Broken Age é um jogo que a primeira vista chama muito a atenção por sua arte, mas que talvez por ser um adventure point-and-click algumas pessoas podem evitá-lo. O que pode acabar sendo um grande erro, e não me entendam mal, compreendo perfeitamente a raiva que alguns alimentam pelo gênero. Eu mesmo era um desses que abominava, mas chega um momento em nossas vidas que você começa a questionar o porque de pessoas como Tim Schafer ser tão admirado no meio gamer.
Schafer é um designer famoso por grandes clássicos adventure point and click como Grim Fandango, Maniac Mansion, Full Throtle e Secret of Monkey Island, e esses são só apenas alguns de seus trabalhos dos tempos de Lucas Art. Lá em 2000 ele criou o Double Fine Productions, e ali nasceu jogos como Costume Quest, Brutal Legends e Broken Age, onde o mesmo atua como diretor e roteirista.
Mas no caso de Broken Age, o jogo pra ser realizado contou com uma campanha no Kickstarter onde foi muito bem recebida, pois, Tim pediu apenas 400 mil para o desenvolvimento do jogo, mas acabou arrecadando 3 milhões de dólares. Tamanho foi a confiança no trabalho de Tim.
Posso dizer que esse histórico de acertos por parte de Tim e sua equipe me incentivaram, então arregacei as mangas e decidi encarar o desafio de terminar Broken Age.
Sobre o jogo
Broken Age foi lançado pela primeira vez lá em janeiro de 2014, e foi dividido em 2 atos, sendo que o segundo ato demorou bastante pra sair, chegando só em 28 de de abril de 2015, ambos disponíveis para PC, Mac, Linux, Ouya, iOS, Android, PlayStation 4 e PlayStation Vita. – Calculadoras, Pense Bem e… Brincadeira!
Mas o que temos aqui é uma versão lançada para Xbox One que chegou recentemente a plataforma, especificamente no dia 23 de junho deste ano. O game pode ter chegado um pouco tarde no console da Microsoft, mas sem dúvida é uma rica aquisição a sua biblioteca.
O que pode ser um sinal positivo para que possamos ver no futuro outros jogos da Double Fine que continuam ausentes no Xbox One, independente do tempo em que foram lançados. Podemos dizer “que quem acredita sempre alcança“, certo? Estou na torcida para que outros jogos cheguem ao console da MS.
Dois mundos
Broken Age oferece logo de cara possibilidade de escolhermos entre dois personagens Shay e Vella, ambos com o desejo de quebrar o conformismo do ambiente que os cercam.
Vella vive em um vilarejo onde um monstro chamado Mog Chothra costumava atacar, mas o povo decidiu que era melhor sacrificar suas garotas do que enfrenta-lo. A personagem simplesmente não compreende como o seu vilarejo pode aceitar a opressão de Mog Chothra ao invés de se unirem contra o monstro, ou que até mesmo as garotas que serão sacrificadas considerem isso uma honra. Vella simplesmente decide que não vai ceder e cria um plano para enfrentar Mog Chothra e acabar com esse ciclo de mortes.
Shay, por outro lado, vive em uma espaçonave em busca de um novo planeta, pois o seu planeta natal está morrendo. E sem nada pra fazer, ele passa o dia realizando missões administradas por sua mãe. Missões que vão desde resgate em uma montanha de sorvete a uma volta rápida de cinco passos do lado de fora da nave usando traje e cachecol, e no dia seguinte encara as mesmas opções de cereais dos últimos 15 anos. Essa inércia todo acaba no momento em que Shay decide tomar uma decisão contrária ao que sua mãe havia programado, durante um salvamento, e isso o levou ao encontro de Marek, o lobo. Que assim como Mog Chothra, foi o catalisador que faltava na vida de Shay.
Arte e dublagem
Repleto de personagens carismático e uma arte incrível, me peguei inspecionando cada canto do cenário e procurando falar com todos os personagens possíveis. Broken Age se assemelha a uma tela pintada a mão, tamanho é o cuidado e detalhes do cenário. É difícil não parar por algum momento e só admirar. O 2.5D empregado funcionam e dão aquela sensação de profundidade enquanto movimentamos o personagem pelo cenário, embalado por uma trilha sonora excelente.
Não posso deixar de comentar sobre a dublagem, os designs dos personagens combinam perfeitamente com suas vozes, e os diálogos são sempre bem divertido e bem dublado, alias, o time de dublagem conta com algumas personalidades conhecidas, como: Elijah Wood, Masasa Moyo, Pendleton Ward, Jack Black, David Kaufman entre outros.
