Dishonored: A Morte do Estranho | O fim da Era Kaldwin! (Impressões)

Meu primeiro contato com essa franquia fascinante da Arkane Studios aconteceu no início desse ano, quando pude colocar as mãos em Dishonored 2, que nesse ponto já escrevi a respeito aqui no site e que continua sendo uma das melhores experiências que tive com games em 2017.

Ainda procuro uma oportunidade para voltar ao começo de tudo, só esperando um momento em que Dishonored Definitive Edition irá aparecer em promoção na Microsoft Store, independente do fato de ter saber sobre os personagens e história de como tudo começou. Quero vivenciar esse passado e ver como tudo começou, apenas torcendo para que o game de 2012 não tenha envelhecido demais.

Enquanto isso, o universo de Dishonored chega à conclusão de seu arco inicial com A Morte do Estranho, Death of the Outsider no original, que se passa meses após Emily Kaldwin retomar a coroa de Karnaca. Assim, A Morte do Estranho está sendo colocado como a sequência que encerra a Era Kaldwin de Dishonored, o que certamente levanta muitas dúvidas sobre o que a Arkane planeja criar para um futuro Dishonored 3.

Aqui o jogador tem o controle da aventura sob a perspectiva de Billie Lurk, uma personagem que surgiu em um DLC do primeiro Dishonored – por isso quero pegar a Edição Definitiva do game e não apenas a versão base – e que desempenha um papel realmente interessante e curioso em Dishonored 2 na identidade de Meagan Foster. Não direi mais do que isso para não relevar spoilers.

Basta saber que não se trata de uma personagem que surgiu do nada, mas que tem uma construção interessante dentro da série e que tem realmente uma história e um encerramento que valeu a pena ser explorado neste game.

Uma sequência, porém menor

É importante dizer que apesar de Dishonored: A Morte do Estranho ser o que o estúdio o caracterizou como um título standalone (não precisa dos outros games da série para se jogar, como um DLC precisa) o game se parece muito como uma expansão para o final de Dishonored 2.

Poderia facilmente ser um DLC pago, porém provavelmente seu conteúdo ficou tão bom e satisfatório que a Bethesda e a Arkane decidiram que ele funcionaria bem como um título solo, sem obrigar o jogador a ter o game anterior. Em parte isso é verdade.

É até compreensível então que A Morte do Estranho não tenha o tamanho e a quantidade de investimento e recursos que Dishonored 2 teve. Também poderia chutar que seu desenvolvimento foi bem mais ágil por conta disso. Felizmente a Bethesda foi honesta nesse sentido e o lançou com um preço diferenciado: 29 dólares lá fora, ou 70 reais aqui no Brasil.

Isso torna A Morte do Estranho um ótimo ponto de partida para se experimentar a franquia, especialmente os jogadores brasileiros que sofrem para conseguir adquirir lançamentos que ultimamente tem sido lançados por aqui entre 200 à 250 reais.

Mesmo que o título seja considerado como um arco de conclusão, saber o destino do Estranho ou de Billie não fará os games anteriores se tornarem menos interessantes. O foco de A Morte do Estranho é justamente um ponta dentro da fantasia da franquia que os outros dois games não tem muito tempo para explorar. É um evento paralelo ao drama e infortúnio da família Kaldwin. Isso torna A Morte do Estranho um título que pode ser jogado independente de ter jogado os títulos anteriores, sabendo ou não a história deles.

É claro que ter jogado os dois primeiros Dishonored, ou conhecer a história de ambos, torna mais fácil adentrar no mundo do game. Fica mais fácil se simpatizar pelo drama de Billie ou ficar encucado novamente pela enigmática figura do Estranho. Não é um requisito assim, mas se o jogador tiver esse conhecimento em mente, certamente apreciará ainda mais o game.

Matar um Deus

A premissa do game não poderia ser mais instigante: não é todo dia que se pode matar um Deus. Quer dizer… nos videogames enfrentamos Deuses com certa frequência até, mas até hoje não acho que esse seja um tipo de missão que me faça achar que estou preso em uma rotina, como lavar a louça ou alimentar o cachorro. Enfrentar Deuses é sempre uma tarefa interessante, não?

Para isso Billie Lurk terá que retornar a Karnaca, encontrar seu antigo mentor, o antagonista do primeiro Dishonored, Daud, e então descobrir que deve encontrar um artefato mágico e viajar até um local muito específico no mundo que lhe permitirá entrar em carne e osso dentro do Vazio, que é uma espécie de vórtice de onde advém toda a magia (boa e ruim) do universo da franquia.

