Querendo me preparar para Sombras da Guerra, que acaba de ser lançado há alguns dias, aproveitei o último feriado do dia 12 de outubro para revisitar e concluir Sombras de Mordor, game que antecede a nova aventura de Talion e Celebrimbor pela Terra Média.
Sei que existe a possibilidade de uma análise de um game lançado em 2014 não ter lá muita relevância após tanto tempo assim, porém mesmo assim quis abrir essa possibilidade de diálogo. Sem mencionar que esse texto não será bem uma análise do jogo e sim uma conversa solta sobre os eventos que precedem Sombras de Guerra e quão relevante ainda é jogar Sombras de Mordor três anos após seu lançamento. Afinal não é todo dia que se tem a possibilidade de revisitar e conversar sobre um título lançado há tanto tempo.
É bem provável que esse texto seja mais indicado para aqueles que estão indecisos sobre por onde começar. Quem nunca jogou essa série da Monolith Productions deve começar por onde: Sombras de Mordor ou Sombras da Guerra? O que eu perco começando pelo game que acaba de ser lançado e ignorando seu antecessor?
Jornada interrompida
Antes de responder os questionamentos acima, preciso dar um pouco de contexto em torno da minha jornada por Sombras de Mordor.
O game foi lançado em novembro de 2014 e meu primeiro contato com o título aconteceu em dezembro do mesmo ano, já na atual geração via Xbox One. Isso quer dizer que não tenho ideia de como o jogo ficou em sua versão da antiga geração.
Olhando meu histórico de conquistas pude constatar que fiquei brincando e me divertido com o título até meados de abril de 2015, quando acabei interrompendo a campanha e deixando o game de lado. Não porque o game estava ficando ruim, mas porque as vezes acabo mesmo fazendo isso com alguns games.
Dois fatores contribuem para que eu faça isso de vez em quando: novos títulos que acabam sendo adquiridos e nisso furam a fila daqueles que estou jogando, e também porque às vezes existem certos games em que gosto de parar em algum ponto avançado, após me sentir satisfeito com o mesmo, deixando em aberto a possibilidade de retornar algum dia para conclui-los.
Tenho muito disso com jogos de mundo aberto que normalmente levam dezenas de horas de jogo para serem finalizados, especialmente quando há dentro desses títulos aquelas situações de missões secundárias, objetivos paralelos e colecionáveis para serem caçados pelo mapa do jogo. Gosto destas atividades extras, então é muito comum me sentir saciado por um game antes mesmo de termina-lo.
Em casos assim só vou até o fim quando a história realmente me prende a ponto de não conseguir ir para outro jogo sem antes ver o final desse. Mas admito que são pouquíssimos games que conseguem me fazer sentir assim. Sendo um aficionado por séries, quadrinhos, livros e afins quase sempre sinto que já vi, li e assisti de tudo um pouco, o que faz com que diversas histórias soem como clichês ou não sejam tão surpreendentes pra mim como são para outros menos calejados por essa estrada do entretenimento.
Claro que hoje em dia tive que mudar um pouco esse meu jeito de encarar alguns games, especialmente quando tenho que escrever as impressões destes aqui no Portallos. Existe, aliás, um editorial bem completinho sobre esse assunto publicado aqui no site neste link.
Pensando nisso, se no passado tivesse que escrever um texto de Sombras de Mordor com suas impressões acredito que teria que ter avançado no game um pouco mais além do ponto em que o deixei em 2015. Na época não era esse o caso, felizmente.
Agora, dois anos depois, retomei a minha jornada pela região de Mordor, em busca de respostas para Talion e vingança para Celebrimbor e acabei descobrindo o segundo ato do game!
Resistente ao envelhecimento
Um dos pontos que mais ponderei ao retornar para Sombras de Mordor dizia justamente à sua resistência ao envelhecimento. Será que após três anos o game já teria envelhecido em sua jogabilidade e mecânicas a ponto de não ser mais tão divertido? A resposta é um sonoro: não!
