Bleed | Corra, atire, desvie e se divirta! (Impressões)
Bleed é um indie game direto ao ponto. Não é um dos melhores do seu gênero, mas está longe de ser ruim. No geral é uma experiência divertida, como aquela em que jogadores tinham nos anos 90 quando levavam da locadora um jogo completamente desconhecido para casa por um único final de semana.
Com a diferença que os tempos são outros agora. Não há mais locadoras, não tem mais essa de pegar emprestado um game e devolvê-lo na segunda feira, satisfeito ou não com o que alugou. Vantagens de uma era em que um jogo podia ser apenas legal e pronto. Nem tudo merecia se ter na prateleira para sempre, mas muita coisa (muita mesmo) era divertido de se jogar por um final de semana as vezes.
É exatamente assim que me sinto tendo jogado Bleed recentemente. Ajuda se pensar que no Steam o game custa apenas 10 reais, um valor justo para adquiri-lo (sem pagar aluguel de um final de semana). Existem também versões dele no Xbox One e PlayStation 4, porém acho os valores de venda nestas plataformas mais salgados. 25 reais no Xbox ainda dá para encarar, mas 40 reais na PlayStation Store certamente está acima do que o game vale.
Isso porque Bleed sequer é um game recém lançado. Que nada! Até uma sequência já foi desenvolvida e lançada em 2017 no Steam (e que será lançada na próxima semana no PS4 e Xbox One). E já aviso: não joguei a sequência, mas espero poder jogá-la, assim o que estou dizendo é que as minhas impressões aqui são puramente com base somente no primeiro game, sem qualquer influência ou comparação com sua sequência.
Simplicidade pode ser algo bom
Certo, hora de voltar ao começo! Bleed é um indie game lançado no final de 2012 para PC, mas que despertou a minha atenção quando ganhou versões para os atuais consoles da geração em agosto do ano passado. Foi aí que o conheci e me interessei em testá-lo. O game foi desenvolvido pela Bootdisk Revolution, que é basicamente o estúdio de um homem só, Ian Campbell, que mora em Toronto (Canadá).
É possível classificar Bleed como um Run & Gun (Correr e Atirar) mais rudimentar – sem que isso soe pejorativo. O jogador não corre o tempo todo, mas boa parte da ação está em atirar, desviar e eliminar inimigos em tela. A estas mecânicas soma-se as habilidades de desacelerar o tempo (bullet time) e de pular e realizar dash no ar, facilitando assim ter controle e fluidez em meio ao caos de tiros que alguns estágios criam para desafiar o jogador. Existem alguns desafios de plataforma, mas nem sempre aparecem como foco geral do game, estando em alguns momentos apenas para gerar o desafio de atirar enquanto se movimenta escalando andares de um edifício ou por espinhos dentro da barriga de um dragão.
Interessante que o jogo não utiliza os botões ABXY nos consoles, deixando o pulo e o dash para os botões superiores (bumper e gatilhos), e a movimentação e o atirar e mirar para os dois analógicos nos controles. Nada muito grotesco, porém admito que demorei alguns minutos para me acostumar com o pulo e dash em um mesmo botão superior. Coisa de no segundo estágio já ter conseguido dominar esse layout meio alternativo, porém foi algo que me chamou a atenção de uma forma positiva em relação a jogabilidade.
O game segue um modelo 2D tradicional de tela lateral (side scrolling), como o jogador sempre indo para a esquerda ou direita, onde cada passagem de tela cria um checkpoint dentro dos estágios, tornando assim bem amigável avançar pelos setes estágios que o game possui.
Como a protagonista tem uma barra de saúde, e é fácil tomar dano em certos estágios, é comum o jogador morrer ao chegar no chefe final de cada fase. Se o game não tivesse estes checkpoints o jogo seria bem frustrante, já que não existem métodos para recuperar a saúde ou vida extras para continuar de onde vier a morrer. Mas claro que quem gosta de algo mais difícil saiba que existe um modo extra de jogo que consiste justamente em vencer os sete estágios do jogo com uma única barra de saúde. O que pra mim soa quase como impossível.
As sete fases de Bleed não me impressionaram muito. No geral até as achei mais simples (ou curtas) do que esperava que fossem. Algumas, como a que se passa em um trem, até são inteligentes, porém no geral são fases fáceis de se passar, tornando apenas a primeira vez em que se joga nelas algo mais complicado.