O Estranho é uma figura lendária da franquia, que nunca até então havia sido explorada em sua plenitude. Bem, A Morte do Estranho ainda deixa algumas dúvidas nem tanto a seu respeito, mas sobre o Vazio e os segredos desse lugar. O fato é que o Estranho é a personificação “humana” desse local, aquele que concede poderes sobrenaturais a qualquer um que pedir por tal, as vezes até sem pedir, onde nunca fica claro o preço que deve ser pago por tal “dádiva”.

Trata-se de um personagem interessante, que ao longo dos três games faz os jogadores se perguntarem se ele está agindo por razões próprias, ou se é apenas um elemento de caos neutro, torcendo para ambos os lados, sem nunca de fato defender um único lado. Seria ele de fato responsável pelo caos, trevas e podridão que o mundo de Dishonored é? Estes são levantamentos interessantes que são discutidos por Billie e Daud neste novo game.

Menos inesperado, mas ainda divertido

Se há uma coisa que Dishonored 2 me pegou de surpresa foi a variedade de cenários e situações em que cada um das 8 missões do game apresentaram ao longo de sua campanha. O jogo vai adicionando mecânicas, ambientes, inimigos e situações cada vez mais diferente de tudo que cada missão anterior vai ter apresentando. E essa progressão vai até o final do game. Isso faz com que seja obrigatório ver tudo, jogar até o fim, sem nunca sentir um ciclo de cansaço ou exaustiva repetição. É genial nesse sentido.

A Morte do Estranho infelizmente não consegue fazer exatamente a mesma coisa. Talvez o game nem tente ser assim. Nesse sentido ele é bem mais linear, sem tanta variedade progressiva de mecânicas. Tudo que você precisa aprender é aprendido na primeira missão e assim vão ser as coisas até o final da 5ª missão do jogo.

O que o game ganha de méritos se dá ao fato de que mesmo assim mecanicamente ele é muito divertido, até quando se torna previsível em suas mecânicas. O bom é que Billie Lurk não tem as mesmas habilidades que os protagonistas dos games anteriores, e sim alguns poderes novos que apesar de serem semelhantes a certos poderes já conhecidos da série, eles possuem sacadas próprias que os tornam bem interessantes.

Basicamente são 4 habilidades que o jogador vai usar a exaustão ao longo da aventura:

Uma versão própria da habilidade de Teletransporte, só que dessa vez o jogador marca um ponto para onde vai se teletransportar e um segundo comando ativa esse teletransporte. Bem útil em momentos que se quer confundir guardas ou atravessar até mesmo grades ou vencer grandes alturas. Dá até mesmo para se teletransportar para dentro de um inimigo, fazendo-o explodir em membros e sangue para todo o lado.

Há também a habilidade de Previsão, que funciona como um radar, permitindo ver guardas, objetos e alguns segredos do ambiente. O pulo do gato aqui se dá ao fato da habilidade congelar o tempo e permitir que o jogador navegue livremente pela área vendo com cuidado todos os obstáculos, saídas, esconderijos e segredos da mesma. A vantagem só aumenta quando se percebe que dá para marcar um ponto de teletransporte para ser usado quando a previsão é desabilitada, indo para locais onde o seu marcador não poderia tecnicamente ir.

A terceira habilidade que gasta a barra de magia é a de Camuflagem, que permite roubar os rostos dos inimigos e assim andar entre oponentes sem se detectado. Uma habilidade útil, porém perigosíssima, já que enquanto o jogador anda, aquele no qual teve seu rosto roubado não pode ser encontrado por outros guardas, e sua barra de magia vai sendo drenada, tornando possível que ela acabe antes que você encontre um local para se esconder apropriadamente.

Ouvir o Lamento dos Ratos é a última habilidade especial de Bille, sendo que esta não gasta magia. Funciona como o coração da mãe de Emilly no game anterior, porém ao invés de ouvir o lamento das pessoas, Billie pode ouvir os ratos, que muitas vezes dão dicas e pistas de missão, como entradas secretas ou avisos de inimigos se continuar seguindo certos caminhos.

Um último detalhe interessante sobre estas habilidades mágicas é que diferente de Dishonored 2, onde algumas das habilidade da Emily gastavam magia de forma permanente, as habilidades de Billie não possuem esse aspecto negativo. Todas podem ser usadas até o fim da barra que a mesma irá tornar a encher 100% em alguns segundos de espera. Isso é importante porque faz o jogador se tornar bem mais audacioso para com suas habilidades. Usando e abusando mais delas.