Quando lançado em 2014 me lembro de dois pontos muito bem elogiados no game: o sistema de nêmesis que cria orcs mais fortes e mais marcantes para cada experiência singular dentro da campanha do game e a forma como o protagonista do game se movimenta pelo mundo, evoluindo um formato engessado que na época me lembro de muitos compararem com o jeito na qual Assassin’s Creed deveria ser (e que hoje também já foi aprimorado na franquia da Ubisoft).
Existe também um sólido terceiro elogio, mas que pra mim não foi tão marcante assim que diz respeito ao sistema de combate do game que se assemelha muito ao sistema da série Batman Arkham, com a possibilidade do jogador se vê cercado por inúmeros inimigos e conseguir atacar e contra-atacar todos em tempo real, sem quebrar sua cadeia de combos por ataques vindo de diferentes direções sem que os controles se tornassem complicados nestes confrontos.
E é interessante como tais pontos estão resistindo bem ao tempo. O sistema de nêmesis ainda é uma característica singular da série. Era de se esperar que com seu sucesso outros jogos seriam inspirados pelo sistema, mas passado três anos não tenho nenhum exemplo que consiga lembrar de algum outro estúdio que tenha feito algo parecido, tornando-o Sombras de Mordor peculiar por causa desse aspecto. Exceto, óbvio, por Sombras da Guerra, que tem como pretensão aprimorar esse aspecto da série.
Porém independente do que Sombras da Guerra está fazendo (e que abordarei em minhas impressões sobre a sequência em breve), o sistema de nêmesis de Sombras de Mordor ainda é sólido e consistente.
O sistema nêmesis, para quem ficou perdido, consiste em uma galeria hierárquica de orcs que podem se fortalecer e subir na hierarquia de poder mediante algumas situações, como duelos entre si ou quando um deles mata o jogador. Até aí nada demais, porém é legal que eles se recordem de tê-lo matado ou de encontros onde o jogador fugiu ou até mesmo o tal orc fugiu. Reencontrar estes comandantes criam momentos divertidos e singulares para cada jogador justamente porque eles evoluem e se aprimoram em termos de poder.
Também é interessante que nestes três anos o sistema de movimentação e parkour de Sombras de Mordor ainda esteja dinâmico e suave. O jogador consegue subir e descer de qualquer estrutura de uma forma rápida e natural.
Alguns games, como o já mencionado Assassin’s Creed experimentaram outras ideias depois que Sombras de Mordor fora lançado, como o segurar um botão para subir e segurar um outro para descer de forma automática, sem que o jogador pule ou caia de enormes alturas. No caso de Sombras de Mordor isso não chega a ser realmente necessário já que o jogador pode cair de qualquer altura sem se machucar e o título também não é um daqueles que tem muita verticalidade, então são raros as vezes em que acaba-se descendo ou pulando fora de um lugar na qual não tivesse realmente essa intenção. O próprio game tem uma mecânica que segura o jogador na borda antes que ele decida por saltar da mesma.
Talvez minha única crítica a Sombras de Mordor seja ao seu sistema de combate, em específico ao sistema de especiais e finalizações de combos. Mas essa era uma mecânica que já não me animava na época de seu lançamento e continua meio engessada pra mim até hoje (ainda não posso dizer sobre isso em Sombras da Guerras, ainda preciso avançar mais para formar uma melhor opinião). A série do Batman faz isso melhor, ainda que em Sombras de Mordor as mortes dos orcs sejam muito mais grotescas e violentas do que o Batman nocauteando bandidos randômicos.
O que me incomoda nesse sistema é ter que lembrar a dupla de comandos dos especiais. X + A (clarão) e Y + B (execuções) são os dois que memorizei, apesar de que também não acho prático ter que apertar estas dois botões no meio da ação caótica que as vezes estes combates se tornam. Muitas vezes acabei interrompendo o combo porque estes comandos simplesmente não saíram no controle. A resposta deles sempre foi meio ruim pra mim. Seria muito melhor se fosse, por exemplo, segurar um gatilho para executar um destes comandos enquanto isso travasse a cadeia de combos de ser interrompida.