Bom mesmo são os encontros contra os chefes do jogo, que nem sempre ocorrem somente ao final dos estágios. Pode haver mais de um chefão dependendo do estágio que o jogador decidir jogar. Alguns são bem feitos, como um que se divide em várias bolotas que criam formas e cores diferentes para atacar o jogador, ou uma outra que são três esferas que emitem lasers. O último chefe, um garoto também é osso duro. E no geral nenhum chefe é impossível de ser derrotado, ao menos na dificuldade normal.
As coisas mudam um pouco de figura quando se joga estas fases no modo Very Hard, porque como o game é curtinho, podendo fechar ele em duas ou três horas no modo Normal, existe essa vontade de testá-lo em maiores dificuldades. O segundo chefe, que são duas minhocas gigantes, demorei quase duas horas inteiras para conseguir vencer no modo Very Hard, pois mesmo que exista um padrão de ataques, cada vez que o chefe reinicia ele não começa atacando da mesma forma, assim é mais sobre aprender a desviar e reagir aos ataques do que apenas decorar o que ele vai fazer em seguida.
O modo Very Hard é um excelente modo. Porém fica melhor após ter terminado o modo Normal e ter liberado algumas armas extras. Sim, porque o game também possui um arsenal que pode ser adquirido com pontos obtidos jogando o game e alguns outros que são destravados vencendo os quatro níveis de dificuldade que o mesmo possui.
As armas mudam o tom da jogabilidade. Há um revolver que ricocheteia tiros, bazucas com mísseis teleguiados, espingardas, lança chamas e até mesmo uma espada que defende e ricocheteia tiros, o que a torna ótimo para os momentos de fases, mas terrível para os chefes. O bom é que o jogador pode andar sempre com duas armas, alternando-as com um toque de um botão, mas se pausar o game, pode trocá-las também a qualquer momento do estágio em andamento.
Quanto a história, esta não cheguei a dar muita bola. Sequer fez muito sentido pra mim. Meio que funciona como uma garota pensando e escrevendo uma história em sua mesa, como se estivesse criando em tempo real, enquanto o jogador abre os estágios (tanto que ela risca e escreve o título do próximo estágio quando um é vencido). Na cabeça dela, ela está confrontando grandes heróis do passado, esperando um dia se tornar a heroína de sua geração. Ou algo assim. Realmente não importa muito. No final as coisas meio que ficam ainda mais malucas, mas servem ao propósito do game.
Bleed conta ainda com a opção de ser jogado em modo cooperativo local com um segundo jogador e possui tanto o já mencionado modo extra em que todo o game deve ser vencido com uma única vida, mas também um modo que funciona como Boss Battle, só que o jogador escolhe o cenário e até três chefes para serem vencidos simultaneamente. Esse modo é realmente excelente, mas incrivelmente difícil de bater três chefes ao mesmo tempo em tela. E há também níveis de dificuldade para tal. Nem no Easy consegui. Existem também 4 skins para trocar o personagem, o que é algo somente cosmético, sem mudar a jogabilidade (que pena), mas é legal assim mesmo.
Considerações finais
Chegando ao fim destas impressões dá para dizer que graficamente o game não é muito impressionante, mas cumpre seu papel, especialmente quando se olha para ele como um indie game feito por uma única pessoa, certamente com um orçamento muito limitado ou campanha de Kickstarter. Isso por si só é incrível. Só gostaria que a trilha sonora fosse um pouco mais empolgante, pois não a achei grande coisa. Para um game com uma pegada retrô, esperava algo melhor na parte do som.
Bleed é um indie game honesto. Pode ser difícil, mas não é cruel. Tem controles diferentes, mas respondem bem ao jogador, sendo que a precisão do dash em câmera lenta é bem impressionante. São apenas sete estágios, mas os chefes espalhados por eles são ótimos, todos criativos e originais. É curtinho, mas tem modos extras e níveis de dificuldade que fazem o jogador se animar de testá-lo mais algumas vezes.
É um daqueles games que alugaria numa boa em um final de semana de locadora. Não restando mais essa alternativa nos dias de hoje, me sinto bem tendo-o em minha coleção digital (por um preço acessível e camarada) para jogar com algum amigo (ou com o filhão) em algum dia em que não quisermos jogar nada muito cruel ou de longas horas ininterruptas. Não é memorável, porém nem todo game precisa ser assim.