A Morte do Estranho nesse sentido é muito mais libertador do que Dishonored 2. Enquanto lá o jogador não desejava que Emily se tornasse uma tirana assassina ao completar todas as suas missões em completo caos, em A Morte do Estranho Billie não tem exatamente esses questionamentos morais. Não existe aqui a possibilidade de um final ruim só porque Billie resolveu matar todos aqueles que peitaram seu caminho. Há o final ruim, mas não por conta das mortes causadas ao longo das missões do game.

Fora que faz sentido que Billie não se importe muito com certos personagens ao longo da história. Então é meio libertador jogar no papel de uma personagem que não se importa de sujar um pouco sua espada. No game anterior havia muito daquela situação de voltar um save porque fora detectado e não querer que Emily batesse de frente com inimigos que teria que matar. Billie não tem estas correntes morais.

Claro que isso não faz com que A Morte do Estranho perca a essência do stealth que os jogos anteriores possuem. Ainda há muito destes momentos onde o jogador precisa ser sorrateiro, sem ser detectado. Até porque não é muito fácil se livrar de uma penca de guardas que cercam o jogador que for detectado. O alarme é acionado e basicamente todos os inimigos de um ambiente acabam se reunindo a sua volta, tornando impossível matar todos de um a um.

Dou um crédito extra em particular a terceira missão do game, na qual há um contrato bônus que desafia o jogador a terminar toda a missão sem ser detectado e sem nocautear qualquer NPC ou inimigo. Com certeza foi a missão mais divertida de todo o jogo pra mim. Foi uma experiência de um sábado à tarde que me levou basicamente mais de 4 horas para ser completada com louvor.

Contratos bônus são por sinal uma das novas adições dentro do game que não existiam nos jogos anteriores. Dentro de cada uma das missões principais, exceto da última, o jogador pode viajar até o Mercador Negro e em seu mural irá encontrar alguns contratos secundários, de alvos ou objetivos para sempre roubados ou explorados que adicionam algumas horas adicionais a cada uma das missões. E há ótimos contratos extras que são tão difíceis quanto a própria missão principal. Ótimo para os jogadores que curtem o desafio.

Considerações finais

Dishonored: A Morte do Estranho é um ótimo game, mesmo que sob a perspectiva de Dishonored 2 ele possa parecer um pouco inferior. É menor, porém mais barato. Ao menos a identidade da série é mantida com bastante fidelidade, ainda que as consequências pelos atos do jogador não o punam tanto assim.

Há dois finais, o bom e ruim, que são definidos não pela forma como o jogador lidou com os alvos em sua aventura, mas por um segredo que deve ser revelado na metade da missão final – é fácil perder esse segredo, então a minha dica é: quando Billie chegar ao Olho, faça um salvamento manual aí.

A história é ótima, mesmo que algumas coisas fiquem confusas. O game por exemplo não explica muito o passado da Billie – eu mesmo não entendi direito de onde veio o coração de madeira que ela usa para ouvir os ratos – ou a respeito dos poderes do braço e do olho de Billie – afinal ela não recebe a Marca do Estranho. O próprio final é aberto e deixa dúvidas de para onde o universo da franquia irá após o desfecho em torno do que acontece com o Estranho.

Os ambientes e locações não são tão diversificados quanto no jogo anterior. Alguns lugares, como a cidade inicial vai se repetir em algumas missões, ainda que cada missão explora ambientes novos dentro do centro da cidade, abrindo ambientes internos tão grandes quanto a área externa. A missão do banco é um bom exemplo disso.

É um game gostoso de jogar. Quem conhece a franquia, já sabe o que irá encontrar e não deve se desapontar. E não posso esquecer de mencionar que A Morte do Estranho está totalmente localizado aqui no Brasil, com dublagem em português e todos os menus e diálogos com legendas em português. Um ótimo trabalho de dublagem, por sinal.

Existe um motivo para a existência de A Morte do Estranho, independente dele não trazer exatamente uma revolução como foi Dishonored 2, certamente há pequenos aspectos novos no game que fazem jus a sua proposta. É uma boa forma de fechar a era Kaldwin antes da Arkane Studios fazer algo totalmente novo para Dishonored 3.

Galeria de imagens

Conclusivo ao dar fim a história de Billie Lurk e do Estranho
Parece um DLC, mas funciona bem como título solo
Não oferece a progressão contínua vista em Dishonored 2
As novas habilidades encaixam na proposta oferecida
Mais um ótimo trabalho de localização (100% dublado)
É longo o suficiente pelo preço ofertado
Contratos secundários valem serem investigados

Sair da versão mobile