Porém nunca encarei Sombras de Mordor como um game de combate. Em boa parte da minha trajetória pelo game criei emboscadas e assassinei orcs de forma furtiva. Exceto nos casos dos capitães, na qual estes sim exigiam o combate direto. Era sempre nestas horas que as finalizações me deixam maluco quando juntavam muitos orcs ao meu redor. Felizmente o game tem muitos recursos de ataque e especiais para que houvessem diversas formas de entrar, sair e sabotar combates contra grandes números de orcs sem precisar sempre desse conjunto de ações.
Por fim, passados três anos Sombras de Mordor também continua graficamente decente. Claro que ao iniciar Sombras da Guerra é possível perceber um salto gráfico digno para a franquia, mas nem por isso Sombras de Mordor deixa a desejar.
Claro que ele tem aqueles probleminha de games de mundo aberto. O ambiente em si é meio “tudo igual”. Há realmente poucos pontos de diferenciação no mundo aberto do game, porém no geral isso não chega a ser um problema, já que o foco do título é um pouco diferente. O jogador acaba sempre preocupado em encontrar os orcs e suas fortalezas, e isso meio que ameniza as estradas todas iguais do game.
Outro ponto que vale relembrar é que o game chegou ao Brasil localizado em português, totalmente dublado, tal qual Sombras da Guerra também está. Digo isso porque as vezes é meio que um banho de água fria, para aqueles em o inglês é uma barreira quando querem ver a origem de uma franquia de games e fazem esse retorno ao passado e encontram um game de uma época na qual os títulos ainda não eram localizados no Brasil. Felizmente Sombras de Mordor já está nessa safra de games totalmente dublados.
O segundo ato e as amarras de Sombras da Guerra
Nesse retorno que fiz à Mordor no último feriado de outubro o que pude jogar e que ainda não havia jogado seria justamente todo o segundo ato do game. Um segundo ato que sequer sabia que existia. Certamente um descuido meu quando joguei o título pela primeira vez e fiquei entretido com as atividades paralelas ao invés de avançar no game.
E é curioso porque não é todo game de mundo aberto que esconde tão bem assim o fato de possuir uma área totalmente nova que só é destravada depois de certo ponto da história. Normalmente o jogador sabe dessa área desde o começo, apenas mostrando que ela encontra-se travada. Sombras de Mordor meio que te pega de surpresa com isso.
A segunda área de Sombras de Mordor é bem mais verde do que a primeira, com uma vegetação mais visível, na qual o jogador acaba conhecendo dois personagens que sequer estavam no primeiro ato e que passam a ditar o rumo para o fim da história. É quase como um outro game. É meio estranho como há esse corte dentro do game e isso não é ruim, pelo contrário, acabou sendo ótimo.
Para melhorar essa sensação de algo novo, o segundo ato continua progredindo as mecânicas geais do jogo. Novos golpes são destravados conjuntamente com novas habilidades, envolvendo até mesmo dominar orcs e novas criaturas.
O sistema de nêmesis também tem uma evolução nesse ato, permitindo o jogador dominar a mente de capitães orcs e torna-los seu aliados a ponto de criar cenários na qual você acaba sendo dono do exército de Sauron, colocando uns contra os outros, armando esquemas de traição e tramando as escondidas para queda dos maiores soldados do game. É muito engenhoso como o jogo esconde estes recursos até a chegada do segundo ato.
No que diz respeito à trama de Sombras de Mordor, preciso dizer que não sou um grande aficionado por Tolkien. Gosto dos filmes do Peter Jackson de O Senhor dos Anéis, enquanto acho os três filmes de O Hobbit bem fracos. Tirando os seis filmes, nunca me aprofundei nesse universo ou em seus livros. Então sigo a história de Talion e de Celebrimbor apenas pela diversão, sem ficar apontando furos ou falhas desse universo. Mas sei que para o game os desenvolvedores tomaram certas liberdades criativas.
Porém gosto da ideia do enredo do game, colocando Celebrimbor (que existe nos originais do Tolkien) como um espectro da vingança está por aí para vingar Sauron e contar um pouco sobre a origem dos anéis de poder do mundo da Terra Média. Esse é o ponto interessante da trama. Para a história de Talion, um cavaleiro do Portão Negro de Mordor já não ligo tanto assim. É daqueles personagens em que os meios justificam o fim. Está ali no papel do herói.
