Edição 1 | Leitura de Grandes Astros Batman com John Romita Jr.
De alguns anos pra cá ando tendo uma certa dificuldade para acompanhar quadrinhos de super heróis. Nem tanto os quadrinhos da Marvel, pois esta nunca teve um universo que me encantasse tanto quanto o da DC Comics (normalmente leio e sigo apenas o Homem Aranha por lá). O grande problema pra mim tem sido os inúmeros reboots e reinícios que estão sendo realizados de tempos em tempos.
Talvez haja aqueles que pintem que estes novos recomeços sejam para ajudar novos e potenciais leitores a adentrarem nesse universo. De fato isso pode acontecer, entretanto vivo me perguntando quantos atualmente conseguem se fidelizar a longo prazo com tantos arcos e sagas que se propõem a explicar e contextualizar os universo de super heróis e suas origens mais uma vez?
No caso da DC Comics, houve uma fase em minha adolescência (hoje estou com 33 anos) na qual acompanhei fervorosamente as aventuras de seu universo, não fazendo distinção de personagens ou título. Acompanhava tudo: Superman, Batman, Lanterna e a Tropa, Flash, Liga da Justiça, Titãs e assim por diante. E já nessa época me lembro de achar um saco aqueles arcos de origens que sempre saiam de tempos em tempos: “vamos contar os primeiros anos desses heróis, como eles se tornaram heróis“.
Achava um porre isso. Eu já sabia mais ou menos destas origens, destes inícios. Muitos autores sempre se propõem a contar algo diferente, algo que nunca havia sido contado, talvez até modernizando um pouco estas histórias, mas no fim, apenas queria ler as aventuras que se passavam no presente desse universo. Sempre achei um chato ficarem revisitando o passado destes heróis, exceto naqueles casos onde o passado anda de mão dadas com algum arco no presente, caso contrário sempre achei uma completa perda de tempo tais narrativas.
Eventualmente parei de ler quadrinhos de super heróis por causa disso. Cansei de ficar indo e vindo por estas origens. De ser um universo tão rico de histórias e personagens, mas ter um volume tão grande de conteúdo e sentir que boa parte dele não chegava a lugar algum. Era muito para se ler e pouco para se aproveitar. E aí quando entrou a tendência de reboots e de ficar reiniciando as revistas e ficar reapresentando estes personagens de tempos em tempos, essa linha de quadrinhos me perdeu. Mais precisamente quando surgiram Os Novos 52, na qual acompanhei apenas por alguns meses e depois desisti.
Feito essa introdução (pois queria desabafar um pouco a respeito do assunto) não significa que larguei mão dos quadrinhos de super heróis. Nada disso. De tempos em tempos pego uma ou outra revista a respeito. Acompanho algumas notícias do meio, especialmente quando fazem algo polêmico com estes personagens e também passei a adquirir com uma frequência muito maior os atuais capa duras que estão sendo lançados no mercado nacional.
Cheguei inclusive a conseguir metade da coleção de Graphic Novel da DC Comics que a Eaglemoss segue lançado aqui no Brasil. Parei porque começou a soar como uma tremenda falta de respeito o aumento no preço das edições, que inicialmente custavam 39 reais e hoje em dia estão custando 55 reais. Especialmente se for considerar que a Salvat segue lançando as edições em capa dura da Marvel mantendo os 39 reais até os dias de hoje. Uma pena, mas quem sabe um dia compre o resto dessa coleção usado mesmo, de alguém afim de se desfazer. Ou a encontre por aí em alguma promoção, pois o encalhe destas edições da DC tem sido bem alto pelo que ouço por aí…
Grandes Astros: Batman – Edição 1 (Renascimento)
Assim eis que me vejo em mãos a primeira edição de Grandes Astros: Batman lançado pela Editora Panini aqui no Brasil, segundo seu checklist em junho desse ano. Atualmente a terceira edição já pode ser encontrada à venda. O que me despertou a atenção nessa revista foi pelo fato dela ser um arco com distintos desenhos do John Romita Jr., um artista que conheço (e curto) graças as suas muitas passagens pelo universo do Homem Aranha (em especial sua fase do começo dos anos 2000 em parceria com J. Michael Straczynski). Só esse detalhe já foi suficiente para querer dar uma olhada na edição.
Cheguei a ficar preocupado com o enorme selo Renascimento na capa avisando da atual fase da DC Comics. Dê que isso comprometesse, de uma certa forma, a minha leitura por não estar seguindo essa atual fase. Felizmente, ao menos nessa revista, não há exatamente um indício do que significa essa nova fase na linha da DC.
Pra ser sincero até queria ter lido a edição 1 do Renascimento (mais precisamente esta edição), porém ela me escapou das minhas frequentes idas a banca de jornal e ainda não tive uma boa oportunidade para adquiri-la online. Infelizmente o site também não a recebeu para apreciação. Então sigo ainda sem entender exatamente do que se trata essa nova fase. Talvez eu corra atrás disso em breve. Quem sabe.
