2017 foi um ano muito especial para jogadores de videogames, com uma variedade impressionante de opções para todos os gostos. E foi impossível dar igual atenção para todos esses grandes lançamentos (e relançamentos também!) que fizeram um estrago enorme em nossos cofrinhos que se esvaziaram, mas que por outro lado encheram nossa vida com muitas outras vidas, se é que me entendem! E um dos maiores destaques que gostaria de recomendar é Wolfenstein II: The New Colossus.
É uma recomendação que chega em boa hora, pois o game ainda está muito fresco na memória de todos e ainda esse ano será lançado para o Nintendo Switch. Além disso, a segunda das três expansões planejadas foi recentemente lançada, então ainda há muito o que se ver dessa segunda aventura.
Aos mais jovens, apesar do nome indicar uma segunda aventura, Wolfenstein é uma série de jogos bem antiga, com o primeiro jogo sendo de 1981. The New Colossus é o oitavo jogo, então deixo a dica para vocês procurarem jogar as aventuras anteriores. Algumas são boas, outras não, mas quer outra dica? Vá até a cantina em Wolfenstein II e procure a máquina de fliperama, onde é possível jogar Wolfstone 3D, uma espécie de versão alternativa do clássico Wolfenstein 3D, só que em vez de estar na pele do nosso querido Blazkowicz as coisas se inverteram e controlamos um soldado nazista!
E por falar no Blazkowicz, é incrível o que a Machine Games conseguiu fazer com ele nesses dois últimos jogos! É um dos melhores exemplos de como um personagem consegue evoluir conforme as gerações passam. Em sua estreia, no Wolfenstein 3D, vemos apenas sua mão segurando a arma, e suas feições em um punhado de pixels que informam ao jogador o estado de saúde dele. Mas em The New Colossus, é um personagem completo e com o perdão da expressão, enxergamos ele como um humano completo.
Sem dúvidas, é um grande trunfo dessa reimaginação da série pelas mãos talentosas da equipe da Machine Games. Já no primeiro jogo, Wolfenstein: The New Order, somos agraciados com um jogo focado em uma aventura imersiva no formato de um jogo de tiro em primeira pessoa, o que ainda hoje não é muito comum, ainda que no passado jogos como Metroid Prime mostravam que esse estilo de jogo pode ir além de só tiro-porrada-bomba.
Claro que The New Colossus tem isso também, mas apenas como um pano de fundo para uma história muito bem escrita e um mundo de jogo bem apresentado. Eu sou daqueles que adoram quando o jogo oferece personagens interessantes para interagir. Um dos mais marcantes para mim é a série Mass Effect. Como é bom a cada missão poder estar dentro da nave e ir atrás dos tripulantes para conversar com eles (e as conversas deles com os outros). Conforme a história progride, os laços entre nós se tornam mais fortes, e todas as ações se tornam importantes para o jogador, citando a inesquecível missão suicida de Mass Effect 2 para ilustrar bem esse sentimento.
Mas ao contrário de Mass Effect, em Wolfenstein não moldamos o protagonista conforme nossos desejos. Ele é um cara já pronto e durante o jogo mergulhamos fundo em sua história, mais especificamente em The New Colossus vamos conhecer melhor o passado de Blazkowicz, enriquecendo o entendimento que temos dele.
Aliás, ainda mais do que no jogo anterior, nosso entendimento do mundo de Wolfenstein é uma experiência muito bem entregue pela Machine Games. O cuidado com os detalhes é monstruoso, vale a pena ir atrás dos npcs só para ouvir eles conversando, em um trabalho notável de ambientação. Eu certamente perdi um bom punhado de horas apenas fazendo isso.
E conversar com os personagens que fazem parte do núcleo de companheiros de Blazkowicz é ainda melhor. Reina a diversidade de tipos, é um deleite apreciar as diferentes personalidades conversando umas com as outras e com o nosso protagonista. Embora não tenha discurso político muito forte, os personagens a todo momento conversam sobre a situação de minorias nesse mundo dominado pelos nazistas, mas de uma maneira bem ponderada, apenas para contribuir para o pano de fundo da história que está sendo contada.
Embora o jogo não seja negligente no quesito gameplay, sem dúvidas nenhuma ele instiga o jogador a querer avançar pelas fases para descobrir mais do enredo e sobre o que vai acontecer com os personagens, servindo também como um relaxamento após a frenética ação proposta.
A jogabilidade e o desenho de fases de The New Colossus privilegia a ação, ainda que varie bastante graças aos tipos de upgrade que o nosso herói Billy o Terrível vai ganhando ao longo da aventura. Wolfenstein nasceu como um jogo que podemos definir como stealth, e a nova aventura estimula um pouco disso principalmente por meio de um dos upgrades, mas é algo mais recomendado para aqueles que jogaram bastante dele e se sentem bem confortáveis com as mecânicas e o padrão de ação dos inimigos, já que ao ser avistado por um inimigo tudo vai por água abaixo, ou melhor, por sangue abaixo.
De fato, apesar de alguns momentos o stealth ser possível, principalmente quando se procura eliminar um Uberkommandant, esse estilo de jogo em particular é melhor explorado na segunda DLC, Os Diários da Agente Morta Silenciosa. Mas durante o jogo principal, jogar de forma sorrateira significa um jogo realmente bem lento e que requer paciência para algumas tentativas de se encontrar um rota que faça sentido jogar assim.
Essa questão do stealth me lembra muito os jogos de Batman recentes, onde é até possível jogar quase tudo nesta modalidade, mas o sistema de combate acaba sendo mais prazeroso de usar. Na maior parte do tempo, basta pegar a arma e sair atirando por aí, e também é algo divertido, mesmo com um arsenal limitado. Eu mesmo adorava tentar matar o máximo possível de soldados apenas com a machadinha e com ataques corpo a corpo. Vale a pena tentar experimentar maneiras diferentes de passar pela fase.
Em sua apresentação, The New Colossus melhora tudo aquilo que já era ótimo em The New Order, com cenários bem detalhados e bem resolvidos artisticamente, eu gosto muito desse estilo visual que remete aos anos 60 e adiciona elementos futuristas. As músicas e diálogos (todos localizados em português) são muito legais e proporcionam mais imersão ainda. É um jogo muito bonito graficamente, e suas cenas tem uma ótima qualidade.
Sem querer dar spoilers nenhum, mas a cena com Hitler é insanamente criativa, resume bem a ideia geral do jogo. Aliás, seu início é bem interessante e apresenta Blazkowicz, que desde seu nascimento em Wolfenstein 3D é o típico herói fortão, sob uma nova perspectiva e durante o jogo sua evolução brinca com esse conceito de arquétipo humano de uma raça superior, justamente algo que ele combate durante todo o jogo.
Então, caso ainda não tenham feito, recomendo fortemente que aproveitem a deixa e corram atrás desse jogo maravilhoso, e não permitam que os nazistas continuem tomando milkshake de morango!