E é bem legal como o final de Sombras de Mordor amarra com o início de Sombras da Guerra. Dá para jogar o novo game recém lançado sem ter jogado Sombras de Mordor – pois há um resumão do primeiro game antes de Sombras da Guerra se iniciar – entretanto o jogador vai simpatizar muito mais com o enredo e com os objetivos de Talion e Celebrimbor se tiver jogado o primeiro game. Fora que os momentos finais de Sombras de Mordor são bem legais, naquele clima de tensão e perigo que os filmes de O Senhor dos Anéis trazem consigo.
Considerações finais
Acredito que ao longo dos parágrafos acima acabei respondendo algumas das indagações que fiz no começo do texto. Mas quero reforçar alguns dessas respostas aqui, na parte final destas impressões.
Sombras de Mordor é um game que foi lançado no começo dessa geração e que analisando-o agora em 2017, quase três anos desde seu lançamento, é possível notar que ele continua pontual em suas mecânicas e na diversão que um game deve proporcionar. Resistiu ao envelhecimento precoce que muitos títulos sofrem atualmente na indústria.
Jogá-lo antes de Sombras da Guerra também parece interessante porque sua história está terminantemente ligada ao começo da sequência. Claro que o novo jogo não obriga o jogador a ter que jogar o primeiro game – isso seria dar um tiro no pé – mas é importante como a sequência não elimina totalmente a possibilidade do jogador ficar interessando em seu antecessor.
Sem falar que estamos no Brasil, certo? Aqui os lançamentos possuem mesmo preços bem elevados e não é todo mundo que tem o poder aquisitivo de adquiri-los em seu lançamento. Jogar Sombras de Mordor, que pode ser encontrado em lojas online com preços bem convidativos parece uma boa ideia enquanto Sombras da Guerra não aparece em alguma promoção de final de ano ou em uma oportunidade em que a carteira esteja mais recheada.
E para aqueles que se perguntar sobre jogar ambos os games um próximo do outro não fará Sombras da Guerra ser mais cansativo ou exaustivo posso dizer que já o iniciei e não tive essa sensação. A sequência tem muita coisa nova e interessante a ponto de sentir que o jogo continua progredindo e evoluindo em relação ao seu antecessor. Não fica soando como “mais do mesmo”, ao menos nestas primeiras horas em que já o pude testar. Em breve terei um texto a seu respeito aqui no site.
Um último ponto que não encontrei espaço acima e que só me lembrei agora, diz respeito aos DLCs de Sombras de Mordor. Também tive um tempinho para brincar um pouco com as expansões, afinal o Passe de Temporada do game esteve em promoções por diversas vezes nos últimos anos e em uma destas ocasiões acabei adquirindo-o. Há basicamente duas campanhas que valem a pena experimentar: as missões de caça de Torvin e o prequel com Celebrimbor que narra sua origem.
Hoje já dá para encontrar esse conteúdo adicional também nas edições físicas da versão Game of the Year Edition. Se puder optar pelo conteúdo completo, digo que vale a pena. As mecânicas (combate e habilidades) na campanha do Celebrimbor são diferentes (e mais difíceis) que a campanha do game principal, enquanto nas missões de caça com o anão Torvin é bacana porque a expansão lhe apresenta novas criaturas e uma nova montaria que permite assassinar orcs de forma sorrateira. Esse conteúdo não parece refletir os eventos necessários para o ponto em que Sombras da Guerra se inicia, então não são exatamente essenciais. São apenas divertidos.
Por fim, revisitar e constatar que Sombras de Mordor ainda é um excelente game, independentemente do tempo em que se passou desde seu lançamento, só serviu para me deixar mais empolgado e animado para Sombras da Guerra. Fiquei impressionado e admirado em como o título resistiu bem ao longo dos últimos anos. Sua sequência chegou, mas isso não fará Sombras de Mordor se aposentar. Ainda vale a pena jogá-lo.