Porém o fato de Grandes Astros: Batman não se linkar exatamente com nenhum conhecimento prévio necessário para poder apreciar esta primeira edição já foi um grande alívio. Revistas de super heróis tem destas as vezes, a gente nunca sabe quando vai pegar a coisa pelo meio do caminho, e até acho que isso faz parte da diversão desse tipo de quadrinhos. Se perguntar “quando foi que eu perdi isso e onde posso encontrar mais a respeito?” faz parte e meio que gosto disso.
Até existe isso aqui. O Batman agora tem um novo parceiro que não mais se intitula um Robin. Isso é novo pra mim, mas aparentemente não é novo para quem andou acompanhando as aventuras dele nos últimos anos. A revista dá a entender que existem eventos prévios a esta HQ que ocorreram em Gotham, uma espécie de ataque (e quando é que Gotham não sofre esse tipo de coisa?). Enfim, existem estas pequenas conexões que são dadas aos leitores, mas que não tornam a edição incompreensível para aqueles que estão chegando agora. De fato é esse tipo de coisa que acaba dando vontade de voltar algumas edições e ver o que perdi.
Deixando de lado aquilo que o leitor não viu, e que dá para entender um pouco, esta primeira parte (de cinco) do arco Meu Pior Inimigo tem como proposta iniciar uma aventura do Batman com o Duas Caras em uma situação onde o morcego precisa entrar em uma espécie de caindo na estrada (road trip) com o vilão, enquanto uma recompensa é colocado sobre a cabeça do herói.
Na trama o Harvey Dent consegue, de alguma forma, entrar em contato com o Batman, pedindo por ajuda em um momento de lucidez, antes do Duas Caras voltar a tomar controle de sua mente (é interessante essa ideia de um distúrbio psicótico do Harvey tomar conta da sua mente, afinal originalmente ele era o promotor de Gotham, um cara do bem). Na mensagem Harvey diz para levá-lo para um lugar, onde lá o Batman conseguiria de uma vez por todas dar um fim no Duas Caras.
Não é algo muito claro, parece ter a ver com o passado do personagem (olha aí quando passado vem de mãos dada com a história no presente, isso é legal). Tem um certo enigma e mistério que essa primeira edição não vai entregar ao leitor. É preciso continuar acompanhando a aventura.
Enfim, nisso o Duas Caras volta assumir o controle. Aí vem a parte da ação da HQ. O vilão faz um ultimato por meio de uma transmissão para todos os Estados Unidos, colocando não só uma recompensa sobre a cabeça do morcego, mas prometendo que se ele o Batman chegarem ao destino final da viagem todos os esqueletos no armário de meio mundo, e não especificamente de vilões, serão revelados publicamente. Nenhum segredo irá permanecer escondido. E há essa garantia de que ele sabe demais, o final da primeira parte dessa história deixa isso bem claro (não vou dar esse spoiler aqui).
Assim essa é a parte pipoca da trama, colocar meio mundo atrás do Batman, seja pela recompensa, seja pelo medo dos segredos serem expostos. E fica bem claro que não vai ser muito fácil fazer essa viagem, já que nesta primeira edição o jato do Batman é facilmente abatido. Nada de voo sem escala!
Meu Pior Inimigo pareceu ser uma daquelas aventuras que vale a pena acompanhar. Não está intimamente conectada com outras revistas ou arcos que exijam do leitor ler um monte de coisa para entender os eventos que estão ocorrendo nas revistas principais do personagem. É só uma trama que se propõe a ser uma história de caçada, colocando o herói sobre a mira de inúmeros inimigos e colocando mil empecilhos e contratempos para impedir que o herói chegue a um determinado ponto. Já gostei.
De quebra, a revista ainda abre espaço para uma trama, também dividida em partes, que tem como proposta contar um pouco mais sobre esse novo parceiro do Batman, que sequer tem seu nome comentando aqui na edição. Porém já fui espiar um pouco mais sobre ele pela internet e sei que o personagem se chama Duke, porém não tenho certeza de como a Panini tem traduzido seu nome por aqui (lá fora ele é chamado de The Signal/Lark).
Fiquei curioso para saber mais a seu respeito, entretanto não dá para dizer muito mais sobre ele apenas pela rápida trama desta primeira edição. A história aparenta ser sobre um dos treinamentos iniciais que ele recebe do Batman, mas como ela tem apenas 8 páginas, não dá tempo o suficiente para aprofundar nada.
Essa pequena história inclusive saiu na versão original da revista (All-Star Batman) quando a mesma foi publicada lá nos Estados Unidos em 2016. Não foi algo que a Panini inseriu na edição nacional como se fosse um mix. Faz parte do conteúdo e da experiência original planejada para a revista.
Ao fim, Grandes Astros: Batman é uma edição bacana para aqueles que estão afastados do universo da DC Comics ou das histórias do Batman nos quadrinhos e não querem, nesse momento, seguir reboot ou estes grandes arcos que se alastram por dezenas de edições. Meu Pior Inimigo tem 5 partes e pronto, acabou. Grandes Astros continua depois da sexta edição, mas com outros artistas (roteiro e desenho) e com outra história não relacionado a esta (entra um arco com o Mr. Freeze). Então para quem não quer se amarrar a longo prazo, querendo apenas ler o que aparenta ser uma boa história do Batman, Meu Pior Inimigo parecer ser uma boa dica.