritmo a história, tornado-a mais crível dentro do universo da série.
Sem mencionar que a arte de Marcelo Ferreira para a HQ está incrível. Os cenários e ambientes são super detalhados, as silhuetas dos personagens não possuem aquelas formas anatômicas que as vezes parecem absurdas em HQs de super heróis, e toda a ação é muito bem expressiva, dosando violência e humor característico de uma boa história de guerra.
A HQ também é cheio de expressões do meio militar, o que rende várias notas de rodapé explicando táticas de guerra e significa de inúmeras siglas e abreviações. Não são informações meio úteis ao dia a dia, mas quem gosta desse universo de guerra, vai se sentir em casa.
Existem muitos balões de diálogos, porque os personagens conversam o tempo todo, então não é uma graphic novel cheio de páginas sem fala apenas com explosões. Ainda que, mesmo com muitas falas, todo o contexto geral da história seja meio confuso com ao leitor que não esteja habituado com o universo de Black Ops, especialmente se não jogou nenhum dos games da série.
Nesse sentido achei que o encadernado, que é uma produção da Dark Horse, fica devendo uma espécie de apresentação ou introdução ao mundo de Black Ops III, talvez um texto do estúdio que produziu os games, ou algum aperitivo extra, como ocorre em outros encadernados que a Pixel já lançou no passado. A HQ mesmo de Mirror’s Edge traz uma incrível entrevista com os criadores do game. Nesse sentido o encadernado prequel de Black Ops III ficou devendo algo nessa direção.
Por fim, encerrando por aqui, acho que vale dizer que o comandante que se faz presente na HQ aparece no game, enquanto outros personagens da HQ são apenas mencionados. É aquele tipo de prequel que não se faz obrigatória para entender o game, então não amarra muito as coisas. Dá para ler de medo e se divertir com a ação, os personagens apresentados e com esse contexto deste gênero de história.
Indicado para quem curte Call of Duty e esse gênero de guerra moderna, mas sem soar futurista demais. Nesse sentido a história é bem pé no chão. Nada de robôs, máquinas voadoras ou drones malucos. Apesar da série se passar em um futuro próximo e o game tirar proveito disso, a HQ é bem mais pé no chão, se atentando mais aos soldados e suas armas invadindo locais com bandidos usando táticas clássicas de guerra ou em perseguição ou fugindo usando veículos tradicionais. Vale conferir.
— Apesar de ter sido lançado em dezembro do ano passado, ainda é possível achar a graphic novel em livrarias e em lojas online. No momento em que publico este texto o encadernado se encontra disponível na Amazon Br.