Pantera Negra | Vida Longa ao Rei!!! (Crítica)
Vamos começar logo dizendo: Pantera Negra é um filmaço da Marvel. Mais um. E novamente, uma aposta tida como arriscada foi convertida em um ótimo produto. Assim como Homem-Formiga, Guardiões da Galáxia e Dr. Estranho, quando a Marvel levou para as telas do cinema personagens menos conhecidos e tudo deu muito certo, Pantera Negra está chegando e se saindo muito bem, sendo muito bem aceito tanto pela crítica quanto pelo público. Mas ao apagar das luzes da sala de cinema, tenha em mente que é um filme de super-herói.
Não vou inventar nenhuma historinha aqui não, o Pantera Negra não é um dos meus personagens preferidos. Nem de longe, e por diversos fatores, como o fato de não gostar da temática de selva. Então, quando o filme do Pantera foi anunciado lá em 2014 eu não dei nenhum sorriso. Mas achei a ideia interessante, dado o background do personagem ser bem distinto daqueles que já tínhamos visto no cinema. Dois anos depois o Pantera Negra faz sua estréia em Capitão América: Guerra Civil. Uma estréia inserida de maneira surpreendente, e já dando o tom do personagem e deixando aquele gostinho de quero mais.
Eis que estamos aqui, em 15 de Fevereiro de 2018, e o filme solo do personagem chega acompanhado de uma onda avassaladora de boa receptividade, sendo apontado por alguns como o melhor filme do Marvel Studios e tendo o gigantesco Vingadores: Guerra Infinita fazendo sombra, já que sua estréia está pertinho de acontecer, em 26 de abril!
Pantera Negra acompanha o ritmo dos demais filmes Marvel, porém com uma boa dose de charme próprio. No filme, vemos aquele mesmo T’Challa um pouco depois dos eventos da Guerra Civil. Porém, o filme é contido nele mesmo, então tudo bem se você levar aquela pessoa esquisita que ainda não assistiu Guerra Civil, já que as partes mais importantes do Pantera são novamente mostradas aqui.
Mostrar a grandiosidade de Wakanda é um desafio, e o diretor Ryan Coogler (assista “Creed“, um filmaço de 2015!) mesmo fazendo sua estréia em filmes do gênero, e tendo o Pantera como apenas seu terceiro filme de sua carreira aceitou esse desafio e o venceu. Logo nos primeiros minutos Wakanda e suas tradições já são apresentadas, deixando o público mais à vontade para mergulhar nesse fascinante país.
Como eu já disse, o Pantera Negra nunca foi um dos meus prediletos, mas sempre que eu li alguma história que mostrasse ele ou Wakanda era algo legal, pois é um país fictício que aborda um conceito interessante, quase que como uma Atlântida moderna. Um local que foi o berço de nossa espécie e tão pouco mostrada aqui em nosso continente.
O trabalho da produção do filme é fantástico, inserindo no filme paisagens belíssimas, tradições, modo de vida, modo de se vestir, e outras coisas com uma forte identidade. Tudo isso combinado com a alta tecnologia que o minério vibranium proporciona, e temos um filme de encher os olhos e ouvidos. Na minha opinião é o filme esteticamente mais bonito da Marvel ao lado de Thor: Ragnarok. Cenas como a do Pantera se encontrando com os Panteras anteriores são de tirar o fôlego e encantam.
Claro que nem tudo são flores, em alguns momentos dá pra sentir a falta de experiência de Coogler na direção de um filme como esse, sobretudo no uso de sequências de CGI e quando nas cenas de luta a câmera fica alternando planos em cortes nervosos. Por outro lado, cenas como a do Cassino são elegantes e mais bem resolvidas. No próximo filme isso deve ser resolvido, já que é um dos pontos que mais é apontado como abaixo do esperado.
O aspecto mais interessante de Pantera Negra é como o filme aborda conceitos de legado, lealdade, respeito, dever. Embora T’Challa tenha sido criado e preparado para ser um Rei, quando o dever o chama as coisas que na teoria eram tão bonitas adquirem novos tons, e o mundo sob essa nova tonalidade não é nada fácil. Sentar no trono é apenas uma das coisas que um Rei deve fazer. Chadwick Boseman entrega uma performance mais aprofundada como Pantera Negra, e nos revela uma pessoa muito mais terna do que aquela postura “marrenta” que vimos dele em Guerra Civil.
O legado de ser um Pantera Negra é um fardo pesado, e desde o início do seu repentino reinado, T’Challa é testado de maneiras com as quais não eram nem um pouco esperadas. O mundo lá fora é cada vez mais conectado e dividido, e T’Challa sente que Wakanda deve seguir por outros caminhos. Por isso, durante o filme são abordadas questões políticas e de cunho social e não menos importante, racial.
Nos gibis, a Marvel sempre marcou presença nessas questões, pois ao contrário da sua maior rival, a DC Comics, seus personagens eram mais realistas e sentiam mais as questões que afligiam o lugar onde viviam. O Universo Marvel sempre esteve inserido em nosso mundo, então foi algo natural ver o Homem-Aranha ao lado do Presidente Obama, por exemplo.
Então Pantera Negra ganha mais pontos ao incorporar essas discussões com uma maior naturalidade e ao melhor estilo Marvel de ser, ainda que não use todo o potencial que poderia ter. Mas assim como Mulher-Maravilha fez no ano passado, é mais um passo certo na abordagem mais diversa que os filmes devem ter. Os quadrinhos passaram por isso, é de se esperar que os filmes assumam essa mesma trilha.
Outra coisa bem legal de ver no filme é que nitidamente todos os atores estão atuando bem, e cada um tem uma participação boa dentro da história que está sendo contada, o elenco realmente se comprometeu em entregar um bom filme, o que é algo muito legal de perceber. O filme exala cuidado com cada setor, é um carinho pelo que ele pode representar para as milhões de pessoas que o verão.
Killmonger, o vilão do filme, é daqueles que a gente ora odeia, ora ama. Entendemos suas motivações, mas não concordamos com suas ações. Seus discursos são poderosos, daqueles de gerar empatia. Felizmente em seu segundo personagem na Marvel Michael B. Jordan conseguiu um bom papel. Mas a encrenca quando vem em dobro é mais legal e finalmente podemos ver mais do Ulysses Klaue (Klaw) virar o Garra Sônica, mas ele é daqueles que a gente adora só odiar mesmo, e com certeza Andy Serkis se divertiu muito fazendo o vilão mais clássico e cheio de estilo. Só que o destaque fica para o núcleo feminino, que realmente é de arrasar, é difícil decidir qual heroína é mais interessante, embora seja quase certo que será incrível futuramente ver a Shuri ao lado de Tony Stark!
Pantera Negra é um filme com uma mensagem de legado, que respeita o personagem em que foi baseado, é um deleite ver a maneira de falar do T’Challa, acompanhar seu crescimento como monarca, compreender junto com ele que o passado é sim muito importante, porém não é à prova de falhas, e devemos usar isso para nos aprimorar, devemos usar nosso passado para construir um futuro cada vez melhor.
Acima de tudo, Pantera Negra é um bom filme de Super-Herói. É bem legal que o herói seja um monarca africano e que o filme aborde levemente questões políticas e raciais que nos dias de hoje geram tantos conflitos. Que isso não seja exceção, que seja natural. Que seja um filme com seus próprios méritos, assim como os demais filmes dos companheiros Vingadores de T’Challa.
Wakanda para sempre!