Pendleton Ward é simplesmente o criador de um dos meus desenhos favoritos de todos os tempos: Hora de Aventura. E não querendo puxar sardinha, a dublagem dele ficou realmente boa. =3
Infelizmente o jogo não conta com dublagem ou legendas em português. É possível ativar as legendas somente em inglês. E a compreensão do enredo é um dos pontos importantes do game. É preciso então ter o mínimo básico de conhecimento da língua para apreciar Broken Age.
Puzzles de arrancar o cabelo
Nem tudo é um passeio no parque em Broken Age, como todo bom point-and-click raiz, o jogo tem alguns puzzles de arrancar os cabelos na unha.
Quando enrosquei pela primeira vez em um puzzle, a primeira coisa que me veio a mente foi a de recorrer a internet, mas eu estava indo tão bem em solucioná-los que decidi insistir mais. Não queria perder aquela sensação de desafio completado, então foi preciso respirar – muito – e se controlar enquanto buscava uma solução ao conversar novamente com alguns NPCs. E por incrível que pareça, a maior parte das soluções dos puzzles estava bem minha cara, pelo menos nos que enrosquei, enquanto alguns outros eram simplesmente intuitivos, por exemplo: Preciso de uma peça para a nave, mas só tenho um diagrama desenhado no papel. E na praia existe um engenheiro. Alguns puzzles como esse terminam sendo meio óbvio a solução, e isso é o que me agradou, porque ele te força a pensar e ligar os pontos.
Falando em pontos, os puzzles finais foi um dos que me irritou muito. Não conseguia solucionar de maneira alguma, até que me dei conta de uma coisa (dica spoiler): temos dois personagens, e o jogo permite que você troque entre eles a hora que quiser. Só levei 3 dias para me dar conta da solução.
No ato 2 você precisa fazer isso com uma frequência muito maior do que no primeiro, e se você se atentar descobrirá que não é tão difícil quanto parece. Nada será tão simples ao ponto de você achar bobo, mas certamente vai ser um teste de fogo e te deixará preparado para encarar os point-and-clicks fajuto da Telltales com o desdém que eles merecem.
O segundo ato
O jogo é divido por dois atos, sendo o primeiro ato um dos mais divertidos a meu ver, enquanto o segundo ato infelizmente vai perdendo um pouco do seu ritmo a medida que você se aproxima do final.
Talvez pelo fato de qualquer jogador começar a criar muitas expectativas para o que vai acontecer em seguida, mas parece que as coisas não se desdobram na mesma velocidade do primeiro ato. Revisitar muitas vezes alguns locais pode ficar um tanto maçante, principalmente porque é o momento que você precisa lidar com os puzzles mais pedreiras do jogo.
Mas o segundo ato não é ruim, não entendam mal, só achei que ele podia ter sido muito mais grandioso e talvez até explorar alguns dos novos personagens que surgem, mas no final das contas ele termina de uma forma que talvez não vá agradar muita gente. Não sei se foi falta de grana ou pressa em terminarem o segundo ato, talvez nunca descubramos o que realmente levou a esse final não tão grandioso.
To dizendo que o final do jogo é ruim? Não! Mas tinha TUDO pra ser muito melhor.
Com tantos personagens interessantes surgindo a medida que você avança na história, fica difícil não criar uma expectativa grande quanto ao final. Quem sabe um dia eu descubra o que houve com a Faca e a Colher… eles pareciam ter uma química.
Falando em personagens, preciso ressaltar um em especifico e que sinceramente achei genial: A árvore falante.
Eu queria que tivéssemos mais coisas a se fazer envolvendo esse personagem. Nesse mundo incrível, as arvores falam e estão bem irritadas com o ser humano. O primeiro contato com ela é simplesmente muito engraçado, ainda mais quando você a encontra utilizando Shay no segundo ato, e lhe mostra o retrato de Vella, que na opinião da árvore é um monstro por que a fez vomitar. –É… quando vocês jogarem entenderão.
Conclusão
Broken Age é a minha primeira experiência com point-and-click, e posso dizer que foi bem satisfatória no final das contas, pois após a sua conclusão me senti estimulado a encarar outros jogos do gênero e até mesmo os clássicos do Tim Schafer – Como Secret of Monkey Island que foi “dado” na Live Gold alguns meses atrás.
Apesar da obra como um todo ser ótima, não é um jogo para todos. Se você procura uma aventura agradável e desafiadora, certamente Broken Age é uma excelente opção. Agora se você gosta de jogos com um ritmo mais agitado, e não tem paciência alguma pra ler ou ter que rascunhar combinações a fim de descobrir a resolução de algum puzzle, passe longe. Porém, eu recomendo vivamente que se aventurem, tenho certeza que será uma experiência gratificante e vocês passarão a enxergar o gênero point-and-click com outros olhos.
Arrivederci